Avaliação do grau de polimerização de duas resinas compostas utilizando luz halógena e dois diferentes tipos de LEDs



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Transcrição:

RPG Rev Pós Grad 2005;12(4):474-80 Avaliação do grau de polimerização de duas resinas compostas utilizando luz halógena e dois diferentes tipos de LEDs ANDRÉ RUBIO DE SOUZA*, MICHEL NICOLAU YOUSSEF**, MIRIAM LACALLE TURBINO***, FERNANDA BERNARDO DE MELLO**** * Mestre em Dentística pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. ** Professor Assistente do Departamento de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. *** Professora Doutora do Departamento de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. **** Cirurgiã-Dentista pela Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo. RESUMO O objetivo deste estudo foi avaliar o grau de polimerização, por meio da microdureza Vickers, de duas resinas na cor A2 (Filtek Z250 e Solitaire 2). Para isso, foram utilizadas três diferentes fontes fotopolimerizadoras: XL 2500 (3M - fonte halógena), Ultrablue I (DMC - LED 1) e Ultrablue IS (DMC - LED 2). Foram confeccionados 30 moldes cilíndricos de policetal contendo uma cavidade de 3 x 2 mm de altura, que foram restaurados com as resinas em incrementos únicos e polimerizados por 20 s para todas as fontes. Foram realizadas 10 medidas de microdureza em cada corpo-de-prova (5 no topo e 5 no verso). Em seguida, foram feitas as médias dos valores da microdureza obtidas em cada face do corpo-de-prova, em que foi calculada a razão entre os valores obtidos a 2 mm de profundidade divididos pelos obtidos na superfície, obtendo-se assim os valores do grau de polimerização para cada grupo que foram submetidos à análise estatística. A análise de variância mostrou haver diferença estatisticamente significante (no nível de 5%) entre as fontes, entre as resinas e na interação fontes versus resinas. Para comparação entre as médias, foram calculados os valores de Tukey correspondentes que mostraram não haver diferenças significantes no grau de polimerização da resina Filtek Z250 entre a luz halógena e o LED 1, no entanto, houve diferença entre o Endereço para correspondência: André Rubio de Souza Rua Visconde de Itaboraí, 469 - Tatuapé CEP: 03308-050 - São Paulo - SP Tel.: (11) 6193-6584 E-mail: rubio@usp.br LED 1 e o LED 2. Paraa resina Solitaire 2, não houve diferença estatisticamente significante no grau de polimerização entre a fonte halógena e o LED 2, mas houve entre o LED 1 e o LED 2 e também entre a luz halógena e o LED 2. Porém, as únicas fontes de luz que obtiveram grau de polimerização satisfatório (no mínimo 80% do grau de polimerização) foi a fonte halógena e o LED 2 quando polimerizaram a resina Filtek Z250. Pode-se concluir que o LED 1 não polimerizou adequadamente nenhuma das resinas estudadas e o LED 2 teve comportamento semelhante à fonte halógena para as duas resinas. DESCRITORES Polimerização. Resinas Compostas. Canforquinona. Microdureza. Fotoativação. INTRODUÇÃO Um grande avanço para a odontologia restauradora foi o desenvolvimento de resinas compostas que se polimerizam por luz. Antes disso, a cura dos compósitos se dava pela mistura de duas pastas (uma base e um catalisador). Entretanto, esse tipo de polimerização, devido a uma mistura inadequada, poderia ocasionar falhas nas restaurações e, por isso, foi substituída pelos materiais fotoativos 3. A disponibilidade de sistemas resinosos ativados por luz levou ao desenvolvimento de uma variedade de tecnologias para produzir a luz necessária para a cura destes: luz halógena de quartzo-tungstênio, luz de arco de plasma (PAC), laser de argônio e mais recentemente a luz emitida por diodo (LED). O sistema de luz mais utilizado até os dias atuais é a luz halógena de quartzo-tungstênio. Este 474

