BuscaLegis.ccj.ufsc.br



Documentos relacionados
PODER CONSTITUINTE. Carina Beltramini Advogada Docente do Curso de Direito da UNILAGO

EXERCÍCIOS DE FIXAÇÃO

COMISSÃO DE CONSTITUIÇÃO E JUSTIÇA E DE CIDADANIA

DIREITO CONSTITUCIONAL PODERES CONSTITUINTES

IUS RESUMOS. Introdução ao Direito Empresarial. Organizado por: Samille Lima Alves

O HOMEM, A SOCIEDADE E O DIREITO

as influências do constitucionalismo alemão no constitucionalismo brasileiro,

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador JOSÉ PIMENTEL I RELATÓRIO

Direito Constitucional

AULA Nº 8: HIERARQUIA DAS LEIS

CONSTITUIÇÃO FEDERAL DO BRASIL

Sumário. Apresentação... IX Introdução... XIX

Hermenêutica Aula 4. Professora Edna

Base para estudo do Direito Financeiro

JUSPOSITIVISMO E AS LEIS DE NEWTON 1

NOÇÕES GERAIS DIREITO INTERNACIONAL III. NOÇÕES GERAIS DIREITO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

PLANO DE CURSO. Disciplina: Ciência Política e Teoria Geral do Estado. Prof. Esp.: Anderson de Queirós e Silva. Rio Verde/GO 2014/01

A Nação é uma sociedade política e o autor do nosso livro-texto, em sua doutrina, dispõe que a Nação se compõe de dois elementos essenciais:

Jean-Jacques Rousseau (1753) de Maurice Quentin de La Tour Da vontade geral surge o Estado

CÂMARA DOS DEPUTADOS PROPOSTA DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO Nº 233, DE 2008

PARECER DO NÚCLEO DE CÁLCULOS JUDICIAIS DA JFRS

HIERARQUIA DAS LEIS. UMA ANÁLISE SOBRE A REVOGAÇÃO DA LEI COMPLEMENTAR 70/91 PELA LEI 9430/96

CAPÍTULO 8 NOTA PROMISSÓRIA

PREVIDÊNCIA SOCIAL E(M) CRISE: uma análise jurídica das inter-relações entre a crise econômica e os regimes de previdência social

SISTEMAS HIDRÁULICOS E PNEUMÁTICOS.

BuscaLegis.ccj.ufsc.br

Oficineira Ludimilla Barbosa Formada em Direito pela Univ. Católica Dom Bosco (MS). Atua de forma autônoma em Bonito e em Campo Grande.

SISTEMA GLOBAL DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

O ACESSO AOS DIREITOS SOCIAIS COMO GARANTIA DE CIDADANIA NA COMUNIDADE REMANESCENTE QUILOMBOLA KALUNGA RESUMO

Direito & Cotidiano Diário dos estudantes, profissionais e curiosos do Direito.

DIREITO CONSTITUCIONAL

CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE PREVENTIVO E REPRESSIVO

EMENDA ADITIVA N o. Acrescente-se o seguinte art. 9 o ao texto original da Medida Provisória nº 680, de 2015, renumerando-se o atual art. 9º.

O CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS: A LEGITIMIDADE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL PARA MODULAR OS EFEITOS DA DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE

Conteúdos/ Matéria. Textos, filmes e outros materiais. Categorias/ Questões. Habilidades e Competências. Semana. Tipo de aula

Etnocentrismo, relativismo cultural e multiculturalismo

Mestrados Profissionais em Ensino: Características e Necessidades

ÉTICA E MORAL. profa. Karine Pereira Goss

ADMINISTRAÇÃO INDIRETA TAMBÉM DEVE-SE ACRESCENTAR AS EMPRESAS CONCESSIONÁRIAS E PERMISSIONÁRIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS.

COMO ORGANIZAÇÃO SOCIAL. Caracterização e Desafios

CIDADANIA, INCLUSÃO SOCIAL E ACESSO À JUSTIÇA

Luiz Flávio Gomes Valerio de Oliveira Mazzuoli. O método dialógico e a magistratura na pós-modernidade

UNIC/SUL - CURSO DE DIREITO 3º SEMESTRE - 2º BIMESTRE DISCIPLINA: Direito Constitucional II Profª Maria das Graças Souto

Quanto aos objetivos TIPO DE PESQUISA

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO. Carga horária semanal: 04 Carga horária semestral: 80

A TEORIA DO PODER CONSTITUINTE É COMPATÍVEL COM A REALIDADE JURÍDICO-SOCIAL CONTEMPORÂNEA?

