Harmonização de suplementos remuneratórios nos estabelecimentos e serviços do SNS Documento de trabalho - versão de 2012.09.30 Membros do Grupo Carlos Nunes; Cristina Correia; Cristina Ribeiro; Cristina Santos; Luís Marquês; Maciel Barbosa; Maria da Luz Pereira; Pedro Pardal; Teresa Seixas; Vítor Ramos (coordenador) Setembro de 2012
O Estado e, nomeadamente, o Ministério da Saúde, tem, ao longo do tempo, decido atribuir aos seus profissionais suplementos remuneratórios, com um duplo intuito: recompensar o acréscimo de responsabilidades sociais, profissionais e cívicas, que certas funções acarretam, e, simultaneamente, reconhecer o mérito a quem é selecionado/nomeado para tais funções. No anexo 1, que faz parte integrante deste documento, podemos conhecer e analisar a evolução dos suplementos remuneratórios que foram sendo definidos dentro do Ministério da Saúde, para que funções, que valores foram atribuídos, que critérios utilizados para o seu cálculo e os diplomas legais que os instituíram. Esta evolução dos suplementos remuneratórios do Ministério da Saúde permite inferir algumas conclusões, nomeadamente: a) Estes suplementos remuneratórios por função não têm sido harmónicos entre si, nomeadamente nos critérios utilizados ora a percentagem de acréscimo remuneratório se aplica ao vencimento que o profissional aufere de facto, ora se associa ao valor do vencimento do 1º escalão para categoria do visado, independentemente do escalão em que este se encontrar. Numas funções o suplemento atualiza com a progressão na carreira, noutras é fixo. b) Estes suplementos remuneratórios não são iguais para a mesma função, já que como são percentagens de acréscimos sobre os vencimentos dos diferentes profissionais e estes variam de profissional para profissional, dependendo da categoria que cada um possui na sua carreira, os suplementos remuneratórios adquirem valores díspares por exemplo, na mesma função de direção de um serviço, se esta for desempenhada por um assistente graduado sénior ou por um assistente a diferença entre o valor do suplemento mensal pode chegar a ser de 177; c) Estes suplementos remuneratórios não têm sido equitativos, dado que funções idênticas de direção ou coordenação nos Cuidados de Saúde Primários (CSP) e nos Cuidados de Saúde Hospitalares (CSH) não têm sido recompensadas de modo idêntico; d) Estes suplementos remuneratórios não são proporcionais, podendo uma função com menor responsabilidade e tipo de dificuldade ser recompensada com um suplemento manifestamente superior, só porque foram concebidos em épocas diferentes, com realidades 2
diferentes da saúde financeira do País, ou porque não houve por parte do Ministério da Saúde a preocupação de os harmonizar com os já existentes; e) Nos CSH existem há muito mais tempo e para um maior número de funções do que nos CSP, prova inequívoca de como politica e socialmente os CSP não são vistos com o mérito e responsabilidade que devem ter, já que detêm a maior magnitude e efetividade nas respostas que, de facto, dão às necessidades em saúde da população, aos saudáveis e aos doentes; f) Dentro dos próprios CSP, há desigualdades na sua aplicação, decorrentes de interpretações jurídicas diferentes de ARS para ARS, ou na mesma ARS de momento para momento, o que é de lamentar que ocorra no mesmo Ministério, como se afigura de irregular num Estado de direito vide suplementos da carreira de saúde pública; g) Como entre as ARS se têm verificado decisões diferentes relativas aos pagamentos, ou não, para as mesmas atividades e aos critérios utilizados no seu cálculo, como por exemplo o que se verificou, em determinada altura, relativamente ao pagamento de horas pelo apoio à formação pós graduada em medicina geral e familiar; h) O facto de terem sido previstos em Decretos-lei a publicação posterior de Despachos Conjuntos em que se definiriam suplementos remuneratórios para determinada funções, que até à data não viram a luz do dia, tal facto acarreta ao Ministério da Saúde uma atitude menos digna, por não ter cumprido o que lhe competia e por ter gerado nos profissionais uma expectativa que tem sido gorada ponto 4 e ponto 5, do art.º 29.º do DL n.º 28/2008; i) Por outro lado, persistem dúvidas de interpretação se é legal e justo que um mesmo profissional possa auferir cumulativamente dois suplementos remuneratórios quando exerce duas funções que, para as quais e por acaso, foram estabelecidos suplementos de função; j) E, ainda, a existência destes suplementos remuneratórios geram imensas dificuldades em conseguir que bons profissionais exerçam funções de gestão de nível superior (por exemplo, num Conselho de Administração de um hospital), já que para o cálculo dos vencimentos destas não entram em conta com os valores dos referidos suplementos e não é justo que se peça a alguém que assuma maiores responsabilidades e se lhe diminua o valor de dinheiro disponível no final do mês. 3
