Parasitismo gastrintestinal e seu controlo em asininos e híbridos estabulados. Gastrointestinal parasites and its control in stabled donkeys and mules



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R E V I S T A P O R T U G U E S A DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS Parasitismo gastrintestinal e seu controlo em asininos e híbridos estabulados Gastrointestinal parasites and its control in stabled donkeys and mules L. M. Madeira de Carvalho 1 *, L. Gomes 1, M. Cernea 2, C. Cernea 2, C. A. Santos 1, N. Bernardes 1, M. A. Rosário 1, M. J. Soares 1, I. Fazendeiro 1 1 Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde Animal, Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa (TULisbon) Avenida da Universidade Técnica, 1300-477 Lisboa 2 Universitatea de Stiinte Agricole Si Medicina Veterinara Cluj-Napoca, Facultatea de Medicina Veterinara, Roménia Resumo: Os asininos e os muares são cada vez mais utilizados em actividades lúdico-ocupacionais. Neste trabalho pretendeu-se avaliar o seu grau de parasitismo em animais residentes na Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa e o seu controlo através de uma desparasitação no Outono. Os asininos foram examinados em 2001-05 e os muares em 2001-02, para avaliação mensal do parasitismo gastrintestinal através de métodos coprológicos qualitativos, quantitativos para determinação do nº ovos/g de fezes (OPG) com câmara de McMaster e coproculturas para obtenção de larvas infectantes ((L3). Em Outubro de 2004 desparasitaram-se os asininos com ivermectina (Eqvalan ) e a sua eficácia foi avaliada pelos Teste de Redução da Contagem de Ovos Fecais e do Período de Reaparecimento de Ovos, até Maio de 2005. Em 2001-05 foram estabulados 8 asininos (média de 3 animais/ano), com uma prevalência de 100% para Strongylidae e Trichostrongylus axei. Nestes foram ainda assinalados animais positivos para Parascaris equorum (N=1) e oocistos de Eimeria sp. (N=1). Os níveis de OPG de estrongilídeos variaram entre 200 e 2000 OPG. Os asininos apresentaram três picos de eliminação de ovos, na Primavera, Verão e Outono. Os dois muares examinados em 2001-02 estavam infectados com estrongilídeos também, com um pico de OPG na Primavera. A desparasitação estratégica efectuada com ivermectina em Outubro de 2004 teve uma eficácia de 100% no TRCOF e o PRO foi de 8 meses, permanecendo inferior a 200 OPG até Maio de 2005, sendo um método que revelou eficácia no controlo dos estrongilídeos intestinais. Palavras-chave: Equus asinus, parasitismo gastrintestinal, estrongilídeos, epidemiologia, controlo, ivermectina. Abstract: Donkeys and mules are often used in leisure and occupational therapy. This work aimed an evaluation of parasitic levels of these animals at the Faculty of Veterinary Medicine, Technical University of Lisbon and its control with a strategic deworming in the Autumn. In 2001-05 for donkeys and in 2001-02 for mules, a monthly evaluation of the gastrointestinal parasites was performed, based in qualitative and quantitative coprology for egg counting /g of * Correspondência: madeiradecarvalho@fmv.utl.pt faeces (EPG) with McMaster slide and faecal cultures to obtain infective larval stages (L3). In October 2004 donkeys were dewormed with ivermectin (Eqvalan ) and its efficacy was evaluated through the Faecal Egg Count Reduction Test and the Egg Reappearance Period till May 2005. During 2001-05, 8 donkeys were stabled (average 3 animals/year), with a prevalence of 100% for Strongylidae and Trichostrongylus axei. These were also infected with Parascaris equorum (N=1) and Eimeria sp. oocysts (N=1). Strongyle average EPG counts were low in the first two years of study, 200 eggs/g, reaching 2000 EPG in 2004. These donkeys showed three peaks of egg shedding, in Spring, Summer and Autumn. The two mules examined in 2001/2002 were infected with Strongyles too, showing an EPG peak in the Spring. The strategic deworming performed in October 2004 with ivermectin showed an efficacy of 100% in the FECRT of strongyle eggs and the ERP was 8 months, since EPG levels remained lower than 200 EPG until May 2005, being effective in the control of intestinal strongyles. Keywords: Equus asinus, gastro-intestinal parasites, strongyles, epidemiology, control, ivermectin. Introdução Os vestígios arqueológicos mais