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A realidade do SAB para as crianças e adolescentes de 7 a 14 anos. Quase 5 milhões de crianças e adolescentes, com idade entre 7 e 14 anos (18,8% da população da região) vivem no Semi-árido. No Brasil, 20,8 milhões estão nesta faixa etária, representando 12,30% da população nacional. Nesta faixa etária, um aspecto se revela fundamental e merecedor de atenção especial das políticas públicas a educação. No Semi-árido, encontra-se o maior percentual de crianças e adolescentes não alfabetizados do país. O acesso à Educação Mais de 350 mil crianças e adolescentes, entre 10 e 14 anos, não freqüentam a escola no semi-árido. Das crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos que não freqüentam a escola no Brasil, 23,8% estão no Semi-árido. Na região, existe o dobro de não alfabetizados e quase o dobro de ocupados que no Brasil, para a faixa etária de 7 a 14 anos. Cerca de 36% entre os 20% mais pobres do Semi-árido não são alfabetizados para a faixa entre 10 e 14 anos, como mostra o gráfico a seguir. Gráfico 10 - Proporção de crianças e adolescentes de 10 a 14 anos não Alfabetizadas, por classes de renda - 2000 34 23,8% de todas as crianças e adolescentes entre 7 e 14 anos que não freqüentam a escola no Brasil estão no Semi-árido.
O mapa a seguir ilustra de modo comparado a situação do Semi-árido e a do Brasil. Fonte: IBGE. Tabulação Especial. Censo 2000. 35 Na zona urbana, o total de não alfabetizados na região é muito superior ao do Brasil urbano. Até as cidades com melhor infra-estrutura apresentam nível elevado de crianças não alfabetizadas.
A tabela 6 apresenta o percentual de alfabetizados e não alfabetizados entre 10 e 14 anos. Um dado a ressaltar é que à medida em que a idade aumenta, cresce o número de alfabetizados. Em um cenário normal, a expectativa seria que todas as crianças com 10 anos já estivessem alfabetizadas. Tabela 6 - Semi-Árido: percentual da População Alfabetizada e não Alfabetizada segundo faixas etárias Paralelo à não alfabetização em idade adequada, vem a defasagem idade-série (idade maior do que a adequada à respectiva série escolar). Este fenômeno está relacionado, inclusive, ao número de anos de estudo. A média de anos para todo o Semi-árido (2,89) é menor que para o Brasil (3,77), demonstrado no mapa 2. Esta realidade funciona como causa e efeito da defasagem educacional que ocorre no Semi-árido. 36 O mapa 2 permite também ver a situação brasileira e a situação do Semi-árido por média de anos de estudos. A expressiva maioria dos municípios da região têm média menor do que as do Brasil. Em 95,4% das cidades do Semi-árido as crianças de 10 a 14 anos apresentam média de anos de estudo inferior ao patamar brasileiro que é de 3,77 anos. Foto: Alejandra Martins
Fonte: IBGE. Tabulação Especial. Censo 2000. A desigualdade porém é maior quando desagregamos por faixa de renda. Os mais ricos do Brasil não estão defasados quanto ao total de anos de estudo adequado para esta faixa etária. Para os mais ricos do Semi-árido, já se observa alguma defasagem, mas estes têm quase o dobro do número de anos de estudo do que os mais pobres. O maior impacto acontece para os mais pobres, e os do Semi-árido sofrem com maior intensidade. Na primeira fase da vida escolar, já saem em desvantagem em 2 anos de estudo, em média, para os mais ricos do próprio Semi-árido, e em quase 3 anos em relação aos mais ricos brasileiros, como se observa no gráfico 11. 37
Gráfico 11 - Média de anos de estudo - 10 a 14 anos Há diferenças significativas, de acordo com a escolaridade da mãe. Os filhos de mães com mais de 11 anos de estudo já estão com 4,5 anos, enquanto que para mães não escolarizadas este número alcança apenas 2,14 anos de estudo no Semi-árido. Análise similar a anterior pode ser realizada diante do recorte regional, ficando sempre em desvantagem as populações rurais, inclusive a população rural do Brasil quando comparada ao Semi-árido urbano. Isso indica uma grande fragilidade da educação rural oferecida no país, sobretudo no Semi-árido. Gráfico 12 - Média de anos de estudo das crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, por situação do domicílio 38 De um modo geral, comparados com a realidade brasileira, os indicadores para as crianças e adolescentes com idade de 7 a 14 anos dão o tom da fragilidade do Semiárido: a situação é muito desfavorável para este grupo - o dobro de não alfabetizados e quase o dobro de ocupados (Tabela 7).
