ADSORÇÃO DE AZUL DE METILENO POR ARGILA: INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DE MATÉRIA ORGÂNICA



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Transcrição:

ADSORÇÃO DE AZUL DE METILENO POR ARGILA: INFLUÊNCIA DA PRESENÇA DE MATÉRIA ORGÂNICA R. C. O. SOUZA 1, S. M. L. CARVALHO 2 1 Universidade Federal do Pará, Faculdade de Engenharia Química E-mail para contato: sleao@ufpa.br RESUMO Neste trabalho foi estudada a quantidade adsorvida de uma argila da região Norte do Brasil, estado do PA. Na caracterização mineralógica e química e ensaios de adsorção a argila foi utilizada em sua forma in natura e tratada por H 2 O 2 para remoção de matéria orgânica. Para caracterização realizaram-se: classificação granulométrica por normas NBR 7181 e 6502; análise de DRX; sólidos voláteis por método gravimétrico; PCZ pelo método de titulação potenciométrica e CTC pelo método do acetato de amônio. Nos ensaios de adsorção o adsorbato utilizado foi o corante azul de metileno. Estes foram executados empregando-se o planejamento estatístico, Delineamento Composto Central Rotacional (DCCR): duas variáveis independentes, ph (3,0 10,0) e concentração de azul de metileno (0,7 a 23,0 mg/l) e uma variável de resposta, quantidade adsorvida (Qeq, mg/g). A quantidade adsorvida da argila, in natura e tratada foi satisfatória, obtendo-se resultados de remoção, entre 0,30.10-1 e 9,2.10-1 (mg/g). 1. INTRODUÇÃO A argila é um material diretamente ligado a evolução humana, sendo utilizado ao longo dos anos principalmente na fabricação de produtos estruturais. É uma das substâncias naturais de grande interesse por parte de indústrias pela diversidade de produtos que são feitos com ela ou a partir dela, tendo assim, muita representatividade econômica (Pereira, 2008). Dentre as diversas aplicações industriais das argilas, a sua capacidade como adsorvente representa uma das mais importantes. As argilas são usadas para este fim em diversos processos industriais, possuindo elevada estabilidade, propriedades de superfície que podem ser modificadas por tratamentos adequados, diâmetro de partículas pequenas, baixo custo e abundância (Dias, 2010). Diversos segmentos das indústrias, como as de tintas, papéis e têxteis utilizam corantes para tingir seus produtos e também consomem um volume substancial de água resultando em uma quantidade considerável de resíduos coloridos. Os efluentes destas, se não tratados convenientemente antes de serem lançados em corpos hídricos, são capazes de atingir reservatórios e estações de água, representando uma preocupação ecológica emergente (Fernando, 2009). O tratamento por adsorção empregando argilominerais como adsorventes tem se mostrado uma alternativa viável como solução desta problemática (Dias, 2010). Área temática: Engenharia Ambiental e Tecnologias Limpas 1

No Estado do Pará, a extração de argila possui forte importancia social e economica no Distrito Administrativo de Icoaraci, tendo seu desenvolvimento facilitado pela grande quantidade de argila disponível e por ter na cerâmica o seu foco atrativo (De Oliveira, 2009). Em solos tropicais e subtropicais, onde as argilas estão presentes, a matéria orgânica apresenta uma estreita relação com as demais propriedades físicas, químicas e biológicas do solo (Ciotta, 2003). Segundo Vergotti et al. (2009) a matéria orgânica presente nos solos altera as propriedades dos sólidos, assim como, também influencia na superfície específica dos materiais. Diante do exposto, esse trabalho possui a finalidade de estudar o potencial adsorvente do material argiloso, do pólo oleiro do Paracurí, localizado no Distrito Industrial de Icoaraci, município de Belém do Pará. 2. MATERIAIS E MÉTODOS 2.1. Material Argiloso A argila utilizada foi adquirida comercialmente na região do Paracurí, Distrito de Icoraci (PA). O material é proveniente da lavra e passa por beneficiamento (preliminar), referente à retirada de folhas, raízes, galhos e sementes. Em seguida é prensada em blocos em uma maromba. O material é processo, em um intervalo de 24 horas, após a sua retirada. 2.2. Preparação da Amostra A amostra foi seca em estufa a 105 C por 24 horas, em pequenos pedaços e em seguida foi cominuida, manualmente. Após a secagem, o material foi desagregado (manualmente) e pulverizado em graal de ágata e pistilo de porcelana. Mediante quarteamento, parte da amostra foi armazenada para ser utilizada em sua forma bruta e parte do material foi submetida ao tratamento para a remoção de matéria orgânica. 2.3. Tratamento da Argila In natura para Remoção da Matéria Orgânica Utilizou-se uma adaptação da metodologia proposta por Embrapa (1997), descrita para a oxidação de matéria orgânica de solos. Inicialmente pesou-se 1,00 g de amostra, quantidade recomendada pelo método. Contudo, com a finalidade de otimizar o processo utilizaram-se as massas de 5,00 g e 10,00 g de amostra, cujo tratamento foi adaptado, conforme a metodologia utilizada. As amostras de 1,00 g; 5,00 g e 10,00 g foram transferidas para tubos de vidro de 2,5 cm; foram umedecidas com água destilada e adicionou-se 1,0 ml de peróxido de hidrogênio (H 2 O 2 35%) para cada grama de amostra. Os tubos de vidro com as amostras foram submetidos ao refluxo (100 C) por 1 h. em um bloco digestor. Em seguida, foi adicionada água destilada aos tubos, e resfriados a temperatura ambiente. A suspensão formada foi centrifugada (3.600 RPM/15 minutos). Ao final da centrifugação, descartou-se o sobrenadante e o material restante foi seco em estufa a 105 C por 24 horas. O material obtido foi desagregado e pulverizado em graal de ágata e pistilo de porcelana. Área temática: Engenharia Ambiental e Tecnologias Limpas 2