antigos sobre a presença dos asininos (Equus asinus) em Portugal datam do Paleolítico e desde que há registos históricos é reconhecido o papel importante que estes equídeos têm desempenhado na agricultura e no transporte de bens e pessoas, chegando a atingir um efectivo de cerca de 300 000 animais no nosso País (D'Andrade, 1939). No entanto, as alterações sócio-económicas ocorridas em Portugal nos últimos 100 anos (nomeadamente na agricultura e pecuária de subsistência), levaram à redução das populações de equídeos, estimando-se um total de 96 471 animais no Recenseamento Geral da Agricultura de 1999. Os asininos, muitas vezes considerados os parentes pobres dos cavalos, atingiram o auge nos anos 1930 com mais de 275 000 animais recenseados, mas foram votados ao abandono e algumas das suas raças estiveram quase à beira da extinção, 225

como aconteceu com a Raça de Miranda, totalizando nos últimos arrolamentos de gado cerca de 40 000 burros (Valério, 2001; INE, 2001). Situação semelhante aconteceu com os híbridos, até porque o decréscimo destes equídeos acabou por ser em grande medida consequência da diminuição dos equídeos em geral e em particular dos factores que promoveram a diminuição dos asininos (Sousa e Martins, 2005; SNC, 2006). Os asininos são equídeos pouco estudados no nosso País, e embora sejam menos utilizados como animais de transporte e tracção, é cada vez maior a sua apetência como animais de companhia, na terapia ocupacional (asinoterapia), em actividades eco-turísticas e inclusive como modelos para o ensino Médico-Veterinário. No entanto, pouco se sabe relativamente à susceptibilidade dos burros às infecções parasitárias e ao seu controlo com diferentes anti-helmínticos. Este último conhecimento é importante, pois a sua fármaco-cinética não será forçosamente igual à dos cavalos, não só por razões que se prendem com a sua fisiologia, mas também com o tipo de alimentação e trânsito intestinal, regime de criação/produção e maneio higio-sanitário (Lloyd, 1997). Na Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa (FMV/UTL) os asininos residentes (2-3 animais/ano) estão sujeitos a vários tipos de esforços e manipulação durante as aulas, pelo que o seu estado sanitário é avaliado regularmente, nomeadamente em relação às parasitoses cutâneas e gastrintestinais. O estudo efectuado na FMV/UTL teve como principais objectivos a avaliação regular da composição e do nível de parasitismo gastrintestinal, dos factores que podem concorrer para uma maior infecção parasitária destes hospedeiros e da monitorização da eficácia do esquema de controlo anti-helmíntico instituído. Atendendo ao crescente interesse na criação de asininos em Portugal e à sua procura como animais de companhia, os dados obtidos sobre a epidemiologia e controlo das parasitoses gastrintestinais em burros e híbridos estabulados na FMV/UTL, permitirão a sua aplicação noutros sistemas de maneio idênticos e a ampliação dos conhecimentos desta linha de trabalho, com consequências na melhoria do Bem-Estar destes equídeos no nosso País. Material e métodos Foram examinados na FMV/UTL um total de oito asininos estabulados de raça cruzada (Europeia X Africana), com idades que variaram entre 5 a 15 anos, de 2001 a 2005, com um número médio de 3 asininos/ano, utilizados em aulas práticas de diferentes disciplinas e eram exercitados com regularidade semanal no perímetro exterior aos estábulos, para manutenção de bons níveis de Bem-Estar Animal. Estes animais encontravam-se estabulados individualmente em sistema de baia ou box (de acordo com a disponibilidade de espaço resultante do movimento de casos clínicos de equídeos), eram alimentados com palha e feno duas vezes por dia e as suas camas eram compostas também por palha (Figuras 1 e 2). Entre Novembro de 2001 a Junho de 2002, dois híbridos (mulas) que estavam estabulados na FMV/UTL para trabalhos de natureza genética, mas com o mesmo sistema de maneio, foram também avaliados relativamente ao nível de parasitismo gastrintestinal. De acordo com Thienpont et al. (1986) e Madeira de Carvalho (2001) foram efectuadas colheitas mensais de amostras fecais e os métodos coprológicos qualitativos (método de flutuação com solução saturada de açúcar com densidade 1,20-1,25), quantitativos (método de McMaster para determinação do nºovos/g com um limiar de 50 OPG) e coproculturas para obtenção de larvas infectantes (L3). Foram calculadas as médias mensais e por estação do OPG para estudo da variação sazonal das populações de estrongilídeos. Determinou-se a prevalência (nº de parasitados/nº examinados) dos vários géneros e/ou espécies para o total de hospedeiros examinados (8 asininos e 2 muares) e para o total de culturas efectuadas (24 nos Figura 1 e Figura 2 - Fêmea e macho adultos de asinino nas condições de estabulação do estudo. 226

