AÇÃO CAUTELAR N º 873.281-0/7 São Paulo Requerente: Maurício Martins Cardoso Requerida: Ford Leasing S. A. Arrendamento Mercantil MEDIDA CAUTELAR INCIDENTAL. ARRENDAMENTO MERCANTIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA. SUSPENSÃO DA DIVULGAÇÃ0 DAS RESTRIÇÕES CADASTRAIS. ADMISSIBILIDADE. Não havendo decisão definitiva sobre a dívida, não se justifica a inclusão do nome do Requerente nos cadastros de órgãos de crédito. Voto n º 9.079. Visto, MAURÍCIO MARTINS CARDOSO ingressou com Medida Cautelar Incidental, pleiteando a concessão da medida liminar, contra FORD LEASING S. A. ARRENDAMENTO MERCANTIL, qualificação e caracteres das partes nos autos, aduzindo que:... foi vítima de um estelionatário que agindo em seu nome (...) efetuou a compra de um veículo no estabelecimento da requerida... (folha 2).... outra alternativa não restou ao requerente senão propor ação declaratória de inexistência de relação jurídica cumulada com indenização por danos morais... (folha 3). - 1 -
Requereu:... a suspensão provisória do protesto da nota promissória (...) bem como os apontamentos no SERASA e no SCPC até a final decisão do feito..." (folha 4 destaques do original). Formalizada a angularidade, FORD LEASING S. A. ARRENDAMENTO MERCANTIL apresentou contestação alegando, preliminarmente, inépcia da inicial porque:... o autor não preencheu os requisitos necessários à propositura da presente demanda... (folha 234). No mérito aduziu que: não haveria qualquer abusividade na restrição apontada pelo credor com relação ao débito do contratado com relação ao contrato firmado entre as partes, mesmo porque a ré não tinha ciência do estelionato e muito menos que fora vítima de estelionato....... DEVERIA TER PLEITEADO JÁ NA AÇÃO PRINCIPAL ANTECIPAÇÃO DE TUTELA PARA A EXCLUSÃO DE EVENTUAIS REGISTROS. ADEMAIS POR UMA QUESTÃO DE LÓGICA PODERIA, EM SUA APELAÇÃO, TER REQUERIDO QUE A MESMA FOSSE RECEBIDA APENAS NO EFEITO SUSPENSIVO E NÃO O FEZ....... em caso de eventual procedência da presente demanda, desde já requer e pleiteia a ré pela não condenação aos ônus sucumbenciais... (folha 250 negrito e grifo do original). O Requerente apresentou manifestações (folhas 276/277 e 279/280). É o relatório. - 2 -
Além dos requisitos gerais para admissibilidade de qualquer ação, a medida cautelar deve ainda preencher dois outros que lhe são específicos: a probabilidade de êxito da pretensão (fumus boni juris) e o perigo de ficar (essa pretensão) irremediavelmente comprometida pela demora processual (periculum in mora). A finalidade do processo cautelar consiste na prevenção do dano que pode advir da demora natural da solução do litígio na ação principal. As medidas cautelares, a rigor, formam atividade jurisdicional típica e têm uma finalidade provisória e instrumental. Além das condições gerais de sua admissibilidade, que são as condições gerais da ação - possibilidade jurídica do pedido, interesse processual e legitimidade das partes - é indispensável a ocorrência do periculum in mora e fumus boni iuris no processo cautelar. Se o poder cautelar é amplo, não é, contudo, ilimitado ou arbitrário, devendo conter-se nos estritos termos das medidas cautelares, acudindose, inclusive, aos indispensáveis pressupostos do procedimento e à real necessidade do provimento reclamado liminarmente. 1 O processo cautelar serve para garantir o resultado útil do processo principal, do qual sempre é dependente, segundo prescreve o artigo 796 do Código de Processo Civil. "O interesse de agir representa, por seu lado, a necessidade de recorrer, o titular de alguma pretensão, à tutela cautelar, sob pena de se ver despojado do amparo da futura eficácia da tutela jurisdicional definitiva, já que esta se torna inócua pelo perigo de mutação iminente e grave na situação das partes em litígio. 2 1 - JM 104/43. 2 - HUMBERTO THEODORO JÚNIOR, Processo Cautelar, pág. 72, 18ª (ed.). - 3 -
