O Setor de Saúde na Perspectiva Macroeconômica.

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Transcrição:

O Setor de Saúde na Perspectiva Macroeconômica. Marcos Paulo Novais Silva José Cechin Superintendente Executivo APRESENTAÇÃO Este trabalho analisa a pesquisa Contas Satélite de Saúde 2005-2007, divulgada pelo IBGE. O foco é detalhar o setor de saúde dentro das contas nacionais. O IBGE publicou, em dezembro de 2009, a pesquisa Contas Satélites de Saúde 2005-2007 em complemento ao estudo Economia da Saúde: Uma Perspectiva Macroeconômica 2000-2005, publicada em 2008. A conta Satélite de Saúde é uma extensão do sistema de contas nacionais que aprofunda e detalha o setor de saúde dentro dos seguintes agregados macroeconômicos: valor bruto de produção, valor adicionado, consumo, investimento, exportações, importações e número de empregos. A pesquisa Contas Satélites de Saúde 2005-2007 acrescenta, à pesquisa anterior, os valores referentes a hospitais escola e militares e discrimina os gastos para compra de gases medicinais, sendo necessário fazer adaptações na série recente para ficar comparável com a antiga metodologia. Em 2005, a renda gerada pela saúde (R$ 114 bi) representou 5,3% do PIB brasileiro pela nova metodologia, já pela metodologia antiga 5,1% (R$ 110 bi). Já os gastos em Saúde representaram, em 2007, 8,4% do PIB. O consumo de serviços médicos pago pelos planos de saúde foi, nesta pesquisa, considerado como um serviço pago pelas próprias famílias. Logo, somente foi contabilizado como gasto dos planos de saúde a prestação de serviços de administração dos planos. Em 2007, segundo a ANS, as despesas com a prestação de serviços (R$ 9.936 milhões) representavam 19% do total de receitas do setor (R$ R$ 51.846 milhões). Em resumo, os resultados apontam que: o setor de saúde é importante para a criação de valor adicionado, as famílias gastam mais com saúde do que o governo (57% do total - 1/8 -

ante a 42% do Governo) e, além de ser um importante empregador, o setor de saúde paga um nível de salários superior à média dos setores brasileiros. A próxima seção apresenta uma visão geral do setor de saúde dentro dos grandes agregados macroeconômicos. E a seção 3 explicita as conclusões deste texto. 1 CONTAS NACIONAIS E SAÚDE O valor adicionado mensura o quanto cada atividade acrescenta de valor à economia. Operacionalmente, são as receitas provenientes da venda de produtos ou serviços diminuídos do montante de compras de insumos (ou consumo intermediário). A soma do valor adicionado e impostos sobre a produção determina o PIB do setor. O Gráfico 1 mostra o montante do valor adicionado pela saúde e a participação no valor adicionado total da economia, no período 2000-2007. Em 2007, o valor adicionado pelos setores à economia brasileira foi aproximadamente R$ 2.288 bilhões dos quais R$ 138 bilhões (6,0%) representa a parcela do setor de saúde. O setor de saúde manteve uma participação média de 5,6%, no período 2000-2007. milhares de R$ 160000 Gráfico 1 Valor Adicionado da Saúde 6,5 % 120000 6,0 80000 5,5 40000 5,0 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 4,5 VA Saúde VA Saúde sem Hospitais (Edu/Def) Participação do VA Saúde - 2/8 -

Entre 2000 e 2007 a participação do setor de saúde aumentou 0,3 p.p. Houve queda em 2002 e 2003 e crescimento contínuo de 2004 em diante. Em 2007 as remunerações determinaram 65% do valor adicionado pelo setor de saúde. É possível que o aumento da participação do setor de saúde no valor adicionado, no período 2000-2007, tenha sido influenciado pelo aumento no número de postos de trabalho, de 3,2 milhões em 2000 para 4,2 milhões em 2007, a maioria no serviço público, como será mostrado mais adiante. A incorporação dos hospitais universitários e militares no valor adicionado pela saúde, para os anos de 2005, 2006 e 2007, aumentou em 3% o total de valor adicionado pela saúde, deslocamento evidenciado no Gráfico 1. A contribuição das diversas atividades que integram o setor de saúde para a formação do seu valor adicionado está mostrada no Gráfico 2. Gráfico 2 Participação das Atividades no Valor Adicionado da Saúde % 40,0 35,0 30,0 25,0 20,0 Fab. Farmacêuticos Ap. Médicos, Hosp, Odontológicos Comércio de Produtos Médicos e Farmacêuticos Ass. Médico Suplementar Saúde Pública 15,0 10,0 5,0 0,0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Atendimento Hospitalar Outras Atividades Serviços Sociais A saúde pública representava 30% do valor adicionado do setor de saúde, em 2000, e 32,5% em 2007. A segunda principal atividade foi Outras atividades do setor de saúde com 25% do valor adicionado em 2000 e 20% em 2007. Fabricação de medicamentos, comércio de produtos médicos e farmacêuticos e atendimento - 3/8 -

