JOSÉ DE ALENCAR Cinco minutos. PROJETO DE LEITURA Douglas Tufano Maria José Nóbrega



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Transcrição:

JOSÉ DE ALENCAR Cinco minutos PROJETO DE LEITURA Douglas Tufano Maria José Nóbrega

Literatura é aprendizado de humanidade DOUGLAS TUFANO A literatura não é matéria escolar, é matéria de vida. A boa literatura problematiza o mundo, tornando-o opaco e incitando à reflexão. É um desafio à sensibilidade e inteligência do leitor, que assim se enriquece a cada leitura. A literatura não tem a pretensão de oferecer modelos de comportamento nem receitas de felicidade; ao contrário, provoca o leitor, estimula-o a tomar posição diante de certas questões vitais. A literatura propicia a percepção de diferentes aspectos da realidade. Ela dá forma a experiências e situações que, muitas vezes, são desconcertantes para o jovem leitor, ao ajudá-lo a situar-se no mundo e a refletir sobre seu próprio comportamento. Mas essa característica estimuladora da literatura pode ser anulada se, ao entrar na sala de aula, o texto for submetido a uma prática empobrecedora, que reduz sua potencialidade crítica. Se concordarmos em que a escola deve estar mais atenta ao desenvolvimento da maneira de pensar do que à memorização de conteúdos, devemos então admitir que sua função mais importante é propiciar ao aluno atividades que desenvolvam sua capacidade de raciocínio e argumentação, sua sensibilidade para a compreensão das múltiplas facetas da realidade. A escola, portanto, deveria ser, antes de tudo, um espaço para o exercício da liberdade de pensamento e de expressão. E se aceitarmos a idéia de que a literatura é uma forma particular de conhecimento da realidade, uma maneira de ver o real, entenderemos que ela pode ajudar enormemente o professor nessa tarefa educacional, pois pode ser uma excelente porta de entrada para a reflexão sobre aspectos importantes do comportamento humano e da vida em sociedade, e ainda permite o diálogo com outras áreas do conhecimento. O professor é o intermediário entre o texto e o aluno. Mas, como leitor maduro e experiente, cabe e ele a tarefa delicada de intervir e esconder-se ao mesmo tempo, permitindo que o aluno e o texto dialoguem o mais livremente possível. Porém, por circular na sala de aula junto com os textos escolares, muitas vezes o texto literário acaba por sofrer um tratamento didático, que desconsidera a própria natureza da literatura. O texto literário não é um texto didático. Ele não tem uma resposta, não tem um significado que possa ser considerado correto. Ele é uma pergunta que admite várias respostas; depende da maturidade do aluno e de suas experiências como leitor. O texto literário é um campo de possibilidades que desafia cada leitor individualmente. Trabalhar o texto como se ele tivesse um significado objetivo e unívoco é trair a natureza da literatura e, o que é mais grave do ponto de vista educacional, é contrariar o próprio princípio que justificou a inclusão da literatura na escola. Se agirmos assim, não estaremos promovendo uma educação estética, que, por definição, não pode ser homogeneizada, massificada, despersonalizada. Sem a marca do leitor, nenhuma leitura é autêntica; será apenas a reprodução da leitura de alguma outra pessoa (do professor, do crítico literário etc.). Cabe ao professor, portanto, a tarefa de criar na sala de aula as condições para o de 2

