DELIBERAÇÃO. 2 Da análise da situação inscritiva resulta, com pertinência para apreciação do mérito, o seguinte quadro factual:



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Transcrição:

P.º n.º R.P. 20/2012 SJC-CT Registo de bens adquiridos em processo de insolvência. Cancelamento oficioso dos registos dos direitos de garantia e demais direitos reais que caducam nos termos do n.º 2 do artigo 824.º do Código Civil. Insubsistência do registo provisório da ação. DELIBERAÇÃO 1 O recurso hierárquico em presença vem interposto contra a omissão de cancelamento oficioso do registo de ação inscrita sob o prédio descrito na Conservatória do Registo Predial de... sob o n.º, fração, da freguesia de, em que se pede que os réus (, S.A. e SGPS, S.A.) sejam condenados na execução específica da promessa de constituição de um penhor sobre créditos hipotecários a favor da autora, 2 Da análise da situação inscritiva resulta, com pertinência para apreciação do mérito, o seguinte quadro factual: Aquisição a favor de Manuel, casado na comunhão geral com Julieta ap. /19930629; Hipoteca voluntária a favor da sociedade comercial, S.A. ap. /19930629; Hipoteca voluntária a favor da sociedade comercial, S.A. ap. /20000802; Arresto, mais tarde convertido em penhora (ap./20050421), no qual figura como sujeito ativo a sociedade comercial, Lda. ap./20040607; Penhora a favor do Banco ap. /20050316; Penhora a favor da F, Lda. ap. /20060803; Arresto do crédito a favor da requerente G (inscrição hipotecária efetuada a coberto da ap./20000802); Apreensão de bens em processo de insolvência ap. /20061214; Ação [provisória por natureza nos termos do disposto na alínea a) do n.º 1 do artigo 2.º do CRP] em que se pede que os réus (supra identificados) sejam condenados na execução especifica da promessa de constituição de um penhor sobre os seus créditos hipotecários ap. /20091105; 1

Aquisição a favor de Joaquim, por compra em processo de insolvência ap./20111228; Cancelamento oficioso dos referidos registos de hipoteca, de arresto, de penhoras e de apreensão de bens em processo de insolvência efetuado na sequência da venda do referido prédio em processo de insolvência, por caducidade, nos termos do n.º 2 do artigo 824.º do Código Civil, e em conformidade com o prescrito no n.º 5 do artigo 101.º do CRP. Passagem para «histórico» de todos os registos supra referidos, com exceção dos registos da aquisição e da ação posta em crise nos autos. 3 A inscrição de ação supra mencionada não foi cancelada em virtude de a senhora conservadora considerar, como se apura do «despacho de sustentação», que o cancelamento desta inscrição só pode ser feito com base em certidão de sentença, transitada em julgado, que traduza uma das situações plasmadas no n.º 5 do artigo 59.º do CRP. Acrescenta, ainda, que as ações não consubstanciam um direito real de garantia nem qualquer outro direito real, não estando, portanto, abrangidas pelas previsões do artigo 824.º, n.º 2, do Código Civil, e do artigo 900.º, n.º 2, do CPC. 4 Em face da subsistência da inscrição de ação, os interessados interpõem recurso hierárquico da decisão (implícita) que levou à manutenção daquela inscrição em vigor, produzindo a sua alegação recursiva no sentido de que o registo de aquisição a seu favor, efetuado com base no título de transmissão, emitido no âmbito do processo de insolvência, demanda o cancelamento oficioso de todos os ónus e encargos que impendam sobre o prédio em causa, inclusive o da ação, já que o bem é transmitido livre dos direitos de garantia que o onerarem e dos demais direitos reais que não tenha registo anterior ao da hipoteca, arresto ou penhora, nos termos previstos no n.º 2 do artigo 824.º do Código Civil. Afirmam, com base no entendimento vertido pelo Conselho Técnico na Deliberação tomada no proc.º n.º R.P.42/2008 SJC-CT, que o bem é adquirido do insolvente sendo irrelevante para o adquirente o conteúdo da sentença que venha a ser proferida no processo da ação pendente. Consequentemente, o registo em causa deve ser oficiosamente cancelado com base na apresentação que permitiu o registo de aquisição a favor dos ora recorrentes. 2

5 Descrita sumariamente a factualidade dos autos e a controvérsia que opõe recorrentes e recorrida, cumpre apurar se o processo é o próprio, sendo que as partes têm legitimidade e o recurso foi interposto tempestivamente. II Questão prévia 1 Decorre do disposto no n.º 1 do artigo 97.º do CRP que o registo de aquisição acompanhado da constituição de outro facto sujeito a registo ou da extinção de facto registado 1 determina a realização do registo desses factos 2. De igual modo, também o registo de aquisição do prédio adquirido em processo de execução ou de insolvência determina o cancelamento oficioso dos registos que caducam ao abrigo do disposto no n.º 2 do artigo 824.º do Código Civil, a efetuar nos termos previstos no n.º 5 do artigo 101.º do CRP. Sempre que a decisão dos serviços de registo seja no sentido de omitir o cancelamento de um registo que dele deveria ser objeto, pode tal omissão ser superada mediante a instauração do competente processo de retificação previsto nos artigos 120.º e segs. do CRP, aí se suscitando os termos da inexatidão da elaboração do registo que não envolveu, como devia, a elaboração dos registos pretensamente em falta. Sendo a decisão proferida nesta sede como desfavorável ao interessado assiste-lhe, então, a possibilidade de a impugnar judicialmente nos termos e por força do preceituado nos artigos 131.º e 140.º, n.º 2, do CRP. 2 Por conseguinte, o presente recurso hierárquico foi interposto prematuramente e para órgão incompetente, pelo que o mesmo deve ser indeferido ao abrigo do disposto na alínea a) do artigo 173.º do CPA. Sem prejuízo do exposto, a posição deste Conselho quanto à questão de fundo (e sem que tal vincule a senhora conservadora a decisão conforme), vai expressa na seguinte 1 Após a Reforma do Registo Predial levada a efeito com a publicação do Decreto-Lei n.º 116/2008, de 4 de Julho, a norma do n.º 1 do artigo 97.º do CRP passou a incluir também na sua previsão a extinção de factos registados. A preocupação com a coincidência entre a realidade física, a substantiva e a registral encontra-se patente nos diversos normativos do referido diploma, sendo claramente proclamada no seu exórdio. 2 Veja-se, adrede, o parecer proferido no proc.º n.º R.P. 243/2010 SJC-CT, disponível em www.irn.mj.pt 3

