PRÁTICO de DIREITO PREVIDENCIÁRIO

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Transcrição:

Ivan Kertzman Curso PRÁTICO de DIREITO PREVIDENCIÁRIO 20ª edição revista ampliada atualizada 2022

Capítulo 18 Crimes contra a Seguridade Social 18.1. INTRODUÇÃO Estudamos, no tópico 15, que as empresas possuem obrigações fiscais perante a Previdência Social, que, quando descumpridas, acarretam penalidades administrativas. Existem, ainda, outras imposições proibitivas de condutas, que, uma vez desrespeitadas, podem acarretar crime contra a Seguridade Social. Tais condutas estavam tipificadas na Lei 8.212/1991 e, a partir de 14 de julho de 2000, foram incorporadas ao Código Penal, pela Lei. 9.983/2000. Mas quais são os atos ilícitos que constituem crimes contra a seguridade social? Os crimes e a legislação que tipificam a conduta são: Apropriação Indébita Previdenciária art. 168-A do Código Penal; Sonegação Fiscal Previdenciária art. 337-A do Código Penal; Falsificação de Documento Público art. 297 do Código Penal; Inserção de Dados Falsos em Sistema de Informações art. 313-A do Código Penal; Modificação ou Alteração não Autorizada em Sistema de Informações art. 313-B do Código Penal; Divulgação de Informações Sigilosas ou Reservadas art. 153 do Código Penal; Estelionato art. 171 do Código Penal. Os dois primeiros da lista, apropriação indébita e sonegação fiscal, são, sem dúvida, os mais cobrados em provas de concursos públicos. O nosso estudo, então, priorizará estes tipos penais, devido às suas particularidades, no que diz respeito à legislação previdenciária. Em 28/02/2018, o STJ julgou o REsp 1.688.878-SP (Tema 157) fixando a tese de que incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00, a teor do disposto no art. 20 da Lei 10.522/2002, com as atualizações efetivadas pelas Portarias 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda. 353

CURSO PRÁTICO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO Ivan Kertzman 18.2. PROCEDIMENTO NOS CRIMES CONTRA A SEGURIDADE SOCIAL O Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil, ao iniciar uma ação fiscal, torna ciente a empresa por meio da entrega do Termo de Início de Procedimento Fiscal TIPF. No curso de uma fiscalização, o AFRFB pode identificar a ocorrência de conduta tipificada, em tese, como crime contra a seguridade social. Deve, então, elaborar uma Representação Fiscal para Fins Penais RFFP, relatando, precisamente, a conduta verificada com a devida fundamentação legal. A RFFP deve ser instruída com indícios de provas materiais da ocorrência do crime e descrição dos meses de sua ocorrência, constando desta, ainda, a identificação dos responsáveis legais pela empresa, em cada período. A Representação Fiscal deve ser remetida ao Ministério Público Federal MPF, devendo o Procurador da República analisar o conteúdo das informações. O MPF pode, ainda, se achar necessário, remeter o processo à Polícia Federal para auxiliá-lo na investigação (não faz parte do escopo desta obra a discussão sobre a competência do MPF para investigação e apuração de fatos). De acordo com o art. 83 da Lei 9.430/1996, com redação dada pela MP 497/2010, a Representação Fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária e aos crimes contra a Previdência Social, somente poderá ser encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a decisão final na esfera administrativa sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente. Assim, a Representação elaborada pelo Auditor-Fiscal deve ficar sobrestada até o trânsito em julgado do processo administrativo. Depois de analisados os processos, os Procuradores da República podem: a) Pedir pelo arquivamento do processo, se não considerarem os indícios suficientes à caracterização da conduta criminosa; ou b) Abrir processo crime contra os responsáveis, oferecendo denúncia à Justiça Federal. O Juiz Federal pode receber a denúncia do Ministério Público, iniciando, assim, o processo crime ou arquivá-la. Observe-se que já há jurisprudência pacificada de que a constituição definitiva do crédito tributário é pressuposto da persecução penal concernente a crime contra a ordem tributária (Súmula 50, TRF4). Obviamente, o objetivo aqui é de forma resumida e simplificada passar breves informações sobre os procedimentos adotados em caso de constatação de crimes contra a seguridade social, pois acreditamos que o entendimento desta tramitação é fundamental para a compreensão dos textos legais relativos a estes crimes. 354

