Competência social para interagir em ambientes virtuais de aprendizagem



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Transcrição:

Artículo original / Original article / Artigo Original Competência social para interagir em ambientes virtuais de aprendizagem Edilaine Cristina da Silva 1 Clarissa Mendonça Corradi-Webster 2 Resumo 1 Enfermeira. Doutora em Enfermagem Psiquiátrica. Professora Doutora do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil. email: nane@eerp.usp.br 2 Psicóloga. Doutora em Psicologia. Psicóloga do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, Brasil. email: clarissac@usp.br Conflicto de intereses: ninguno a declarar. Subvenciones: o artigo é trabalho de conclusão de Educação a distância: ambientes digitais para o processo ensino-aprendizagem em enfermagem psiquiátrica, realizado na Ribeirão Preto São Paulo Brasil em 2006. Objetivo. Investigar a associação entre as características de competência social para interagir no meio acadêmico e o uso das ferramentas de comunicação do ambiente virtual. Metodologia. Estudo quantitativo, participarem 32 estudantes de graduação de enfermagem, alunos do Curso On-line de Transtornos de Humor e de Personalidade, parte da disciplina Enfermagem Psiquiátrica. O ambiente virtual de aprendizagem utilizado para o Curso On-line foi o TELEDUC. Registro de acessos a ferramentas de comunicação; Questionário de Característica Social para interagir com colegas no âmbito acadêmico (QCS). Foram realizados testes de correlação de Pearson entre os escores obtidos das características de competência social e a frequência de uso das ferramentas de comunicação do ambiente virtual. Resultados. Observou-se correlação positiva moderada entre o fator sociabilidade e acessos a ferramentas Chat (r=0.61) e Fórum (r=0.50); correlação negativa moderada entre os níveis de agressividade e a ferramenta Correio (r=-0.37); correlação positiva entre níveis de liderança e o Correio (r=0,53); correlação negativa moderada entre os níveis de inibição e as ferramentas Chat (r=-0.65) e Fórum (r=-0.63). Conclusão. A competência social contribui para a participação do estudante em processos educativos à distância, portanto deve ser levada em consideração no processo ensinoaprendizagem realizada em ambientes virtuais. Palavras chave: educação em enfermagem; educação a distância; socialização. Las competencias sociales para interactuar en plataformas virtuales de aprendizaje Fecha de recebido: 25 de marzo de 2010 Fecha de aprobado: 14 de febrero de 2011. Cómo citar este artículo: Silva EC, Corradi-Webster CM. Competência social para interagir em ambientes virtuais de aprendizagem. Invest Educ Enferm. 2011;29(1): 97 102. Resumen Objetivo. Investigar la asociación entre las características de las habilidades sociales para interactuar académicamente y el uso de herramientas de comunicación de plataforma virtual de aprendizaje. Estudio cuantitativo, realizado en Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil, en 2006. Participaron 32 estudiantes de enfermería del Investigación curso y Educación en línea sobre en Enfermería Trastornos Medellín, Humor Vol. y 28 Personalidad, No.1 Marzo parte 2010 / 97

Edilaine Cristina da Silva, Clarissa Mendonça Corradi-Webster del curso de Enfermería Psiquiátrica. La plataforma de aprendizaje virtual utilizada para el curso en línea fue el TELEDUC. Metodología. Instrumentos: registro de acceso a los instrumentos de comunicación; Cuestionario de Características Sociales para interactuar con sus colegas en el ámbito académico. Se realizaron pruebas de correlación entre las puntuaciones de las características de la competencia social y la frecuencia de uso de herramientas de comunicación del entorno virtual (correlación de Pearson). Resultados. Se encontró una correlación positiva moderada entre el factor de sociabilidad y el acceso a las herramientas de Chat (r=0.61) y Forum (r=0.50); correlación moderada negativa entre los niveles de agresión y la herramienta Correo (r=-0.37); la correlación positiva entre los niveles de liderazgo y Correo (r=0.53); correlación moderada negativa entre los niveles de inhibición y las herramientas de Chat (r=-0.65) y Foro (r =-0.63). Conclusión. La competencia social contribuye para la participación de los estudiantes en los procesos educativos a distancia, por lo que debe tenerse en cuenta en la enseñanza-aprendizaje en entornos virtuales. Palabras clave: educación en enfermería; educación a distancia; socialización. Social abilities to interact in virtual learning environments Abstract Objective. To investigate the association between social abilities characteristics needed to interact academically and the use of communication tools of a virtual learning platform. Methodology. Quantitative study, performed in Ribeirão Preto, São Paulo, Brazil, in 2006. 32 nursing students from the on line class about humor and personality disorders and some from the psychiatric nursing class participated. The virtual learning platform used for the on line class was TELEDUC. Instruments: communication tool access registration, social characteristics to interact with their colleagues in the academic environment questionnaire. Correlation tests were performed between the scores of the social abilities characteristics, and the frequency the virtual environment communication tools were used (Pearson correlation). Results. A moderate positive correlation was found between the sociability factor and access to the Chat (r=0.61) and Forum (r=0.50) tools; Moderate negative correlation between the levels of aggression and the mail tool (r=-0.37); Positive correlation between the levels of leadership and mail (r=0.53); moderate negative correlation between inhibition levels and the Chat (r=-0.65) and Forum (r =-0.63) tools. Conclusion. Social abilities contribute to the participation of the students in long distance educational processes, so it needs to be taken into account in the teaching- learning virtual environments. Key words: nursing education; distance education; socialization. Introdução O uso da tecnologia para o ensino de enfermagem é necessário e recomendado, pois permite o desenvolvimento de atividades educacionais sem a necessidade de deslocamentos, tanto de alunos como professores, dada à sua capacidade de aperfeiçoar as ações de promoção de saúde e educação permanente a distância, bem como permitir ações clínicas, de ensino e pesquisa, preservando a privacidade, dignidade, a integridade e os direitos do paciente. 1,2 É imprescindível a adaptação da enfermagem, onde professores e estudantes devem estar preparados para enfrentar os desafios e determinantes da incorporação da tecnologia, na busca por melhor qualidade no ensino e na aprendizagem e, por consequência, melhor qualidade na assistência de enfermagem. 3 Estudos apontam que a necessidade de formação dos recursos humanos de enfermagem é muito 98 / Invest Educ Enferm. 2011;29(1)

Competência social para interagir em ambientes virtuais de aprendizagem maior do que tem sido absorvido pelas escolas de enfermagem. Neste sentido, o número de estudantes matriculados em cursos universitários de enfermagem oferecidos on-line há triplicado. 4 Estudo comparativo sobre o desenvolvimento de pensamento crítico entre profissionais de enfermagem mostrou que há resultados similares entre as habilidades desenvolvidas em ambientes presenciais e a distância, o que apóia a idéia de que a Educação a Distância (EaD) é um formato viável para a formação de recursos humanos de enfermagem. 5 A inclusão de processos de formação em formatos digitais não garante efetividade na aprendizagem. Independente da ferramenta pedagógica, presencial ou à distância, a aprendizagem está atrelada a maneira como se utiliza a ferramenta dentro de uma metodologia educativa. Nessa perspectiva, a interatividade tem sido apontada como fator determinante para a aprendizagem. 