Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP Instituto de Artes Pós Graduação em Multimeios Disciplinas: AM540 AM601 Professor: José Armando Valente Mestrando: Flaminio de Oliveira Rangel Data: 1º sem. - 2002 RESENHA DO LIVRO A UTILIZAÇÃO EDUCATIVA DAS IMAGENS DE ISABEL CALADO 1. O objetivo desta breve apresentação de alguns capítulos do livro de Isabel Calado é destacar, segundo o ponto de vista da autora, as particularidades da comunicação visual em geral e sua importância neste contexto educacional em transformação. Espero, com isto, estar contribuindo para a construção de imagens mentais das possíveis interfaces entre a antropologia visual e a pedagogia dentro deste movimento de mudanças de paradigmas que vivemos. 2. O contexto em que a obra foi escrita e alguns olhares prévios: a. Portugal 1994 b. Processo de pressões e mudanças na escola portuguesa: novas tecnologias e formas diferentes de aprendizagem; cobrança de uma nova postura do educador, necessidade de novas diretrizes teóricas, etc. c. O interesse pelo tema da Comunicação, em particular pelos chamados fenômenos de massa, se deve a três fatores básicos: o antropológico na medida em que os media geram novas formas de convivência entre os povos, novos modos de estar, agir e de pensar ; o político-econômico na medida em que o controle da comunicação associa-se à questão do poder na sociedade e o escolar na medida em que na escola ocorre um intenso fluxo comunicacional. Eu acrescentaria o fator pedagógico-epistemológico na medida em que novos processos de aprendizagem e de construção do conhecimento estão se dando na escola e fora dela. d. No tempo sócio-cultural em que vivemos as imagens assumem um lugar de destaque e ocorre um processo de mudança de comunicação mediatizada e fortemente visual.
e. O poder da imagem: CONVENCER e COMOVER fundamental na aprendizagem f. Imagem enquanto objeto e intermediária de aprendizagem. g. Circuitos de informação e diversão fora da escola interferem no fluxo comunicacional escolar de tal forma que o enchem de imagens. Conflito comunicacional que vive a escola que se vê obrigada a disputar com os meios de comunicação e adaptar-se às novas formas de construção do conhecimento. 3. As características da linguagem visual: a. Espacial. b. Global. c. Sistema de representação espacial e atemporal. d. Implica um ponto de vista. e. Estruturalidade. f. Forte componente analógica g. As imagens são regidas pelas leis infralógicas. Lei da justaposição: a proximidade implica causalidade Lei da não-transitividade: não vale a relação se A-B e B-C então A-C. Lei dos níveis: a ordem próxima é independente da ordem longínqua. Lei do choque-cor: a maior saturação cromática dos elementos confere-lhes uma maior importância Lei da dominância: a maior grandeza dos elementos confere-lhe um maior valor/superioridade. Lei da proximidade: o que está longe é menos importante que o que está perto. Lei da insistência: se A diz a mesma coisa que B, B a mesma coisa que C e C a mesma que D, a verdade do que é dito por A sai reforçada. h. A sintaxe visual é não-prescritiva: a estruturação/sintaxe da linguagem visual não tem um caráter prescritivo, rígido. Não tem uma feição absoluta. É bem certo que nem no âmbito da linguagem verbal essa prescrição é totalmente rígida, já que existe nela um leque de possibilidades que pode ser explorado; seja como for, esse leque é muito restrito, se comparado com o existente no campo da linguagem visual. Obs: Se as regras de estruturação das relações entre os elementos visuais diferem tanto da estruturação lógica com que estamos habituados a