combina um filamento de tungstênio, um bulbo halógeno, um refletor e um filtro que produzem uma luz azul de 410 a 500 nm. Isso é eficiente para ativar a canforoquinona, sendo necessários de 20 a 60 segundos de cura para incrementos de 2 mm de resina 8. No entanto, esse sistema confere algumas desvantagens: a eficiência da luz gerada tende a diminuir com o uso (isso ocorre porque há uma degradação do filtro dielétrico e do bulbo); alta geração de calor no aparelho, no dente e compósito que pode aumentar a sensibilidade pós-operatória; o tempo de duração dessa lâmpada é pequeno, variando de 40 a 100 horas 7,14. Essas limitações podem resultar na diminuição das propriedades mecânicas das resinas compostas 3. A mais recente tecnologia para gerar os fótons necessários para polimerizar resinas compostas é o uso de luz gerada por LEDs (luz emitida por diodo). A luz desses aparelhos é gerada pelo uso de semicondutores que são gases. Normalmente, usa-se nitrato de gálio que gera a luz azul necessária para a polimerização. Vários artigos têm descrito e avaliado as vantagens da tecnologia do LED quando se compara à luz halógena 1,4,7,8,11,12,14,15,18. A luz emitida por diodos tem comprimento de onda entre 450 a 490 nm com um pico de 470 nm. Essa cadeia de energia é ideal para ativar materiais que possuem a canforoquinona como fotoiniciadores porque coincidem com sua curva de absorção de luz 6. Além disso, os aparelhos de LED requerem menos energia para operar e, portanto, geram pouco calor 6. As luzes do LED podem durar mais de 1.000 horas, enquanto as halógenas duram no máximo 100 horas. Também, como o aparelho não usa filtros nem bulbos que são degradados quando são usados na luz convencional, a intensidade de luz não diminui conforme seuuso 7. Porém, vários estudos têm mostrado que a eficiência de cura das resinas compostas depende do tipo de aparelho de LED utilizado 8, do compósito usado 14 e pode, em alguns casos, ter a profundidade de cura diminuída quando se compara com a luz halógena 11. Algumas resinas, entretanto, contêm coiniciadores adicionados a canforoquinona, o que faz com que absorvam luz em um comprimento de onda mais curto que esta. Essas resinas demonstraram ter propriedades mecânicas inferiores às que têm somente canforoquinona em sua composição quando se utiliza aparelhos de LED 10,15. No entanto, a maioria dos aparelhos, que usam LED para polimerizar compósitos utilizados até hoje, possui de 7 a 64 lâmpadas para possibilitar uma intensidade de luz satisfatória para se obter a cura 8. Atualmente, existem aparelhos, como o da empresa DMC-Dental, que utilizam um único LED que se propõe a produzir uma intensidade de luz satisfatória para possibilitar a polimerização de compósitos. OBJETIVOS Este experimento foi realizado para averiguar, in vitro, o grau de polimerização da resina composta Filtek Z250 (3M) e da Solitaire 2 (Heraeus Kulzer) por meio da microdureza Vickers, quando se utiliza três diferentes fontes de luz: luz halógena, LED com 7 lâmpadas e LED com uma única lâmpada. MATERIAIS E MÉTODOS Neste experimento, foram utilizadas três diferentes fontes de luz para se polimerizar a resina Filtek Z250 (3M ESPE - lote nº 3XH) e a Solitaire 2 (Heraeus Kulzer - lote nº 130.226), ambas na cor A2. Os fotopolimerizadores utilizados e suas respectivas potências de irradiação foram: XL 2500 (3M ESPE) - fonte de luz halógena (450 mw/cm²) Luz halógena; Ultrablue I (DMC-Dental) - fonte de luz emitida por 7 diodos de 1 W (170 mw/cm²) LED 1; Ultrablue IS (DMC-Dental) - fonte de luz emitida por um único diodo de 5 W (480 mw/cm²) LED 2. Foram utilizados moldes cilíndricos de policetal para possibilitar a confecção das restaurações (a metodologia segue os padrões utilizados no experimento de Dunn e Bush 2, 2002). Esses moldes mediam 2 mm de altura, tendo uma cavidade central com diâmetro interno de 3 mm (Figura 1). Figura 1 - Molde de policetal. 475