hospitalar criam de 10% a 15% do total de valor adicionado pelo setor de saúde. E as demais representam menos de 5%. Entre 2000 e 2007 a participação no número de postos de trabalho de atividades relacionadas à saúde aumentou de 4,0% do total para 4,4%. Em números absolutos foram criados 1 milhão de novos postos de trabalho, totalizando 4,2 milhões em 2007 (Tabela 2). Notar que uma pessoa pode ocupar mais de um posto de trabalho. A atividade do setor de saúde que mais emprega é saúde pública com 32,5% do total (1.368 mil). Em 2000 a saúde pública empregou 1.082 mil trabalhadores (34% do total). As categorias outras atividades relacionadas a saúde e comércio de produtos farmacêuticos, médicos, ortopédicos e odontológicos concentram, respectivamente, 27% (1.133 mil) e 18,7% (786 mil). A atividade de assistência médica suplementar gera 77 mil empregos diretos, na área administrativa. Não foi mensurado nesta pesquisa o número de empregos indiretos na prestação de serviços de saúde gerados pelo sistema suplementar. O rendimento médio anual do setor é R$21.394 enquanto a média de todos os setores de atividade é de R$11.612/ano, ou seja, as atividades relacionadas à saúde pagaram, em 2007, uma remuneração 84% maior do que a média brasileira. É importante ressaltar que as ocupações em saúde têm características diferentes da média nacional, como: maior nível de escolaridade, menor emprego de mão-de-obra informal e maior número de profissionais do setor público. Estas características explicam o maior nível de remunerações. Tabela 2 Total de Ocupações em 2007 (em mil) Total (Brasil) 94.714 Total Saúde 4.205 Saúde Pública 1.368 Fab.Produtos Farmacêuticos 116 Fab. de Aparelhos Médicos, Hosp. e Odon. 78 Coméricio de Prod. Farm. Méd. Ortopédicos e Odon. 786 Assistência Médica Suplementar 77 Ativ. De Atendimento Hospitalar 251 Outras atividades (Saúde) 1.133 Serviços Sociais Privados 397 O consumo final mede as despesas efetuadas para compra de bens e serviços, nacionais ou importados. O valor adicionado mais impostos sobre a produção representa o PIB pela ótica da produção e a soma do consumo das famílias, do governo, investimento e - 4/8 -

exportações menos importações o PIB pela ótica da demanda. O valor adicionado representa a origem de recursos e o consumo o destino dos mesmos. Em 2000 o consumo final com saúde das famílias era de R$ 103.452 milhões e em 2007 foi de R$ 128.865 milhões, a preços constantes de 2007. Os dispêndios das famílias que mais se destacam são: a compra de medicamentos, serviços de atendimento hospitalar e planos de saúde (juntos representam 61% do gasto total em 2007). Importante observar que os gastos com medicamentos consumiram R$ 44 bilhões em 2007 (Tabela 3), valor que representa 35% de todo o gasto das famílias em saúde. O consumo do Governo aumentou 5,5%/ano em média no período 2000-2007 e se concentra em saúde pública (82%, em 2007). A taxa média de crescimento do consumo das famílias foi de 3%. A diferença entre a taxa de crescimento dos gastos do governo e das famílias resultou no leve aumento da participação do governo nos gastos em saúde (Gráfico 3). No entanto, nota-se que as famílias participam com a maior parcela do consumo em saúde (57%, em 2007). Tabela 3 O Consumo Final das Famílias e Governo Em milhões (R$ de 2007) 2000 2005 2007 Familias 103.452 116.001 128.865 Medicamentos 34.486 40.914 44.783 Serv. De Atendimento Hospitalar 17.395 22.467 22.344 Planos e Seguros de Saúde 12.111 9.701 11.686 Outros 39.461 42.920 50.052 Governo 65.232 74.827 93.383 Medicamentos - 4.292 4.728 Serv. De Atendimento Hospitalar 10.251 9.947 10.815 Saúde Pública 49.476 63.527 76.471 Outros 5.505 1.368 1.369 Instituições sem fins lucrativos 1.878 2.004 2.292 As operadoras de planos de saúde têm custos assistenciais e custos de administração dos planos. O IBGE considerou como gasto direto das famílias os desembolsos das operadoras com custos assistenciais. Logo o consumo das famílias de planos e seguros de saúde (R$11.686 milhões em 2007) refere-se às despesas dos planos com a prestação de serviços de administração. A razão entre as despesas de prestação de serviços de administração de planos e número de beneficiários fornece um indicador de eficiência das operadoras de saúde. Em 2000, 2005 e 2007 as despesas anuais com prestação de serviço por beneficiário em - 5/8 -