Direito Previdenciário - Custeio

COM O GRITO DO IPIRANGA, ENCERROU-SE O PERÍODO COLONIAL, INICIANDO O BRASIL IMPÉRIO

LEI Nº , DE 2 DE AGOSTO DE 2010.

Prova de Contabilidade Geral Comentada

CURSO FORMAÇÃO CIDADÃ DEMOCRACIA REPRESENTATIVA. Victor Barau

2) PROCURADOR MARICÁ - RJ OUTROS (Constitucional, questão 23) Não constitui cláusula pétrea:

A efetividade educacional do Fundeb no financiamento da educação brasileira: o caso do Paraná

O Dinheiro ou a Circulação das Mercadorias. O Capital Crítica da Economia Política Capítulo III

INDICADORES DE AVALIAÇÃO E QUALIDADE DA EDUCAÇÃO SUPERIOR

Referência Legislativa: artigos 40 ao 69 da Lei n /02 (Código Civil) Personalidade jurídica das pessoas jurídicas.

PARECER COREN-SP 010/2012 CT PRCI nº /2012 Ticket s nº , e Revisado e atualizado em 21/11/2013

ESTADO DE MINAS GERAIS ADVOCACIA-GERAL DO ESTADO. CONCURSO PÚBLICO Edital n 1/2006 PROCURADOR DO ESTADO NÍVEL I GRAU A. Caderno de Questões

Software Livre e o Ensino Público: limites e perspectivas

PROJETO DE LEI Nº. 72 /2012 A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO DECRETA:

Palavras chaves: Autoavaliação institucional; Indicadores de qualidade; Avaliações externas

PROCURADORIA-GERAL DO ESTADO PROCURADORIA PREVIDENCIÁRIA PARECER Nº

Inconstitucionalidade da obrigação de depósito prévio da totalidade das custas de parte

A NOVA FAMÍLIA BRASILEIRA

AULA 2: PODER LEGISLATIVO

Curso de Formação Avançada. O Direito do Trabalho depois do programa de ajustamento Económico e Financeiro

Juíza Gisele Guida de Faria Membro do GEDICON. 1. Considerações iniciais

REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Toque 11 Isonomia, Capacidade Contributiva e Progressividade

a) MATERIAL - que é o uso, podendo se dar por ação ou omissão ;

A ÉTICA DO ADVOGADO COMO VALOR PROFISSIONAL NA DEFESA DA SOCIEDADE BRASILEIRA

A reforma política em questão

4. Conversando um pouco mais sobre o conselho escolar

Aula Demonstrativa do Curso Regular de Direito Constitucional Poder Constituinte

1.ª QUESTÃO: Reconhecimento dos efeitos e validade do exame médico do marítimo

ESTÁCIO-CERS PROF. ANTÔNIO LAGO JÚNIOR

Professor pesquisador

alocação de custo têm que ser feita de maneira estimada e muitas vezes arbitrária (como o aluguel, a supervisão, as chefias, etc.

Representação de organizações não governamentais e suas relações com o Poder Legislativo um estudo de caso da APAE

PARECER Nº, DE RELATOR: Senador JOSÉ PIMENTEL

BuscaLegis.ccj.ufsc.Br

Direito Empresarial. Aula 09. Os direitos desta obra foram cedidos à Universidade Nove de Julho

AULA 7 30/03/11 A NOTA PROMISSÓRIA E O CHEQUE

Federalismo e Descentralização

OS ADICIONAIS DE INSALUBRIDADE E PERICULOSIDADE E A (IM)POSSIBILIDADE DE CUMULAÇÃO. 1

COMUNICAÇÃO AMBIENTAL - UMA NOVA DIMENSÃO PARA PROMOVER PROJETOS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

ASPECTOS QUE COMPÕEM A TEMÁTICA AMBIENTAL

Política Nacional de Resíduos Sólidos

A USUCAPIÃO E O ABANDONO DO LAR CONJUGAL

NOTAS EXPLICATIVAS ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS EM 31 DE DEZEMBRO DE 2010 E 2009

TP043 Microeconomia 16/11/2009 AULA 20 Bibliografia: PINDYCK capítulo 11 Determinação de Preços e Poder de Mercado.

