Mirta GROPPI (USP) ABSTRACT: The purpose of this paper is to consider the preverbal or postverbal position of the cutic pronouns in two Spanish texts of the fifteenth century. I claim that the position of the cutics depends on the movement of the verb to T or to C, and I relate this analysis to the properties of the CP layer proposed by Rizzi (1995J. KEY WORDS: elitie position, eomplementizer layer, V-movement. O. a fenomeno da eoloeacao dos elitieos nas lfnguas romanicas tern atrafdo a atencao desde 0 seculo passado. Na verdade, tinha ja preoeupado Gonzalo Correas que, em 1626 qualifieava de "intoleravel" "10 que dizen algunos inadvertidos", reprobando assim 0 uso do elitieo em inicio de sentenca1. Diz Correas: "La rregla es que si el verba eomienza la habla, los pronombres se Ie posponen" (Gonzalo Correas, [1626]1954:288). 0 fato e que a observacao de Correas eonstitui urn apreciavel documento para sabermos que a gramatica do espanhol tinha sofrido uma mudanca que os textos dos "bons escritores" que seguissem os eonselhos de Correas nao poderiam nos revelar. 1. Se nas primeiras observacoes sobre a distribuicao dos pronomes atonos das Hnguas romanicas 0 fenomeno era associado, talvez de maneira primordial, a earaeterfstieas fonol6gieas, hoje ja se sabe que, do ponto de vista sintcitieo, esses elementos se caraeterizam por aparecerem em adjuncao Ii flexao. Os trabalhos atuais se centram em propor uma anaiise explieativa do comportamento dos elfticos nas diversas lfnguas. o exame dos clfticos e especialmente interessante quando eomparadas lfnguas como 0 portugues europeu (PE), 0 portugues brasileiro (PB) e 0 espanhol (E) que, aparentemente muito pr6ximas, parecem ter seguido eaminhos diferentes a respeito da gramatiea dos cliticos. Enquanto 0 PE moderno estendeu 0 usa da enelise - estou me Doutoranda do Curso de P6s-Gradu~o do Departamento de Filologia e Ungua PortuguSs. Bolsista docnpq. 1 Robert Granberg faz esta cit~io de G. Correas, na sua tese (1988:146).
baseando em dad os de Galves (1996) de Martins (1994)- a sentencas declarativas com sujeito referencial (A Maria deu-lhe esse livro ontem (Galves, op.cit.), 0 espanhol, desde Correas ate hoje, regularizou 0 uso da pr6clise com toda sentenca fmita que nao for imperativa afrrmativa, e mantem a enclise, sem exceeoes, para infmitivos, gerundios e imperativos. Por sua parte, 0 PB, confrontado com estas duas Ifnguas, apresenta uma reducao importante no uso dos cliticos e uma preferencia pela pr6ctise. Aqui YOU fazer algumas observacoes sobre 0 emprego dos clfticos em dois fragmentos de textos narrativos do seculo XV: Arcipreste de Talavera, Alfonso Martinez de Toledo (1438), Parte II, Capitulo I. e La Celestina, Fernando de Rojas (1499), Auto IV. 2 o prop6sito e observar a distribuicao dos pronomes atonol nesses textos e considerar a possibilidade de analise desses dados a luz de propostas recentes na area da sintaxe. Para a analise sintlitica levamos em consideracao, especialmente, os trabalhos de Chomsky (1995), Rizzi (1995), Galves (1994 e 1996) e Martins (1994). A respeito da descricao do uso dos cllticos no espanhol medieval e classico foram considerados os trabalhos de R. Menendez Pidal (1964) e Granberg (1988). Vai ser examinada a proposta de Martins (op. cit.) no que diz respeito a diferenca no movimento do verba e do clitico na enclise e na pr6ctise. Porem, vamos optar pela proposta de Rizzi (op.cit.) sobre as categorias funcionais que e pertinente considerar. 