CRIMES CONTRA A SEGURIDADE SOCIAL 18.3. APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA X Art. 168-A, Código Penal O texto legal do crime de apropriação indébita traz particularidades que serão comentadas a seguir: Art. 168-A Deixar a empresa de repassar à Previdência Social as contribuições recolhidas dos contribuintes no prazo ou forma legal ou convencional. Pela simples análise do caput do artigo, percebemos que o legislador considerou crime de apropriação indébita previdenciária o fato de não repassar à Previdência Social ou, até mesmo, atrasar o recolhimento das contribuições previdenciárias retidas dos contribuintes. Mas quais são as contribuições retidas dos contribuintes? A legislação previdenciária costuma transferir a responsabilidade pelo recolhimento de contribuições previdenciárias das pessoas físicas para as empresas e até de algumas pessoas jurídicas para outras. As retenções mais comuns são: Retenção das contribuições dos empregados e dos empregados domésticos; Retenção das contribuições devidas pelo contribuinte individual que presta serviços a empresas; Retenção das contribuições devidas pelo produtor rural pessoa física ou segurado especial, quando da aquisição de seus produtos rurais; Retenção dos 11% incidentes sobre a nota fiscal de prestação de serviço por empreitada ou por cessão de mão de obra, conforme a Lei 9.711/1998; Retenção das contribuições devidas pelas entidades desportivas que mantêm equipe de futebol profissional, quando da contratação de patrocínios ou promoção de eventos. Os valores retidos devem ser repassados, tempestivamente, para a Previdência. Os valores, geralmente, devem ser recolhidos na mesma guia em que são pagas as contribuições patronais e as para outras entidades (exceto no caso de retenção de prestadores de serviço em que as contribuições são recolhidas em guia constando a identificação do fornecedor). Caso a empresa não tenha disponibilidade de recursos para efetuar o pagamento do valor integral (parte patronal, terceiros e valores retidos), deve, com a finalidade de evitar a ocorrência de crime, pagar, ao menos, as quantias retidas. A ausência de recolhimento da parte patronal e de terceiros não constitui crime, nem infração sujeita a auto de infração. Nesse caso, há, apenas, a obrigação de recolher o valor do débito, acrescido de multa e juros. Pena reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos e multa. 355

CURSO PRÁTICO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO Ivan Kertzman Durante a vigência da Lei 8.212/1991, a pena desse crime era de, no máximo, seis anos. Com a Lei 9.983/2000, a pena máxima reduziu-se para cinco anos e, por ser mais benéfica ao réu, deve retroagir na esfera penal. 356 1º Nas mesmas penas incorre quem deixar de: I recolher, no prazo legal, contribuição de outra importância destinada à previdência social que tenha sido descontada de pagamento efetuado a segurados. A lei penal, neste inciso, quis apenas enfatizar as retenções descontadas dos segurados, embora na prática o caput do artigo já englobe essa situação, pois os valores descontados dos segurados também são valores retidos de contribuintes (os segurados também são contribuintes). II recolher contribuições devidas à Previdência Social que tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda de produtos ou prestação de serviços. Esse inciso demonstra o completo desconhecimento do legislador em matéria contábil. As normas contábeis determinam que não podem haver despesas e custos não registrados. Obviamente, todos os gastos devem compor despesas contábeis ou custo dos produtos ou serviços vendidos. Caso o Auditor-Fiscal verifique que as contribuições devidas não estão registradas na contabilidade de forma correta, deverá desconsiderar a contabilidade, podendo efetuar o arbitramento das contribuições devidas e lavrar um auto de infração por não contabilização em títulos próprios. Esse inciso vai de encontro às normas contábeis e à própria legislação previdenciária, não tendo, na prática, qualquer aplicabilidade. A interpretação literal desse texto legal implicaria caracterizar qualquer inadimplência como crime. III pagar benefícios devidos a segurado, quando as respectivas cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela Previdência Social. Esta é a situação que pode ocorrer com os benefícios da Previdência Social que são pagos diretamente pelas empresas aos segurados: o salário-família e o salário- -maternidade. A empresa deve pagar os benefícios juntamente com a folha de salários dos empregados e proceder ao reembolso no momento do pagamento das contribuições previdenciárias. Se a empresa proceder ao reembolso sem efetuar o pagamento ao empregado, fica caracterizado o crime de apropriação indébita. 2º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições, importâncias ou valores e presta as informações devidas à Previdência Social, na forma definida em lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. Para que a punibilidade seja extinta, deve-se efetuar o pagamento integral até o início da ação fiscal, que ocorre com a entrega do TIPF Termo de Início do Procedimento Fiscal pelo Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil.