6,7 Na prática, os cenários educativos nem sempre são capazes de motivar e proporcionar oportunidades de interação, apesar da importância deste elemento para a aprendizagem, a partir da construção dos símbolos. Considerando que a interação é um processo que ocorre socialmente, para interagir o indivíduo necessita desenvolver sua competência social. O alcance da efetividade em processos interativos tem como fator determinante a competência social. A capacidade de interagir com pessoas está diretamente relacionada com as habilidades sociais do indivíduo, que por sua vez, lhe permitem melhorar o gerenciamento das interpretações simbólicas e facilitam o estabelecimento de relações mais próximas. 8 A análise da interação a partir dos padrões de comunicação e das estruturas interativas que se estabelecem na forma escrita, por meio de novas tecnologias de informação e comunicação, são elementos essenciais no processo educativo e contribuem para a pesquisa e a prática educativa. 9 A competência social está relacionada com a capacidade do indivíduo de organizar pensamentos, sentimentos e ações mediante os objetivos e valores pessoais, em função das demandas do ambiente, resultando em habilidades para que o indivíduo possa desempenhar-se socialmente. 10 As habilidades sociais correspondem, assim, um conjunto amplo de ações que permitem o início e a manutenção do relacionamento saudável de um indivíduo com os demais. O objetivo desse estudo foi investigar a associação entre as características de competência social para interagir no meio acadêmico e o uso das ferramentas de comunicação do ambiente virtual. Metodologia Estudo descritivo e exploratório, com abordagem quantitativa, cujo intuito é observar, descrever e explorar aspectos de uma situação de pesquisa. A amostra foi composta por 32 estudantes participantes do Curso On-line de Transtornos de Humor e de Personalidade. O curso teve carga horária de 20 horas e foi oferecido à acadêmicos de enfermagem matriculados na disciplina de Enfermagem Psiquiátrica de uma universidade púbica do Estado de São Paulo, no período de agosto a setembro de 2006. O ambiente virtual de aprendizagem utilizado para o Curso On-line foi o TELEDUC. Instrumentos: a) registro de acessos: utilizou-se o recurso de registros de acessos do ambiente virtual (TELEDUC) para coleta de dados sobre o uso das ferramentas de comunicação do ambiente virtual de aprendizagem. As ferramentas de comunicação investigadas foram o chat, o correio eletrônico e o fórum de discussão; b) questionário de Característica Social para interagir com colegas no âmbito acadêmico (QCS): foi desenvolvido para o estudo da interação aluno-aluno em ambientes de educação convencional e a distância. 8 O questionário baseia-se em estudos sobre os fatores de competência social no contexto escolar, 11 e tem por objetivo avaliar o perfil comportamental simbólico do aluno em relação à sua competência social para interagir no contexto da escola, incluindo as seguintes categorias: sociabilidade -7 questões-, liderança -6 questões-, inibição -8 questões-, e agressividade -7 questões-. Invest Educ Enferm. 2011;29(1) / 99

Edilaine Cristina da Silva, Clarissa Mendonça Corradi-Webster O Projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Os sujeitos, devidamente informados, assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme resolução CNS 196/96. A análise dos dados foi realizada testes de correlação entre os escores obtidos das características de competência social e a freqüência de uso das ferramentas de comunicação do ambiente virtual. Considerou-se na contagem de freqüência de uso das ferramentas de comunicação, apenas as utilizações que revelassem comunicar alguma mensagem relacionada ao curso. Os escores das características de competência social e as médias de uso das ferramentas de comunicação do Teleduc pelos estudantes foram submetidos ao teste de correlação de Pearson, considerando-se o nível de significância de 0.05. Utilizou-se o pacote estatístico SPSS versão 10.0. Resultados A sociabilidade é fator relacionado à facilidade do sujeito em estabelecer relações de amizade e a uma postura colaborativa, bem-humorada, sociável e agradável com os colegas. Neste contexto, os resultados do teste de correlação entre os níveis de sociabilidade e os acessos às ferramentas de comunicação do ambiente Teleduc evidenciam