Pelo exposto, propomos que o Ministério da Saúde promova uma revisão e um esforço de harmonização entre todos os suplementos remuneratórios existentes, de modo a que se apliquem de igual forma a todos os profissionais que exerçam funções iguais ou idênticas, sejam elas nos CSP sejam nos CSH, independentemente da região em que ocorra e da data em que se tenha publicada a norma que os institui. Assim, e com o intuito de contribuir para este esforço, e no que diz respeito aos CSP, o GTDCSP apresenta uma proposta de suplementos remuneratórios para as funções que se desenvolvem e exercem nos ACES anexo 2, de valores fixos, mensais. Utilizou-se como referência máxima o valor nacional das ajudas de representação que aufere um Diretor Executivo de um ACES (equiparado a Subdiretor Geral) e o valor que a ARS LVT está a atribuir aos Coordenadores das Unidades de Saúde Pública, tentando garantir um gradiente entres as diferentes funções, proporcional às responsabilidades que detêm dentro do ACES, não deixando de as comparar com as dos demais serviços do Ministério da Saúde. Este reduzido esforço financeiro será vantajosamente compensado pelos ganhos que induz, ao promover uma maior responsabilidade e comprometimento dos dirigentes dos CSP com os seus serviços e o desempenho dos seus profissionais. 4
Anexo 1 Levantamento de todos os acréscimos salariais praticados no Ministério da Saúde para médicos, pelo exercício de funções, e das despesas de representação do pessoal dirigente da função pública. 1 O DL 310/82 previu acréscimos sobre os vencimentos para o exercício das seguintes funções de direção e chefia hospitalares: Diretor do Hospital, Diretor Clínico, Diretor de Departamento hospitalar, Diretor de Serviço hospitalar, membro da Direção Médica e Chefe de Equipa da Urgência hospitalar. Posteriormente, o DL 73/90 incorpora os conceitos de índices salariais da função pública e continuou a só prever acréscimos para algumas das funções de direção e chefia hospitalares (art.º 44º para o diretor de serviço e de departamento e no art.º 61º para o adjunto do diretor clínico): A - Diretor de Serviço hospitalar - 10 % sobre a remuneração estabelecida para a respetiva categoria, em dedicação exclusiva e horário de 35 horas semanais : Segundo a atual tabela de vencimentos (sem o corte no salário base de 10% pelo OGE de 2012), por categoria e respetivos escalões, dá um acréscimo mensal: - Assistente 257 a 311 - Assistente Graduado 311 a 397 - Assistente Graduado Sénior 375 a 429 B - Diretor de Departamento hospitalar 15 % sobre a remuneração estabelecida para a respetiva categoria, em dedicação exclusiva e horário de 35 horas semanais : - Assistente 386 a 466 - Assistente Graduado 466 a 595 - Assistente Graduado Sénior 563 a 643 C - Adjunto do Diretor Clínico 10% sobre a remuneração estabelecida para a respetiva categoria, em dedicação exclusiva e horário de 35 horas semanais : - Assistente 257 a 311 - Assistente Graduado 311 a 397 - Assistente Graduado Sénior 375 429 5
