NOVAS CULTIVARES BRS 180: CEVADA CERVEJEIRA PARA CULTIVO IRRIGADO NO CERRADO 1



Documentos relacionados
A Cultura do Cevada (Hordeum vulgare)

ARQUITETURA E VALOR DE CULTIVO DE LINHAGENS DE FEIJÃO- CAUPI DE PORTE PROSTRADO E SEMI-PROSTRADO, NO NORTE DE MINAS GERAIS.

ENSAIO PRELIMINAR DE CEVADA, ENTRE RIOS - GUARAPUAVA/PR

RENDIMENTO EM ÓLEO DAS VARIEDADES DE GIRASSOL CULTIVADAS NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO PARA O PROJETO RIOBIODIESEL

ESTRATÉGIAS DE ADUBAÇÃO PARA RENDIMENTO DE GRÃOS DE MILHO E SOJA NO PLANALTO SUL CATARINENSE 1 INTRODUÇÃO

Híbridos de. A Dow AgroSciences oferece um portifólio de híbridos com lançamentos projetados para os desafios de cada região do Brasil,

Cultivares de Milho Disponíveis no Mercado de Sementes do Brasil para a Safra 2005/06

4. Crescimento e Desenvolvimento

TELAS DE SOMBREAMENTO NO CULTIVO DE HORTALIÇAS FOLHOSAS

PESQUISA EM ANDAMENTO

Introdução à Meteorologia Agrícola

ENSAIO DE VALOR DE CULTIVO E USO (VCU) 2 EMBRAPA DE CEVADA, ENTRE RIOS - GUARAPUAVA/PR

Soja: manejo para alta produtividade de grãos. André Luís Thomas, José Antonio Costa (organizadores). Porto Alegre: Evangraf, p. : il.

PRODUÇÃO ORGÂNICA DE UVAS TINTAS PARA VINIFICAÇÃO SOB COBERTURA PLÁSTICA, 3 CICLO PRODUTIVO

Fases de Desenvolvimento da Cultura do Milho

Universidade Federal da Paraíba - UFPB Centro de Ciências Agrárias - CCA Grupo de Pesquisa Lavoura Xerófila - GPLX

COMPETITIVIDADE ECONÔMICA ENTRE AS CULTURAS DE MILHO SAFRINHA E DE SORGO NO ESTADO DE GOIÁS

EFICIÊNCIA DA ADUBAÇÃO DA CANA-DE-AÇÚCAR RELACIONADA AOS AMBIENTES DE PRODUÇÃO E AS ÉPOCAS DE COLHEITAS

AVEIA PRETA - ALTERNATIVA DE CULTIVO NO OUTONO/INVERNO. Vera Lucia Nishijima Paes De Barros

CEVADA IRRIGADA NO CERRADO: DESEMPENHO DE GENÓTIPOS

Estimativas de custo de produção de trigo e de aveia - safra 2006

IMPORTÂNCIA DA CALAGEM PARA OS SOLOS DO CERRADO

NABO FORRAGEIRO E BIOCOMBUSTÍVEL

09 POTENCIAL PRODUTIVO DE CULTIVARES DE SOJA

AVALIAÇÃO DE CULTIVARES E LINHAGENS DE MAMONEIRA NA ZONA DA MATA DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Ensaio Intermediário de Cevada

COMPORTAMENTO PRODUTIVO DO COQUEIRO ANÃO-VERDE IRRIGADO NA REGIÃO LITORÂNEA DO CEARÁ

AVALIAÇÃO DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA BRUSONE NO CULTIVO DE TRIGO DE SEQUEIRO NO SUDOESTE GOIANO*

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

PRODUÇÃO DE MASSA SECA DE FORRAGENS DE INVERNO CULTIVADAS EM CONSÓRCIO NA REGIÃO DE GUARAPAUAVA - PR

4. ESTÁDIOS FENOLÓGICOS

XX Congreso Latinoamericano y XVI Congreso Peruano de la Ciencia del Suelo

OPORTUNIDADE DE OTIMIZAÇÃO DO SISTEMA DE CULTURAS AGRICOLAS (ARROZ, SOJA, MILHO) Santa Maria, 09 de junho de 2016

ESTUDO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DO FEIJÃO CAUPI EM FUNÇÃO DE DIFERENTES ESPAÇAMENTOS ENTRE FILEIRAS

Área: Tecnologia e Produção de Sementes Avaliação de plântulas como indicador da maturação de sementes de feijão-caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp.

