1ª Conversa: Salário Mínimo 12 Maio, Lisboa José Varejão UPorto
Objetivo e Debate Há duas (atitudes do espírito). Ambas têm as suas vantagens, mas o que me faz antipatizar ( ) com a de Settembrini, é que ela pretende ter o monopólio da dignidade. (Thomas Mann - A Montanha Mágica) Os objectivos associados ao salário mínimo são consensuais; o que suscita desacordo é a sua capacidade de produzir o resultado pretendido. Objectivo: garantir um salário decente a todos os trabalhadores. 12/05/2014 2
Portugal - Evidência Estudos sobre o efeito da abolição, em 1987, do sub-mínimo aplicável a trabalhadores com idade entre os 18 e os 19 anos: Pereira (2003) Portugal e Cardoso (2006) Cerejeira (2008) 12/05/2014 3
1987 Pereira (2003) Abolição do sub-mínimo para trabalhadores com 18 e 19 anos originou: Redução do emprego dos trabalhadores abrangidos pela medida; Elasticidade: entre -0.4 e -0.2 Redução do nº médio de horas trabalhadas pelos trabalhadores abrangidos; Aumento do emprego de trabalhadores entre 20 e 25 anos. Efeito sobre entradas e saídas de empresas atenua a perda de emprego (mas elasticidade ainda <-0.2). 12/05/2014 4
1987 Portugal e Cardoso (2006) Abolição do sub-mínimo para trabalhadores com 18 e 19 anos originou: Redução significativa do nº de recrutamentos de trabalhadores abrangidos pela medida; Redução significativa do nº de separações de trabalhadores abrangidos pela medida; Efeito líquido sobre o emprego dos abrangidos negligenciável. 12/05/2014 5
1987 Cerejeira (2008) Abolição do sub-mínimo para trabalhadores com 18 e 19 anos originou: Efeito especialmente negativo sobre o emprego dos jovens não qualificados: aumento de 1 p.p. da massa salarial devido ao aumento da RMMG origina uma redução do emprego entre -0.465 e -0.42. Efeito de substituição entre trabalhadores jovens menos qualificados por trabalhadores jovens mais qualificados. 12/05/2014 6
Fonte: GEP-MEE Aumento da RMMG Acordo de 2006 385.90 (em 2006); metas: 450 (em 2009), 500 (em 2011). 12/05/2014 7
Acordo de 2006 Valorização real da RMMG; Valorização relativa da RMMG (antes e depois de 2010); Enorme aumento da incidência da RMMG (4.5% do trabalhadores a tempo completo em 2006 para 11.3% em 2011, fonte: GEP-MEE); 12/05/2014 8
Evolução Após o Acordo 6,00% 5,00% 4,00% % 3,00% 2,00% 1,00% 0,00% -1,00% 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 SMN Ganho Mensal Rem. Base Mensal var. real; ganho mensal, TPCO Carneiro et al., 2011 RMMG horário, real, em USD-PPP Fonte: OCDE 12/05/2014 9
Evolução Após o Acordo 0,58 Índice de Kaitz 0,56 0,54 0,52 0,50 0,48 0,46 0,44 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Salário Mínimo em % do ganho mediano, trabalhadores a tempo completo (OCDE); fonte: GEP-MEE 12/05/2014 10
Bélgica França Grécia Irlanda Luxemburgo Holanda Portugal Eslováquia Espanha Reino Unido Eslovénia Hungria Letónia Lituânia Roménia Rep. Checa Estónia EUA Evolução Após o Acordo 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0 Índice de Kaitz - Salário Mínimo em % do ganho mediano, 2011, trabalhadores a tempo completo (OCDE); fonte: GEP-MEE 12/05/2014 11
em % do total de TPCO Evolução Após o Acordo 20% 15% 10% 5% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Incidência no total TPCO Carneiro et al., 2011 Os trabalhadores que recebem o salário mínimo foram identificados na base de dados utilizando o seguinte critério: trabalhadores com horário completo e remuneração completa: todos os trabalhadores que no período de referência auferem um salário base mensal igual ou inferior ao SMN; trabalhadores com horário incompleto e remuneração incompleta: todos os trabalhadores que no período de referência auferem um salário horário igual a inferior ao salário mínimo horário. 12/05/2014 12
em % do emprego total do grupo em % do emprego da respectiva categoria em % do emprego total do grupo em % do emprego total do grupo Evolução Após o Acordo 40% 35% 30% 25% 30% 25% 20% 20% 15% 10% 5% 15% 10% 5% 0% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 0% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Idade<25 Idade>=25 nacionais estrangeiros 30% 55% 50% 25% 45% 20% 40% 35% 15% 30% 25% 20% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Aprendizes 10% 5% 0% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Carneiro et al., 2011 <20 20-49 50-99 100-249 250-499 500 e + 12/05/2014 13
