ADUBAÇÃO FOLIAR DE MACIEIRA Atsuo Suzuki 1 Clori Basso 2 Introdução: A produção brasileira de maçã passou por um processo evolutivo tecnológico muito grande, com o objetivo de obter altas produtividades de frutos de excelente qualidade. As práticas de preparo do solo, calagem e adubação, além de atender às exigências nutricionais das plantas, devem ser avaliadas em conjunto com as demais práticas culturais para que as práticas de adubação e nutrição vegetal contribuam positivamente em todas as etapas do desenvolvimento da cultura como, por exemplo, no controle de doenças e pragas, na condução e manejo das copas e na conservação pós-colheita. A adubação adequada é aquela que também considera seus efeitos sobre o meio ambiente. Portanto, evitar a aplicação de adubos desnecessários faz parte das boas práticas de manejo da produção de maçãs. Adubação Foliar: A adubação foliar tem por objetivo suprir nutrientes às folhas e frutos, de forma direta, naqueles momentos que são necessárias respostas rápidas por parte da planta, caracterizando-se como uma prática para corrigir rapidamente deficiências e complementar a aplicação de nutrientes via solo. Exceto o cálcio durante o ciclo vegetativo e a uréia em pós-colheita, os demais nutrientes a serem aplicados via foliar normalmente são determinados pela análise foliar. Não se aconselha aguardar o aparecimento de sintomas para tomarem medidas corretivas, pois quando aparecem, as plantas já foram afetados pela carência. Na maioria dos pomares do Sul do Brasil, a necessidade de aplicações de nutrientes via foliar envolve principalmente os nutrientes cálcio, magnésio, boro e zinco. A aplicação foliar de potássio poderá trazer benefícios ao tamanho e coloração dos frutos em situações de baixa disponibilidade do elemento no solo ou deficiência induzida por fatores alheios aos procedimentos normais de adubação e manejo de pomares, como deficiência hídrica ou excesso de produção. Existem no mercado vários produtos para aplicação foliar, dentre eles produtos contendo macro e micronutrientes diversos, bioreguladores, bioestimulantes, aminoácidos,
nutrientes quelatizados, entre outros. Há deficiência de trabalhos experimentais para comprovar a eficácia do seu uso sistemático. Em casos pontuais onde existem problemas de desequilíbrio ou deficiências, sua aplicação poderá apresentar resultados positivos. Cálcio: O cálcio é um nutriente indispensável na constituição da lamela média das paredes celulares. A deficiência de cálcio não é caracterizada por sintomas típicos nas folhas. O sintoma visível mais típico de deficiência de cálcio na macieira é o aparecimento de manchas de cortiça nos frutos próximo à colheita e durante a frigoconservação (Figuras 1 e 2)). Portanto, em função de cultivar, faz-se de 5 a 12 pulverizações em intervalos de 15 dias, visando suprir cálcio ao fruto, iniciando no estádio J (frutos com tamanho de uma azeitona) e utilizando cloreto de cálcio (CaCl 2.2H 2 O) a 0,6%. Concentrações de 0,3% a 0,4% de cloreto de cálcio nas primeiras pulverizações diminuem o risco de indução de russeting pelo produto. Outra opção é a aplicação de cálcio quelatizado em período crítico ao aparecimento de russeting, ou seja, nos primeiros 60 dias após a floração. Diz-se que os produtos quelatizados são mais facilmente absorvidos pelas folhas e frutos do que na forma de sais, embora trabalhos científicos tenham mostrado que a absorção está muito relacionada à quantidade do nutriente que chega na superfície de absorção. Deve-se considerar que os nutrientes quelatizados e vendidos na forma de soluções possuem baixa concentração de nutrientes. Em situações específicas, como em áreas de deficiência de nitrogênio ou em épocas de maior requerimento de nitrogênio, e, ainda, em períodos críticos de russeting, poderá ser usado o nitrato de cálcio (Ca(NO 3 ) 2 ), aplicado a 0,7% a 0,8%, evitando aplicação em áreas vigorosas. As aplicações foliares de cálcio não são para corrigir deficiência na planta, mas sim para auxiliar no suprimento de cálcio ao fruto. O cálcio é o elemento mais crítico no fruto. Seu suprimento ao fruto ocorre mais acentuadamente na fase inicial, logo após a fecundação durante a divisão celular. É absorvido e transportado na forma de íon Ca 2+, junto com o suprimento de água via xilema. Após este período, o suprimento de água e nutrientes para o fruto passa a ser via floema, onde o cálcio é muito pouco móvel e está presente em concentração muito baixa. As aplicações periódicas visam atingir a epiderme do fruto, promovendo sua absorção, mesmo que a taxas pequenas.