Controle da Mancha-em-Rede (Drechslera teres) em Cevada, Cultivar Embrapa 129, com os Novos Fungicidas Taspa e Artea, no Ano de 1998

Capítulo 10. Aspectos Econômicos da Comercialização e Custo de Produção do Milho Verde Introdução

GIRASSOL: Sistemas de Produção no Mato Grosso

Bibliografia. EPAGRI A cultura do feijão em Santa Catarina. Florianópolis, 1992, 285p.

ESPAÇAMENTO ENTRE FILEIRAS DE FEIJÃO CAUPI: ANÁLISE DA VIABILIDADE ECONÔMICA

BRS REPONTE: CULTIVAR DE TRIGO DE ALTA PRODUTIVIDADE E AMPLA ADAPTAÇÃO

AVALIAÇÃO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE FEIJÃO- CAUPI SECO COM DIFERENTES POPULAÇÕES INICIAIS

Universidade de São Paulo Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz Departamento de Produção Vegetal

Picinini, E.C. 1; Fernandes, J.M.C. 1

GERMINAÇÃO DE SEMENTES DE FEIJÃO-CAUPI SOB INFLUÊNCIA DE DIFERENTES LÂMINAS DE ÁGUA

Aspectos comerciais e produtivos do Mogno Africano. José Leonardo A. S. Monteiro

PNAG MÓDULO TECNOLOGIAS, PRÁTICAS AGRÍCOLAS E AMBIENTE. Estudo para elaboração de questionário Rio de Janeiro, 25 de outubro de 2011

XXIX CONGRESSO NACIONAL DE MILHO E SORGO - Águas de Lindóia - 26 a 30 de Agosto de 2012

RENDIMENTO DAS VARIEDADES DE MAMONA DA EMBRAPA NORDESTINA E PARAGUAÇU CULTIVADAS NO MUNICÍPIO DE CAMPOS, ESTADO DO RIO DE JANEIRO

CUSTO DE PRODUÇÃO DE ALFACE EM SISTEMA DE CULTIVO ORGÂNICO

Graduandos Eng. Florestal UTFPR Campus Dois Vizinhos- PR

RENDIMENTO DE GRÃOS DE SOJA EM SUCESSÃO AVEIA PRETA SOB DIVERSOS MANEJOS

Resposta a Gesso pela Cultura do Algodão Cultivado em Sistema de Plantio Direto em um Latossolo de Cerrado

DESENVOLVIMENTO DE CULTIVARES DE ALGODOEIRO PARA MINAS GERAIS

ÍNDICE COMPRIMENTO/LARGURA DA FOLHA NO MELHORAMENTO DO FEIJÃO (Phaseolus vulgaris L.)

A BATATICULTURA NO NORDESTE PAULISTA: O SUCESSO DO ASSOCIATIVISMO E DO COOPERATIVISMO ENTRE PRODUTORES

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA EMBRAPA CENTRO DE PESQUISA AGROPECUÁRIA DO OESTE - CPAO RELATÓRIO PARCIAL DE AUXÍLIO Á PESQUISA

LEGISLAÇÃO SANITÁRIA FEDERAL DE LEITE E DERIVADOS

Avaliação de uniformidade de aplicação de água de um sistema de irrigação por aspersão convencional no setor de olericultura do IFMG, campus-bambuí

ANEXO VIII MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO RURAL SERVIÇO NACIONAL DE PROTEÇAO DE CULTIVARES

Termos para indexação: cevada, Hordeum vulgare L., irrigação, Cerrado

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS E AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS NO INVERNO EM JATAÍ-GO

Feijão. 9.3 Calagem e Adubação

Relações de Preço Sorgo/Milho nos Estados de São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul, Alfredo Tsunechiro e Maximiliano Miura

CARACTERÍSTICAS DAS CULTIVARES DE ARROZ IRRIGADO INDICADAS PARA SEMEIO NA SAFRA 2009/10 EM RORAIMA

Avaliações de Valor de Cultivo e Uso (VCU) de 1º e 2º Ano de cevada irrigada no Cerrado em 2007

