PROCESSAMENTO DE GELEIA A PARTIR DA ATEMÓIA RESUMO



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Transcrição:

PROCESSAMENTO DE GELEIA A PARTIR DA ATEMÓIA Thais Cardoso Merlo 1 ; Luciane Yukari Yahagi 1 ; Tais Bodeva Costa 1 ; Andressa Alves da Silva 2 ; Gleice Ellen da Silva 2 ; Cristina Tostes Filgueiras 3 1 Alunas do curso de Engenharia de Alimentos- UFGD-FAEN. E-mail: thaiismerlo@gmail.com 2 Alunas bolsistas do Grupo Pet- Engenharia de Alimentos 3 Professora do curso de Engenharia de Alimentos- UFGD-FAEN, C. Postal 533, 79804-970, Dourados - MS. RESUMO A atemoia (Annona cherimola Mill. x Annona squamosa L.) é um híbrido resultante do cruzamento entre um fruto tropical, a fruta-do-conde (Annona squamosa L.) com a cherimoia (Annona cherimola Mill.), nativa das regiões de clima ameno, como as regiões andinas do Chile, Peru, Bolívia e Equador. A exploração da atemóia no Brasil ainda é bastante recente, sendo em maior escala nas regiões do Sudeste, estado do Paraná e, também, na Bahia. Em São Paulo, o cultivo da atemóia ocorre, predominante, nas regiões noroeste, sudoeste e próximas à Serra da Mantiqueira. Este fruto apresenta sabor agradável, doce, ligeiramente ácido e aromático, apresentando qualidades muito superiores em relação aos frutos da mesma família, como a pinha, a fruta-do-conde e a graviola. O objetivo deste trabalho foi elaborar geleia a partir da polpa da fruta atemóia. Foram realizadas análises físico-químicas para caracterizar a polpa da atemóia como também, para caracterizar a formulação elaborada da geleia. Observou-se um ph de 4,44 e um teor de sólidos solúveis de 19,27º Brix para a polpa da atemóia, sendo que o teor de açúcares redutores e totais foi de 12,66 e 13,82%, respectivamente. Quanto à caracterização da polpa da atemóia, foi possível analisar que os resultados obtidos estavam de acordo com os encontrados na literatura, enquanto que os resultados obtidos para a geleia demonstraram que são necessários ajustes na sua formulação para obtenção de uma geleia com características mais adequadas. Assim, conclui-se que a atemóia é uma fruta que apresenta grande potencial para ser utilizada no processamento de geleias e doces. Palavras-chave: Annona cherimola Mill. x Annona squamosa L., Frutos do cerrado, Novos produtos