2.4. Caracterização da Argila In natura e Tratada Os procedimentos experimentais foram executados conforme mostra a Tabela 1. Tabela 1 Procedimentos experimentais Determinação Analítica Metodologia empregada Classificação granulométrica Norma NBR 6502 (ABNT, 1995) Utilizou-se difratômetro de raios-x do modelo X Pert Pro MPD (PW 3040/60) PANalytical, com radiação Kα do cobre, nas condições experimentais: Varredura 5 a Difração de Raios-X (DRX) 75 2θ, 40 kv, 30 ma, passo 0,02 em 2θ e tempo/passo de 20s, fenda fixa 1/2 e anti-espalhamento 5, máscara 10 mm, movimento da amostra spinning, com 1 rps Método Gravimétrico, segundo Standard method for the Sólidos Voláteis (SV) examination of water and wastewater (APHA; AWWA; WEF, 2005). Titulação Potenciométrica, segundo Davranche et al. Ponto de Carga Zero (PCZ) (2003) Método do acetato de amônio, segundo Miranda et Capacidade de Troca Catiônica (CTC) al.(2013) 2.5. Ensaios de Adsorção Empregou-se como adsorbato o corante Azul de Metileno, grau analítico. Para estudar a adsorção de cátions de azul de metileno, foi utilizado o planejamento fatorial - Delineamento Composto Central Rotacional (DCCR) 2 2 (4 pontos fatoriais + 4 pontos axiais + 2 pontos centrais), totalizando 10 ensaios. O DCCR foi executado segundo Rodrigues e Iemma (2005). Nos ensaios de adsorção, as variáveis independentes do DCCR, níveis codificados (parênteses) e não codificados foram: concentração de azul de metileno, C AM (mg/l): (-1,42) 0,7; (-1) 4,0; (0) 12,0; (+1) 20,0 e (+1,42) 23,0 e potencial hidrogeniônico (ph): (-1,42) 03,0; (-1) 4,0; (0) 6,5; (+1) 9,0 e (+1,42) 10,0. A variável resposta, quantidade adsorvida (Qeq, mg/g). Em cada ensaio de adsorção foi preparada uma suspensão de: 2,00 g de argila e 100 ml de solução de azul de metileno. Os valores de ph das suspensões foram ajustados por soluções padrões de HCl (1,0 N) e NaOH (1,0 N) e medidos em ph-metro portátil (Hanna), calibrado com soluções tampões (Hanna). As suspensões foram agitadas em banho incubador (Ethik Technology) com rotação orbital a 140 rpm por 24 horas à temperatura de 30 o C. Após o equilíbrio o sólido foi separado por centrifugação (3.600 rpm por 10 min), em centrífuga (Fanem). Na solução sobrenadante foi determinada a concentração residual de azul de metileno. As concentrações do adsorbato foram determinadas por Espectrofotometria UV-Vis, em Espectrofotômetro UV-Vis (Biospectro) comprimento de onda 664nm. No procedimento de calibração do equipamento foram utilizadas soluções padrões de azul de metileno, concentrações: 1,0 10,0 (mg/l). Área temática: Engenharia Ambiental e Tecnologias Limpas 3