CRIMES CONTRA A SEGURIDADE SOCIAL O pagamento efetuado em atraso, mediante denúncia espontânea, extingue a punibilidade da apropriação indébita previdenciária. A jurisprudência majoritária tem entendido que o parcelamento do débito também pode extinguir a punibilidade. Embora o caput do artigo disponha que o pagamento em atraso constitui conduta criminosa, a punibilidade será extinta se o débito for regularizado até o início da ação fiscal. Depois da edição da Lei 10.684/2003, que criou um parcelamento especial de tributos federais, a discussão sobre o momento da extinção da punibilidade ganhou fôlego nos tribunais. Isso porque a referida lei, absurdamente, em seu art. 9º mencionou que a adesão ao sistema de parcelamento especial por ela trazida suspendia a pretensão punitiva do Estado em relação aos crimes de apropriação indébita previdenciária e sonegação fiscal previdenciária. Essa norma funcionou como espécie de anistia condicional, ou seja, extinguiu a punibilidade para o crime já consumado de apropriação indébita, desde que a empresa aderisse ao parcelamento. Ressalte-se que tal previsão era pontual, valendo apenas para as empresas que participassem do parcelamento especial previsto na Lei 10.684/2003. Assim, os tribunais passaram a entender que se uma Lei extinguiu a punibilidade do crime de apropriação indébita previdenciária em caso de adesão ao parcelamento especial, analogicamente, o pagamento em qualquer momento das contribuições previdenciárias retidas e não repassadas tem o condão de afastar a pretensão punitiva do Estado. O Ministério Público acompanhando este entendimento jurisprudencial, em regra, pede o arquivamento do processo em caso de quitação de quantias retidas dos empregados e não repassadas, independentemente de esse pagamento ter ocorrido antes do início da ação fiscal. A Lei 11.941, de 27/05/2009, fulminou, de uma vez por todas, as discussões a respeito desse tema. É que o seu art. 67 dispõe que na hipótese de parcelamento do crédito tributário antes do oferecimento da denúncia, essa somente poderá ser aceita na superveniência de inadimplemento da obrigação objeto da denúncia. A mesma Lei, no art. 68, determina que fica suspensa a pretensão punitiva do Estado, limitada a suspensão aos débitos que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento, enquanto não forem rescindidos os parcelamentos especiais regulamentados pela Lei 11.941. Neste caso, a prescrição criminal não corre durante o período de suspensão da pretensão punitiva. De acordo com o art. 69 desta Lei, extingue-se a punibilidade quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento. Na hipótese de pagamento efetuado pelas pessoas físicas responsabilizadas por tributos devidos por pessoas jurídicas, a extinção da punibilidade ocorrerá com o pagamento integral dos valores correspondentes à ação penal. 357

CURSO PRÁTICO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO Ivan Kertzman 3º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente a multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: I tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive acessórios; ou II o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela Previdência Social, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas ações fiscais. O Juiz Federal poderá deixar de aplicar a pena ou aplicar apenas multa, até o recebimento da denúncia do Ministério Público Federal. Saliente-se que, efetuando-se o pagamento antes do início da ação fiscal, resta extinta a punibilidade (antes do recebimento do TIPF Termo de Início do Procedimento Fiscal). O valor de que trata o inciso II atualmente está fixado em R$ 20.000,00 (Portaria 75/MF, de 22/03/2012). Se o réu for primário, possuir bons antecedentes e, ainda, o valor do débito for inferior ao mínimo para ajuizamento de ações, o Juiz pode deixar de aplicar a pena ou aplicar apenas multa. 358 Atenção! Perceba que o pagamento que ocorre até antes do início da ação fiscal é decorrente de denúncia espontânea, extinguindo, dessa maneira, a punibilidade do agente. Depois do início da ação fiscal, o pagamento apenas tem condão de beneficiar o devedor com a faculdade do Juiz em deixar de aplicar a pena ou aplicar somente pena de multa. 4º A faculdade prevista no 3 deste artigo não se aplica aos casos de parcelamento de contribuições cujo valor, inclusive dos acessórios, seja superior àquele estabelecido, administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas execuções fiscais. A Lei 13.606, de 09/01/2018, inseriu o 4º ao art. 168-A do Código Penal, deixando claro que se o valor do débito de apropriação indébita previdenciária for superior aos R$ 20.000,00 previstos na Portaria 75/MF, o pagamento parcelado não permite que o juiz deixe de aplicar a pena ou aplique somente multa. Essa alteração legislativa tenta forçar que o fiscalizado representado por apropriação indébita previdenciária promova o pagamento à vista do débito para evitar uma condenação penal mais grave. Como já estudamos na análise do 2º do art. 168-A, a jurisprudência suspende a punibilidade a qualquer tempo no caso de parcelamento de débitos. Aguardemos o comportamento da jurisprudência após a alteração legislativa... Exemplo de questão sobre o tema: (Técnico do Seguro Social INSS 2016 CESPE) Maria, proprietária de uma sorveteria situada em uma cidade litorânea, adquiriu, de forma financiada, dois novos freezers para seu estabelecimento comercial. Em razão do período de baixa temporada, ocorreu considerável queda nas vendas da sorveteria, e