1. INTRODUÇÃO A fruticultura nacional está em potencial de expansão, devido às inúmeras frutas nativas e exóticas muito pouco exploradas economicamente, cujos estudos para transformálas em culturas racionais, na sua maioria, estão em andamento, como por exemplo, atemóia, maná, canistel, lichia, mirtilo, carambola, entre outros (Kiss, 2003 e Silva et al., 2002). As regiões dos cerrados são ricas em espécies frutíferas nativas, oferecendo grande quantidade de frutas comestíveis, algumas com excelentes características nutricionais, cujo aproveitamento pela população humana dá-se desde os primórdios de sua ocupação. As frutas apresentam um elevado valor nutricional, além de atrativos sensoriais como, cor, sabor e aroma peculiares e intensos, ainda pouco explorados comercialmente (Oliveira et al., 2008). A fruta atemóia, é um híbrido resultante do cruzamento da cherimóia (Annona cherimola Mill.) com a fruta-do-conde, a pinha (Annona squamosa L.), pertence à família das anonáceas, originária dos Andes. A maior concentração de produção de atemóia está na região Nordeste, ficando com 50% da produção, e o principal mercado consumidor é o estado de São Paulo (Melo, 2001). A atemóia é uma fruta saborosa, contém menor número de sementes e possui uma vida pós-colheita mais prolongada, quando comparada a pinha e a graviola. Além disso, ela é caracterizada por possuir alto teor de açúcar e proteínas, potássio e vitamina C, sendo facilmente digerida. A fruta também pode ser consumida como polpa, licores, sorvetes, sucos, doces e compotas (Marcellini apud Siqueira, 2003). As Normas Técnicas Relativas a Alimentos e bebidas, constantes da Resolução nº 12 de 24 de julho de 1978, define geleia de fruta como o produto obtido pela cocção, de frutas, inteiras ou em pedaços, polpa ou suco de frutas, com açúcar e água e concentrado até consistência gelatinosa. Poderá ser adicionado de glicose ou açúcar invertido e não pode ser colorido e nem aromatizado artificialmente. É tolerada a adição de acidulantes e de pectina para compensar qualquer deficiência no conteúdo natural de pectina ou de acidez da fruta. A geleia deve apresentar-se sob o aspecto de base gelatinosa, de consistência tal, que quando extraídas de seus recipientes, sejam capazes de se manterem no estado semi-sólido. As geleias transparentes que não contiverem em sua massa pedaços de frutas devem, ainda, apresentar elasticidade ao toque, retornando à sua forma primitiva após ligeira pressão. A cor e o cheiro

devem ser próprios da fruta de origem. O sabor deve ser doce, semi-ácido, de acordo com a fruta de origem (Brasil, 1990). Deste modo, como forma de agregar valor a fruta, o objetivo desta pesquisa foi obter o processamento de geleias a partir da polpa da fruta atemóia. 2. MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Obtenção e caracterização da polpa de atemóia (Annona cherimola Mill. x Annona squamosa L.) Obteve-se aproximadamente 35 kg de atemóia em um depósito de frutas e legumes localizado na cidade de Dourados, Mato Grosso do Sul. As frutas foram transportadas para o Laboratório de Bioprocessos (LABIO), do Curso de Engenharia de Alimentos Faculdade de Engenharia (FAEN), da Universidade Federal da Grande Dourados, para realização das análises. A primeira análise física realizada foi a Biometria de vinte (20) frutos inteiros, por meio da medição das dimensões transversais e longitudinais, utilizando um Paquímetro. As frutas foram limpas, higienizadas, branqueadas e despolpadas, manualmente. A polpa, casca e sementes obtidas foram pesadas para o cálculo do rendimento da polpa e das porcentagens de casca e sementes. A polpa foi acondicionada em sacos plásticos de 300g e armazenada em freezer, a 0ºC, para análises posteriores. As determinações de ph, acidez total titulável e sólidos solúveis foram realizadas no Laboratório de Tecnologia (LATEC), enquanto que as determinações de fibras brutas e açúcares totais e redutores foram realizadas no Laboratório de Bioprocessos (LABIO), da Faculdade de Engenharia (FAEN UFGD). As análises físico-químicas realizadas na polpa do fruto foram: Determinação do ph: a leitura foi realizada utilizando-se potenciômetro (marca INSTRUTHERM PH-2000), segundo Cecchi (2003). Determinação de Sólidos Solúveis: utilizou-se um refratômetro de campo (marca DIGIT), segundo Park & Antonio (2006), e os conteúdos foram expressos em ºBrix. Determinação da Acidez Total Titulável: foi determinada por titulação com solução de hidróxido de sódio 0,1N e solução alcoólica de fenolftaleína a 1 % como indicador, segundo Silva & Queiroz (2002), e os resultados foram expressos