Tabela 7 - Brasil e Semi-árido Crianças e Adolescentes de 7 a 14 anos Outro dado importante revela a frequëncia à escola para crianças e adolescentes de 7 a 14 anos. Enquanto a média brasileira é de 5,50, no Semi-árido, passa para 7,19. Foto: Alejandra Martins O Ensino Fundamental no Semi-árido Para os que conseguem ingressar na escola outras variáveis devem ser observadas como a permanência, o desempenho e o sucesso escolar. Também nesses casos os resultados não são muito favoráveis. Existe certa homogeneidade entre a maioria dos semi-áridos dos Estados quando se observa o rendimento escolar. A taxa de aprovação, no ano de 2000, oscilava entre 65 e 70%, exceto Alagoas, que era de 60%, para o ano 2000. A maior taxa de aprovação encontra-se no Estado de Minas Gerais, seguido de perto pelo Ceará, a maior do Nordeste Semi-árido. A maior taxa de abandono está em Alagoas. Os estados acima da média do Semi-árido são Bahia, Pernambuco, Paraíba e Sergipe. A maior taxa de reprovação também está no Semi-árido alagoano (21,44%), seguido de perto pelo Piauí e Sergipe, ambos com mais de 19%. Pernambuco é outro estado com taxa de reprovação acima da média do Semi-árido. 39
Tabela 8 - Ensino Fundamental e Rendimento Escolar por estado - SAB 40 A tabela 9 apresenta outros indicadores para ilustrar a situação do ensino fundamental na região quanto ao número de matrículas versus docentes e estabelecimentos de ensino. Pode-se observar que o número de matrículas por docente é 30% maior no Semiárido do que para a região Nordeste (23,5 matrículas por docente, em 2000) e o Brasil (22,5), revelando um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis. Foto: Alejandra Martins
Tabela 9 - Ensino Fundamental Principais Indicadores Outro indicador é a idade de conclusão. No Semi-árido está próxima dos 17 anos, idade em que as pessoas já deveriam estar concluindo o ensino médio. No Semi-árido brasileiro, são necessários 11 anos para concluir o ensino fundamental (tabela 10). Há uma desigualdade também diante do tamanho das cidades. Comparando-se os dois extremos de municípios, menos de 5.000 habitantes e aqueles com mais de 100.000, a idade mediana de conclusão para as menores cidades é de 16,9 anos e para as maiores é de 16,3 anos. Em 24% das cidades menores a idade mediana de conclusão está acima dos 17 anos. Este fato não ocorre em nenhum dos maiores municípios. Na prática, há uma defasagem de meio ano de estudo apenas em função do tamanho da cidade. Foto: Alejandra Martins 41
Tabela 10 - Idade mediana de conclusão do ensino fundamental 42 Examinando o conjunto desses números, pode se perceber que há uma redução de 25,6% para 11,10%, na proporção de não alfabetizados com 10 e 14 anos, respectivamente. Isso representa 16,5% do total da faixa (10-14) ou 512 mil crianças e adolescentes não alfabetizadas que, quando dentro da escola, estarão em situação de defasagem de idade em relação à série correspondente. Os dados permitem concluir que 45% das pessoas atendidas no ensino fundamental estão fora da faixa etária correspondente, algo relativamente homogêneo nos diversos municípios do Semi-árido. A educação é, ainda, a principal estratégia de inclusão social dessas crianças e adolescentes e deve ser, de fato, o foco das políticas publicas para essa faixa etária. Como observado nas informações anteriores, o nível de analfabetismo, a média de anos de estudo e os indicadores de evasão escolar demonstram a pouca importância e falta de prioridade atribuída à escola. Se a nova geração, que está sendo formada na região semi-árida, já apresenta uma defasagem de escolarização e conhecimento (revelada pelo Censo Demográfico e Escolar de 2000), certamente irão se passar mais alguns anos até mesmo décadas para acontecer mudanças significativas na realidade local. É fundamental a focalização em políticas e ações que criem as condições de permanência desta e das futuras gerações na escola e recuperem aqueles que, mesmo estando na escola, têm nível inadequado de escolaridade.