O contributo da Investigação para o controlo do gorgulho-do-eucalipto Carlos Valente Penela, 22 abril 2014 Colaboração de: Ana Reis Luís Bonifácio
O eucalipto em Portugal Existem no mundo mais de 700 espécies de Eucalyptus, a grande maioria com origem na Austrália; Em Portugal, os primeiros eucaliptos foram plantados no séc. XIX, com fins ornamentais, mas foi sobretudo nas últimas 5 décadas que se intensificou a exploração comercial; Há atualmente cerca de 812.000ha de eucaliptos no País, sendo a espécie florestal com maior área de ocupação (a 2ª é o sobreiro e a 3ª o pinheiro-bravo) (ICNF, 2013); A espécie Eucalyptus globulus, nativa do sul da Austrália, é a mais explorada comercialmente, pelo facto da sua madeira ter excelentes propriedades para a produção de pasta para papel.
As pragas e doenças dos eucaliptos A nível mundial, as pragas e doenças associadas aos eucaliptos podem ser: nativas das regiões onde os eucaliptos foram introduzidos Por exemplo: no Brasil, onde há muitas plantas nativas da família dos eucaliptos (Mirtáceas), vários insetos que se alimentam dessas plantas adaptaram-se bem aos eucaliptos e constituem pragas originárias da região de distribuição natural dos eucaliptos, tendo sido acidentalmente introduzidas nos locais onde os eucaliptos são exóticos Incluem-se neste grupo as espécies mais nocivas em Portugal (estão bem adaptadas aos eucaliptos e, como exóticas, estão afastadas dos seus inimigos naturais nativos)
As pragas potenciais do eucalipto em Portugal Estão identificados em Portugal 11 insetos e 1 ácaro, australianos, que se alimentam exclusivamente de eucalipto e que podem causar danos nas plantas. A maioria das espécies foi detetada na última década. Ophelimus sp. Thaumastocoris peregrinus Blastopsylla occidentalis No entanto, poucas são pragas! Glycaspis brimblecombei Ophelimus maskelli Rhombacus eucalypti Leptocybe invasa Ctenarytaina eucalypti Phoracantha semipunctata Gonipterus platensis Ctenarytaina spatulata Phoracantha recurva Curva cumulativa do nº de artrópodes australianos, fitófagos de eucaliptos, detetados em Portugal
Pragas potenciais do eucalipto em Portugal
Gorgulho: Deteção e primeiros estudos 1995 Deteção do gorgulho em Portugal. 1996 Inicia-se um projeto para: 1. Monitorizar a expansão do gorgulho; 2. Controlar as populações da praga.
Gorgulho: Implementação de meios de luta O primeiro meio de controlo utilizado foi a luta biológica com o inimigo natural australiano Anaphes nitens, uma vespa que parasita os ovos do gorgulho; método também usado com sucesso parcial noutros países (e.g. África do Sul e Espanha). 1997 Primeiras largadas inoculativas de A. nitens, com insetos provenientes de Espanha. 1998 Estabelecimento de uma unidade de criação em massa de A. nitens no RAIZ. 1998 a 2002 Largada em campo de cerca de 300.000 adultos de A. nitens.
Gorgulho: Expansão no País 2003 Entretanto, a monitorização iniciada em 1996 indica que o gorgulho está presente em todo o território continental. Porém, os maiores ataques ocorrem apenas nas zonas montanhosas do Norte e Centro. O motivo: apesar de A. nitens se ter estabelecido bem em Portugal, não é totalmente eficaz a controlar o gorgulho nessas regiões. 1996 1997 1998 1999 2000 2,5% 12% 26% 63% 71% 2001 84% 2002 95% 2003 100%
Gorgulho: Implementação de meios de luta 2004-2005 São realizados ensaios de eficácia com o inseticida Cascade, que entretanto já era usado com sucesso em Espanha. Os estudos revelam que é eficaz e compatível com a luta biológica, sem afetar A. nitens. 2003-2007 Entretanto, a Altri Florestal mantém a estratégia de libertações anuais de A. nitens. 2007 É autorizado em Portugal o uso de Cascade para controlo do gorgulho-do-eucalipto. Porém, a certificadora Forest Stewardship Council (FSC) proíbe este inseticida em floresta certificada e o Cascade não chega a ser utilizado como meio de luta em Portugal.