senvolvimento de atividades que possibilitem a cada aluno dialogar com o texto, interrogá-lo, explorá-lo. Mas essas atividades não são realizadas apenas individualmente; devem contar também com a participação dos outros alunos por meio de debates e troca de opiniões e com a participação do professor como um dos leitores do texto, um leitor privilegiado, mas não autoritário, sempre receptivo às leituras dos alunos, além de permitir-lhes, conforme o caso, o acesso às interpretações que a obra vem recebendo ao longo do tempo. Essa tarefa de iniciação literária é uma das grandes responsabilidades da escola. Uma coisa é a leitura livre do aluno, que obviamente pode ser feita dentro ou fora da escola. Outra coisa é o trabalho de iniciação literária que a escola deve fazer para desenvolver a capacidade de leitura do aluno, para ajudá-lo a converter-se num leitor crítico, pois essa maturidade como leitor não coincide necessariamente com a faixa etária. Ao elaborar um programa de leituras, o professor deve levar em conta as experiências do aluno como leitor (o que ele já leu? como ele lê?) e, com base nisso, escolher os livros com os quais vai trabalhar. Com essa iniciação literária bem planejada e desenvolvida, o aluno vai adquirindo condições de ler bem os grandes escritores, brasileiros e estrangeiros, de nossa época ou de outras épocas. Nesse sentido, as noções de teoria literária aplicadas durante a análise de um texto literário só se justificam quando, efetivamente, contribuem para enriquecer a leitura e compreensão do texto, pois nunca devem ser um fim em si mesmas. A escola de Ensino Fundamental e Médio quer formar leitores, não críticos literários. Só assim é possível perceber o especial valor educativo da literatura, que, como dissemos, não consiste em memorizar conteúdos mas em ajudar o aluno a situar-se no mundo e a refletir sobre o comportamento humano nas mais diferentes situações. Literatura é aprendizado de humanidade. DESCRIÇÃO DO PROJETO DE LEITURA UM POUCO SOBRE O AUTOR Apresentamos informações básicas sobre o autor, situando-o no contexto da história da literatura brasileira ou portuguesa. RESENHA Apresentamos uma síntese da obra para que o professor, ao conhecer o tema e seu desenvolvimento, possa avaliar a pertinência da adoção, levando em conta o interesse e o nível de leitura de seus alunos. COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA Conforme as características do gênero a que pertence a obra, destacamos alguns aspectos importantes, como a visão de mundo nela expressa, a linguagem do autor, os seus recursos expressivos, a composição dos personagens etc. Com esses comentários, o professor poderá ter uma idéia dos aspectos que poderão ser abordados e também identificar os conteúdos das diferentes áreas do conhecimento que poderão ser explorados em sala de aula. QUADRO-SÍNTESE O quadro-síntese permite uma visualização rápida de alguns aspectos didáticos da obra em questão. São eles: a indicação do gênero literário, as áreas e os temas transversais envolvidos nas atividades e o público-alvo presumido para a obra. 3

Gênero: Palavras-chave: Áreas envolvidas: Temas transversais: Público-alvo: PROPOSTAS DE ATIVIDADES a) antes da leitura Considerando que os sentidos que atribuímos a um texto dependem muito de nossas experiências como leitor, sugerimos neste item algumas atividades que favorecem a ativação dos conhecimentos prévios necessários à compreensão da obra. b) durante a leitura Apresentamos alguns objetivos orientadores que podem auxiliar a construção dos sentidos do texto pelo leitor. c) depois da leitura Sem nenhuma pretensão de esgotar os sentidos do texto, propomos algumas atividades que ajudam o leitor a aprofundar sua compreensão da obra, sugerindo também, conforme o caso, a pesquisa de assuntos relacionados aos conteúdos das diversas áreas curriculares e a reflexão a respeito de temas que permitam a inserção do aluno no debate de questões contemporâneas. F nas tramas do texto Compreensão geral do texto a partir de reprodução oral ou escrita do que foi lido ou de respostas a questões propostas pelo professor em situação de leitura compartilhada. Apreciação dos recursos expressivos empregados na obra. Identificação e avaliação dos pontos de vista sustentados pelo autor. Discussão de outros pontos de vista a respeito de questões suscitadas pela obra. Tendo a obra estudada como ponto de partida, produção de outros textos verbais ou de trabalhos que contemplem diferentes linguagens artísticas: teatro, música, artes plásticas etc. F nas telas do cinema Indicação de filmes, disponíveis em VHS ou DVD, que tenham alguma articulação com a obra estudada, tanto em relação à temática como à estrutura composicional. F nas ondas do som Indicação de músicas que tenham relação significativa com a temática ou com a estrutura da obra estudada. F nos enredos do real Sugestão de atividades que ampliam o estudo da obra, relacionando-a aos conteúdos de diversas áreas curriculares. DICAS DE LEITURA Sugestões de outros livros relacionados à obra estudada, criando no aluno o desejo de ampliar suas experiências como leitor. Essas sugestões podem incluir obras do mesmo autor ou obras de outros autores que tratam de temas afins: w do mesmo autor; w de outros autores; w leitura de desafio. Indicação de livros que podem estar um pouco além do grau de autonomia do leitor da obra analisada, com a finalidade de ampliar os horizontes culturais do aluno, apresentando-lhe até mesmo autores estrangeiros. 4