em % do total de recrutamentos em % do total de separações Evolução Após o Acordo 30% 25% 25% 20% 20% 15% 15% 10% 10% 5% 5% 0% 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 0% 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 Carneiro et al., 2011 12/05/2014 14
Avaliação dos efeitos do Acordo Dois estudos: Estudo sobre a Remuneração Mínima Mensal Garantida em Portugal Relatório Final (2011), A. Carneiro, C. Sá, J. Cerejeira, J. Varejão e M. Portela. The Impact of the Minimum Wage on Low-wage Earners (2011), M. Centeno, C. Duarte e A. Novo, Banco de Portugal Economic Bulletin (Autumn 2011). 12/05/2014 15
Metodologia Análise efetuada ao nível de mercados de trabalho locais (MTL), sendo estes definidos por conjuntos de trabalhadores que partilham as mesmas características. Características consideradas: região NUT2 (r), sector (21 sectores) (j), grupo etário (6 grupos) (i), nível de qualificação (8 níveis) (q), sexo (s) e ano (t); Dados: Quadros de Pessoal (2002 2009). Analisa-se a relação entre a variação observada no emprego no MTL e o Impacto Salarial do aumento da RMMG. Impacto Salarial: valor médio, por MTL, do acréscimo percentual do salário base real, de cada trabalhador, necessário para satisfazer os requisitos associados ao valor do SMN fixado no ano seguinte. 12/05/2014 16
Resultados Um acréscimo de 1 pp. na taxa de crescimento do salário base real do MTL necessário para satisfazer os requisitos associados ao aumento da RMMG fixado no ano seguinte, resulta numa diminuição da taxa de crescimento do emprego entre 1.1 e 1.8 pontos percentuais. Efeitos dos acréscimos da RMMG: Acréscimo dos salários base nos anos posteriores a 2007, entre 0.50% e 0.76%; Diminuição do emprego por conta de outrem entre 0.56% e 0.85%. 12/05/2014 17
Resultados Ano Variação (real) da RMMG Aumento da massa salarial base (real) induzido pelo aumento da RMMG Efeito sobre o emprego por conta de outrem associado ao aumento da massa salarial (induzido pelo aumento da RMMG) 2007 1.71% 0.18% -0.20% 2008 4.11% 0.50% -0.56% 2009 5.38% 0.76% -0.85% 2010 3.99% 0.66% -0.73% 12/05/2014 18
Resultados Efeitos para sub-grupos específicos: Por género: o efeito sobre o emprego e os salários das mulheres é cerca do dobro do encontrado para os homens; Por grupos etários: o grupo etário entre os 16 e os 18 anos regista perdas de emprego acima dos 5% desde 2007; Por nível de qualificação: o efeito ultrapassa em valor absoluto os 3% em 2009 na categoria de Praticantes e Aprendizes e é cerca de 2% no caso dos Profissionais não Qualificados; Por região: na região Norte os efeitos sobre o emprego são os mais elevados, ultrapassando 1% em 2009 e 2010. 12/05/2014 19
Centeno, Duarte e Novo (2011) Autores analisam os efeitos do aumento da RMMG sobre: emprego, salários e desigualdade. Conclusões: Efeitos sobre o emprego negativos mas de magnitude reduzida (mais significativos em períodos de menor crescimento); Efeito positivo sobre os menores salários e efeito negativo sobre o salário mediano (efeito spillover); Menor desigualdade salarial na base da distribuição salarial. 12/05/2014 20
Síntese e Implicações Efeitos de aumentos da RMMG não são inequívocos, mas: Prováveis efeitos negativos sobre o emprego Magnitude do efeito é limitada; Mas tanto maior quanto: Maior for o aumento da RMMG; Mais próximo for a RMMG da remuneração mediana; Menor for o crescimento económico. Redução da desigualdade salarial (na base da distribuição). O efeito redistributivo do aumento da RMMG não ocorre apenas entre trabalhadores e empregadores, mas também (sobretudo?) entre trabalhadores. 12/05/2014 21
Síntese e Implicações Os objectivos associados ao salário mínimo são consensuais; o que suscita desacordo é a sua capacidade de produzir o resultado pretendido. 12/05/2014 22