A quantidade adsorvida (Qeq, mg/g) de azul de metileno foi calculada pela Equação 1. C Ceq Qeq 0 V (1) M Onde, C o e C eq, concentrações iniciais e em equilíbrio da solução de azul de metileno (mg/l), respectivamente; V, volume da solução (L) e M, massa de argila (g). 3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 3.1. Caracterização Conforme classificação granulométrica, segundo as normas NBR 7181 (ABNT, 1984) e NBR 6502 (ABNT, 1995), a argila in natura é constituída de, aproximadamente, 71% de areia, assim distribuídas: 24% é representativa da areia grossa, 33% de areia média e 14% de areia fina. A percentagem correspondente à presença de silte e argila é de aproximadamente 9,5%. Conforme mostra a Figura 1, observa-se que o quartzo está em maior concentração na amostra natural. São observados também picos relativos à presença de caulinita, argilomineral predominante da amostra. Assinalam-se, também, picos referentes aos minerais: muscovita (M), esmectita (E), Rutilo (R), Goethita (G) e illita / muscovita (I/M), havendo sobreposição de seus picos. Figura 1 Difratograma da amostra de argila in natura. Os resultados da determinação de sólidos voláteis da argila in natura e da argila tratada, foram respectivamente de 70 mg/g e 59 mg/g. Considerando os valores de sólidos voláteis em termos de matéria orgânica, ocorreu redução da perda de peso de 20% da argila in natura comparado ao valor da argila tratada, atribuída ao tratamento da argila in natura por H 2 O 2 cujo objetivo é a remoção da matéria orgânica. Área temática: Engenharia Ambiental e Tecnologias Limpas 4

Conforme mostra a Figura 2, ambas as amostras analisadas, apresentaram a superfície carregada negativamente no intervalo de ph estudado. Segundo Bolland et al. (1980), em trabalhos com argila caulinítica, a carga superficial líquida negativa do material pode ser resultado da substituição de íons na estrutura que ocorrem independentes do ph. Os perfis de densidade de carga (Figura 2) foram similares para as amostras estudadas. Densidade de carga (mol/g) 2,0E-05 1,0E-05-1,0E-20-1,0E-05-2,0E-05-3,0E-05-4,0E-05-5,0E-05-6,0E-05 0,0 2,0 4,0 6,0 8,0 10,0 ph Argila "in natura" Argila tratada Figura 2 Cargas elétricas de amostras de argila in natura e argila tratada. Os valores determinados de CTC para as amostras in natura e tratada foram, respectivamente de 24 meq/100g e 18 meq/100g. Segundo Sparks (2003) a caulinita é o grupo das argilas com menor CTC, entre 3 e 15 (meq/100g), para argilominerais com alto grau de ordem estrutural. Valores ligeiramente superiores podem ser obtidos para materiais argilosos, que contenham o argilomineral caulinita com baixa ordem estrutural e impurezas de outros minerais (Pacheco, 2011). Dessa forma, o valor de 24 meq/100g obtido para a argila in natura, pode ser atribuído à presença do argilomineral caulinita com baixo grau de ordem estrutural e à presença de impurezas como matéria orgânica, entre outros, conforme mostram os resultados das análises de DRX e SV. O valor da CTC da amostra tratada de 18 meq/100g, inferior àquele determinado para a amostra in natura é devido à redução de impurezas do material argiloso, principalmente matéria orgânica oxidada pelo tratamento da argila por H 2 O 2 (Lopes e Guilherme, 2004). 3.2. Ensaios de Adsorção Conforme mostra a Tabela 2, a adsorção do azul de metileno pela argila foi favorável, no intervalo de concentrações do adsorbato estudadas empregando-se os adsorventes, as argilas ( in natura e tratada). Resultados satisfatórios de adsorção foram obtidos para as concentrações 23,0 e 20,0 (mg/l) para valores de ph ácido (ensaios: 8 e 2) e concentração de 20,0 (mg/l) para ph=9,0 (ensaio 4), entre outros. Valores comparativos de quantidade adsorvida em baixas concentrações de adsorbato (2-10 mg/l) são mostrados em estudos de Leal et al. (2011), os quais avaliaram a adsorção do azul de metileno em caulinita rosa. Área temática: Engenharia Ambiental e Tecnologias Limpas 5