Magnésio: É um dos constituintes da clorofila, mas presente também em outras partes importantes da planta. Os sintomas de deficiência de magnésio são bem nítidos e de fácil reconhecimento. O magnésio é bastante móvel e os sintomas manifestam-se inicialmente nas folhas mais velhas da base dos ramos. Portanto, os sintomas iniciais normalmente só aparecem na segunda metade do ciclo vegetativo. Os sintomas iniciais caracterizam-se por amarelecimento (perda da clorofila) das regiões internervais das folhas. Uma visualização detalhada permite observar manchas em forma de cunha ou V, das margens em direção à nervura central (Figuras 3 e 4). Posteriormente, ocorre o necrosamento dos tecidos atacados, que resultará em desfolhamento precoce da base dos remas. Quando a analise foliar indicar deficiência ou teores baixos, fazer 2 a 5 pulverizações a intervalos de 15 dias, com sulfato de magnésio (MgSO 4.7H 2 O) 2 a 3%. Áreas com desequilíbrio na relação K/Mg na folha (>4), normalmente estão associadas a elevado teor de K e/ou alta relação Ca/Mg no solo. Assim, é preciso fazer aplicações preventivas a partir da segunda quinzena de dezembro. Zinco: O zinco é ativador de diversas enzimas, sendo então importante no metabolismo vegetal. Os sintomas de deficiência de zinco são bastante típicos e de fácil identificação. Pela sua atuação sobre as auxinas, produzem internódios curtos que resultam em brotos pequenos em forma de roseta. As folhas são menores, estreitas e rijas que as normais. As bordas podem se levantar em relação à nervura principal, dando aspecto de canaleta (Figura 5). Por ser pouco móvel na planta, os sintomas de deficiência aparecem logo no início do ciclo vegetativo. Em áreas deficientes, aplicar sulfato de zinco a 0,2% ou zinco quelatizado como fonte de Zn. Evitar aplicações de sulfato de zinco até 30 a 40 dias após a floração, que é o período crítico de ocorrência de russeting. Para se evitar injúrias à planta, ao aplicar sulfato de zinco, pode-se adicionar concentração igual (0,2%) de cal hidratada Ca(OH) 2. No período de dormência da macieira, aplicar sulfato de zinco a 0,6% 1,0% no inchamento das gemas e após a quebra da dormência. Boro: A presença de boro nos pontos onde ocorre intensa divisão celular é de extrema importância, pois atua na formação da pectina das membranas celulares. É imprescindível para absorção, transporte e metabolismo de cátions, especialmente o cálcio. O boro é pouco móvel na planta, o que diminui sua
translocação dos tecidos velhos aos pontos de maior demanda, razão pela qual os sintomas de deficiência aparecem inicialmente nas zonas de crescimento. O crescimento das brotações é bastante reduzido em plantas deficientes, com encurtamento dos internódios, e até morte dos ramos. Os sintomas são bem nítidos no fruto, onde ocorre encortiçamento interno e externo na polpa, o qual tem início bem no começo de formação das maças. Como as manchas de cortiça são de células mortas de crescimento paralisado, com a continuidade do desenvolvimento dos frutos ocorrerá rachadura nos mesmos (Figura 6). Quando a análise foliar indicar, fazer 1 a 3 aplicações a intervalos quinzenais, a partir do estádio J, aplicando bórax 0,4% ou solubor 0,2%. A aplicação de boro no estádio de botão rosado ou na floração poderá auxiliar no crescimento do tubo polínico e favorecer a fecundação. As vias de entrada dos nutrientes aplicados via foliar são a cutícula e os estômatos. Portanto, os fatores que influem na turgidez das células e na hidratação da cutícula são importantes para a absorção e para evitar os riscos de queimaduras por aumento das concentrações foliares de nutrientes nas folhas. Assim, é aconselhável fazer as aplicações foliares de nutrientes nas primeiras horas da manhã ou ao entardecer, evitando-se os dias quentes e horas de alta temperatura. Referências bibliográficas: BASSO.C.; SUZUKI, A. Nutrição da Macieira. In: Encontro Nacional de Fruticultura de Clima Temperado, Fraiburgo, VIII ENFRUTE, Anais... Caçador: Epagri, vol. 1 (palestras) 2005. 360p. NACHTIGALL, G.R.; BASSO, C.; FREIRE, C.J.S. Nutrição e adubação de pomares. In: NACHTIGALL, G.R. (Ed.). Maçã: produção. Brasília: Embrapa Informação Tecnológica, 2004. p.63-77. SUZUKI, A.; BASSO, C. Solos e nutrição da macieira. In: EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E EXTENSÃO RURAL DE SANTA CATARINA. A cultura da macieira. Florianópolis: EPAGRI, reedição, 2006. p.341-381. 1 Engenheiro Agrônomo, MSc. Solos e Nutrição de Plantas, pesquisador da Epagri Estação Experimental de Caçador, Cx. Postal 591. 89500-000 - Caçador, SC. E-mail: Suzuki@epagri.sc.gov.br 2 Engenheiro Agrônomo, PhD. Solos e Nutrição de Plantas, pesquisador da Epagri Estação Experimental de Caçador, Cx. Postal 591. 89500-000 Caçador, SC. E-mail: clori@epagri.sc.gov.br
Figura 1: Deficiência de Ca (Bitter pit) Figura 2: Deficiência de Ca (Depressão lenticelar) Figura 3: Deficiência de Mg Figura 4: Deficiência de Mg (necrosamento) Figura 5: Deficiência de Zn Figura 6: Deficiência de B