Esses moldes foram preenchidos com restaurações em um incremento único. Para tal, foi colocada uma tira de poliéster sob o molde e, em seguida, a resina foi inserida no interior deste até que se completasse toda a cavidade, com o cuidado de não se deixar excesso. Em seguida, outra tira de poliéster foi colocada em cima da resina e uma lâmina de vidro de microscópio foi mantida sobre pressão sobre esse conjunto. Então, a fonte de luz foi colocada sobre a lâmina, com a ponta ativa do fotopolimerizador centralizada no meio do corpo-de-prova, e foi feita a polimerização por 20 segundos em uma intensidade de luz constante para os três diferentes aparelhos de luz (luz halógena a 450 mw/cm², LED 1 a 170 mw/cm² e LED a 480 mw/cm²). Ao término da polimerização, foi feita uma marca com caneta para retroprojeção na superfície que ficou mais próxima à fonte de luz, com a finalidade de se diferenciar as duas faces: topo (superficial) e verso (a 2 mm de profundidade). Dessa forma, obteve-se o corpo-de-prova final que, após ficar armazenado por 24 horas em recipiente fechado e escuro (recipientes pretos de filmes fotográficos), foi submetido aos testes de microdureza (Vickers) no microdurômetro HMV 2000 - Shimadzu com uma carga de 50 g aplicada por 45 segundos (metodologia baseada no experimento de Turbino 13, 1997). Então foram realizadas cinco medidas feitas na superfície dos corpos-de-prova (topo) e a 2 mm de profundidade (verso). Foram, portanto, realizadas ao todo 300 medidas da microdureza, sendo que foram estabelecidos três grupos para a resina Filtek Z250, nos quais se utilizaram as três diferentes fontes de luz. Para cada grupo, foram feitas cinco medições da microdureza em cada corpo-de-prova tanto no topo quanto no verso, das quais obteve-se uma média dos valores obtidos em cada face do corpo-de-prova. O mesmo ocorreu com os três grupos que foram restaurados com a resina Solitaire 2. Portanto, ao todo, foram obtidos 12 diferentes grupos, três para cada resina, eos resultados foram tabelados e submetidos à análise estatística. RESULTADOS Obteve-se 60 médias da microdureza, sendo que 30 valores se referiam à resina Filtek Z250 e 30 valores, à resina Solitaire 2, sendo que, para cada resina, 15 medidas divididas se referiam ao topo e 15, ao verso do corpo-de-prova. Para a análise estatística, os dados das duas resinas foram separados e foi utilizado o software GMC versão 2002. Para avaliar o grau de polimerização das resinas estudadas, foi estabelecida a razão das médias da microdureza obtidas no fundo do corpo-de-prova sobre as obtidas no topo e foram multiplicadas por 100 em todos os grupos. Para esses valores, foi realizada a análise de variância que demonstrou haver diferença estatisticamente significante (p < 5) entre as resinas (F = 377,22) e entre as fontes (F = 42,25) e também na interação resina versus fontes (F = 5,91). O valor de Tukey foi então calculado para possibilitar uma comparação entre as médias. Para o fator fonte, o valor de Tukey (T = 5,29) demonstrou não haver diferença estatística entre a luz halógena (m = 73,67) e o LED 2 (m = 76,47), mas houve sim entre a luz halógena (m = 73,67) e o LED 1 (m = 58,36) e também entre o LED 2 (m = 76,47) e o LED 1 (m = 58,36). Então foi calculado o valor de Tukey (T = 9,26) para a interação entre fonte versus resinas para se avaliar individualmente os grupos (Gráfico 1). 100 80 60 40 20 0 Halógena LED 1 LED 2 Z250 Solitaire 2 Gráfico 1 - Interação resina x fonte (grau de polimerização). Pode-se notar que, para a resina Filtek Z250, não houve resultados estatisticamente significantes para o grau de polimerização entre a luz halógena e o LED 1 e entre a luz halógena e o LED 2. No en- 476

tanto, os resultados foram estatisticamente significantes quando se comparou o LED 1 e o LED 2. Já para a resina Solitaire 2, não houve diferença estatisticamente significante para o grau de polimerização entre a luz halógena e o LED 2, porém a diferença foi significante entre os grupos que utilizaram luz halógena e o LED 1 e também entre o LED 1 e o LED 2. Os valores da interação entre resina versus fonte para o grau de polimerização de ambos os grupos estão também demonstrados no Quadro 1. Quadro 1 Interação resina x fonte (grau de polimerização). F Z250 Solitaire 2 Halógena 86,79 60,56 Led 1 78,77 37,95 Led 2 93,40 59,54 No entanto, os valores expressos em negrito demonstram que apenas a luz halógena e o LED 2 proporcionaram uma polimerização adequada (no mínimo 80% do grau de polimerização) somente para a resina Filtek Z250. Os demais grupos não obtiveram um grau de polimerização adequado. DISCUSSÃO Devido ao crescente aumento do uso