Sistemas silvopastoris em Portugal: Situação Actual e Perspectivas futuras



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Transcrição:

Sistemas silvopastoris em Portugal: Situação Actual e Perspectivas futuras Marina Meca Ferreira de Castro ESAB

História Introducción à l agroforestrie (92/93) Master Pastoralisme Projecto ALWAYS (93-96) Tese Master Tese Doutoramento Programa ERASMUS _ Universidad Santiago Compostela Programa ERASMUS Agroforestry Curso Internacional

Terminologia Sistemas silvopastoris Sistemas agroflorestais Sistemas de utilização do território Associam árvores ou outros vegetais lenhosos perenes Com produções animais e / ou vegetais Na mesma unidade de superfície (Nair, 1989)

Nomenclatura Agrisilvícolas: presença de culturas agrícolas e árvores Silvopastoris: presença de árvores e de estrato herbáceo e / ou animais Agrisilvopastoris: 3 produções reunidas Presença de culturas agrícolas, produção animal e árvores ou outros vegetais lenhosos perenes

Bacia Mediterrânica Variabilidade climática Imprevisíbilidade aleatoriedade Flutuações intra e inter anuais Produção bimodal Engenho utilização recursos Sistemas flexíveis Uso múltiplo território

Sistemas silvopastoris Matriz ecológica Dimensão propriedade Atlântico Floresta produção Pinheiro manso Sobreiro solos Norte Souto Altitude C. negral Azinheira Sobreiro Montados Azinheira Mediterrânico Olival C. negral Altitude Sul

Sistemas silvopastoris Touças Carvalho negral Castanheiro Souto Talhadias Olival Montado Sobro Azinho

Quercus pyrenaica Willd.

Quercus pyrenaica Willd. SW Europa Transição esclerófitas mediterrânicas E caducifólias temperadas 600 000ha Espanha, 62 000ha Portugal Nordeste Portugal Invernos frios 740-1385 mm precipitação

Carvalho negral Estrato arbóreo fechado 400 1100 árvores / ha Sub-bosque Própria regeneração associada arbustos Cytisus sp pl., Erica sp pl., Genista falcata Estrato herbáceo escasso 570-2500 Kg MS / ha

Carvalho negral Sistemas não geridos Corte em revoluções curtas 20-25 anos Produção lenha Alimentação Bem - estar animal

Sombra 2 Mês baixo médio alto 3 4 5 6 7 Bolota 8 9 Consumo folha 10 11 12

Análise das dietas dos animais 30 20 10 0 13 Consumo (%) Inverno Verão 25% da dieta dos caprinos Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Ovinos 0.5 2.5 Caprinos 4.1 22.5 40 30 Caprinos Ovinos 20 10 0 Consumo mensal (%) Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho

Variação biomassa disponível Freixedelo 0 50 100 150 200 250 Primavera Otoño g.m-2 Sortes 0 10 20 30 40 50 Primavera Otoño g.m-2 Rebordaínhos 0 20 40 60 80 Primavera Otoño g.m-2 Zido 0 20 40 60 80 100 Primavera Otoño g.m-2 pas toreada no pas toreada Freixedelo 0 50 100 150 200 250 Primavera Otoño g.m-2 Sortes 0 10 20 30 40 50 Primavera Otoño g.m-2 Rebordaínhos 0 20 40 60 80 Primavera Otoño g.m-2 Zido 0 20 40 60 80 100 Primavera Otoño g.m-2 pas toreada no pas toreada

Castanea sativa Mill.