0 atrativo da proposta de Rizzi reside, ao meu ver, por um 1000, na nao proliferacao das categorias funcionais, sendo CP e IP as categorias blisicas, e por outro lado, no fato de que 0 autor apresenta, numa analise apurada de certos fatos sintaticos que sustentam a sua proposta, urna visao homogenea e coerente dos tracos dessas categorias funcionais e da sua intervencao na deriv~ao das sentencas. 2. A. Martins (op. cit.) apresenta a seguinte analise para a diferenca entre enclise e pr6clise: "Sendo Agrs a posicao a esquerda da qual os chticos se adjungem, os chticos precedem 0 verba se 0 verba nao sobe para alem de Agrs. Se 0 verba se move, adicionalmente, para S, a ordem verbo-chtico econsequentemente derivada" (Martins, op.cit.:341 ). Martins segue Laka 4 na proposta de uma categoria funcional 1: que seria a expressad sintlitica das operacoes de afirmacao e negacao proposicional. 0 nueleo afrrmativo de 1: no PE seria realizado por urn morfema abstrato associado a urn traco V forte que seria necessario verificar por confronto comum elemento da categoria V. Isso expticaria o movimentode V ate 1:na sintaxe nessa lingua. Se assumirmos, seguindo Chomsky (1995), que nao hli categorias Agr projetando na computacao da sentenca, poderfamos entender que 0 micleo pertinente na proposta 2 Poi usada a edi~io de Ram6n Menendez Pidal (1942). J VamO$limitar as obseiv~ as ocorrencias de pronomes cliticos nao reflexivos. 41Lab, "Negative Ponting in Romance: Movement to t". Ms. University of Rochester.
de Martins e T ja que, segundo a autora, 0 clftico aparece em adjun~ao a esquerda da categoria funcionalligada a flexao, e a diferen~a da ordem corresponde a uma diferen~a no movirnento do verbo que, na enclise, sobe para urn n6 mais alto daquele ate 0 qual chega nas ocorrencias de pr6clise: 1) enelise: [Antonio1[1eu-02 :EP :E 2) pr6clise: [Antonio [ :EP :E [ tl t2 TP [101ey6 TP Martins apresenta a diferen~a entre 0 PE e 0 E atuais como uma diferen~a entre tra~os fortes e tra~os fracos: "Assirn, em frases declarativas, em espanhol, :E tern tra~os- V fracos sem que tenha conteudo lexical. No portugues, por outro lado, :E rnanteve tra~os-v fortes...". (Martins, op.cit.:343). Os textos do E do seculo XV que you considerar apresentam contrastes como 0 seguinte: 3) endlirolos yo y lievamelos el huerco (Arcipreste de Talavera) 4) yo te juro que... (Arcipreste de Talavera) 5) Figmaseme que eras hermosa (La Celestina) 6) Vezina honrrada, tu raz6n y ofrecimiento me mueven a compassi6n (La Celestina) A assimetria entre 3) e 5) por urn lado e 4) e 6) pelo outro impedem uma analise unificada para as senten~as deelarativas do espanhol da epoca. E necessariodar conta da diferen~a na posi~ao dos chticos em rela~ao ao V segundo a senten~a apresente ou nao urn sujeito lexical antes do V. Para procurar uma analise adequada vamos considerar a proposta de Rizzi (1995). 3. Rizzi propoe considerar a representa~ao estrutural da elausula esta constitufda por tres camadas estruturais: a) Uma camada lexical. 0 nueleo desta camada e 0 V e nela temos os elementos ligados por rela~oes theta. b) Uma camada que corresponde as especifica~oes flexionais do V e portanto, 0 nucleo e flexao (T). c) Uma camada que corresponde ao mleleo complementizador (C), onde sao alojados operadores, elementos como pronomes interrogativos e relativos, t6picos e elementos focalizados 5 5 Diz 0 autor: "We can think of the complementizer system as the interface between a propositional content (expressed by IP) and the superordinate structures (a higher clawe r. possibley, the articulation of sicourse, if we consider a root clause (op.cit.). 190