CRIMES CONTRA A SEGURIDADE SOCIAL o seu faturamento tornou-se insuficiente para arcar com todas as despesas. Diante dessa situação e visando honrar com o pagamento das prestações dos freezers, Maria deixou de repassar à previdência social as contribuições previdenciárias recolhidas dos cinco funcionários do estabelecimento, no prazo e na forma legal, tendo incorrido em crime contra seguridade social. Tendo como referência essa situação hipotética e com base nas disposições legais a respeito dos crimes contra a seguridade social, julgue o próximo item. Iniciada ação fiscal em desfavor de Maria, o juiz responsável pelo processo não poderá deixar de aplicar pena, ainda que Maria efetue os pagamentos devidos, seja ré primária e goze de bons antecedentes. Resposta: errada A jurisprudência dominante reconhece a inexigibilidade de conduta diversa como forma de afastar a punibilidade nos crimes de apropriação indébita previdenciária, quando caracterizado, nos autos, o estado de insolvência incontestável da empresa. Para isso, é necessário que os bens da empresa e dos sócios-gerentes, diretores ou administradores encontrem-se onerados. 18.4. SONEGAÇÃO FISCAL PREVIDENCIÁRIA X Art. 337-A, Código Penal A sonegação fiscal encontra-se no Código Penal com a seguinte redação: Art. 337-A Suprimir ou reduzir contribuição social previdenciária e qualquer acessório, mediante as seguintes condutas: Podemos perceber que, para que a conduta seja caracterizada como sonegação fiscal, há a necessidade de que o sujeito passivo da relação tributária não tenha efetuado o recolhimento de todas as contribuições previdenciárias devidas, pois o texto legal anuncia que o crime consiste em suprimir ou reduzir contribuições previdenciárias, valendo-se de uma das condutas a seguir. I omitir de folha de pagamento da empresa ou de documento de informação previsto na legislação previdenciária, segurados empregado, empresário, trabalhador avulso ou trabalhador autônomo ou a este equiparado que lhe preste serviços; O documento de informação previsto na legislação previdenciária, a que se refere este inciso, é a GFIP Guia de Recolhimento de FGTS e Informações à Previdência Social, amplamente mencionada nesta obra. Tamanha é a importância deste documento, que a falta de entrega, além de representar os mais onerosos autos de infração, acarreta crime contra a Seguridade Social, caso as contribuições não tenham sido recolhidas. 359