Cultivada Produção madeira Produção fruto

Europa Mediterrânica Condições de humidade (800 mm) Transição Entre esclerófitas mediterrânicas Caducifólias temperadas Portugal 35 000 ha (90%) 46 % da área de Castanheiro Nordeste de Portugal (Monteiro, 2000)

Soutos 70 a 100 árvores ha- 1 * cultura cereal intercalar 12*12 10*10 Utilização pastoril limitada a ovinos Ferrã soutos jovens Fruto rebusco representa 14,6% em Novembro e 10,4% Dezembro da proporção da dieta

Funcionamento Souto Poda Abril Consumo cereal Mobilização fertilização Mobilização Janeiro Incorporação Sub-bosque bosque Consumo fruto rebusco Julho Colheita Outubro Mobilização antes colheita

Operações culturais Poda 3 anos Fevereiro / Março 3 a 5 mobilizações solo / ano Controle vegetação indesejada Incorporação de MO Fertilização do solo Facilitação colheita Colheita Outubro Novembro

Talhadias 3500 ha (Monteiro, 2000)

Talhadias Abril Consumo sub-bosque Janeiro Julho Consumo folhas Consumo castanha Outubro

Castanha Elevado conteúdo em amido 45 60% MS Outros açucares 13-20% Fracção fibrosa baixa NDF 16-18 % MS ADF 2,7-3,5% GB 2,8-3,2% PB 5,8-6,3% (Pereira-Lorenzo et al., 2006)

Folha Primavera Outono PB 12,4 14,5% NDF 33,3 37,5% ADF 24,3 26,3% Arbustos Diversidade grande Cytisus spp., Genista falcata

Olea europaea L.

Região Mediterrânica Espécie cultivada de maior importância Sistemas agroflorestais Portugal Cerca de 340 000 ha 62 000 Nordeste Portugal (Monteiro, 1999) Ampla gama condições ecológicas Invernos suaves 450-800 mm precipitação

Olival 100 a 125 árvores ha- 1 * cultura cereal intercalar 9*9 / 10*10 Utilização pastoril principal de ovinos Agroflorestal Intensificação Olivicultura

Composição química folha 12% PB, 43% DMO

Sistema silvopastoril Consumo poda Abril Mobilização incorporação Janeiro Colheita Poda Mobilização antes colheita Consumo cereal Consumo fruto rebusco Folha e sub-bosque bosque Outubro Mobilização Primavera Julho Fertilização animal

Operações culturais Poda 2-3 anos após colheita 2 a 3 mobilizações solo / ano Controle vegetação indesejada Incorporação de MO Fertilização do solo Facilitação colheita Colheita Novembro Dezembro

Montados

Península Ibérica Sistema maior importância 3 milhões de ha 2 248 000 ha SW Espanha 869 000 ha Sul Portugal Ecossistema construído pelo Homem Condições marcadamente mediterrânicas 500 650 mm Verões longos e secos

Ecossistema construído pelo Homem Estrato arbóreo aberto 40 50 árvores / ha Quercíneas perenifolias mediterrânicas Quercus suber L.; Quercus ilex L. Estrato herbáceo anuais Arbustos Cultura cereal longas rotações

Produtos Montado Muito diversificado produção animal Ovinos, caprinos, bovinos, suínos touros bravos, Carvão Cortiça Mais de 50% da produção mundial cortiça 1/3 das exportações florestais 3% das exportações nacionais

Montanheira Outubro Fevereiro 60 Kg PV / 75 dias 9 Kg Bolota Azinheira 1 Kg PV Porco (Rúperez, 1957) 500 600 Euros /ha

Futuro????? Produção madeira qualidade Produção madeira rápido crescimento Produção fruto Ambientais e económicas Montados

Europa comunitária Produção fruto Agricultura e floresta subsidiada Sistemas agroflorestais Redução substancial práticas culturais agressivas Fertilização orgânica via dejecções, via fixação N leguminosas, aceleração reciclagem MO Não propagação doenças Facilitação colheita mecânica

Montados Rentabilidade assegura interesse sistema Sistemas sensíveis Perenidade sistema (regeneração) Podas controladas cargas Ecossistemas valor conservação Produção madeira Redução risco incêndio

Justificação estabelecimento medidas Pasto- ambientais