uma correlação positiva moderada com a ferramenta Chat (r=0.61) e com o Fórum (r=0.50). Tais resultados indicaram que quanto maior a sociabilidade maior a participação no Chat e no Fórum (Tabela 1). Tabela 1. Distribuição dos coeficientes de correlação para as categorias Sociabilidade, Agressividade, Liderança e Inibição segundo as ferramentas de comunicação Correio, Chat e Fórum, entre acadêmicos de enfermagem do Curso On-line, Ribeirão Preto, 2006 Variáveis (n=32) Coeficiente de correlação (r) p Sociabilidade e Correio 0.345 0.053 Sociabilidade e Chat 0.612 <0.001 Sociabilidade e Fórum 0.501 0.003 Agressividade e Correio -0.373 0.036 Agressividade e Chat -0.201 0.269 Agressividade e Fórum -0.013 0.943 Liderança e Correio 0.528 0.002 Liderança e Chat 0.279 0.122 Liderança e Fórum 0.287 0.139 Inibição e Correio -0.107 0.561 Inibição e Chat -0.652 <0.001 Inibição e Fórum -0.626 <0.001 Os níveis de agressividade estão relacionados ao envolvimento em conflitos e discussões, perda de controle, postura agressiva e autoritária, dificuldade em ouvir e hábito de pegar no pé na relação com os colegas. Os resultados indicam correlação negativa moderada entre os níveis de agressividade e a ferramenta Correio (r=-0.37). Tais resultados evidenciam que os altos níveis de 100 / Invest Educ Enferm. 2011;29(1)

Competência social para interagir em ambientes virtuais de aprendizagem agressividade estão associados a baixos valores de acesso ao Correio (Tabela 1). As características de liderança foram avaliadas com base na percepção do sujeito em ter capacidade de liderança, saber ouvir os colegas, sentir-se ouvido pelo grupo, agir de maneira justa, inspirar confiança e ter habilidades para liderar atividades acadêmicas em grupo. Os resultados obtidos indicaram que os níveis de liderança e o Correio eletrônico apresentam correlação positiva (r=0.53). Portanto, as características de liderança parecem favorecer a participação nas atividades que utilizam a ferramenta Correio. A inibição está relacionada à identificação do sujeito como bem educado, envergonhado, tímido, reservado e gentil, alguém que sabe esperar sua vez, têm facilidade de trabalhar em equipe, se considera desanimado, tem dificuldades em fazer amigos no âmbito acadêmico e fica magoado ao deparar-se com dificuldades de relacionamento com os colegas. Os resultados do teste de correlação (Tabela 1) indicaram correlação negativa moderada entre os níveis de inibição e as ferramentas Chat (r=-0.65) e Fórum (r=-0.63). Estes achados levam a considerar que a inibição parece influenciar negativamente no acesso dos estudantes às ferramentas Bate-papo e Fórum de discussão. Discussão Os resultados evidenciaram a influência das características pessoais de competência social na utilização das ferramentas de comunicação, o que consequentemente poderia influenciar na participação, na aprendizagem e na interação alunoaluno e aluno-formador. A análise dos resultados mostrou que as características de sociabilidade e liderança investigadas estão associadas positivamente com a participação dos estudantes, em termos quantitativos, em atividades nas ferramentas de comunicação do Teleduc. Ao contrário, as características de inibição e de agressividade indicaram uma correlação negativa com as ferramentas de comunicação. Assim, a agressividade e a inibição são fatores, relacionados aos estudantes, que podem dificultar o alcance dos objetivos de aprendizagem na medida em que dificultam a participação e a interação com os colegas e professores. A inibição e a agressividade precisam ser trabalhadas durante o processo de formação para que o estudante possa se desenvolver na carreira profissional. Os achados deste estudo corroboram com a teoria a respeito de competência social, no que tange ao reflexo positivo que os níveis de sociabilidade e de liderança exercem sobre a capacidade de interagir e da influência negativa dos índices elevados de agressividade e de inibição. 