dos materiais dentais ativados por luz, os aparelhos fotopolimerizadores se tornaram comuns nos consultórios dentários. O apropriado desempenho desses aparelhos é crucial para otimizar as propriedades físicas dos materiais ativados por luz. Uma inadequada polimerização tem sido associada a propriedades físicas inferiores, alta solubilidade, falhas na retenção e respostas pulpares adversas causadas por monômeros não polimerizados 6.Yearn 19 (1985) sugeriu que aintensidade de luz da fonte de luz deve estar entre 300 a 1.000 mw/cm², sendo que seu comprimento de onda deve estar perto de 470 nm. Sabe-se que o desempenho das luzes halógenas diminui com o tempo se o bulbo, o refletor, a fibra óptica e o filtro não tiverem manutenção adequada. No entanto, a maioria dos cirurgiões-dentistas não está ciente dessa degradação e continua a usar seus aparelhos de luz halógena com desempenho inadequado, o que pode levar a uma ineficiente polimerização. As fontes de luz geradas por LEDs vieram como uma fonte alternativa de polimerização. A literatura sugere que a luz emitida por diodos (LEDs), especificamente LED azul de nitrato de gálio, oferece um efetivo meio de polimerização 4,7. Porém, os resultados, em que os aparelhos de LED obtiveram maior profundidade de cura, só foram possíveis porque a intensidade de luz das fontes halógenas tiveram suas potências de irradiação diminuídas abaixo de 300 mw/cm², para se nivelar à baixa potência de irradiação das fontes que utilizaram LEDs. Alguns experimentos demonstraram que alguns aparelhos de LEDs geraram propriedades mecânicas inferiores às resinas compostas, quando comparadas às obtidas com a luz halógena 5. Leonard etal. 6 (2002) concluíram que, para se obter um grau de polimerização semelhante, as fontes de LED avaliadas necessitam de um tempo muito maior que as fontes halógenas. Os resultados encontrados por esses autores confirmam o que Nomoto 9 (1996) concluiu em seu experimento. Este afirma que a relação entre o grau de conversão e a energia de exposição depende não somente do comprimento de onda da fonte de luz, mas da energia do aparelho fotopolimerizador. Mais recentemente, os sistemas que utilizam LEDs conseguem alcançar irradiações equivalentes ou maiores que a luz convencional (de 400 a 700 mw/cm²) e isso fez melhorar as propriedades mecânicas dos compósitos que usam canforoquinona como fotoiniciadores 8,14,18. Estudos demonstraram também que as resinas compostas que utilizam co-iniciadores, além da canforoquinona, para ativar a polimerização de compósitos (por exemplo: Definite, Solitaire 2), têm comportamento inferior em relação às propriedades mecânicas 14,16. As irradiações das fontes de luz do atual experimento não foram reguladas para se ter potências semelhantes, porque dessa forma tentou-se deixar o trabalho mais próximo da condição real de uso ou do uso clínico. Então, neste experimento, a microdureza foi medida no topo e no verso (2 mm de profundidade) dos corpos-de-prova e, pela razão das médias dos valores obtidos no verso e no topo, obteve-se a porcentagem de polimerização das resinas estudadas. Idealmente, essa porcentagem deveria ser 100%, ou seja, se isso ocorresse, toda a resina até 2 mm de profundidade teria sido polimerizada. Entretanto, estudos prévios 477

idealizaram que 80% seria o valor mínimo requerido para indicar uma adequada polimerização 17. Partindo desse princípio, e observando os resultados da análise estatística, podemos afirmar que, para a metodologia aplicada, somente os grupos da resina Filtek Z250, que foram polimerizados pela luz halógena e pelo LED 2, obtiveram valores do grau de polimerização superiores a 80%, ou seja, somente esses grupos obtiveram o grau de polimerização exigidos para se ter uma adequada polimerização. A análise estatística da interação resina versus fonte do grau de polimerização demonstrou também que o aparelho de LED 1, em relação à resina Filtek Z250, teve comportamento estatisticamente semelhante ao aparelho Halógeno, porém foi estatisticamente diferente do LED 2 (p < 5). No entanto, os dados numéricos apontam que o LED 1 não atingiu o mínimo