asininos e 7 nos muares) de acordo com Bush et al. (1997). Foram identificados os diferentes géneros e espécies no total de larvas infectantes (L3) observadas nos asininos (2679 L3) e nos híbridos (1771 L3), para determinação da abundância proporcional (percentagem de ocorrência) de acordo com Bello (1990) e Eydal e Gunnarsson (1994). A identificação dos géneros e espécies de L3 foi realizada com base no número de células intestinais segundo Madeira de Carvalho (2001). Após o estudo epidemiológico dos 3 primeiros anos, procedeu-se a uma desparasitação estratégica com ivermectina (Eqvalan Pasta Oral) em Outubro de 2004, anti-helmíntico que foi seleccionado devido à sua eficácia e segurança já testadas noutros trabalhos com asininos (Bliss et al., 1985). No presente trabalho, a sua eficácia foi avaliada até Maio de 2005 através do Teste de Redução de Contagem de Ovos Fecais (TRCOF, em que é calculada a percentagem de redução do OPG médio entre o dia 0 (X 0 ) e o dia 14 (X 14 ) após a desparasitação, através da fórmula: %Redução = 100(1-(X 14 -X 0 )) e do Período de Reaparecimento de Ovos (PRO, ou seja, o tempo que medeia entre o momento da desparasitação e o momento de reaparecimento de ovos de estrongilídeos com níveis de OPG 200), de acordo com Coles et al. (1992), Borgsteede et al. (1993) e Madeira de Carvalho (2001). A análise estatística descritiva dos dados foi efectuada com o programa Excel do Microsoft Office 2003. Resultados No período de 2001-05 foram estabulados no total 8 asininos adultos (média de 3 animais/ano), os quais apresentaram uma prevalência de 100% para o parasitismo por Strongylidae e Trichostrongylus axei. Nestes equídeos foram ainda assinalados ovos de Parascaris equorum (N=1) e oocistos de Eimeria sp. (N=1) (Figura 3). Os 2 híbridos examinados entre 2001-2002 apresentaram apenas ovos de Strongylidae. Estas formas parasitárias foram as mais observadas em qualquer amostra positiva (Figura 4). A contagem de ovos de estrongilídeos nos asininos permitiu verificar que nos dois primeiros anos do estudo os níveis foram baixos, média de 200 OPG. Todavia, fruto da renovação do grupo de asininos e introdução de animais novos, o nível médio mensal de OPG subiu para cerca de 1000 OPG a partir de 2003 e para valores superiores a 2000 OPG em 2004, ano em que algumas contagens excederam 4000 OPG (Figuras 5 e 6). O cálculo do nível médio mensal de ovos/g permitiu verificar que os asininos estabulados apresentaram três picos de eliminação de ovos, um na Primavera (em Maio), outro no Verão (em Agosto) e um terceiro no Outono (em Novembro), sendo o pico estival o mais elevado (Figuras 7 e 8). Os 2 híbridos examinados apresentaram apenas eliminação fecal de ovos de estrongilídeos, com um pico primaveril mais marcado (Figura 9). Figura 3 - Número global de animais positivos num total de 8 asininos e 2 muares examinados. Figura 4 - Aspecto de um campo microscópico com ovos de Strongylidae numa amostra fecal com elevado nível de OPG (ampliação 100X). Original. Figura 5 - Níveis médios de OPG por ano da população de asininos (os desvios das barras representam o erro padrão da média). Figura 6 - Níveis de OPG em asininos (Maio de 2001 a Junho de 2005). 227