Gorgulho: Meios de luta a considerar Luta Biológica Luta Química Luta Genética
Gorgulho: Meios de luta Luta biológica 2008 O RAIZ inicia a prospeção de inimigos naturais complementares a A. nitens, nas áreas de origem do gorgulho, na Austrália. Identifica-se na Tasmânia o parasitóide Anaphes inexpectatus, entre outros. A. nitens Gorgulho PT Outros Anaphes
Meios de luta Luta biológica 2009 Importação dos novos parasitóides a partir da Austrália e realização de estudos laboratoriais para avaliar a sua viabilidade para uso num programa de luta biológica. Os primeiros resultados são promissores, sugerindo que, a baixas temperaturas, A. inexpectatus é mais eficaz do que A. nitens. 2010-presente e estudam conjuntamente A. inexpectatus, com o apoio científico do
2012 Gorgulho: Meios de luta Luta biológica Realização das primeiras libertações experimentais de A. inexpectatus em duas áreas: Arouca (grupo Portucel Soporcel) e Penela (Altri Florestal). 2013 e 2014 Reforço das libertações nos mesmos locais; monitorização do parasitismo em campo.
Gorgulho: Meios de luta Luta biológica Em Arouca: encontrados parasitóides 1 ano após a 1ª largada Indica que a população é baixa mas está a estabelecer-se. Em Penela: detetados parasitóides após a 2ª largada, com ampla distribuição Sugere uma população resultante da 1ª largada, do ano anterior (+ 2ª largada); possibilidade de estar a estabelecer-se. Parasitismo em Penela; Maio 2013 : com parasitismo : sem parasitismo : ponto fixo de monitorização
2014- Gorgulho: Meios de luta Luta biológica Deverão existir na Austrália outros inimigos naturais do gorgulho com potencial para serem usados em programas de luta biológica em Portugal. e detetaram já, na Tasmânia, várias espécies a parasitar ovos e larvas de Gonipterus spp., que deverão ser objeto de futura investigação. Parasitóides de ovos: Parasitóides de larvas:
Gorgulho: Meios de luta Luta química 2010 - presente Avaliados vários inseticidas, num trabalho conjunto de Testaram-se inseticidas alternativos ao Cascade, que reunissem estas características: - Terem autorização de venda em Portugal; - Serem eficazes para o controlo de coleópteros; - Não estarem proibidos por entidades certificadoras; - Terem baixo risco ambiental, sobretudo para abelhas. Foram para já identificados os produtos Calypso (Bayer) e Epik (Sipcam Quimagro). São eficazes contra larvas e insetos adultos do gorgulho; Não são perigosos para abelhas nem para A. nitens.
Gorgulho: Meios de luta Luta genética e procuram selecionar materiais de eucalipto menos suscetíveis à desfolha (mais resistentes ou tolerantes): clones de E. globulus, outras espécies ou híbridos. E. nitens é uma espécie de eucalipto identificada como menos atacada, mas não reúne as qualidades (florestais e de qualidade da madeira) de E. globulus.
Gorgulho: Expectativas Em resumo, existem boas perspetivas quanto à possibilidade de controlo das populações do gorgulho-do-eucalipto. A curto prazo, com recurso à luta química: - estão identificados 2 inseticidas muito eficazes - os 2 inseticidas já têm autorização de uso para combate a esta praga A médio prazo, com a luta biológica (com inimigos naturais alternativos a A. nitens): - ensaios laboratoriais e experimentação em campo com A. inexpectatus já a decorrer, com resultados animadores - identificados outros insetos na Austrália, que poderão vir a ser usados futuramente A longo prazo, com a seleção de eucaliptos menos suscetíveis: - existem vários ensaios instalados em campo - estão já identificadas plantas que não são atacadas pelo inseto
OBRIGADO PELA ATENÇÃO Principais entidades que colaboram na Investigação: RAIZ, Altri Florestal, INIAV e ISA-Universidade de Lisboa