de 80% de polimerização 17. Portanto, podemos afirmar que o LED 1 não atingiu um grau de polimerização satisfatório para a resina Filtek Z250. Isso provavelmente se deve à menor quantidade de irradiação que esse aparelho produz. Já para a resina Solitaire 2, os dois aparelhos polimerizadores não foram suficientes para produzir um adequado grau de polimerização. No entanto, para essa resina, não houve diferença estatisticamente significante (para a interação do grau de polimerização) entre os grupos da luz halógena e o LED 2, e houve sim entre os grupos da luz halógena e o LED 1 e entre o LED 1 e o LED 2. Conforme esses resultados, podemos afirmar que o LED 1, ou seja, o aparelho que utiliza sete lâmpadas, não polimerizou adequadamente a resina Filtek Z250 e a Solitaire 2. Os resultados quanto ao grau de polimerização encontrados com a utilização do LED 2 para as duas resinas estudadas foram melhores que o LED 1 e de comportamento semelhante ao aparelho halógeno. Isso, em princípio, deve-se à grande quantidade de energia liberada por esse aparelho (550 mw/cm²). Podemos também atribuir esse melhor comportamento do LED 2 porque, como esse aparelho possui somente uma lâmpada de 5 W que possui uma mudança na configuração do chip desta, faz com que a conversão de energia seja muito mais eficaz que os LEDs convencionais 1. Os resultados deste experimento confirmam os encontrados por Corrêa 1 (2003), que utilizou uma fonte de luz halógena para avaliar o grau de conversão, e os outros dois tipos de LEDs utilizados neste experimento (Ultrablue IS - LED 1 e Ultrablue I - LED 2). Foram encontrados resultados semelhantes para algumas resinas utilizadas com a luz halógena e para o Ultrablue IS em que o Ultrablue I só mostrou resultados eficazes na conversão das resinas que continham canforoquinona. No entanto, o autor encontrou resultados favoráveis para o Ultrablue I porque o tempo de polimerização usado somente para esse aparelho foi de 50 s, enquanto que para o Ultrablue IS foi de 18 s e para a fonte Halógena foi de 20 s. No presente estudo, o tempo de polimerização foi igual para todas as fontes e resinas (20 s), por isso o LED 1 (Ultrablue I - 7 lâmpadas) teve desempenho inferior em relação às outras fontes, porém essa metodologia expressa melhor o uso clínico. Por fim, pode-se dizer que o uso de fontes polimerizadoras que utilizam LEDs tem um futuro promissor, já que esses sistemas de geração de luz apresentam inúmeras vantagens perante às outras fontes. Entretanto, é muito importante selecionar o tipo de aparelho de LED a ser utilizado e uma resina adequada para se obter bons resultados. No entanto, novos estudos precisam ser feitos em relação à profundidade de polimerização e ao grau de conversão dos compósitos para se avaliar essa nova tecnologia de polimerização, bem como sua interação com resinas que possuem diferentes fotoiniciadores. CONCLUSÕES Frente aos procedimentos metodológicos aplicados e à análise estatística, podemos concluir que: 1. As únicas fontes de luz que obtiveram grau de polimerização satisfatória (no mínimo 80%) foi a luz halógena e o LED 2 quando utilizadas com a resina Filtek Z250; 2. O LED 1 obteve comportamento inferior às demais fontes para a resina Filtek Z250 e Solitaire 2; 3. O LED 2 teve comportamento semelhante à luz halógena tanto para a resina Filtek Z250 e Solitaire 2. AGRADECIMENTOS A CAPES, que cedeu a bolsa de mestrado. 478

ABSTRACT Evaluation of the polymerization degree of two resins composite using halogen light and two different types of LEDs The objective of this study was to evaluate the degree of polymerization, by means of the Vickers microhardness, of two resins in the A2 shade (Filtek Z250 - that has canphorquinone as the only photoinitiator and Solitaire 2 - that has other co-initiators beyond canphorquinone). For this, three different light sources were used: XL 2500 (3M - halogen source), Ultrablue I (DMC - LED 1) and Ultrablue IS (DMC - LED 2). Thirty cylindrical molds of acetal polymer were confectioned containing a 3 x 2 mm cavity (diameter x height), which were restored with resins in unique increments