3.8 Tristeza e depressão na criança e no adolescente



Documentos relacionados
3.15 As psicoses na criança e no adolescente

3.1 Problemas de comportamento na criança e no adolescente

3.3 A criança com dificuldades em aprender

3.5 Medos e ansiedade na criança e no adolescente

3.2 Crianças irrequietas e Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção

3.4 A criança que não vai à escola (Recusa escolar e Gazeta às aulas)

Depressão. Em nossa sociedade, ser feliz tornou-se uma obrigação. Quem não consegue é visto como um fracassado.

3.10 Problemas de sono na criança e no adolescente

DEPRESSÃO, O QUE É? A

GUIA PRÁTICO PARA PROFESSORES

3.12 Problemas alimentares nas crianças e adolescentes:

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA A CRIANÇA E O ADOLESCENTE

3.11 Os problemas do controle da urina e fezes na criança: a) A criança que molha a cama ou as calças (enurese)

Os ambientes em torno da criança e do adolescente. 2.3 Maus-tratos à criança: consequências emocionais

Conceito e definição

1º Congresso Psicologia do Desenvolvimento

PROMOÇÃO DA SAÚDE EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES:

Todos os dados serão anónimos e confidenciais, pelo que não deverá identificar-se em parte alguma do questionário.

CARTILHA MUNICIPAL DE PREVENÇÃO AO SUICÍDIO

Depressão: Os Caminhos da Alma... (LÚCIA MARIA)

A CRIANÇA E O DIVÓRCIO

Depressão Pós Parto. (NEJM, Dez 2016)

Depressão. Um distúrbio que tem solução.

INCOGNUS: Inclusão, Cognição, Saúde. Um olhar sobre as várias formas de demência

DEPRESSÃO NA INFÂNCIA E NA ADOLESCÊNCIA. Gabriela Anita Sterz 1. Jerto Cardoso da Silva 2

Depressão: o que você precisa saber

Violência de Género: Violência sobre os idosos e as idosas

PSICOPATOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO

Depressão em mulheres

Profa. Ana Carolina Schmidt de Oliveira Psicóloga CRP 06/99198 Especialista em Dependência Química (UNIFESP) Doutoranda (UNIFESP)

Grupo de Trabalho da Violência ao Longo do Ciclo de Vida da ARS Algarve, IP

epidemia do silêncio

GRAVE. DEPRESSAo O QUE É A DEPRESSAO GRAVE? A depressão grave é uma condição médica comum e afeta 121 MILHÕES de pessoas em todo o mundo.

Nada disto. Sintomas característicos:

Humanização na Emergência. Disciplna Urgência e Emergência Profª Janaína Santos Valente

Seqüelas invisíveis dos acidentes de trânsito

PSICOLOGIA JURÍDICA: RELAÇÃO COM O DIREITO DE FAMÍLIA

Adoção e Questões Polêmicas: Os filhos e os transtornos psiquiátricos

DUPLO DIAGNÓSTICO: Transtornos Mentais na Síndrome de Down

INCOGNUS: Inclusão, Cognição, Saúde

Profa. Ana Carolina Schmidt de Oliveira Psicóloga CRP 06/99198 Especialista em Dependência Química (UNIFESP) Doutoranda (UNIFESP)

O QUE É O STRESS? Stress é não ser capaz de lidar com a situação.

Podemos dizer que a Pediatria se preocupa com a prevenção, já na infância, de doenças do adulto.

Mente Sã Corpo São! Abanar o Esqueleto - Os factores que influenciam as doenças osteoarticulares. Workshop 1

O diagnóstico da criança e a saúde mental de toda a família. Luciana Quintanilha, LCSW Assistente Social e Psicoterapeuta Clínica

2 Ansiedade / Insegurança Comportamento de busca de atenção, medo / ansiedade, roer unhas, fala excessiva

TRANSTORNO AFETIVO BIPOLAR

1.1 Ser mãe, ser pai: O papel dos pais no desenvolvimento e educação dos filhos

Onde andam os anjos da guarda? Levantando o véu sobre o que se passa por cá

Ansiedade de Separação: O que é isso???

DEPRESSÃO TRATAR É PRECISO

EDUCAR NO SÉCULO XXI. Psicologia para quê? Suzana Nunes Caldeira Universidade dos Açores

Raphael Frota Aguiar Gadelha

VIOLÊNCIA SEXUAL. Capacitação Coordenadores municipais

Será Culpa ou Vergonha?

Suicídio: informando para prevenir.

DIAGNÓSTICO, AUTISMO E REPARAÇÃO. Do luto à ressignificação de um filho

Como Prevenir o Suicídio?

Suicídio. Saber, agir e prevenir.