Está evidenciado que há interesse em assegurar o proveito do processo principal. A Medida Cautelar postulada é necessária e útil para os fins propostos. Considera-se, ab initio, que nada existe de irregular na comunicação dos nomes de devedores ao cadastro próprio dos bancos, por convênio estabelecido com outras entidades financeiras para a mútua proteção que se ajustaram, em face do comportamento de seus contratantes. Há previsão específica de sua abertura no Código de Defesa do Consumidor 3, embora com ressalvas de que seja comunicada e não impeça acesso ao consumidor. Esses bancos de dados e cadastros, assim como os serviços de proteção ao crédito e congêneres, são considerados "entidades de caráter público 4. É verdade que o consumidor cadastrado pode sofrer prejuízos em sua atividade econômica pelas eventuais restrições de crédito a que pode ficar sujeito. Mas não é outra a finalidade do órgão cadastral, que visa acautelar os credores de clientes que não honrem ou não possam satisfazer seus compromissos. A jurisprudência tem decidido que: Havendo discussão da dívida em Juízo, e inexistindo qualquer prejuízo irreparável ou de difícil reparação ao credor, a inclusão do nome do consumidor, como devedor inadimplente no cadastro do SERASA, constitui abuso de direito. 5 3 - Lei nº 8.078/90, art. 43. 4 - Lei nº 8.078/90, art. 43, 4º. 5-2º TACivSP - AI 528.353-10ª Câm. - Rel. Juiz MARCOS MARTINS - J. 19.8.98. No mesmo sentido: AI 549.613-10ª Câm. - Rel. Juiz SOARES LEVADA - J. 15.9.98. - 4 -
O Requerente comprovou a existência de "AÇÃO ORDINÁRIA DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS (folha 33), onde foi proferida sentença julgando procedente, em parte, a pretensão para declarar não existir relação jurídica entre as partes e nula a nota promissória emitida em razão do contrato de arrendamento mercantil e levada a protesto... (folha 11), a interposição de recurso de apelação (folhas 89/94) e, que, o protesto e a inscrição de seu nome nos cadastros do SPC e do SERASA tiveram origem no pleito interposto pela Requerida FORD LEASING S. A. ARRENDAMENTO MERCANTIL, decorrente do débito discutido nos autos originários. Não havendo decisão definitiva sobre a dívida, não se justifica a inclusão do nome do Requerente nos cadastros de órgãos de crédito. "Constitui constrangimento e ameaça vedados pela Lei 8.078/90, o registro do nome do consumidor em cadastro de proteção ao crédito, quando o montante da dívida é ainda objeto de discussão em juízo. Recurso especial não conhecido. 6 Em face ao exposto, ratifica-se a medida liminar e julga-se procedente a pretensão para: a) determinar-se a sustação dos efeitos do apontamento lavrado pelo 5º Cartório de Protestos de São Paulo, no valor de R$ 35.959,41 (folha 23); b) para a não-inclusão ou a exclusão do nome do Requerente nos cadastros de inadimplentes (SCPC e Serasa), no pertinente ao débito discutido no processo originário; 6 - REsp 191.326 - SP - STJ - 4ª T. - Rel. Min. BARROS MONTEIRO - J. em 03.12.98 - "in" DJU de 05.04.99, pág. 137. - 5 -
c) condenar-se a Requerida ao pagamento das custas e honorários advocatícios fixados em R$ 50,00. Comunique-se (o teor desta decisão) ao r. Juízo a quo e às entidades nela referidas, por meio de ofícios, que deverão ser retirados na Secretaria e cumpridos pelo interessado, que comprovará o atendimento em cinco dias. IRINEU PEDROTTI Desembargador Relator. - 6 -