Esta Ultimacamada contem 0 que Rizzi chama de "sistema complementizador", e define como uma interface entre 0 conteudo proposicional expressado por IP e urna estrutura mais alta, seja urna sentenca matriz, seja 0 discurso. 0 sistema CP expressa dois tipos de infonnacoes: 1) uma informacao que tern a ver com a estrutura mais alta, isto e, uma sentenca pode ser selecionada por uma estrutura mais alta como sendo urna sentenca declarativa, uma pergunta, urna exclamacao uma relativa, urna comparativa, urna expressao adverbial de urn certo tipo. Neste sentido, a informacao contida no CP e uma. especificacao de "ror~" ou de tipo de elciusula,expressada por morfologia ou por algum operador alojado no CPo 2} 0 segundo tipo de informacao que 0 sistema CP expressa esta relacionado com o conteudo do IP complemento. A eleicao do complementizador reflete em certas propriedades do sistema verbal da sentenca, que vai conter uma forma verbal finita ou uma nao finita. Segundo Rizzi, entao, C vai expressar "finitude" (finiteness). A distincao de Modo e urn eonteudorelacionado de maneira definidora as formas finitas, portanto, diferenciador da oposicao formas finitas/formas infinitas. 4. Vamos voltar para a consideracao dos dados, em principio, dos exemplos de 3} ate 6} apresentados acima. A posicao do elitieo e reveladora do movimento do verbo, uma vez que 0 elitico aparece, nos nossos exemplos' em adjacencia estrita ao V e a hip6tese e a de que 0 elitico e adjungido a flexao. Levando em eonsideracao a proposta de Rizzi e a analise de Martins, vou propor a interpretacao de que, nas sentencas do espanhol medieval e elassico eom verbo na primeira posicao, 0 V ehega ate 0 n6 C para a verificacao dos tracos de "forca" e "finitude". que caracterizam as sentencas "independentes". A presenca desses tracos (abstratos) na eategoria C, no espanhol medieval, fazia com que urna relacao de predicacao em CP fosse necessaria para que a interpretacao de "proposicao" fosse possivel. Como era satisfeita essa relacao de predicacao que, ao subir ate CP verificava 0 traco que possibilitava a interpretacao de proposicao? Quando urn sujeito lexical eheca a sua relacao com a flexao em TP, e depois sobe para verificar 0 traco ''proposicao'' em CP, na relacao especificador/nueleo (speclheaif) com 0 nucleo C, temos urna cadeia que permite a interpretacao de predicacao em CP: 7} [[turazon y ofrecimiento]l [C[ tl [me [mueven a compassion... CP TPT 1" Quando nao temos urn sujeito lexical capaz de ehecar 0 tracopertinente da categoria C, entao e 0 V que sobe ate C e satisfaz a verifieacao necessaria:
8) [pro [lievamelos CP C [[el huerco TP [tel [tv... T T" Como e possivel que, se uma vez e 0 sujeito que pode estabelecer essa rela~ao de verific~ao, na outra seja 0 V que tern essa capacidade? Isso e possivel no E porque os flexivos contidos no V tern caracterfsticas de pronome. A flexao verbal com tra~os de mimero e pessoa no verbo espanhol funciona como verdadeiro pronome. As senten~as sem sujeito lexical nos textos examinados do E do seculo XV parecem ser tao abundantes como nos textos do E moderno. 