11 Ferramentas de comunicação como o Fórum e o Chat ao apresentarem associação com os níveis de sociabilidade e liderança, indicam que alguns estudantes, cujo perfil apresente níveis mais baixos de sociabilidade e liderança, precisam ser mais estimulados pelos formadores e tutores quando participarem deste tipo de aprendizagem. Indivíduos mais sociáveis têm posicionamentos mais positivos na interação aluno-aluno para os aspectos tecnológicos, o aprendizado, a colaboração e as discussões. 8 A correlação negativa apresentada entre os níveis de inibição e de agressividade com a participação nas ferramentas de comunicação indica a possibilidade de incluir atividades para desenvolvimento das competências pessoais que reflitam na diminuição dos níveis de inibição e agressividade aos estudantes. A avaliação das características de competência social dos estudantes dá subsídios para o planejamento das estratégias de ensino e de aprendizagem em ambientes virtuais quando se busca alcançar os objetivos do curso. A associação entre as categorias de competência social para interagir e as ferramentas de comunicação do ambiente Teleduc traz contribuições na medida em que elucida informações para que o formador possa antecipar ações junto aos estudantes que irão frequentar um curso on-line. Com este estudo se chega a conclusão que a competência social contribui para a participação do estudante em processos educativos à distância. Invest Educ Enferm. 2011;29(1) / 101

Edilaine Cristina da Silva, Clarissa Mendonça Corradi-Webster O conhecimento das características pessoais dos estudantes cria mais condições para que o professor atue de forma personalizada nas dificuldades pessoais, a fim de que ao final do processo todos os estudantes sejam capazes de atingir os objetivos de aprendizagem definidos no curso, apesar das diferenças pessoais. Pensar sobre a competência social e a experiência dos aprendizes constitui-se numa contribuição para incrementar e melhorar as formas de ensinar e aprender em enfermagem, o que ultrapassa o simples teste sobre a compatibilidade dos recursos tecnológicos que utilizamos, mas leva a questionar o tipo de pessoas que se quer formar e o tipo de sociedade em que atuarão, buscando definir e objetivar os desejos e as necessidades inseridos nos processos educativos de cada profissão. Referências 1. Mendes IAC, Costa AL, Godoy S. Grupo de pesquisa, difusão do conhecimento e EAD: um caso da enfermagem. En: Terra JCC, editor. Gestão do conhecimento e e-learning na prática. Rio de Janeiro: Elsevier; 2003. p. 285-93. 2. Godoy S, Mendes IAC, Hayashida M. In service nursing education delivered by videoconference. J Telemed Telecare. 2004;10(5):303-5. 3. Cassiani SHDB, Silva FB, Seixas CA. A instrução auxiliada pelo computador (CAI) e o ensino de enfermagem. Tecnol Educ. 1999;29(146):38-43. 4. Simpson RL. See the future of distance education. Nurs Manage. 2006;37(2):42. 5. Singleton AB, Clark ED. A comprison of critical thinking skills for advanced practice nursing students in traditional and distance learning cohort formats [dissertation]. Columbia: University of Missouri; 2005. 122 p. 6. Moran JM, Masetto M, Behrens M. Novas tecnologias e mediação pedagógica. Campinas: Papirus; 2003. 7. Oliveira Reiners AA. O Interação profissional de saúde e usuário hipertenso: contribuição para a não adesão ao regime terapêutico [Tese doutoral]. Ribeirão Preto: Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo; 2005.156 p. 8. Jacobsen AL. Interação aluno-aluno em ambientes de educação convencional e a distância: um estudo de caso no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da UFSC [Tese doutoral]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2004. 9. Pérez A. Elementos para el análisis de la interacción educativa en los nuevos entornos de aprendizaje, PIXEL-BIT. Rev Medios Educación. 2002;(19):49-61. 10. Del Prette ZAP, Del Prette A. Psicologia das Habilidades Sociais: Terapia e Educação. Rio de Janeiro: Vozes; 2001. 11. Oliveira AMF. Competência social: dimensões associadas ao bem-estar social e psicológico dos indivíduos nas relações de pares [Tese doutoral]. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2003. 102 / Invest Educ Enferm. 2011;29(1)