BRS PASTOREIO: NOVA CULTIVAR DE TRIGO DUPLO PROPÓSITO DA EMBRAPA

LÂMINA ÓTIMA FÍSICA E DOSES DE CÁLCIO PARA A CULTURA DO MILHO IRRIGADO

Avaliação do desempenho de novilhos em Sistema Integração Lavoura-Pecuária

ADENSAMENTO DE SEMEADURA EM TRIGO NO SUL DO BRASIL

Agricultura: Boas práticas no plantio, colheita, transporte e armazenamento dos alimentos

22 ILPF - Integração Lavoura-Pecuária-Floresta

ORIGEM DA AGRICULTURA E DA PECUÁRIA

A Cultura do Milho Irrigado

HETEROGENEIDADE REGIONAL

Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa de Algodão Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento

DESEMPENHO FORRAGEIRO DE CULTIVARES DE AVEIA E AZEVÉM COM DUAS DOSES DE ADUBAÇÃO NITROGENADA NAS CONDIÇÕES DE CLIMA E SOLO DE GIRUÁ, RS, 2012

AVALIAÇÃO DOS COEFICIENTES TÉCNICOS DAS ATIVIDADES DE CONDUÇÃO DO FEIJÃO-CAUPI NO MUNICÍPIO DE MISSÃO VELHA-CE

DESENVOLVIMENTO E PRODUTIVIDADE DO ARROZ IRRIGADO EM FUNÇÃO DA FONTE E PARCELAMENTO DE NITROGÊNIO

Introdução. Mercado Externo

Comunicado 04 Técnico ISSN

RELATÓRIO TÉCNICO. Avaliação do comportamento de CULTIVARES DE SOJA semeadas em 3 épocas na região Parecis de Mato Grosso.

Os preços do tomate no IPT (Índice de Preços Toledo) e a sua relação com a inflação

CARACTERÍSTICAS FISIOLÓGICAS DO FEIJÃO-CAUPI SOB DIFERENTES LÂMINAS DE IRRIGAÇÃO NO CERRADO DE RORAIMA

NÚCLEO DE ENGENHARIA DE ÁGUA E SOLO

A DINÂMICA DA CULTURA DA SOJA NO ESTADO DO PARANÁ: O PAPEL DA EMBRAPA ENTRE 1989 E 2002

DESEMPENHO AGRONÔMICO DE GIRASSOL EM SAFRINHA DE 2005 NO CERRADO NO PLANALTO CENTRAL

TECNOLOGIA DE APLICAÇÃO DE FUNGICIDAS PARA O CONTROLE DA FERRUGEM-DA-SOJADA-SOJA

PRODUÇÃO E MERCADO DE GRÃOS. Alfredo Tsunechiro

NOVAS CULTIVARES TRIGO EMBRAPA 41:

DENSIDADE DE SEMEADURA E DOSES DE NITROGÊNIO EM COBERTURA NO TRIGO DE SEQUEIRO CULTIVADO EM PLANALTINA-DF

INFLUÊNCIA DA ADUBAÇÃO NA PRODUÇÃO DE FORRAGEM DE AVEIA

BRS REPONTE EXTENSÃO DE INDICAÇÃO DE TRIGO PARA A RHA1 DO RS, SC E PR

Manejo de Solos. Curso de Zootecnia Prof. Etiane Skrebsky Quadros

LSPA. Levantamento Sistemático da Produção Agrícola. Setembro de Pesquisa mensal de previsão e acompanhamento das safras agrícolas no ano civil

DESENVOLVIMENTO DE PLANTAS DE PIMENTA E PRODUÇÃO DE FRUTOS EM FUNÇÃO DA CONSORCIAÇÃO COM ADUBOS VERDES

Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural

Água da chuva. Ciclo Hidrológico. Água superficial. Água subterrânea. Previsão de tempo e clima [A ÁGUA QUE VEM DE CIMA]

MOMENTO DE APLICAÇÃO DE NITROGÊNIO EM COBERTURA EM TRIGO: QUALIDADE TECNOLÓGICA E RENDIMENTO DE GRÃOS

RESPOSTA DO FEIJÃO-CAUPI À ADUBAÇÃO FOSFATADA E POTÁSSICA EM LATOSSOLO AMARELO DISTROCOESO NO CERRADO DO LESTE MARANHENSE