Deliberação 1 A inscrição de aquisição, em processo de execução ou de insolvência 3, de bens penhorados ou apreendidos, determina que se proceda oficiosamente ao averbamento de cancelamento dos direitos de garantia que os onerem, bem como dos demais direitos reais que caduquem, ao abrigo das disposições combinadas do artigo 900.º, n.º 2, do Código de Processo Civil e do artigo 101.º, n.º 5, do Código do Registo Predial 4. 2 Decorrentemente, ao abrigo da apresentação atribuída ao registo de aquisição a favor dos adquirentes do prédio no processo de insolvência, deve ser efetuado oficiosamente o cancelamento das inscrições hipotecárias, do arresto e das penhoras, sendo que o registo provisório da ação, que visa, precisamente, a constituição do penhor sobre créditos garantidos por hipotecas ora canceladas, capitulará ipso facto 5. 3 O processo de insolvência é um processo de execução universal que tem como finalidade a liquidação do património de um devedor insolvente e a repartição do produto obtido pelo credores, ou a sua satisfação mediante a forma prevista num determinado plano de insolvência, como flui do disposto no artigo 1.º do Código da Insolvência e da Recuperação de Empresas (CIRE). Para o efeito, o administrador da insolvência desencadeia determinadas diligências, entre as quais figura a elaboração de um inventário dos bens e dos direitos que os onerem, bem como uma lista de credores, que integram o relatório, com vista à sua apreciação pela assembleia geral de credores, nos termos previstos nos artigos 153.º e segs. do CIRE. À alienação dos bens do insolvente presidem as regras do processo executivo, sem prejuízo de se dever observar também, no que concerne às modalidades da alienação, o disposto no artigo 164.º do CIRE, sendo os bens vendidos livres dos direitos de garantia que os onerem e dos demais direitos reais, nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 824.º do Código Civil. 4 Como decorre do prescrito no n.º 2 do artigo 824.º do Código Civil, os bens são transmitidos livres dos direitos de garantia que os onerem, bem como dos demais direitos reais que não tenham registo anterior ao de qualquer arresto, penhora ou garantia, com exceção dos que, constituídos em data anterior, produzem efeitos em relação a terceiros independentemente de registo. 5 Considerando que o penhor ingressa no registo mediante averbamento às respetivas inscrições de hipoteca voluntária, ao abrigo do prescrito na alínea a) do n.º 1 do artigo 101.º do CRP, parece-nos que idêntica técnica registral deveria ter sido seguida no registo desta ação, que visa, exatamente, a constituição de penhor sobre os créditos garantidos por hipoteca. Se tal tivesse acontecido, ficava automaticamente abrangida pelo cancelamento das inscrições hipotecárias a que se encontrava averbada, não se chegando sequer a suscitar, summo rigore, a questão do seu cancelamento (expresso). 4

3 Na verdade, com a aludida ação visa-se a constituição de um penhor sobre créditos garantidos por hipotecas cujo registo já se encontra cancelado, sabendo-se que o penhor, mesmo já constituído, que é considerado uma garantia acessória, fica dependente e acompanha inexoravelmente as vicissitudes (constituição, manutenção e extinção) que afetem o crédito garantido 6. Deliberação aprovada em sessão do Conselho Técnico de 27 de setembro de 2012. Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, relatora. Esta deliberação foi homologada pelo Exmo. Senhor Presidente em 04.10.2012. 6 Não nos parece que faça sentido defender-se a manutenção da inscrição desta ação, considerando os seus contornos específicos, sabendo-se que as hipotecas já caducaram e que foi efetuado o cancelamento das inscrições correspondentes. Desta forma, isto é, desaparecendo das tábuas as garantias, vale por dizer, as hipotecas cujos créditos serviriam, por seu turno, de suporte à garantia que, segundo o petitório da ação, se visava constituir, a manutenção desta não terá sustentabilidade, por lhe faltar o pressuposto. Veja-se, sobre a constituição do penhor, manutenção e extinção, MENEZES LEITÃO, in Garantias das Obrigações, 2.ª edição, 2008, págs. 190 e segs. 5

FICHA Proc.º n.º R.P. 20/2012 SJC-CT Súmula das questões abordadas Registo de bem adquirido em processo de insolvência. Cancelamento oficioso dos direitos de garantia e demais direitos reais artigos 824.º, n.º 2, do Código Civil, 900.º, n.º 2,do CPC e 101.º, n.º 5, do CRP. Reflexos no registo de ação que vise a constituição de penhor sobre créditos hipotecários que caducaram e que foram cancelados. ***** 6