Considerando a ordem de grandeza dos valores de remoção do adsorbato, os adsorventes utilizados, argila in natura e tratada, mostraram desempenho similar nos processos de adsorção estudados. Para os ensaios em ph ácido, a percentagem de remoção é maior em comparação aos ensaios em ph básico, nas mesmas concentrações de adsorbato. Este comportamento pode ser atribuído ao foto do ph da solução afetar significativamente as espécies químicas do corante. Segundo Scotti et al.(2006) o aumento da acidez da solução de azul de metileno eleva a concentração de cargas positivas (H + ) do corante. Este incremento de cargas positivas, aliado ao fato da superfície do adsorvente ser constituída de cargas negativas (Figura 2), favorece a adsorção do corante nos valores de ph ácidos. Segundo Beltrame (2000), como resultado de uma série de reações envolvendo reagentes ácidos, os efluentes das indústrias têxteis adquirem caráter ácido. A boa resposta do material argiloso empregado como adsorvente em valores de ph ácido representa um fator favorável à utilização da argila em estudo como adsorvente de azul de metileno do efluente deste tipo de indústria. Tabela 2 Quantidade adsorvida de azul de metileno (Qeq, mg/g) Variáveis Independentes Variável Resposta Qeq (10-1 mg/g) Ensaios C AM Argila Argila ph (mg/l) in natura tratada 1 4,0 4,0 0,9 0,9 2 20,0 4,0 8,0 7,7 3 4,0 9,0 0,8 0,7 4 20,0 9,0 7,7 7,1 5 12,0 3,0 5,9 5,6 6 12,0 10,0 4,2 3,8 7 0,7 6,5 0,3 0,3 8 23,0 6,5 9,1 9,3 9 12,0 6,5 4,4 3,9 10 12,0 6,5 4,5 4,3 A análise do coeficiente de determinação (R 2 ) do modelo estatístico do DCCR para a argila in natura e para a argila tratada foi igual a 0,21 e 0,20, respectivamente. Desta forma, foi verificada a representação do modelo estatístico sem a porção quadrática, ou seja, o modelo estatístico linear para ambas as amostras. O resultado foi um valor de (R 2 ) de 0,999 para a argila in natura e para a argila tratada. A partir dessa consideração de valores mais significativos no modelo estatístico linear, avaliaram-se as demais informações estatísticas. Conforme mostra a Tabela 3, apenas a variável independente C AM (mg/l) é estatisticamente significativa para a variável resposta Qeq (mg/g), pois seu valor de p (probabilidade de significância) é superior ao valor limite de confiabilidade de 5%, região de aceitação da hipótese nula. Área temática: Engenharia Ambiental e Tecnologias Limpas 6

Tabela 3 Analise de Variância (ANOVA), adsorção da argila in natura e da argila tratada Argila in natura Argila Tratada Fonte de Variação GL F p R 2 GL F p R 2 ph(l) 1 4,99 0,1550 1 5,69 0,1396 C AM (L) 1 6377,90 0,0002 1 1666,26 0,0006 0,999 (ph) L x (C AM ) L 1 0,61 0,5137 1 1,39 0,3591 0,999 Erro puro 2 2 3. CONCLUSÃO Com relação à caracterização das amostras estudadas, a análise granulométrica da argila in natura, mostrou que esse material é constituído de um elevado percentual de areia (grossa, média e fina) e o argilomineral presente, identificado pela análise de DRX é a caulinita. A partir da determinação de PCZ, das argilas ( in natura e tratada) foi verificado que a carga de superfície, no intervalo de ph estudado, é negativa. A CTC da argila in natura é ligeiramente superior ao valor da argila tratada, fato atribuído à presença da matéria orgânica na argila in natura. A remoção da matéria orgânica da argila in natura foi satisfatória, visto a diferença entre a quantidade de sólidos voláteis presentes na argila in natura e na argila tratada. Embora a quantidade de matéria orgânica removida influencie determinados parâmetros analíticos, como CTC e carga de superfície, não mostrou influência significativa na adsorção do azul de metileno, nas condições experimentais estudadas. A capacidade adsorvente da argila em estudo resultou em valores de percentual de remoção do adsorbato satisfatórios, em diferentes valores de concentração e ph. A análise estatística dos dados experimentais de adsorção mostrou que o coeficiente de determinação do modelo linear foi mais significativo estatisticamente do que o coeficiente de determinação do DCCR completo. Dessa maneira, a análise dos efeitos e a ANOVA a partir do modelo linear, mostraram que a variável independente, concentração de azul de metileno é significativa em nível de probabilidade de significância de 5% para a variável resposta. 4. REFERÊNCIAS Associação Brasileira De Normas Técnicas. 1995. NBR 6502: Rochas e solos. Rio de Janeiro. Associação Brasileira De Normas Técnicas. 1984. NBR 7181: Solo Análise granulométrica. Rio de Janeiro. APHA, AWWA & WEF: Standard method for the examination of water and wastewater. 21ª ed. America Public Health Association, Washington, D.C. 2005. BELTRAME, L. T. C. Caracterização de efluente têxtil e proposta de tratamento. 2000. Dissertação de Mestrado em Engenharia Química/UFRN, Rio Grande do Norte. 16p. BOLLAND, M. A. D.; POSNER, A. M.; QUIRK, J. P. ph-independentand ph-dependentsurface charges onkaolinite. Clays and clays minerals. v. 28, p. 412 418, 1980. Área temática: Engenharia Ambiental e Tecnologias Limpas 7

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