Transcrição:

BRS 180: CEVADA CERVEJEIRA PARA CULTIVO IRRIGADO 1689 NOVAS CULTIVARES BRS 180: CEVADA CERVEJEIRA PARA CULTIVO IRRIGADO NO CERRADO 1 DIJALMA BARBOSA DA SILVA 2, ANTÔNIO FERNANDO GUERRA 3, EUCLYDES MINELLA 4 e GERARDO ARIAS 5 RESUMO - Culturas alternativas de inverno com viabilidade técnica e econômica para integrar os sistemas de produção irrigados constituem-se na principal demanda dos agricultores da região do Cerrado. A cultivar de cevada BRS 180 obtida pela Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Trigo e Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados, lançada para o cultivo irrigado em 1999, representa a primeira cultivar adaptada para a região, potencializando essa cultura como uma nova opção para o produtor. BRS 180 apresenta elevados índices de produtividade, resistência ao acamamento e baixos teores de proteínas, o que vem atender às demandas agronômicas dos agricultores e aos padrões de qualidade da indústria de malte cervejeiro. Em parcelas experimentais, BRS 180 apresentou rendimentos de grãos de até 8.920 kg/ha, atingindo até 6.000 kg/ha em lavouras comerciais. BRS 180: MALTING BARLEY FOR IRRIGATED PLANTATION IN THE BRAZILIAN SAVANNAH ABSTRACT - Alternative economic and technically viable crop species are very needed for the production systems under irrigation in the Cerrado of central Brazil. Barley BRS 180 released by Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Trigo and Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados in 1999, the first adapted cultivar developed for the region, potentializes malting barley as new crop alternative for the growers in the Cerrados. BRS 180 has shown high yield potential, lodging resistance and low protein levels, fulfilling the demands of both growers and malting barley industries. The observed yield potential of BRS 180 was up to 8,920 kg/ha in experimental plots and 6,000 kg/ha in commercial farm fields. A região do Cerrado, localizada no planalto central do Brasil, apresenta enorme potencial para a produção de alimentos, sendo considerada uma das 1 Aceito para a publicação em 20 de julho de 2000. 2 Eng. Agrôn., M.Sc., Embrapa-Centro Nacional de Recursos Genéticos e Biotecnologia (Cenargen), Caixa Postal 0232, CEP 70770-900 Brasília DF. E-mail: dijalma @cenargen.embrapa.br 3 Eng. Agríc., Ph.D., Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC), Caixa Postal 08223, CEP 73301-970 Planaltina, DF. E-mail: guerra@cpac.embrapa.br 4 Eng. Agrôn., Ph.D., Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (CNPT), Caixa Postal 451, CEP 99001-970 Passo Fundo, RS. E-mail: eminella@cnpt.embrapa.br 5 Eng. Agrôn., Dr., Embrapa-CNPT. E-mail: arias@cnpt.embrapa.br