em gramas de ácido cítrico/100 g polpa. Foi realizado o cálculo da relação Sólidos Solúveis/Acidez Total Titulável. Determinação de Fibras Brutas: o método utilizado foi o da digestão ácido-base descrita por Silva & Queiroz (2002), com algumas modificações. Utilizou-se saquinhos de tecido-não-tecido (TNT 100 g/cm²) para se colocar a amostra a qual foi previamente seca a 72ºC, por 2 horas, em estufa de circulação e renovação de ar (marca SOLAB). A amostra seca foi transferida para o Aparelho Determinador de fibras (marca TE-149), onde foi submetido à digestão ácida, com solução de ácido sulfúrico 1,5 % (v/v) e digestão básica, com solução de hidróxido de sódio 1,5 % (p/v). O teor de fibras foi obtido por método gravimétrico e expresso em porcentagem (%). Determinação de Açúcares Redutores e Açúcares Totais: utilizou-se o método de titulação de óxido-redução (Eynon-Lane), segundo Sanjinez-Argandoña (2012), e os resultados foram expressos em porcentagem de açúcares redutores (%) e porcentagem de açúcares totais (%). 2.2 Formulação e caracterização preliminar de geleia obtida a partir da polpa de atemóia Para obtenção da primeira formulação de geleia, as polpas da fruta atemóia foram descongeladas, sob refrigeração. O processamento das polpas descongeladas foi realizado no Laboratório de Bioprocessos (LABIO). Formulação da Geleia de Atemóia A geleia de atemóia elaborada foi do tipo extra (60% de polpa e 40% de açúcar), a partir de 200 gramas da polpa e os ingredientes utilizados, com suas respectivas quantidades, estão demonstrados na Tabela 1. Tabela 1 Formulação para a elaboração de geleia de atemóia Ingredientes (%) Qte (gr) SST (%) SSR (%) Fruta 60 120 19,27 23,12 Sacarose 25 50 100 50 Glicose 15 32 85 27 Pectina 1 2 100 2

Ácido Cítrico - - - - TOTAL 101 204 102,12 onde SST: Sólidos solúveis totais SSR: Soma dos Quadrados dos Resíduos Para processamento de geleia, primeiramente, a polpa foi triturada, devido conter pedaços grandes, em seguida, em um recipiente apropriado, foi realizado o aquecimento, em chapa aquecedora, em torno de 150 C, acrescida de 1/3 da quantidade de sacarose. Esta mistura foi agitada, em torno de 10 minutos, para não aderir ao recipiente. Após este intervalo, foi adicionado o restante da sacarose e a geleia foi concentrada até atingir 45 Brix. Em seguida, foram adicionados a pectina e o xarope de glicose, em suas respectivas quantidades. Novamente, foi determinado o teor de sólidos solúveis ( Brix) até que este atingisse o valor de 69,65. Atingido o Brix desejado foi adicionado, por último, a solução de ácido cítrico (10%) para que a geleia obtivesse um ph final em torno de 3,19. A quantidade de água utilizada durante o processamento da geleia foi de, aproximadamente, 300 ml. Ao final, foi realizado o enchimento, à quente, dos potes de vidro com a geleia e, posteriormente, foram hermeticamente fechados com tampas metálicas. Em seguida, foi realizado o resfriamento dos vidros em água corrente, e o produto foi armazenado em temperatura ambiente. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Verificou-se que o diâmetro longitudinal médio (Tabela 2) obtido das frutas de atemóia foi maior do que o encontrado por Silva et al. (2010), que foi de 74,6±2,70 mm, enquanto que o diâmetro transversal médio (Tabela 2) foi consideravelmente menor do que o encontrado pelo mesmo autor, que foi de 99,5±8,16 mm. Tabela 2 Diâmetros longitudinal e transversal dos frutos Parâmetros Resultados obtidos Diâmetro Longitudinal (mm) 77,51±5,68 Diâmetro Transversal (mm) 62,23±3,59 O rendimento obtido para a polpa (Figura 1) apresentou-se abaixo do encontrado por Cruz (2011), que observou um rendimento de 60 % em relação ao peso do fruto de atemóia.