reais de 2007 foram de R$362, R$234 e R$ 244, respectivamente. Nota-se expressiva queda em 2005 e leve aumento em 2007. Este resultado ocorreu principalmente devido ao processo de consolidação do setor, às baixas taxas de reajuste nos planos, e a ganhos com economias de escala. Ressalte-se que apesar do modelo de saúde pública brasileiro ser universal, os gastos privados em saúde (famílias e instituições sem fins lucrativos) somam R$ 131 bilhões ou 58% do total, em 2007, e o setor público representa 42% (Gráfico 3). Em alguns países, cujo atendimento público também é universal, os gastos públicos em relação ao total de gastos em saúde são: Reino Unido (87,4%), França (79,7%), Itália (77,1%), Espanha (72,5%) e Canadá (70,4%) 1. No Brasil, que adota sistema público universal, o setor privado constitui a maior fonte de financiamento da saúde. % 1,0 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1 0,0 Gráfico 3 Participação nos Gastos em Saúde 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 Privado Público No que tange a investimentos (Gráfico 4), o setor de saúde apresenta taxa de crescimento média real de 8,7% ao ano, enquanto a taxa da economia brasileira foi de 4,2%. Entretanto, do investimento total da economia brasileira de R$ 464 bi, em 2007, R$ 7,6 bi foi do setor de saúde ou 1,6%. Este valor é menor do que a participação do setor no valor adicionado (5,8%) ou no número de postos de trabalho (4,4%). A taxa de crescimento do investimento em saúde supera a da economia como um todo, mas seu nível ainda é baixo, em parte porque o IBGE considerou como investimento somente a compra de máquinas e equipamentos médicos usados na prestação de 1 Dados da OMS para 2006. - 6/8 -

serviços. Não foram contabilizados os investimentos em bens e serviços não típicos em saúde como, por exemplo, construção civil. Gráfico 4 Investimento total no Setor de Saúde (a preços de 2007) R$ Milhão 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 As importações brasileiras em 2007 foram de R$ 315 bi. A saúde contribuiu com R$11,5 bi. As principais importações brasileiras em saúde foram medicamentos (R$ 5,7 bi), aparelhos e instrumentos para uso médico, hospitalar e odontológico (R$ 2,7 bi) e produtos farmoquímicos (R$ 2 bi). As exportações do setor de saúde são insipientes - R$ 2,2 bilhões, frente às exportações totais brasileiras de R$ 356 bi. O principal produto exportado é medicamento (R$ 817 milhões). Em 2000 o setor de saúde importou R$ 4,7 bi e exportou R$ 0,7 bi, ou seja, um saldo líquido na balança comercial de R$ 4 bi negativo. Esse setor teve um déficit crescente desde então, atingindo R$ 9,3 bi em 2007. Esta diferença pode ter sido causada pela maior incorporação de tecnologia nos procedimentos médicos. 2 CONCLUSÕES Este trabalho analisou os resultados da pesquisa Conta-Satélite de Saúde Brasil 2005-2007. Os resultados mostram que o setor tem expressiva capacidade de agregar valor à economia, sendo que do total de valor adicionado por todos os setores, o setor de - 7/8 -

saúde participa com 6% em 2007. O déficit na balança comercial de R$ 9,3 bilhões em 2007 resulta da necessidade de importar produtos médicos. Mas os volumes crescentes de importações já poderiam justificar um esforço para internalizar a produção ou aumentar o esforço exportador. Além destes, o setor possui considerável capacidade de geração de empregos, com saldo líquido de 1 milhão no período de 2000-2007, e salários 84% acima da média dos setores brasileiros. O trabalho mostrou que dos gastos totais em saúde as famílias participam com 57%, fatia muito maior do que o governo (43%), apesar do modelo público e universal do atendimento. Os resultados revelaram boas perspectivas para o setor de saúde, cujo crescimento deve superar o da economia como um todo. A tendência é de aumento na participação do setor no valor adicionado e no número de postos de trabalho e taxa de crescimento dos investimentos duas vezes maior que a média nacional. REFERENCIAL Conta Satélite de Saúde Brasil: 2005-2007. Série Contas Nacionais n 29. IBGE, 2009. Economia da Saúde: Uma Perspectiva Macroeconômica 2000-2005. Estudos e Pesquisa Informação Econômica n 9. IBGE, 2008. Estatísticas da Organização Mundial da Saúde. França, World Health Organization, 2009. Disponível em: http://www.who.int/whosis/whostat/en_whs09_full.pdf - 8/8 -