JOSÉ DE ALENCAR Cinco minutos UM POUCO SOBRE O AUTOR José Martiniano de Alencar nasceu em 1829, no Ceará, e faleceu no Rio de Janeiro, em 1877, onde passou a maior parte de sua vida. Formado em Direito, participou ativamente da vida política nacional, assim como seu pai. Foi deputado pelo Partido Conservador e ocupou vários cargos de relevo no governo, tendo sido Ministro da Justiça de 1868 a 1870. Paralelamente à vida política, dedicou-se com entusiasmo à literatura e ao jornalismo. Escreveu crônicas, crítica literária, peças teatrais, mas destacou-se como o autor mais importante do nosso Romantismo. Sua obra pode ser assim esquematizada: romance social ou urbano: Cinco minutos, A viuvinha, Lucíola, Diva, A pata da gazela, Sonhos d ouro, Senhora, Encarnação. romance regionalista: O gaúcho, O tronco do ipê, Til, O sertanejo. romance histórico: O guarani, As minas de prata, A guerra dos mascates. romance indianista: Iracema, Ubirajara. Nos romances sociais, Alencar revela seu talento de fino observador da alma humana, fazendo o estudo de certas figuras femininas conhecido como perfis femininos, dentre os quais se destacam o de Aurélia (em Senhora) e de Lúcia (em Lucíola). Alguns anos depois, Machado de Assis aprofundaria esse estudo psicológico de personagens femininas. Alencar destaca-se também por ter defendido um estilo brasileiro na língua literária. Reivindicando o direito dos brasileiros a uma língua e literatura com fisionomia própria, protestou contra os puristas, que achavam que nossos escritores deveriam seguir o estilo lusitano, escrevendo tal como se fazia em Portugal: É essa submissão que eu não tolero; e, como já disse uma vez, quebraria a pena antes, do que aceitar semelhante expatriação literária. Admiremos Portugal nas tradições grandiosas de seu passado; nos esforços generosos de seu renascimento; prezemos sua literatura e seus costumes; porém, nunca imitálo servilmente. Importaria anular a nossa individualidade.. RESENHA Cinco minutos é o romance de estréia de José de Alencar. Foi publicado primeiramente em folhetins, sob pseudônimo, no Diário do Rio de Janeiro, em 1856. O livro é construído como carta para D..., prima do anônimo narrador, que se propõe a contar não um romance, mas uma história curiosa. Ele começa a narração dizendo que, tendo perdido, por cinco minutos, o ônibus para Andaraí, esperou pelo seguinte e, 5

