Anexo III: Aspectos Fiscais e Gerenciais de Empresas no Brasil 1. Aspectos Gerais investimento: Neste capítulo vamos analisar os principais aspectos fiscais envolvidos em três momentos de um (i) Formação da empresa: no momento em que a empresa é formada juridicamente, os seus sócios (sejam eles pessoas físicas ou jurídicas) entregam recursos financeiros ou ativos para o desenvolvimento das atividades operacionais da empresa; (ii) Vida da empresa: durante o regular desenvolvimento de suas atividades, a empresa estará sujeita a diversos tributos e o investidor deverá tomar importantes decisões que terão impacto imediato na lucratividade do empreendimento; (iii) Venda da empresa: na venda de uma determinada empresa, os sócios devem pagar impostos sobre o ganho reconhecido na operação (ganho de capital). Abaixo analisaremos os aspectos fiscais gerais envolvidos em cada um destes momentos. Note-se que a legislação tributária é complexa e possui diversos regimes específicos, dependendo do ramo de atividade, do tamanho e da localização da pessoa jurídica. A efetiva tributação aplicável deve ser verificada caso a caso. 2. Constituição da Pessoa Jurídica Ao iniciar um determinado empreendimento, os sócios devem constituir uma pessoa jurídica e entregar os recursos (dinheiro, máquinas, equipamentos, móveis e outros ativos) que serão inicialmente utilizados no desenvolvimento das atividades. Como contrapartida pela entrega destes recursos, a pessoa jurídica emitirá quotas (se sociedades limitadas) ou ações (se sociedades anônimas) para os sócios (a operação é denominada integralização em aumento de capital ). Nesse momento inicial, assumindo que os sócios sejam brasileiros, não deve haver qualquer tributação caso a integralização seja efetuada com dinheiro ou, se efetuada em bens, estes sejam entregues pelo seu valor de custo. O motivo para que não exista qualquer tributação é que os sócios normalmente entregarão determinados ativos, recebendo em troca quotas ou ações que possuem exatamente o mesmo valor dos ativos entregues.
Caso os sócios sejam pessoas físicas, o investimento realizado na nova sociedade será informado em sua Declaração de Imposto de Renda das Pessoas Físicas ( DIRPF ), pelo valor efetivamente investido (i.e os recursos financeiros aportados ou o valor dos bens transferido para a sociedade). Como será verificado adiante, este custo será utilizado como base para cálculo do imposto devido na venda do investimento no futuro. Na hipótese em que os sócios sejam pessoas jurídicas, o investimento será registrado no balanço da empresa pelo custo dos bens ou direitos transferidos para a pessoa jurídica em razão da integralização do capital social. Ou seja, se determinado bem estava registrado na contabilidade da empresa por R$ 1.000,00, e este bem ou direito é utilizado na integralização do capital social da empresa investida, o custo das ações recebidas pela empresa investidora será os mesmos R$ 1.000,00. Note-se que, quando a integralização for realizada em bens, a pessoa jurídica e a pessoa física poderão entregar os bens em aumento de capital da sociedade por seu valor de mercado. Neste caso, o ganho auferido nesta transação pelo investidor estará sujeito à tributação (se pessoa física, pelo imposto sobre a renda da pessoa física IRPF ; se pessoa jurídica, pelo Imposto de Renda da Pessoa Jurídica IRPJ e pela Contribuição Social sobre o Lucro Líquido CSL ). Vale mencionar que, caso o investimento na empresa brasileira seja realizado em dinheiro por um investidor não residente, a entrada dos recursos no Brasil estará sujeita ao Imposto sobre Operações Financeiras ( IOF ) devido sobre operações de câmbio. Se o investimento for realizado em uma sociedade limitada ou em uma sociedade por ações de capital fechado, o IOF incidirá à alíquota de 0,38%. De outra forma, se o investimento for realizado no mercado financeiro e de capitais (investimento em fundos de investimento, por exemplo), o IOF incidirá na entrada dos recursos financeiros no Brasil, à alíquota de 2%. 3. Vida da Empresa 3.1 Tributos devidos pelas empresas em geral Durante a sua existência, a empresa estará sujeita a diversos tributos, dependendo do ramo de atividade em que atua. Como regra geral, todas as empresas constituídas no Brasil estão sujeitas aos seguintes tributos: 3.1.1 Imposto sobre a Renda da Pessoa Jurídica (IRPJ) e Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSL) 2