PODER CONSTITUINTE DERIVADO DECORRENTE DOS MUNICÍPIOS: UMA ANÁLISE FUNDAMENTADA NOS PRINCÍPIOS FEDERATIVO E DA SIMETRIA

GEOGRAFIA. PRINCIPAIS CONCEITOS: espaço geográfico, território, paisagem e lugar.

Autorizado pela Portaria nº de 05/12/02 DOU de 06/12/02 Componente Curricular: DIREITO PROCESSUAL PENAL II PLANO DE CURSO

Sistema de Cadastro de Pessoa Jurídica

Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n.º de 20 de dezembro de 1996

SUGESTÕES DE ALTERAÇÕES NA MINUTA DO PARECER DE REGULAÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Pós-Graduação em Direito Público. Disciplina: Direito Constitucional LEITURA OBRIGATÓRIA AULA 1. Índice. LEITURA OBRIGATÓRIA I PÁG 2 a 21

LEGISLAÇÃO APLICADA AO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO PROF. GIL SANTOS AULA 1 EXERCÍCIOS DEFINIÇÃO MINISTÉRIO PÚBLICO

Transcrição:

BuscaLegis.ccj.ufsc.br Breve resumo do poder constituinte originário e derivado frente aos princípios fundamentais Rafael Damaceno de Assis* 1. Introdução A idéia de supremacia da constituição decorre de sua origem, alicerçada num poder instituidor de todos os outros poderes, que constitui os demais; daí sua denominação poder constituinte. Em uma outra visão podemos dizer que o poder constituinte pode ser estudado em uma dupla dimensão: originário e reformadora. Trata-se do poder que constitui, que faz e que elabora normas constitucionais. [1] As origens da doutrina do poder constituinte remontam à Idade Moderna. A partir do século XVI e XVIII, surgiram as doutrinas do contrato social, que vieram influenciar a própria noção de Estado, a necessidade da adoção das constituições escritas e o poder envolvendo na elaboração destas constituições. As normas produzidas pelo poder constituinte compõem um texto normativo, localizado em posição de superioridade, em relação as demais normas d ordenamento jurídico de um pais.

2. Poder Constituinte Originário Como poder instituidor do Estado pressupõe-se sua anterioridade, sendo considerado poder constituinte originário, por tudo ele decorre. A doutrina elege como características principais deste poder originário, como pequenas variações entre os autores, a inicialidade, a incondicionalidade e a limitação. O objeto de nosso interesse repousa na terceira característica: a limitação. A doutrina não se pacifica em torno da ilimitação do poder constituinte originário. A idéia desta ilimitação, que passa pela questão da natureza do poder constituinte, é compartilhada pelos juristas de formação positivista; para os jusnaturalistas, que não aceitam a idéia de ilimitação, estas características se traduziriam na autonomia e não na ilimitação. De acordo com a primeira tese o poder constituinte é um poder de fato. Encontra-se vinculado à realidade concreta da vida social em determinação espaço territorial. Sob este enfoque, dizer que é um poder de fato equivale a dizer que um poder político. Assim sendo, se não há Estado, não há Direito, não sofrendo poder constituinte derivado qualquer limitação de direito. O poder constituinte originário é compreendido também como um poder de direito tendo por fundamento o Direito Natural, que é anterior e superior ao Direito de Estado, fundado num poder natural do homem de organizar a vida social; estaria, então, limitado este poder originário não pelo Direito positivo, mas sim pelo Direito natural. 3. Poder Constituinte Derivado