ao sentar-se casualmente ao lado de uma mulher, ficou curioso em ver-lhe o rosto, que estava coberto por um véu. Pressentindo que se tratava de uma bela jovem, procura abordá-la e surpreende-se ao perceber que ela permite que lhe segure as mãos e lhe beije o ombro. Mas, de repente, ela desce do carro, murmurando-lhe uma frase da famosa ópera O trovador, de Verdi: Non ti scordar di me ( Não te esqueças de mim ) e desaparece, sem deixar pistas. Seduzido pela enigmática mulher, ele tenta localizá-la durante dias, mas em vão. Aos poucos, vai conseguindo algumas informações sobre ela e espanta-se com os recursos da jovem para permanecer incógnita. Afinal, por que ela o evita, se sentada a seu lado, no ônibus, foi tão ousada? Finalmente, consegue encontrar-se com ela e descobre tratar-se de uma jovem de 16 anos chamada Carlota, que há tempos o amava sem que ele soubesse. Por isso, ela tinha tido aquele comportamento no ônibus. E já o teria procurado, não fosse um trágico obstáculo: ela sofria de tuberculose e tinha pouco tempo de vida. Mais algumas peripécias impedem a aproximação dos dois. Ela parte com a mãe para a Itália, em busca de melhores ares, e ele as alcança em Nápoles, vencendo uma série de dificuldades. Carlota não melhora e parece estar à beira da morte. Uma tarde, sentindo chegar o seu fim, ela pede ao amado que, nesse último momento, receba nos lábios a sua alma. Eles se beijam. É o primeiro beijo de amor que eles trocam. Nesse instante, ocorre um verdadeiro milagre de amor. Carlota sente uma estranha força nascer dentro dela e, a partir desse momento, readquire a saúde. Os médicos, mais tarde, explicam essa reação como efeito das mudanças de clima, mas para os dois trata-se de um milagre provocado pela intensidade do amor. Eles voltam ao Brasil, casam-se e vão morar em Minas Gerais, na quebrada de uma montanha, em plena natureza, felizes para sempre. COMENTÁRIOS SOBRE A OBRA Uma das causas do sucesso de Cinco minutos foi, sem dúvida, a fidelidade de Alencar aos padrões românticos da época. Os personagens principais Carlota e seu amado expressam um sentimentalismo exagerado, amando ou sofrendo intensamente, desprezando distâncias geográficas, vencendo obstáculos aparentemente intransponíveis para concretizar seu amor. No enredo desse romance, reconhecemos várias características da literatura romântica: a musa idealizada e distante; o mistério da identidade da mulher amada; a fatalidade do destino (no caso, a doença), que impede a realização amorosa; os milagres operados pelo amor puro e espiritualizado, a recompensa finalmente alcançada a conquista da felicidade junto ao ser amado, longe da agitação das cidades, numa casinha no campo, em meio à natureza bela e acolhedora. QUADRO-SÍNTESE Gênero: romance Palavras-chave: amor, fidelidade, mistério Áreas envolvidas: Língua Portuguesa Temas transversais: Ética Público-alvo: jovem adulto PROPOSTAS DE ATIVIDADES Antes da leitura 1. Verificar o que os alunos sabem a respeito do Romantismo brasileiro e sobre a obra de José de Alencar. 2. Conversar sobre a produção de folhetins no século XIX e sua influência na estrutura dos romances da época. 3. Com base nas questões anteriores, sondar a expectativa dos alunos com relação à leitura de Cinco minutos. Durante a leitura Os capítulos do romance não têm títulos, são apenas numerados. Pedir aos alunos que criem 6