Rendimento da Polpa Semente s 14% Casca 34% Polpa 52% Figura 1 Rendimento da polpa e porcentagens de casca e sementes dos frutos. Os resultados das análises de ph, sólidos solúveis, acidez total titulável, fibra bruta, açúcares redutores e açúcares totais estão apresentados na Tabela 3. Tabela 3 Resultados das análises físico-químicas realizadas na polpa de atemóia Análises Resultados obtidos* ph 4,44±0,00 Sólidos Solúveis (ºBrix) 19,27±0,12 Acidez Total Titulável (g ácido cítrico/100 g polpa) 0,3441±0,0097 Fibras Brutas (%) 1,40±0,27 Açúcares Redutores (%) 12,66±1,06 Açúcares Totais (%) 13,82±0,94 * Os resultados estão expressos em média±desvio padrão Observou-se um ph de 4,44 para a polpa de atemóia (Tabela 3), valor semelhante ao encontrado por Sousa et al. (2013), que obtiveram ph de 4,34 para frutas semi-maduras e ph de 5,36 para frutas maduras de atemóia Gefner. Porém, este valor foi bem abaixo do encontrado por Silva et al. (2009), que obtiveram ph de 5,41 para a polpa da atemóia embalada em filme de PVC individual, no nono dia de armazenamento, em câmara fria (15ºC). O teor de sólidos solúveis encontrado foi de 19,27±0,12 ºBrix (Tabela 3), sendo este resultado próximo aos obtidos por Silva et al. (2010) e Sousa et al. (2013) que foram de 18,7 ºBrix e 20,68 ºBrix, respectivamente. Em relação à acidez total titulável, a média obtida foi de 0,3441±0,0097 gramas de ácido cítrico/100 g polpa (Tabela 3). Valor semelhante de acidez total titulável foi encontrado

por Silva & Muniz (2011) para a polpa de frutos maduros de atemóia, que foi de 0,336 gramas de ácido cítrico/100 g polpa. Marcellini et al. (2003) encontraram acidez total titulável de 0,469 gramas de ácido cítrico/100 g polpa de atemoia, em trabalho realizado comparandose a atemóia com a pinha (Annona squamosa L.) e a graviola (Annona muricata L.), produzidas e comercializadas no estado de Sergipe. A relação sólidos solúveis/acidez total titulável (SS/ATT) obtida foi de 55,25. Segundo Arévalo-Pinedo et al. (2013), o alto valor dessa relação indica o alto grau de doçura da polpa, o que mostra a grande possibilidade do seu uso na fabricação de geleias e doces. Pereira (2011) encontrou uma relação SS/ATT de 41,92 para a polpa de araticum (Annona crassiflora Mart.), valor adequado tanto para o consumo in natura como para o processamento. O valor médio encontrado para a porcentagem de fibras brutas da polpa de atemóia foi de 1,40±0,27 % (Tabela 3). Na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos da Unicamp (TACO, 2011), o teor de fibra alimentar fornecido para a polpa de atemóia é de 2,10 %. Entretanto, não há na literatura estudos relacionados à determinação de fibras brutas em polpa de atemóia. Os teores de açúcares redutores e açúcares totais da polpa foram de 12,66±1,06 e 13,82±0,94 % (Tabela 3), respectivamente. Esses valores se encontram abaixo dos obtidos por Orsi et al. (2012), que foi de 21,93±0,15 %, tanto para açúcares redutores quanto para totais. Entretanto, segundo Nascimento et al. (1991 apud Hansen, 2008), os atributos de qualidade obtidos na caracterização de frutos em níveis regionais podem sofrer influência do clima, solo, tratos culturais e estádio de maturação. O teor de pectina tem relação com a consistência ou textura dos frutos, influenciando sua conservação, sendo importante na matéria-prima destinada à indústria, principalmente para elaboração de geleias, pois constitui um dos seus componentes básicos e fundamentais, responsável por conferir ao produto aspecto agradável e palatabilidade (Chitarra & Chitarra, 2005). Devido à força da pectina encontrada na polpa da atemóia ser fraca, a adição de pectina industrializada na formulação foi indispensável, pois as pectinas possuem grande capacidade para formar géis e são utilizadas, na indústria de alimentos, como geleificantes. A capacidade de geleificação é fortemente influenciada pelo grau de metoxilação (Souza, 2007). A geleia de atemóia foi elaborada de forma a obedecer todos os parâmetros necessários para que se obtivesse um produto de qualidade, e foi verificado que, tanto o valor de ph quanto o teor de sólidos solúveis ( Brix) ficaram de acordo com os padrões