CURSO PRÁTICO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO Ivan Kertzman Atenção! O simples fato de não declarar em GFIP ou omitir em folha de pagamento, por si só, não configura, em tese, crime. É necessário que essa conduta seja acompanhada da falta de recolhimento. 360 II deixar de lançar mensalmente em títulos próprios da contabilidade da empresa as quantias descontadas dos segurados ou as devidas pelo empregador ou pelo tomador de serviços; Este inciso obriga a correta contabilização dos valores devidos a título de contribuições previdenciárias. A ausência de registro contábil, acompanhada da falta de recolhimento, constitui crime de sonegação fiscal previdenciária. III omitir, total ou parcialmente, receitas ou lucros auferidos, remuneração pagas ou creditadas e demais fatos geradores de contribuições previdenciárias. Todos os fatos geradores devem, então, estar discriminados na GFIP. Pena reclusão, de 2 a 5 anos, e multa. Esta é a mesma pena aplicável para o crime de apropriação indébita previdenciária. 1º É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente, declara e confessa as contribuições, importância ou valores e presta informações devidas à Previdência Social, na forma da lei ou regulamento, antes do início da ação fiscal. A punibilidade é extinta no caso de o contribuinte prestar espontaneamente as informações pendentes antes do início da ação fiscal, independentemente do recolhimento dos valores referentes às contribuições informadas. Saliente-se, mais uma vez, que a inadimplência não constitui crime. A conduta criminosa é a falta de declaração acompanhada do não recolhimento. Se a declaração for elaborada, espontaneamente, antes do início da ação fiscal, resta extinta a punibilidade. 2º É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: I Vetado. II O valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual ou inferior àquele estabelecido pela previdência social, administrativamente, como sendo o mínimo para ajuizamento de suas ações fiscais. Vimos que este valor é de R$ 20.000,00 (Portaria 72/MF, de 22/03/2012). Se o réu for primário, possuir bons antecedentes e, ainda, o valor do débito for inferior ao mínimo para ajuizamento de ações, o Juiz pode deixar de aplicar a pena ou aplicar apenas multa. 3º Se o empregador não é pessoa jurídica e sua folha de pagamento mensal não ultrapassa R$ 6.256,89, o juiz pode reduzir a pena de um terço até metade ou aplicar apenas multa.

CRIMES CONTRA A SEGURIDADE SOCIAL Esse valor é atualizado anualmente pelos mesmos índices de reajustes dos bene-fícios da Previdência Social. A última atualização se deu com a Portaria Interministerial MPT/ME 12, de 17/01/2022. Da mesma forma que na apropriação indébita, o Auditor-Fiscal da Receita Federal do Brasil que identifique a ocorrência, em tese, de crime, deve efetuar uma Representação Fiscal para Fins Penais ao Ministério Público Federal para que este ajuíze ação, com o oferecimento da denúncia, caso julgue necessário. Por fim, ressaltamos que as relevantes alterações constantes da Lei 11.941/2009, já estudadas quando comentamos o crime de apropriação indébita previdenciária, aplicam-se também a este tipo penal. Assim, na hipótese de parcelamento do crédito tributário obsta a aceitação da denúncia e suspende a pretensão punitiva do Estado. De acordo com o art. 69 dessa Lei, extingue-se a punibilidade quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de concessão de parcelamento. Na hipótese de pagamento efetuado pela pessoa física responsabilizadas por tributos devidos por pessoas jurídicas, a extinção da punibilidade ocorrerá com o pagamento integral dos valores correspondentes à ação penal. 18.5. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO X Art. 297, Código Penal A Lei 9.983/2000 acrescentou os 3º e 4º ao art. 297 do Código Penal, especificando os documentos da Legislação Previdenciária. Art. 297 Falsificar, no todo ou em parte, ou alterar documento público verdadeiro. Este crime não é exclusivamente previdenciário, constando do título referente aos crimes contra a fé pública. Pena reclusão, de 2 a 6 anos, e multa Percebe-se que este crime é punido com mais rigor que a apropriação indébita previdenciária e a sonegação fiscal previdenciária, ambos com pena máxima limitada a 5 anos. 1º Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte; Constitui agravante o fato de o crime ter sido executado por funcionário público, nos atributos de suas funções. Se o funcionário do INSS falsificar documento público para facilitar a conce ssão de benefício de um amigo ou parente, por exemplo, a pena será agravada. 2º Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento particular. 361

CURSO PRÁTICO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO Ivan Kertzman 362 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: I na folha de pagamento ou em documento de informações que seja destinado a fazer prova perante a Previdência Social, pessoa que não possua a qualidade de segurado obrigatório; II na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em documento que deva produzir efeito perante a Previdência Social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter sido escrita; III em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as obrigações da empresa perante a Previdência Social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter constado; Estes três incisos buscam punir severamente a conduta de inserir segurado em documento que constitua prova de vínculo de trabalho para a Previdência Social, ocasionando a concessão de benefícios indevidos a falsos segurados. Pode ficar uma dúvida a respeito dessa conduta: a empresa que inserir falso segurado não deverá arcar com os custos das contribuições previdenciárias da parte patronal e também da parte que deveria ter sido retida do segurado? Depende. Caso a empresa insira dados falsos de períodos já atingidos pela decadência das contribuições, o benefício será devido, muito embora o Fisco fique impossibilitado de efetuar a cobrança dos valores devidos. Caso o período não esteja decadente, a Secretaria da Receita Federal do Brasil poderá cobrar as contribuições. Outra forma de tentativa de fraude é a de empresas imunes ou isentas de contribuição previdenciária (entidades beneficentes, hospitais e entidades de ensino) ou empresas optantes pelo Simples Nacional, que estão dispensadas de pagamento de contribuição patronal, inserirem falsos segurados em sua folha de pagamento para beneficiá-los com a contagem de tempo de contribuição. Outro exemplo comum de inserção de dados falsos em documentos da legislação previdenciária é o da empresa que insere o nome de uma gestante, na maioria das vezes amiga ou parente dos proprietários, com um salário bastante elevado, com a finalidade de favorecê-la com o direito ao gozo de salário-maternidade. Veremos que, para a concessão desse benefício à segurada empregada, a legislação previdenciária não exige qualquer carência. 4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no 3º, nome do segurado e seus dados pessoais, a remuneração na vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços. Obviamente, a omissão de que trata o referido parágrafo deve ter a intenção de lesar a Previdência Social.