Ao contrário da limitação ou ilimitação do poder constituinte originário, as limitações do poder constituinte reformador ou revisor, como a doutrina chama o poder derivado, são maciçamente aceitas pelos pensadores constitucionais. Este poder seria derivado do poder constituinte originário, sendo usado nas alterações do texto constitucional ou sua reforma. Suas principais características são a limitação material de seu exercício e a condicionalidade destes limites impostos; se não houvesse limites, não haveria diferença entre o poder revisor e o poder constituinte. Como fonte limitadora deste poder reformador, Estado brasileiro assumidamente reconhece os direitos fundamentais e seus instrumentos de garantia, como o Status das clausulas Pétreas, como forma de impedir que uma revisão, ou mesmo uma alteração, através de emenda constitucional, suprima um direito eleito pelo constituinte como essencial à existência daquela sociedade. O que se quer vedar ao revisor da constituição é a alteração da substância e não a redação dos dispositivos referentes aos direitos fundamentais. Por fim o poder reformador é um poder de Direito. Tem, portanto, naturezas jurídicas, estando submetido às regras estabelecidas pela Constituição Federal. 4. Princípios Fundamentais como Limitadores do Poder Constituinte Continuado nesta questão, não estaria o poder constituinte originário limitado pelo próprio homem? Não é difícil estender este raciocínio de limite do poder constituinte derivado, ou poder reformador, também ao poder constituinte originário, em face aos direitos fundamentais. A diferença é que o poder reformador, expresso na constituição, possui uma limitação

também expressa. Ao poder originário, que não possui previsão constitucional expressa, a limitação estaria implícita e não explícita. Entretanto considera que os direitos têm um caráter supra-estatal, cujo respeito é obrigatório até para um poder de maior hierarquia do que o reformador, qual seja o poder constituinte. Em suma, a reforma constitucional pode ampliar, como também o pode a própria lei ordinária, os direitos fundamentais, mas nunca restringi-los e muito menos aboli-los. [2] Igualmente, parece razoável a idéia de que o poder constituinte originário estaria preso a determinados princípios mundialmente aceito pela humanidade, ressalvadas algumas sociedades, de superioridade dos direitos frente aos Estados. O poder originário, no momento da criação estatal, estaria regrado pelos direitos fundamentais do ser humano, com a obrigatoriedade de prever quais seriam estes direitos e os instrumentos de sua proteção. Como pode capaz de criar o Estado se ilimitado fosse, nada o impediria de fazê-lo de forma que o mesmo não reconhecesse e respeitasse os direitos fundamentais internacionalmente difusos pela Assembléia Geral da ONU em 1948. A titularidade do poder constituinte é largamente aceita como sendo do povo, já que esse é quem legitima seu próprio governo, não obstante a incerteza do conceito doutrinário de povo. Esta titularidade é, em razão do principio da inalienabilidade da soberania popular, irrenunciável. Logo o titular do poder constituinte é maior e mais importante que qualquer noção e conceito de Estado. Assim o homem é à base de toda sociedade e do próprio Estado, que não teria existência apartada na existência humana, como entidade autônoma da raça humana. Reconhecer-se a

personalidade jurídica do Estado, não o libera da idéia de que ele é constituído por pessoas, e que este não estaria, apesar de sua soberania, acima de uma dos reais elementos que o compõe. 5. Conclusão Os direitos fundamentais do ser humano superam a idéia de serem outorgados pelo Estado, dependente de sua criação pelo ente estatal. O pensamento jurídico deve desenvolver fórmulas de proteção eficazes a estes direitos. A ilimitação do poder Constituinte, como poder criador do Estado atentaria contra esses mesmos direitos fundamentais. Desta forma a idéia de ilimitação do poder constituinte originário encontra obstáculos no próprio titular deste poder, o ser humano. O poder constituinte, através do seu ou dos seus agentes, não esta autorizado a violar a existência e o reconhecimento dos direitos fundamentais, não os prevendo na constituição do Estado. 6. Referência Bibliográficas FACHIN, Zulmar. Teoria Geral do Direito Constitucional. IDCC. Londrina.2006. SAMPAIO, Nelson de Sousa. O Poder de Reforma Constitucional. Bahia. 2002. BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. São Paulo. Malheiros. 2004.

DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. São Paulo. Saraiva, 2005. [1] FACHIN, Zulmar, Teoria Geral Do Direito Constitucional. IDCC Londrina, 2006. [2] SAMPAIO, Nelson de Sousa. O Poder de Reforma Constitucional, p.93 * Graduando em Direito pela Faculdade Metropolitana IESB (Instituto de Educação Superior de Brasília), Vice-Presidente do Centro Acadêmico Dr. João Tavares de Lima, ex-estagiário do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná e Vara de Execuções Penais da Comarca de Londrina. Autor e Organizador de Vários Sites e Congressos Jurídicos. Representante na cidade de Londrina da Associação Brasileira de Advogados ABA Disponível em: http://www.direitonet.com.br/artigos/x/32/44/3244/