estabelecidos pela Legislação (Brasil, 1990) para a produção de geleias. A Figura 3 mostra a geleia de atemóia pronta e envasada. Figura 2- Geleia de Atemóia. O processamento de geleias pode apresentar problemas que provocam defeitos no produto final e que são, muitas vezes, detectados visualmente por operadores treinados. Porém, é sempre necessário efetuar a determinação do teor de sólidos solúveis, da acidez livre, do ph, da porcentagem de inversão do açúcar e do grau de geleificação, a fim de confirmar a falha ocorrida no processamento (Lopes, 2007). A partir da geleia de atemóia pronta, verificou-se que a textura não estava adequada. A quantidade de pectina depende muito da qualidade da pectina da fruta. Geralmente, 1% de pectina é suficiente para produzir uma geléia firme (Torrezan, 1998). A quantidade de pectina adicionada (1%) na geleia de atemóia não foi suficiente, desta maneira, para uma próxima formulação a ser preparada, será necessário adicionar mais pectina para que a geléia adquira uma maior firmeza em sua consistência. 4. CONCLUSÃO Conlui-se que a fruta atemóia, ainda pouco conhecida, porém com qualidade nutricional satisfatória, justifica maiores esforços de se estudar o seu potencial industrial, havendo grande possibilidade da sua utilização na fabricação de geleias e doces.

5. REFERÊNCIAS ARÉVALO-PINEDO, A.; CARNEIRO, B. L. A.; ZUNIGA, A. D. G.; ARÉVALO, Z. D. S.; SANTANA, A. A.; ARÉVALO-PINEDO, R. Alterações físico-químicas e colorimétricas de geléias de araticum (Annona crassiflora). Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v. 15, n.4, 2013. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretária de Vigilância Sanitária. Aprova Normas Técnicas Especiais do Estado de São Paulo, relativas a alimentos e bebidas. Resolução da Comissão Nacional de Normas e Padrões para Alimentos CNNPA n. 12, de 24 de julho de 1990. Seção I, pt I. CECCHI, H. M. Fundamentos teóricos e práticos em análise de alimentos. Campinas: Editora Unicamp, 2003. CHITARRA, A. B.; ALVES, R. E. Tecnologia pós-colheita para frutas tropicais. Fortaleza: FRUTAL-SINDIFRUTA, 2001. 314 p. CHITARRA, M. I. F.; CHITARRA, A. B. Pós-colheita de frutas e hortaliças: fisiologia e manuseio. Lavras: UFLA, 2a, 2005, 785p. CRUZ, L. S. Caracterização física e química da casca, polpa e semente de atemoia Gefner. 2011. 63 f. Dissertação (Mestrado em Agroquímica e Agrobioquímica) Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2011. HANSEN, D. S.; SILVA, S. A.; FONSECA, A. A. O.; HANSEN, O. A. S.; FRANÇA, N. O. Caracterização química de frutos de jenipapeiros nativos do recôncavo baiano visando ao consumo natural e industrialização. Rev. Bras. Frutic., Jaboticabal, v. 30, n. 4, 2008. KISS, J. Estranhas no ninho. Globo Rural, ed. 2010, abr. 2003. Disponível em: <http://www.revistagloborural.globo.com/editoraglobo/componentes/article/edg_article_print/...>. Acesso em 04 agosto de 2014.

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