O IRPJ e a CSL são tributos que incidem sobre o lucro reconhecido anualmente pela pessoa jurídica. Em linhas gerais, existem duas formas para se calcular o lucro das empresas para o pagamento destes tributos: o método do lucro real e o método do lucro presumido. No lucro real, toma-se como base o lucro líquido verificado na contabilidade da empresa. A partir do lucro líquido contábil, a empresa efetua adições, exclusões e compensações determinadas pela legislação fiscal. De fato, de acordo com as regras fiscais, alguns custos e despesas que reduzem o lucro para fins contábeis não podem reduzir o lucro para fins fiscais (e vice-versa). Da mesma forma, em certos caso, a legislação fiscal pode exigir o reconhecimento de receitas adicionais por parte da pessoa jurídica. Por isso, dizemos que a base de cálculo do IRPJ e da CSL será equivalente ao lucro contábil, ajustado pelas adições, exclusões e compensações previstas na legislação. No lucro presumido, o lucro para fins fiscais é calculado tomando-se como base a receita bruta da pessoa jurídica. Sobre a receita bruta será aplicada uma margem de lucro presumida, que varia conforme o ramo de atividade desenvolvido pelas empresas (como regra, a alíquota presumida é de 32% para prestadores de serviços e de 8% para empresas comerciais). O lucro presumido, portanto, é determinado a partir da multiplicação da receita bruta da empresa pela margem de lucro presumida (as despesas da empresa não são relevantes para a determinação do lucro). O regime de lucro presumido (regime de lucro presumido) só pode ser utilizado por empresas que tenham tido receita bruta no ano anterior inferior a R$ 48.000.000,00 (quarenta e oito milhões de reais). Além disso, existem algumas atividades que estão proibidas de utilizar o método do lucro presumido (como as atividades financeiras, por exemplo). Como regra geral, o método do lucro presumido é menos oneroso para empresas prestadoras de serviços. Entretanto, o lucro real pode ser mais eficaz no início das atividades da empresa, uma vez que a sociedade tende a ter uma receita reduzida e elevados custos de implantação. Após a apuração do lucro real ou presumido, as alíquotas do IRPJ e da CSL serão aplicadas sobre o lucro tributável (real ou presumido) para se determinar o tributo devido: (i) a alíquota do IRPJ é de 15%, com adicional de 10% (25% no total) sobre a parcela do lucro que exceder R$ 240.000,00 por ano; e (ii) a alíquota da CSL é de 9%. Vale notar que, em regra, no regime de lucro real, as pessoas jurídicas realizam antecipações mensais do IRPJ e da CSL devidos, vindo a fazer um ajuste final no término do ano-calendário. Para as empresas de lucro presumido, os tributos são pagos trimestralmente. 3.1.2 Contribuição para o Programa de Integração Social ( PIS ) e Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social ( COFINS ) 3
As contribuições do PIS e da COFINS tomam por base a receita bruta da empresa. Estas receitas também podem ser tributadas por dois métodos distintos: método cumulativo ou método não-cumulativo. Note-se que a opção pelo método cumulativo está intrinsecamente relacionada com a opção do lucro real ou presumido. As empresas que adotam o lucro real estão obrigadas a adotar o regime nãocumulativo (exceto quando expressamente excluído por lei), enquanto que as empresas que adotam o lucro presumido estão obrigadas a adotar o regime cumulativo. No método cumulativo, o PIS e a COFINS são calculados pela aplicação das alíquotas de 0,65% e de 3%, respectivamente, sobre a receita bruta auferida pela pessoa jurídica em suas atividades. Não há a possibilidade de se compensar qualquer crédito sobre custos e despesas incorridos pela pessoa jurídica. No método não-cumulativo, o PIS e a COFINS são calculados pela aplicação das alíquotas de 1,65% e de 7,6%, respectivamente, sobre a receita bruta auferida pela pessoa jurídica em suas atividades. Entretanto, neste caso, poderão ser descontados créditos de PIS e de COFINS no montante equivalente às contribuições pagas sobre bens e serviços utilizados com insumo nas atividades da pessoa jurídica. Além dos tributos mencionados acima, as empresas estão sujeitas a outros tributos, dependendo do ramo de atividade desenvolvido. 3.2 Tributos devidos pelos prestadores de serviços 3.2.1 Imposto sobre Serviços (ISS) Os prestadores de serviços estão sujeitos ao ISS. Note-se que os prestadores de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação não estão sujeitos ao ISS, mas sim ao Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços. O ISS é geralmente calculado sobre o valor recebido em razão da prestação de serviços (receita de serviços). A alíquota do ISS varia entre 2% e 5%, dependendo do município no qual o serviço é prestado e conforme a sua natureza específica. 3.3. Tributos devidos pela industrialização e venda de bens 3.3.1 Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) O IPI é calculado na venda de produtos industrializados por empresa brasileira ou na importação de produtos industrializados. 4