CRIMES CONTRA A SEGURIDADE SOCIAL 18.6. INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÃO Art. 313-A Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos dos sistemas de informações ou bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem para si ou para outrem ou para causar dano. Pena reclusão, de 2 a 12 anos, e multa Este crime é próprio, ou seja, somente pode ser cometido por determinadas pessoas, no caso, servidores públicos. A atividade pública exige a lisura dos atos para resguardar o bem comum. O funcionário que altera as informações a respeito de seus salários de contribuição para possibilitar um benefício de aposentadoria precoce ou mais elevado está incorrendo neste crime, podendo ser punido com até 12 anos de reclusão. 18.7. MODIFICAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÃO X Art. 313-B, Código Penal Art. 313-B Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de informação ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente. Pena detenção, de 3 meses a 2 anos, e multa. Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado. Este crime, diferentemente da inserção de dados em sistema de informação, não busca um benefício próprio ou de alguém de interesse do infrator. A alteração do sistema de informática que resultar em dano para administração terá a pena agravada. 18.8. DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES SIGILOSAS OU RESERVADAS X Art. 153, Código Penal Art. 153... 1º A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas em lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública: Pena detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 2º Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, a ação penal será incondicionada. 363

CURSO PRÁTICO DE DIREITO PREVIDENCIÁRIO Ivan Kertzman O funcionário do Instituto Nacional do Seguro Social que divulgar informações sigilosas, como, por exemplo, o valor do salário de qualquer segurado ou o valor do débito de determinada empresa, pode ser punido com esta pena. 18.9. ESTELIONATO 364 Art. 171 Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio fraudulento. Pena reclusão, de 1 a 5 anos, e multa. 1º Se o criminoso é primário, e é de pequeno valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o disposto no art. 155, 2º (substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa).... 3º A pena aumenta-se de 1/3, se o crime é cometido em detrimento de entidade de direito público ou de instituto de economia popular, assistência social ou benéfica.... Fraude para recebimento de indenização ou valor de seguro V destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as consequências da lesão ou doença, com o intuito de haver indenização ou valor de seguro; Um exemplo clássico dessa conduta criminosa no âmbito dos seguros em geral é a do segurado que pratica autolesão com a finalidade de obter o benefício previdenciário. Um exemplo de estelionato que pode ser aplicável especificamente à Previdência Social é o do segurado que finge possuir uma doença mental para induzir o médico perito a avaliá-lo como incapaz e, consequentemente, conceder-lhe benefício por incapacidade. De acordo com o entendimento do STJ, não extingue a punibilidade do crime de estelionato previdenciário (art. 171, 3º, do CP) a devolução à Previdência Social, antes do recebimento da denúncia, da vantagem percebida ilicitamente, podendo a iniciativa, eventualmente, caracterizar arrependimento posterior, previsto no art. 16 do CP. O art. 9º da Lei 10.684/2003 prevê hipótese excepcional de extinção de punibilidade, quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar o pagamento integral dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios, que somente abrange os crimes de sonegação fiscal, apropriação indébita previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária, ontologicamente distintos do estelionato previdenciário, no qual há emprego de ardil para o recebimento indevido de benefícios (REsp 1.380.672-SC, DJe 06/04/2015). Por fim, ressalte-se que o STF tem entendido que o estelionato cometido contra a Previdência Social é crime instantâneo de efeitos permanentes (HC 91716). Isso significa que sua prescrição começa a contar a partir da data do pagamento indevido do primeiro benefício previdenciário.