títulos para eles. Esses títulos devem ter dupla função: informar sobre o conteúdo do capítulo e despertar o interesse dos leitores. Os próprios alunos depois podem comparar os títulos e escolher os melhores. Essa atividade reforça a atenção dos alunos durante a leitura e leva-os a um esforço de síntese. Depois da leitura F nas tramas do texto 1. O consumo dos folhetins foi intenso no século XIX. Estudar o desenvolvimento da trama de Cinco minutos e explicar se há evidências ou não da influência do folhetim na estrutura desse romance. 2. O autor constrói o romance como se fosse uma carta que o narrador está escrevendo à prima, contando o que se passou entre ele e Carlota. Propor aos alunos uma discussão sobre esse artifício narrativo usado por Alencar. Pensando-se no público leitor daquela época, com que objetivo teria ele usado esse artifício? 3. Sugerir aos alunos que criem um outro título para o romance. Em seguida, a classe poderá fazer a escolha do título mais adequado para despertar o interesse dos leitores. 4. Propor aos alunos que façam um texto de apresentação do livro, de dez linhas no máximo, que desperte a curiosidade e o interesse de outras pessoas, estimulando-as à leitura da obra. 5. Considerando a idade de Carlota, pedir aos alunos que discutam as transformações por que passou o casamento em nossa sociedade. Como fonte de consulta, sugerimos os livros: História das mulheres no Brasil Mary del Priore (org.), São Paulo, Contexto O livro da esposa Marilyn Yalom, Rio de Janeiro, Ediouro 6. Sugerir aos alunos um debate a respeito do interesse ou não que esse romance pode despertar nos leitores de hoje. Propor que reflitam sobre esta questão: Se fosse transformada em telenovela, essa obra poderia ser um sucesso hoje em dia? Por quê? F nos enredos do real No romance, são citadas duas óperas do compositor italiano Giuseppe Verdi (1813-1901): O trovador e La Traviata. A primeira estreou em Roma, no dia 19 de janeiro de 1853. A segunda estreou em Veneza, no dia 6 de março de 1853. Considerando o ano de publicação de Cinco minutos (1856), vemos que, pouco tempo depois da estréia na Europa, essas óperas já eram conhecidas na cidade do Rio de Janeiro. Pedir aos alunos: que façam um resumo do enredo dessas óperas e discutam se elas apresentam ou não características da literatura romântica; que apresentem o resultado de uma pesquisa sobre a situação do teatro em geral, e da ópera, em particular, na cidade do Rio de Janeiro, por volta de 1850. Como sugestões de livros para essa pesquisa, indicamos: O Brasil no tempo de Dom Pedro II Frédéric Mauro, São Paulo, Companhia das Letras História da vida privada no Brasil (vol. 2) Império: a corte e a modernidade nacional Luiz Felipe de Alencastro, São Paulo, Companhia das Letras F nas telas do cinema É imenso o número de filmes que contam histórias de amor. Pedir aos alunos que façam uma lista de seus filmes preferidos para ver se há muitas coincidências entre eles. Nossas sugestões: A Moreninha. Dir. Clauco Laurelli. Filme brasileiro inspirado no romance do mesmo nome, de Joaquim Manuel de Macedo, escritor contemporâneo de José de Alencar. Nunca te vi, sempre te amei. Dir. David Jones. É possível amar uma pessoa sem nunca tê-la visto? Uma história de amor muito diferente daquelas que estamos acostumados a ver. Uma história de amor. Dir. Arthur Hiller. Uma história de amor com final infeliz que mostra a permanência, em nosso tempo, de certos traços da literatura romântica do século XIX. F nas ondas do som É virtualmente infinita a relação de músicas que falam da felicidade no amor. Seria interessante 7

pedir aos alunos que trouxessem algumas de suas músicas favoritas para se fazer a análise das letras e tentar perceber nelas a influência da linguagem romântica do século XIX. DICAS DE LEITURA w do mesmo autor Senhora. A honra e o amor conduzem um casal a um beco sem saída. Para finalmente merecerem e alcançarem a felicidade, marido e mulher passam por um período de grandes provações. A viuvinha. Na noite de núpcias, o misterioso desaparecimento do noivo deixa inconsolável sua jovem esposa. Mas, depois de muito suspense e vários lances dramáticos, tudo se esclarece e eles podem viver plenamente o amor com que tanto sonhavam. w de outros autores A felicidade no amor, depois de muitos sobressaltos, é o tema de inúmeras obras literárias. Sugerimos, como leituras complementares: O moço loiro Joaquim Manuel de Macedo. Um romance cheio de ação e suspense, em que um misterioso moço loiro realiza incríveis façanhas para provar sua inocência e conquistar o coração da mulher amada. A escrava Isaura Bernardo Guimarães. A crueldade da escravidão impedindo a união de dois jovens apaixonados, num dos mais famosos romances do Romantismo brasileiro. w leitura de desafio Os sofrimentos do jovem Werther Goethe. O amor tipicamente romântico está bem exemplificado por essa obra do escritor alemão Goethe (1749-1832). Publicada em 1774 (há traduções em português), narra o desventurado caso de amor de um jovem. Seu sentimentalismo exagerado e o final trágico causaram grande impacto nos leitores e influenciaram muitos escritores, inclusive aqui no Brasil. A dama das camélias Alexandre Dumas, Rio de Janeiro, Ediouro. Romance francês que se tornou uma das obras mais famosas da literatura romântica. Foi transformada em peça de teatro e em ópera (La Traviata, de Giuseppe Verdi, citada por Alencar em Cinco minutos).