9) Item. si una gallina pro pierden, pro van de casa en casa conturbando toda la vesindat. (Arcipreste de Talavera) A flexao em C possibilita a interpreta~ao de uma predica~ao em C, e uma predica- ~ao em CP constitui uma proposi~ao com 0 tr~o de "for~a" (ou tipo de clausula) correspondente: declarativo, imperativo, exclamativo, interrogativo. Uma lingua V-2 que nao tenha urna flexao verbal com tra~o pronominal vai ter que preencher 0 Spec/CP com algurn elemento "topicalizado", isto e, capaz de ser interpretado como t6pico da senten~a. para que seja verificado 0 tra~o de C que exige urna rela~ao de predica~ao dentro de sua proje~ao para que a interpreta~ao de proposi~ao seja obtida. E como se as lfuguas chamados "V 2" exigissem que 0 EPP fosse satisfeito em CP para se obter essa interpreta~ao de proposi~ao. Esta analise parece dar conta dos dados que indicam, nessas linguas urn CP com C preenchido pelo V e 0 Spec de CP com urn elemento que pode ser 0 sujeito ou urn outro elemento topicalizado, enquanto 0 V do sobe a C nas senten~as subordinadas com C preenchido pelo complementizador. Se 0 n6 C e preenchido com urn complementizador lexical, indicador de subordina~ao, isto e, marca de que a predica~ao seguinte foi selecionada por um verba mais alto como elemento de sua predica~ao, esse CP subordinado nao tem 0 contelido de "proposi~ao" independente. Os exemplos a seguir foram tirados de Rizzi (1990:375): 10) "a... {dass {Johann gestem ein Buch gelesen hat 11 that Johann yesterday a book read has b. {Johann hat {t gestem einbuch gelesen Injlll Johann has yesterday a book read c.{gestern hat {Johann t ein Buch gelesen Inflll Yesterday has Johann a book read" Esta anilise e valida para as linguas conhecidas como V-2 e para 0 E medieval (v: 11 infra), sendo que a diferen~a entre elas esta no tipo de flexao do verba mas nao nas caracterfsticas da categoria funcional C. ]a 0 E moderno se afasta desta analise pelo fato de T conter 0 tra~o que possibilita a interpreta~ao da predica~ao como proposi~ao.
[~ CP C [JXO [rrelocallo (.Al'cipmedeTala\6'a) TP T 5. Nos textos examinados ainda encontramos ocorrenclas da ordem V-cl nas sentencas com verba no imperativo. As senten cas com imperativos sao incompativeis com a negacao, sendo enta~ expressadas atraves do modo subjuntivq as sentencas negativas com conteudo imperativo. Isso significa que a presenca da negacao implica numa restricao sobre 0 movimento d(}verbo, fate que pode ser tambem constatado nas senteneas declarativas. Isso confirma umaanluise de movimento do V ate 0 nueleo C nas senteneas afirmativas, tanto deelarativas quanto imperativas, acarretado sempre pela necessidade de checagem do traco "forea" relacionado a interpretaeao de uma proposieacl. 12) Hija, Melibea, [qu'dese esta muger honrrada contigo (La Celestina) CP. 13) [v'anlo [mis ojos [tv e [non [pro [se tarde! CP TP T Neg TP T RESUMO: 0 prop6sito do trabalho e considerar a posi~iio pre ou p6sverbal dos pronomes clfticos em dois textos espanh6is dos seculo xv. A posi~iio do cl(tico e relacionada com 0 movimento do Vpara C ou T, e a analise leva em conta a proposta de Rizzi (1995). PALA VRAS-CHA VB: cilticos, enclise, pr6clise, CP, movimento do V. GALVES, C. (1996) Do portugus.. classico ao portuguss europeu modemo: uma an&iise minimalista. Ms. UNICAMP. GRANBERG, R. A. (1988) Objecto Pronoum Position in Medieval and Early Modem Spanish. Disserta~o de Doutoramento. UCLA. MARTINFZ DE TOLEDO, A.(1943) Arcipreste de Talavera. Em R. MENENDEZ PIDAL (ed) (1943) Espasa.Calpe: Buenos Aires.
RIZZI, L (1990) Speculations on Verb Second. Em 1. MASCAR6 e M. NESPOR (edj) (1990) Grammar in Progress. Paris: Dordred1t. " (1995) The Pine Structure of the Left Periphery. Ms. Univ. de Geneve.