1690 D.B. DA SILVA et al. últimas fronteiras agrícolas do mundo. Essa região, que até os anos 60 se restringia apenas a cultivos de subsistência e à pecuária extensiva, contribui atualmente com 28% da produção nacional de grãos e abriga 40% do rebanho bovino do país (Macedo, 1996). O sistema de produção irrigado da região ocupa atualmente uma área de aproximadamente 300 mil hectares onde predomina o monocultivo de feijão, proporcionando com isso o agravamento de doenças dessa cultura como o mofo-branco, a fusariose e a rhizoctoniose. Essas doenças, além de reduzir a produtividade da lavoura e aumentar os custos de produção, pela necessidade de aplicação de defensivos, têm comprometido a sustentabilidade desse sistema (Silva & Guerra, 1999). Com isso, culturas alternativas com viabilidade técnica e rentabilidade econômica para a rotação com o feijão nas áreas irrigadas constituem a principal demanda dos agricultores. O objetivo deste trabalho foi apresentar a cultivar de cevada BRS 180, espécie não hospedeira das doenças predominantes nas áreas irrigadas do Cerrado, como alternativa para a rotação de culturas e expansão da produção de cevada no Brasil, atualmente concentrada na Região Sul, onde a instabilidade climática e incidência de doenças são mais freqüentes. Identificada experimentalmente como linhagem PFC 8413, a BRS 180 foi obtida pela Embrapa-Centro Nacional de Pesquisa de Trigo (CNPT) em 1984, a partir de seleção na população ID 910719 (pedigree 73Ab 2199/Karla) introduzida dos Estados Unidos. Em 1985, esse material foi introduzido em Planaltina, DF, pela Embrapa-Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados (CPAC), dentro do programa de introdução e avaliação de linhagens/cultivares de cevada cervejeira para a região do Cerrado, passando a ser avaliado em ensaios de rendimento de grãos. Em virtude do excelente desempenho agronômico e adaptação às condições edafoclimáticas locais, a PFC 8413 foi extensivamente avaliada no tocante a rendimento de grãos e qualidade cervejeira em parcelas e lavouras experimentais da região. Diante dos resultados satisfatórios, a PFC 8413 foi pré-lançada como cultivar para o Cerrado em 1998, na XVIII Reunião Anual de Pesquisa de Cevada. Em 1999, a PFC 8413 foi incluída na Listagem Nacional de Cultivares Protegidas e Registradas no Ministério da Agricultura (Brasil, 1999), e lançada oficialmente como cultivar, recebendo a denominação BRS 180. A descrição da cultivar quanto às características botânicas e reação às doenças foi realizada pela Embrapa-CNPT e a avaliação da qualidade industrial pela Companhia Antarctica Paulista. As demais avaliações foram feitas pela Embrapa-CPAC. CARACTERÍSTICAS DA CULTIVAR Características botânicas A BRS 180 possui hábito de crescimento juvenil semi-ereto. A folha bandeira com disposição ereta é predominante curta, ocorrendo folhas de comprimento médio. O comprimento médio da bainha da folha bandeira é de 21,4 cm. As aurículas são predominantemente incolores, com ocorrência de aurículas

BRS 180: CEVADA CERVEJEIRA PARA CULTIVO IRRIGADO 1691 pouco pigmentadas nas extremidades. O comprimento médio do pedúnculo é de 25,3 cm e a forma do nó superior é predominantemente quadrada (91,3%). O colmo apresenta diâmetro fino no primeiro nó, com paredes delgadas abaixo deste e diâmetro semigrosso no terceiro nó, com paredes semidelgadas abaixo deste. A espiga é curta e com seis fileiras de grãos, apresentando forma paralela, densidade semilaxa e posição ereta na maturação. As aristas são longas, claras e semiásperas. O ráquis apresenta forma reta com presença de pêlos nas margens laterais. Os grãos são claros, alongados, de comprimento médio, com casca enrugada e aderente. As glumas são pilosas e claras, com presença de antocianina nas nervuras da lema. A ponta da pálea é longa e predominantemente elevada, com a ocorrência de concavidades. A lema, freqüentemente, apresenta dentes nas nervuras laterais internas e externas e formato côncavo em sua base. A ráquila é curta com presença de pêlos longos uniformemente distribuídos. Características agronômicas A planta apresenta estatura média de 90 cm, ciclo de 58 dias da emergência ao espigamento e de 100 dias da emergência à maturação. Possui uma média de 56 grãos por espiga e alta resistência ao acamamento. Nos experimentos conduzidos em Planaltina no período 1994-1998 (Tabela 1), a BRS 180 apresentou rendimento médio de grãos de 6.280 kg/ha. Em lavouras experimentais conduzidas no Distrito Federal e em Goiás, apresentou produtividades de até 6.000 kg/ha. A classificação comercial média de grãos no período foi 82-15-3 ou seja, 82% de Classe 1, 15% de Classe 2 e 3% de Classe 3 ou refugo. Características fitossanitárias Quando avaliada em relação às principais doenças da cevada que ocorrem no Brasil, a BRS 180 mostrou-se moderadamente suscetível ao oídio (Blumeria graminis hordei) e suscetível à ferrugem-da-folha (Puccinia hordei) e à mancha-reticular (Drechslera teres). Entretanto, como as condições climáticas da região do Cerrado na época de cultivo da cevada (maio a setembro) não são TABELA 1. Rendimento e características do grão da cultivar de cevada BRS 180, em experimentos conduzidos na Embrapa-CPAC no período de 1994 a 1998. Parâmetro 1994 1995 1996 1997 1998 Média Rendimento (kg/ha) 6.018 6.829 6.216 5.674 6.662 6.280 Classificação comercial (%) Classe 1 83 80 79 84 82 82 Classe 2 15 18 17 12 13 15 Classe 3 2 2 4 4 5 3 Teor de proteínas (%) 9,9 10,6 8,4 8,5 10,0 9,5 P. M. S. (g) 41,0 43,0 39,4 42,8 42,0 41,6 Fonte: Silva & Guerra (1998, 1999).