2 Com a criação dos cargos de Coordenador Regionais dos Internatos Complementares de Clínica Geral e de Saúde Pública, em 1984, foi-lhes atribuído um acréscimo salarial mensal de - 10% sobre a sua remuneração (não encontrei o despacho autorizador, mas creio que foi uma proposta para o MS do Diretor do DRH da altura): - Assistente Graduado Sénior 375 a 429 (sem o corte de 10% no salário base, pelo OGE de 2012) 3 Com o DL 286/99 foram atribuídos os seguintes acréscimos salariais aos Coordenadores dos Centros Regionais de Saúde Pública/Delegados Regionais de Saúde, aos seus Adjuntos e aos Coordenadores das Unidades de Saúde Pública previstas para os Sistemas Locais de Saúde (art.º 24º). Este diploma já foi revogado, mantendo-se em vigor o art.º 24 por força do DL 81/2009, o que na prática define o valor para a função de Coordenador de uma USP, por analogia às USP dos SLS (interpretação da ARSLVT): A - Coordenador do CRSP 15 % da remuneração estabelecida para o 1º escalão da respetiva categoria, em dedicação exclusiva e horário de 35 horas e em regime de disponibilidade permanente (o cálculo diminuiu para o 1º escalão da respetiva categoria, comparativamente com os acréscimos para as funções hospitalares): - Assistente Graduado - 616 - Assistente Graduado Sénior 743 B- Adjunto do coordenador do CRSP 10 % da remuneração estabelecida para o 1º escalão da respetiva categoria, em dedicação exclusiva e horário de 35 horas e em regime de disponibilidade permanente; - Assistente 339 - Assistente Graduado 410 - Assistente Graduado Sénior 495 4 O DL 156/99 dos SLS (como foi revogado nunca se chegou a aplicar) previu o seguinte acréscimo salarial mensal: - Coordenador da Unidade de Saúde Pública - 10 % da remuneração estabelecida para o 1º escalão da respetiva categoria, em dedicação exclusiva e horário de 35 horas e em disponibilidade permanente, por coordenar as demais autoridades de saúde/serviços SP da área de influência do SLS: 6
- Assistente 339 - Assistente Graduado 410 - Assistente Graduado Sénior 495 5 O DL 60/2003 previu os seguintes subsídios de função mensais para os Centros de Saúde: A- Diretor do Centro de Saúde (CS categoria C a A) 473 a 574 B- Coordenador de Unidade (CS categoria C a A) 354 a 430 6 O DL 297/2007 atribui aos profissionais das USF modelo B os seguintes acréscimos salariais mensais pelas funções: A Coordenador de USF modelo B 910 B- Orientador de formação de interno de MGF 520 7 O DL 46/2009 atribui aos titulares de órgãos do internato médico um acréscimo salarial de 10% da remuneração estabelecida para a categoria e escalão que detêm, a incidir sobre os valores fixados para o regime de trabalho de templo completo, que abrange os titulares do Conselho Nacional do Internato Médico, Comissões regionais do internato médico, as direcções do internato médico (dos hospitais) e aos Coordenadores Regionais do internato médico de MGF e Saúde Pública: - Assistente 257 a 311 - Assistente Graduado 311 a 397 - Assistente Graduado Sénior 375 429 8 Valores das Despesas de Representação do pessoal dirigente da função pública - Diretor Geral da Saúde/Presidente do CD de uma ARS 778,03 - Subdiretor Geral da Saúde/Vogal do CD de uma ARS/Diretor Executivo de um ACeS 583,81 - Diretor de Serviços 311,21 - Chefe de Divisão 194,79 7
Anexo 2 Resumo dos acréscimos salariais no Ministério da Saúde, pagos a médicos, por exercício de funções e despesas de representação dos dirigentes dos serviços de saúde (sem o corte no salário base pelo OGE de 2012, que pode chegar aos 10%) Função Euros Presidente de um CA de um hospital EPE? Vogal de um CA de um hospital EPE? Coordenador de USF - B 910 Diretor Geral da Saúde, Presidente ARS 778 Diretor Departamento hospitalar 386-643 Subdiretor Geral da Saúde, Vogal de ARS, Director Executivo ACES 583 Director de Centro de Saúde (DL 60/2003) 473-574 Orientador de formação IMGF em USF-B 520 Coordenador de USP (interpretação ARSLVT) - AGS 495 Coordenador de Unidade Funcional do CS (DL 60/2003) 354-430 Diretor de Serviço hospitalar (A a AGS) 257-429 Coordenador Regional Internato de Saúde Pública (AGS) 407 Coordenador Regional do Internato de MGF (AGS) 407 Director Internato hospitalar (AG a AGS) 257-429 Todos os membros da CNIM e das CRIM (AG a AGS) 257-429 Diretor de Serviços da função pública 311 Chefe de Divisão da função pública 195 Valor para comparar Valor a descer Valor de referência 8
Proposta de suplementos salariais/subsídio de função para os CSP Função Euros Director Executivo de ACES 583 Presidente do Conselho Clínico 550 Vogal do Conselho Clínico 530 Coordenador de uma qualquer Unidade Funcional 495 Orientador de formação Internato médico de MGF ou de SP 200 Orientador de formação de aluno do ensino superior e de médicos Internos do Ano Comum --- Valor hora Assistente Graduado Sénior: 17,83 a 31,13 ( 200 formação ± 11h/mês) Valor hora Assistente Graduado: 14,77 a 28,79 ( 200 formação ± 13h/mês) 9