Figuras 7 e 8 - OPG médios mensal e por estação em asininos estabulados (2001-04). Figura 9 - Níveis de OPG em burros e híbridos (mulas) (Novembro de 2001 a Junho de 2002). Ainda que nem sempre tenha sido possível efectuar contagens individuais, verificámos nalguns períodos que alguns dos animais, em particular nos asininos, eram claramente mais eliminadores de ovos que os restantes, nomeadamente as fêmeas mais velhas. Este foi o caso de alguns registos de 2004, previamente à desparasitação, em que as fêmeas analisadas apresentaram níveis de OPG entre 2350 e 9050, muito acima dos níveis médios atingidos entre 2001 e 2003. Quer ao nível de amostras positivas, quer na abundância proporcional, os asininos revelaram uma maior diversidade de géneros e espécies de L3 de estrongilídeos nas coproculturas. Globalmente, os asininos estudados foram todos positivos para L3 de Strongylidae e Trichostrongylus axei. Os muares apresentavam-se parasitados exclusivamente por L3 de Strongylidae (Figura 3). No entanto, nem sempre as culturas foram positivas e no caso dos asininos (com 24 culturas positivas) é de destacar a prevalência elevada de L3 de Cyathostomum s.l., Strongylus vulgaris e Trichostrongylus axei, as quais foram positivas para 79,2% das mesmas. Nos híbridos (com 7 culturas positivas), o género Cyathostomum s.l. e a espécie Strongylus vulgaris foram os mais prevalentes, com 100 e 57%, respectivamente (Figura 10). Ao nível da abundância proporcional, o género Cyathostomum s.l. foi o mais assinalado em ambos os grupos de equídeos, embora nos asininos seja notável a elevada presença de L3 de T. axei, ficando patente nos burros uma maior biodiversidade de géneros e espécies deste grupo de helmintes (Figura 11). A identificação das larvas infectantes foi baseada na observação de L3 a fresco ou coradas com soluto de lugol e para os géneros/espécies de Strongylidae mais importantes neste trabalho, todas apresentavam uma cauda da bainha longa e um número variável de células intestinais: Cyathostomum spp. com 8, Triodontophorus spp. 18-20 e Strongylus vulgaris 28-32. Trichostrongylus axei apresentava uma cauda da bainha curta e 16 células intestinais, sendo no entanto um nemátode Trichostrongylidae (Figuras 12 a 15). Figura 10 - Prevalência (%) de géneros e espécies (L3) isoladas nas coproculturas de burros (N=24 culturas) e híbridos (N=7 culturas). Figura 11 - Abundância proporcional média (%) de géneros e espécies de L3 mais abundantes em burros (N=2679 L3) e em híbridos (N=1771 L3). (T. axei Trichostrongylus axei; Cyathos Cyathostomum s.l.; Poterios. Poteriostomum spp.; O. robu. Oesophagodontus robustus; S.eden. - S. edentatus; Triod. spp. Triodontophorus spp.; S. vulg. Strongylus vulgaris). 228

Figura 12 - Algumas larvas infectantes (L3) de nemátodes Strongylidae e Trichostrongylidae representativos das culturas fecais estudadas A) Cyathostomum sp.; B) Triodontophorus sp.; C) Strongylus vulgaris; D) Trichostrongylus axei. (Originais, 12 e 13 ampliações de 200 X. 14 e 15, ampliação de 100 X). A desparasitação estratégica dos burros realizada com ivermectina em Outubro de 2004 teve uma eficácia média de 100% na eliminação de ovos de nemátodes gastrintestinais após 15 dias e durante 4 meses. O PRO determinado foi de 8 meses, pois o nível médio de OPG permaneceu inferior a 200 ovos/g até Maio de 2005, mesmo após o seu reaparecimento em Março (Figura 16). Assim, verificou-se um decréscimo acentuado do nível médio de OPG em 2005 (cerca de 30 ovos/g), quando comparado com os níveis de OPG de 2001 a 2004, que oscilaram entre 200 e 2000 OPG (Figura 4). Figura 16 - Níveis de OPG após desparasitação com Ivermectina Pasta Oral (IVM, Eqvalan Pasta Oral) em Outubro 2004 e sua evolução em 2005. Discussão A análise dos resultados permitiu verificar que estes equídeos, ainda que estabulados, podem apresentar níveis de parasitismo por vezes elevado, principalmente por estrongilídeos intestinais e Trichostrongylus axei. Estes dados vieram confirmar observações previamente efectuadas nos asininos da FMV na década de 1990 e confirmam a necessidade de um acompanhamento regular dos níveis de parasitismo, mesmo em animais estabulados. Com ligeiras diferenças, os resultados aproximam-se de outros entretanto obtidos em populações de asininos no Centro e Norte do País, com 80% e 87% de burros parasitados, respectivamente (Madeira de Carvalho, observações pessoais, 2001; Gonçalves et al., 2005; Sousa et al., 2005). Os equídeos apresentam uma variação sazonal do número de ovos estrongilídeos eliminados nas fezes, com níveis máximos observados na Primavera e Verão/Outono, que é independente da raça, gravidez ou lactação e muito associado ao ciclo endógeno dos ciatostomíneos (Herd, 1986). Assim, o pico primaveril de OPG dos asininos pode ser explicado pela saída de larvas de ciatostomíneos após hipobiose Outono/ Invernal e o estival pode ser consequência do seu 229