Depressão e Exercício

Depressão Ciência, Filosofia e Religião. Igreja Vidas Restauradas Apresentação: Paulo de Mello

COMO AJUDAR ALGUÉM COM RISCO DE SUICÍDIO

A importância da família no tratamento do uso abusivo de álcool e drogas. Prof.ª Angela Hollanda

ARTIGO: O seu filho está deprimido? A depressão infantil -

DISTÚRBIO DA ANSIEDADE E DEPRESSÃO

Stresse no Trabalho: Risco e Oportunidade

BULLYING NO TRABALHO: IMPACTO NA VIDA PESSOAL DOS ENFERMEIROS

PSICÓLOGO RAFAEL A. PRADO

Módulo 2. Voz Interior

O ADOLESCENTE CONTEMPORÂNEO (J.D.NÁSIO, 2012)

a) A multidimensionalidade da pobreza b) A interacção multidimensional

PLANO LOCAL DE SAÚDE OESTE NORTE

IGUALDADE NÃO É (SÓ) QUESTÃO DE MULHERES

Capacitação para Prevenção e Enfrentamento ao Abuso Sexual Infantil. Por Viviane Vaz

Depressão, vamos virar este jogo?

SIT Mindfulness Ficha de Inscrição Programa de 14/11/2016 a 19/12/2016

ATIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR PLANIFICAÇÃO ANUAL ATELIER DAS EMOÇÕES Ano Letivo 2019/2020

Registo Escrito de Avaliação

Mundo conectado. A influência da internet no comportamento da criança e do adolescente. Melissa Mangueira Diretora Educacional

O que é Distúrbio Bipolar Bipolar Disorder Source - NIMH

CUIDAR E SER CUIDADO. Palestrante: Rossandra Sampaio Psicóloga

Profa. Ana Carolina Schmidt de Oliveira Psicóloga CRP 06/99198 Especialista em Dependência Química (UNIFESP) Doutoranda (UNIFESP)

Idade vsriscos Psicossociais. Como actuar?

Transtornos Mentais na Infância e Adolescência

Diga Não à Depressão. Programa Inovador para Superar a Depressão

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM SAÚDE MENTAL E ATENÇÃO PSICOSSOCIAL

Tristeza e depressão Demônio Do Meio-dia Uma anatomia da depressão

EBOOK SINTOMAS DEPRESSÃO DA DIEGO TINOCO

Diretrizes da Política Escolar para os pais de novos alunos

Doméstica Sexual Outra (especifique) Sim Não Não Sabe. Violência Sexual Outra (especifique) Sim Não Não Sabe. Sim Não Não Sabe

Automedicação e estimulantes em contexto académico

INVENTÁRIO DE SINTOMATOLOGIA DEPRESSIVA (AUTO-RELATO)

Febre recorrente relacionada com NLRP12

AJUDANDO A INTEGRAR AS MEMÓRIAS DO PASSADO

a natureza da vida o luto: dimensão geral o luto: tipos e particularidades

DIAGNÓSTICOS DE ENFERMAGEM. ORIENTAÇÕES

Acompanhamento Psicoterapêutico

O que é a Menopausa?

Agrupamento Vertical de Escolas S. Teotónio. Biblioteca Escolar

Aprender a Educar Programa para Pais

Transcrição:

Páginas para pais: Problemas na criança e no adolescente 3.8 Tristeza e depressão na criança e no adolescente Introdução Os sentimentos de tristeza, desapontamento, desvalorização e culpa, surgem pontualmente no nosso dia-a-dia e a criança, ao longo do seu crescimento, aprende igualmente a conviver com eles. São geralmente sentimentos transitórios que ocorrem na sequência de episódios de vida difíceis, frustrantes ou perturbadores, como por exemplo: o nascimento de um irmão ( Os meus pais agora já não gostam de mim! ), a doença ou morte de um familiar próximo (Será que foi porque eu me zanguei com ele/ela? ) ou um insucesso na escola ou noutra atividade ( Não presto para nada! ). Nestas circunstâncias, a criança ou o adolescente, tende a ultrapassar espontaneamente a situação com algum apoio dos pais ou outros adultos próximos. Mas nem sempre estes sentimentos são benignos, transitórios e facilmente ultrapassáveis. 1