1692 D.B. DA SILVA et al. favoráveis à ocorrência de doenças, esses não são fatores que limitam sua produção. Qualidade da cevada e do malte Em todo o período de avaliação, a BRS 180 apresentou teores de proteínas inferiores ao limite de 12% exigido para fabricação de malte cervejeiro, sendo 9,5% a média dos últimos cinco anos (Tabela 1). Esses baixos teores têm-se mantido estáveis mesmo em condições de uso de até 120 kg/ha de N ou de estresse hídrico de até 500 kpa (Guerra & Silva, 1998). Tal fato sugere que os teores de proteínas desse material são fortemente ligados a mecanismos genéticos. Mesmo se tratando de uma cevada de seis fileiras, nas quais, teoricamente, o tamanho dos grãos pode ser menor que os das cevadas de duas fileiras, a cultivar apresenta boa classificação comercial, com uma média de 82% de grãos Classe 1 (>2,5 mm) e peso de mil sementes de 41,6 g (Tabela 1). A energia germinativa superior a 95% logo após a colheita evidencia a ausência de dormência das sementes e indica que a cevada BRS 180 produzida na região do Cerrado pode ser malteada nesse período (Antoniazzi et al., 1998). A qualidade industrial do malte da BRS 180 foi avaliada por Lira Junior (1998). Este autor destacou que, em virtude do elevado poder e energia germinativa (aproximadamente 100%), a cevada mostrou extrema facilidade para ser malteada. Na Tabela 2 são mostrados os resultados da análise de micromalteação da cevada PFC 8413 (BRS 180) produzida em lavoura experimental no município de Luziânia, GO, realizada pela Maltaria Jaguaré e outras três instituições internacionais. TABELA 2. Resultados analíticos de micromaltaria realizada em três instituições internacionais e na Maltaria Jaguaré com a cevada PFC 8413 (BRS 180), da lavoura de Luziânia, GO, em 1997. Parâmetro VLB Berlin Central de Cervejas de Anton Mohr Malz- Maltaria Jaguaré Portugal Fabrik Umidade (%) 4,0 3,8 3,1 3,8 Rendimento de extrato farinha fina (%) 80,3 78,6 79,6 79,8 Diferença de extrato (%) 1,3 2,9 1,6 1,7 Proteínas (%) 11,2 11,8 11,7 11,8 Nitrogênio solúvel (mg/l) 798 780 885 867 Índice de Kohlbach (%) 44,4 41,0 47,4 45,9 Viscosidade (mpa.s) 1,49 1,56 1,49 1,41 Poder diastásico (WK) 315 280 315 309 Cor do mosto EBC 3,25 3,8 4,4 2,75 Cor após fervura 6,6-7,2 4,75 PH 5,94 6,03 82,6 72,5 Friabilímetro (%) 78,0 63,0 82,6 72,5 Grãos vidrosos (%) 1,7-1,0 0,2 Hartong 45º 40,7-41,5 41,1 Fonte: Lira Junior (1998).