retorno à pastagem durante os meses de Julho ou Agosto, com consequente reinfecção e período-prépatente mais curto das formas ingeridas no Verão, conforme está bem esclarecido nos cavalos (Monahan, 2000). Na realidade, o aumento progressivo registado no nível de OPG poderá também ser consequência da renovação do grupo de asininos e da introdução de animais parasitados, pelo que a monitorização regular dos efectivos permite assinalar os animais que entram na exploração infectados e através dos níveis de OPG podemos estabelecer épocas mais adequadas para a sua desparasitação, sendo este procedimento especialmente indicado para o controlo dos ciatostomíneos (Reinemeyer, 1999; Madeira de Carvalho, 2001). No entanto não se deverá esquecer que estes são animais de trabalho, submetidos a maior esforço durante certos períodos do ano, nomeadamente em épocas de maior manipulação, como sejam as épocas preparatórias dos exames de fim de semestre, as quais poderão constituir períodos de maior stress para os asininos e contribuir para uma maior susceptibilidade às parasitoses, situação já verificada em Portugal em cavalos durante os períodos de mais trabalho e desbaste (Agrícola, 1999; Gersão e Madeira de Carvalho, 2005). Relativamente às L3 de estrongilídeos, as de Cyathostomum s.l. com 8 células intestinais foram predominantes quer nos asininos, quer nos híbridos, confirmando a importância crescente dos estrongilídeos da subfamília Cyathostominae nos equídeos em Portugal (Madeira de Carvalho et al., 2002). Por outro lado, Trichostrongylus axei e Strongylus vulgaris também foram muito frequentes nos asininos, sendo espécies com um potencial patogénico elevado e que tendem a aparecer mais frequentemente quando não há um esquema de desparasitação regular com avermectinas (Madeira de Carvalho et al., 2003). T. axei constitui um caso peculiar, porque embora seja um parasita comum a ruminantes e equídeos, os asininos regra geral parecem ser mais susceptíveis a este parasita, pois inclusive em situações de pastoreio misto com ruminantes, equinos e asininos, este últimos apresentam sempre maior grau de parasitismo por este tricostrongilídeo (Madeira de Carvalho, 2001). A desparasitação estratégica com ivermectina no Outono revelou uma eficácia de 100% e manutenção de baixos níveis de OPG durante 8 meses, podendo constituir-se como uma boa abordagem ao controlo das helmintoses gastrintestinais dos asininos neste regime de estabulação ou idêntico. De resto, estes resultados podem ser comparáveis aos de outro ensaio com asininos, com 92% de eficácia ao fim de 14 dias de desparasitação, manutenção de níveis de OPG baixos durante 7 meses e uma melhoria de 14% da sua condição corporal (Bliss et al., 1985). Além destes dados, verificámos que alguns asininos parecem ser mais predispostos para a infecção com estrongilídeos, em particular as fêmeas e com idades avançadas. Para além do programa de desparasitação instituído, estes animais com níveis de OPG mais elevados são potenciais candidatos para um controlo anti-helmíntico através de desparasitação selectiva, ou seja, dirigida apenas para os asininos com maior eliminação fecal de ovos de estrongilídeos, pois irão ser os principais responsáveis pela contaminação ambiental com formas parasitárias (Trawford, 2004). A concluir, este primeiro estudo permitiu identificar os nemátodes da família Strongylidae e o Trichostrongylus axei como os parasitas gastrintestinais mais frequentes nos asininos em estabulação. Neste sistema de maneio verificou-se também que as épocas de maior risco de infecção destes hospedeiros são a Primavera e o Verão, dado o elevado nível de OPG demonstrado nestas épocas. Com base nesta informação e para o sistema de maneio estudado, a desparasitação estratégica dos asininos em Outubro com ivermectina revelou uma eficácia elevada durante pelo menos 8 meses, podendo constituir um programa de controlo anti-helmíntico adequado ao reduzir a população parasitária até um limite mínimo aceitável sem implicações para a saúde e bem estar do animal. Agradecimentos O trabalho foi financiado pelo CIISA/FMV/UTL, Projecto CIISA 8. Estrongilidose. Agradecimentos à Merial Portuguesa e à Dra. Ana Leal Barata Moura pela cedência dos anti-parasitários usados neste ensaio. 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