As alíquotas do IPI variam de forma inversamente proporcional à necessidade do produto (de 0% a 365%). Assim, em regra, produtos supérfluos estão sujeitos a alíquotas mais altas do que outros produtos de necessidade geral. 3.3.2 Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) O ICMS é exigido na venda de mercadorias e de serviços de transporte intermunicipal e interestadual e de comunicação. O imposto é não-cumulativo, de forma que os impostos pagos pela empresa na aquisição de suas matérias-primas, por exemplo, podem ser utilizados para compensação com o imposto devido na venda de um produto acabado. As alíquotas variam, em regra, de 7% a 25%, dependendo do Estado do vendedor, do Estado do adquirente e da natureza dos produtos. O ICMS também incide sobre as operações de prestação de serviços de transporte, telecomunicações e venda de energia elétrica, entre outros. 3.4 Lucros e dividendos pagos aos sócios Durante a vida da empresa, após o pagamento dos tributos descritos acima, os lucros apurados na contabilidade da empresa podem ser distribuídos aos sócios sem qualquer tributação (assumindo que os sócios estejam localizados no Brasil). Caso os sócios estejam sediados no exterior, os lucros também podem ser remetidos ao exterior, com a incidência do IOF. Se o investidor não-residente tiver investido em uma sociedade limitada ou de capital fechado, a remessa dos lucros estará sujeita ao IOF devido à alíquota de 0,38%. Por outro lado, se o investimento tiver sido realizado no mercado financeiro e de capitais, o IOF será devido à alíquota zero. 4. Venda da Empresa 4.1 Regra Geral Na venda da empresa, o sócio reconhecerá um ganho na operação, que estará sujeito à tributação, variável de acordo com a natureza jurídica do vendedor. Para o sócio pessoa física, o ganho será calculado pela diferença entre: (i) o preço de venda das ações ou quotas da empresa; e (ii) o custo registrado em sua declaração de imposto de renda (DIRPF). Sobre o valor do ganho, incidirá o Imposto de Renda à alíquota de 15%. 5
Para o sócio pessoa jurídica, o ganho será calculado pela diferença entre: (i) o preço de venda das ações ou quotas da empresa; e (ii) o custo da empresa vendida registrado em sua contabilidade. Sobre o valor do ganho, incidirá o IRPJ à alíquota de 25% e a CSL à alíquota de 9%. 4.2 Situações Específicas Há várias situações específicas que devem ser analisadas em detalhes. Neste curso, vale destacar o tratamento fiscal nas vendas efetuada por empresas sediadas no exterior ou fundos de investimentos localizados no Brasil. Em relação aos investidores não residentes, o ganho de capital auferido na venda de quotas ou ações de empresas não listadas em bolsa de valores ou mercado assemelhado será em geral tributado de acordo com a mesma regra aplicável à pessoa física brasileira. Isso significa que o ganho de capital nessa situação estará sujeito à tributação pelo imposto sobre a renda à alíquota de 15%. Caso o investidor esteja localizado em um país com tributação favorecida, a alíquota do imposto sobre a renda aplicável será de 25%. Caso o investimento tenha sido realizado no mercado financeiro e de capitais (i.e. bolsa de valores ou assemelhados), o ganho de capital auferido por um não residente (que não esteja localizado em país com tributação favorecida) não estará sujeito a qualquer tributação no Brasil, desde que a venda seja realizada na bolsa de valores (ou ambiente assemelhado). Caso o investidor esteja localizado em um país com tributação favorecida, a alíquota do imposto sobre a renda aplicável será de 15%. Por sua vez, caso o investimento seja realizado por um fundo de investimento localizado no Brasil (i.e. Fundo de Investimento em Participações FIP), o ganho de capital auferido pelo fundo de investimento não estará sujeito a qualquer tributação. A tributação ocorrerá apenas quando o fundo de investimento distribuir os rendimentos aos seus cotistas. Se o investidor final do fundo for um não-residente (que esteja situado em país com tributação favorecida ou que tenha mais do que 40% das quotas ou dos benefícios econômicos do fundo) ou uma pessoa física residente no Brasil, o imposto de renda será devido à alíquota de 15%, como tributação definitiva. Se o investidor do fundo de investimento for uma pessoa jurídica brasileira, o ganho de capital será tributado à alíquota de 34% (IRPJ e CSL). Vale notar que, no caso específico de Fundos de Investimentos em Participações ( FIPs ), se um determinado quotista tiver menos que 40% das quotas e dos benefícios econômicos, não estiver sediado em país com tributação favorecida e se o fundo não detiver, a qualquer tempo, mais do que 5% de sua carteira investida em ativos de renda fixa (exceto títulos do governo ou debêntures conversíveis em ações), os rendimentos remetidos ao exterior pelo referido fundo estarão sujeitos ao imposto sobre a renda à alíquota zero. 6