O que é a depressão da criança e do adolescente? A criança ou o adolescente deprimido sente-se desvalorizado e/ou culpado, de modo persistente e tal interfere no seu dia-a-dia e no seu desenvolvimento. Pode ter: ar triste, insatisfeito, choro fácil; cansaço ou aborrecimento constantes, alterações do sono ou do apetite; isolamento em relação aos outros, falar pouco; desinteressado em relação a tudo; baixa do rendimento escolar, dificuldade em concentrar-se; irritabilidade, revolta, agressividade; grande sensibilidade face à rejeição e ao insucesso; tendência para acidentes; por vezes abuso de drogas ou álcool, numa tentativa de aliviar o seu mal estar; pensamentos sobre a morte ou o suicídio, tentar suicidar-se ou fazer mal a si próprio. A criança mais nova, tem dificuldade em expressar o que sente por palavras e o seu mal estar pode manifestar-se de outras formas: um aspeto pouco saudável (com palidez ou olheiras); cansaço, dores de cabeça ou barriga comportamento excessivamente calmo ou, mais frequentemente irritável, agressivo ou revoltado; diminuição do rendimento escolar. Quais as causas deste problema? Os fatores que contribuem para a depressão da criança e do adolescente, são múltiplos: 2

caraterísticas da própria criança ou jovem, como o seu temperamento ou a sua personalidade, que o tornam mais frágil e vulnerável a esta perturbação; uma tendência familiar para a depressão que pode ser herdada; fatores familiares, tais como: o dificuldades no relacionamento pais-criança, em particular nos primeiros anos de vida; o separações repetidas dos pais ou mudanças frequentes de prestadores de cuidados nos primeiros anos de vida; estas situações podem ser sentidas pela criança como experiências de perda; o depressão dos pais que os torna pouco disponíveis, irritáveis, desistentes e pouco capazes de apoiar e estimular a criança; o conflitos ou violência familiar; o maus tratos ou rejeição da criança. acontecimentos vividos como traumáticos: o separação, morte ou doença grave de um familiar próximo; o rutura de uma relação romântica na adolescência, experiências de frustração, abandono e rejeição no grupo de pares; o experiências repetidas de pequenas frustrações no quotidiano, com sentimentos de rejeição, abandono, desvalorização, vividas em particular por crianças já fragilizadas, com falhas anteriores de auto-estima. Quais as consequências do problema? A depressão limita o funcionamento global da criança e do jovem e, quanto mais cedo se inicia e mais tardio é o tratamento, maior é o impacto que tem no próprio desenvolvimento. As dificuldades de aprendizagem são muito frequentes e podem limitar o sucesso da escolaridade. 3

As dificuldades de socialização perturbam o desenvolvimento e interferem na integração escolar, social e mais tarde na adaptação ao mundo do trabalho. O consumo de drogas e álcool é também mais frequente nestes casos, assim como a gravidez na adolescência, pois constituem formas do jovem tentar fugir ao seu sofrimento interior. Finalmente o suicídio é um risco real nestas situações, em particular na adolescência e mostra como é fundamental o diagnóstico e tratamento da depressão nestas idades. Como pode ser prevenido ou diminuído o problema? A depressão nestas idades desenvolve-se muitas vezes silenciosamente, sem perturbar ou chamar a atenção das pessoas próximas. No entanto, pode ser uma situação complicada, com consequências graves. É portanto fundamental reconhecê-la precocemente e iniciar o tratamento rapidamente. Para tal é importante: que os pais estejam atentos ao eventual sofrimento da criança ou do jovem, que pode, como vimos, manifestar-se de muitas formas (diminuição do rendimento escolar, isolamento, desinteresse, irritabilidade, etc.); tentar melhorar o relacionamento mútuo pais/filhos, mostrar disponibilidade para ouvir as preocupações da criança ou jovem e tentar entender as razões do seu mal estar; perante situações de vida mais difíceis e eventualmente traumáticas, os pais devem estar alerta para o impacto que estas possam ter no filho(a) e para uma possível necessidade de ajuda. Como e quando pedir ajuda? Se a criança ou jovem manifesta alguns dos sinais acima descritos e estes se mantêm durante alguns meses e interferem significativamente na sua vida, recomenda-se que recorra sem demora ao seu médico assistente. Este poderá 4

avaliar globalmente a situação, incluindo a sua gravidade e risco de comportamentos auto-destrutivos, e orientará o caso para a consulta de saúde mental infantil e juvenil da área, se tal for necessário. O contacto com a escola para obter mais informações, é também muito útil. O tratamento é variável conforme o caso, a sua gravidade e a idade da criança/adolescente. Pode incluir um apoio psicológico à criança, uma intervenção familiar (tanto mais importante quanto mais jovem for a criança) e até uma medicação (geralmente reservada para os casos mais graves, em particular na adolescência). Um trabalho em articulação com a escola ou outras estruturas da comunidade pode também ser importante. Qual a evolução destas situações? A evolução é variável mas podemos globalmente considerar que quanto mais cedo a depressão se instala e quanto mais tardio é o tratamento, pior tende a ser a evolução. Na adolescência a depressão é mais frequente e o risco de suicídio é mais elevado. No entanto, há também nesta fase depressões transitórias e com uma boa evolução, enquanto outras se arrastam e tendem a persistir na idade adulta. 5