BRS 180: CEVADA CERVEJEIRA PARA CULTIVO IRRIGADO 1693 Cultivo A cultivar BRS 180 é recomendada para o cultivo irrigado para fins cervejeiros na região do Cerrado nos estados de Minas Gerais e Goiás e no Distrito Federal, em solos corrigidos, sem a presença de alumínio tóxico, preferencialmente em áreas com altitudes superiores a 800 metros. O plantio deve ser realizado no mês de maio, com espaçamento de 17 a 20 cm entre linhas, na profundidade de 3 a 5 cm e numa densidade de semeadura de 300 sementes viáveis por metro quadrado. A adubação nitrogenada deve ser parcelada, aplicando-se de 16 a 20 kg/ha de N na semeadura, completando-se até 60 kg/ha no início do estádio de perfilhamento, aproximadamente 15 dias após a emergência completa das plantas. Após a semeadura, deve-se fazer de três a quatro irrigações, aplicando-se lâminas de 10 a 15 mm, de dois em dois dias, para propiciar a emergência e o estabelecimento da cultura. A seguir, usar a tensão de 60 kpa medida a 30 cm de profundidade ou os coeficientes de cultura específicos para o manejo da água. As irrigações devem ser interrompidas quando as plantas atingirem a maturação fisiológica, que ocorre entre 95 e 100 dias após a emergência, o que corresponde a aproximadamente 1.600 graus dia (Guerra & Silva, 1999). Guerra & Silva (1998) observaram que a eficiência no uso da água aplicada à BRS 180 atingiu níveis superiores a 15 kg de grãos por mm de água aplicada. AGRADECIMENTOS Ao Dr. Antônio Nilson da Rocha, ex-técnico da Cervejaria Kaizer, e aos Drs. Noemir Antoniazzi, Pedro P. Lira Junior e Valmir Ferrari, da Cia Antarctica Paulista IBBC, pelo incentivo e importantes contribuições para a realização deste trabalho; ao Sr. Amilton da Silva Pires, pela condução dos trabalhos de campo. REFERÊNCIAS ANTONIAZZI, N.; MITSUISHI, P.K.; LIRA JUNIOR, P.J.P. de. Influência da dormência na qualidade da cevada e do malte da linhagem PFC 8413. In: REU- NIÃO ANUAL DE PESQUISA DE CEVADA, 18., 1998, Passo Fundo. Anais. Passo Fundo : Embrapa-CNPT, 1998. p.283-289. BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Secretaria de Desenvolvimento Rural. Serviço Nacional de Proteção de Cultivares. Listagem nacional de cultivares protegidas e registradas. Brasília, 1999. 48p. GUERRA, A.F.; SILVA, D.B. da. Manejo de irrigação e fertilização nitrogenada para a cevada de seis fileiras na região de Cerrado. In: REUNIÃO ANUAL DE PES- QUISA DE CEVADA, 18., 1998, Passo Fundo. Anais. Passo Fundo : Embrapa- CNPT, 1998. p.365-371.

1694 D.B. DA SILVA et al. GUERRA, A.F.; SILVA, D.B. da. Evapotranspiração e coeficientes de cultura para a cevada de seis fileiras no Cerrado. In: REUNIÃO ANUAL DE PESQUISA DE CEVADA, 19., 1999, Passo Fundo. Anais. Passo Fundo : Embrapa-CNPT, 1999. p.67-73. (Embrapa-CNPT. Documentos, 5). LIRA JUNIOR, P.J.P. de. Resultados da qualidade industrial do malte obtido da linhagem de cevada PFC 8413 produzida nos cerrados. In: REUNIÃO ANUAL DE PESQUISA DE CEVADA, 18., 1998, Passo Fundo. Anais. Passo Fundo : Embrapa-CNPT, 1998. p.272-282. MACEDO, J. Produção de Alimentos: potencial dos Cerrados. Planaltina : Embrapa- CPAC, 1996. 33p. (Embrapa- CPAC. Documentos, 59). SILVA, D.B. da; GUERRA, A.F. Introdução e avaliação de linhagens e cultivares de cevada cervejeira irrigada no Cerrado. In: REUNIÃO ANUAL DE PESQUISA DE CEVADA, 18., 1998, Passo Fundo. Anais. Passo Fundo : Embrapa-CNPT, 1998. p.242-245. SILVA, D.B. da; GUERRA, A.F. Introdução e avaliação de linhagens e cultivares de cevada cervejeira irrigada no Distrito Federal. In: REUNIÃO ANUAL DE PES- QUISA DE CEVADA, 19., 1999, Passo Fundo. Anais. Passo Fundo : Embrapa- CNPT, 1999. p.114-122. (Embrapa-CNPT. Documentos, 5).