pensar as relações, devemos prestar a esse fato especial atenção. Caso não o façamos, e expostos que estamos todos (e os nossos alunos em especial) à visão de imagens, corremos os risco de deixar que se desenvolva (de nós para conosco mesmos e entre nós/professores e os alunos/jovens) uma contradição bloqueadora entre duas formas de pensamento (de representação mental). 4. Em estudo de caso: 1990, Portugal, professores do ensino médio, zona urbana (Coimbra) 358 pessoas. Procuravam-se eventuais tipologias escondidas. Imagens utilizadas: modelos tridimensionais, fotografias, diapositivos, desenhos não geométricos e imagens gráficas. Questionário: o Quais são, globalmente, as imagens materiais e fixas mais usadas na sala de aula? o Em que contextos letivos surge, preferencialmente, o recurso à linguagem visual? o Quais as funções ou objetivos de comunicação que a imagem serve mais freqüentemente? o Quais os aspectos positivos e negativos que o professor reconhece na imagem pedagógica e quais pesam mais no juízo que faz sobre a sua utilização? As doze funções ou objetivos de comunicação considerados: o Função expressiva: transmite o locutor, mais que a informação contida na mensagem. o Função persuasiva: motivação e convencimento. o Função poética: associada ao prazer do texto icônico. o Função representativa: reforça as informações mais importantes o Função organizadora: dá aos conteúdos maior coerência. o Função interpretativa: maior inteligibilidade o Função transformadora: modificam a informação. o Função decorativa. o Função memorizadora. o Função de complemento: acrescenta, aos conhecimentos já adquiridos, outros que vêm a propósito.
o Função dialética: contradições entre mensagem produzida e mensagem recebida o Função substitutiva: aparecem nas imagens que não partilham a transmissão da mensagem com outras linguagens e que não pressupõem a transmissão anterior, sincrônica ou posterior dessa mensagem de uma forma verbal. Fator 1: gráficos e desenhos não geométricos, funções organizacional, interpretativa e transformadora. Monossemia-denotação = recodificação/racionalidade-abstração Fator 2: diapositivos, fotografias, funções: poética, complemento, persuasão=motivação, dialética, representacional. Denotação = figuratividade/conotação-polissemia/persuasão-envolvimento. 5. Para uma promoção das imagens à condição educativa Há um domínio de competências específicas associado à utilização da linguagem visual. Conhece-lo é contribuir para o sucesso da comunicação pedagógica. Exige-se um acréscimo quantitativo e qualitativo da investigação sobre a imagem. Uma pedagogia ativa é a adequada à utilização escolar da linguagem visual. A carga conotativa das imagens obriga a que a verdadeira comunicação aconteça. Em que era da imagem se encontra a escola? Poderia a escola ser uma espécie de vanguarda da 3ª era da imagem (na qual, segundo Moles, já estamos)? Fornecer ao aluno os conhecimentos necessários para uma leitura consciente das imagens. Só o acesso dos alunos aos diferentes sistemas de representação, às diferentes mídias, os ajudará a entender de onde retira a mensagem ou seu sentido: dos códigos, dos contextos e também das tecnologias. A imagem pode ainda ser utilizada como veículo de desenvolvimento das formas de expressão verbal. A usarem a imagem (as mídias em geral) os educadores devem ter em conta as questões de percepção, de comunicação e de aprendizagem. A diversificação das linguagens escolares não deve ser encarada do ponto de vista da facilitação. A imagem é tão exigente quanto qualquer outro sistema de representação.
70 60 Imagens Usadas % REspostas afirmativas 50 40 30 20 Modelos Tridimensionais Diapositivos Fotografia Desenhos Geométricos Gráficos OPutras Imagens 10 0 todas ou quase > 50% 50% < 50% e > 25% < 25% Quase nunca Nunca Uso nas aulas
% Respostas afirmativas 90 80 70 60 50 40 30 20 10 Funções Associadas às Imagens Motivar, envolver Tornar compreensível Reelaborar Documentar Memorizar Novos aspectos Evocações Interligar Aspectos ocultos Dispensar a palavra Aula + atraente 0 Objetivos no uso da imagem
100 90 Contexto do uso das imagens 80 % de afirmativas 70 60 50 40 30 20 10 0 Novos assuntos Expositivo-interrogativas Sintese Expositivas Aplicações práticas Trabalho em grupo Revisão Avaliação Outros Tipos de aulas