and polymerized by 20 s for all the sources. Ten measures of microhardness in each specimen (5 in top and 5 in the bottom) withload of 50 gfor 45 s were carried through. After that, the values of the microhardness were averaged out in each face of the test specimen, where the rate between the values obtained at a 2 mm depth was calculated, and then divided by the ones obtained in the surface. That way, the values of the degree of polymerization for each group were established and submitted to statistical analysis. The analysis of variance ANOVA showed statically significant difference (at a 5 % level) between sources (F = 42.25) and resins (F = 377.22) and in the interaction source versus resins (F = 5.91). For the comparison between the averages, the corresponding values of Tukey were calculated, which showed no significant difference in the polymerization degree of the Filtek Z250 resin between the halogen light and LED 1. However, there was difference between LED 1 and LED 2. For the Solitaire 2 resin, there weren t statically significant differences in the degree of polymerization between the halogen source and LED 2, but there were differences between LED 1 and LED 2, and between the halogen light and LED 2. However, the only sources of light that had gotten satisfactory degree of polymerization (at the very least 80% of the polymerization degree) were the halogen source and LED 2 when polymerizing the Filtek Z250 resin. It can be concluded that LED 1 did not polymerize adequately any of the studied resins and LED 2 had similar behavior to the halogen source for both resins. DESCRIPTORS Polymerization. Composite resins. Canphorquinone. Microhardness. Light sources. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Corrêa IC. Análise do grau de conversão de uma resina experimental fotopolimerizável: um estudo espectométrico em função de diferentes fotoiniciadores e fontes de luz [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2003. 2. Dunn WJ, Bush AC. A comparison of polymerization by light-emmiting diode and halogen based light-curing units. J Am Dent Assoc 2002;133(3):335-41. 3. Hammesfahr PD, O Connor MT, Wang X. Light-curing technology: past, present, and future. Compend Contin Educ Dent 2002;23(9):18-24. 4. Jandt KD, Mills RW, Backwell GB, Ashworth SH. Depth of cure and compressive strength of dental composites cured with blue light emitting diodes (LEDs). Dent Mater 2000;16(1):41-7. 5. Kurachi C, Tuboy AM, Magalhães DV, Bagnato VS. Hardness evaluation of a dental composite polymerized with experimental LED-based devices. Dent Mater 2001;17(4):309-15. 6. Leonard DL, Charlton DG, Robert HW, Cohen ME. Polymerization efficiency of LED curing lights. J Esthet Rest 2002;14(5):286-95. 7. Mills RW, Jandt KD, Ashworth SH. Dental composite depth of cure withhalogen and blue light-emitting diode technology. Br Dent J 1999;186(8):388-91. 8. Mills RW, Uhl A, Jandt KD. Optical powers outputs, spectra and dental composite depths of cure, obtained with blue light emitting diode (LED) and halogen light curing units (LCUs). Br Dent J 2002;193(8):459-63. 9. Nomoto R. Effect of light wavelength on polymerization of light-cured resins. Dent Mater 1997;16(1):60-73. 10. Price RTB, Ehrnford L, Andreou P, Felix C. A comparison of quartz-tungsten-halogen, light-emitting diode, and plasma arc curing lights. J Adhes Dent 2003;5(3):193-207. 11. Rahiotis C, Kakaboura A, Loukidis M, Vougiouklakis G. Curing efficiency of various types of light-curing units. Eur J Oral Sci 2004;112(1):89-94. 12. Soh MS, Yap AUJ, Siow KS. The effectiveness of cure of LED and halogen curing lights at varying cavity depths. Oper Dent 2003;28(6):707-15. 13. Turbino ML. Contribuição ao estudo da microdureza Knoop de resinas compostas na região próxima à área de união à dentina [Tese de Doutorado]. São Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 1997. 14. Uhl A, Mills RW, Jandt KD. Photoinitiator dependent composite depth of cure and Knoop hardness with halogen and LED light curing units. Biomaterials 2003a;24(10):1784-95. 479

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