CICLO ANUAL DE OCORRÊNCIA DOS VETORES DA DENGUE EM BELO HORIZONTE E SUAS RELAÇÕES COM AS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS



Documentos relacionados
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA Disciplina: FLG CLIMATOLOGIA I

EQUAÇÕES DE ESTIMATIVA DA TEMPERATURA DO AR PARA O ESTADO DE ALAGOAS

ANÁLISE CLIMATOLÓGICA COMPARATIVA DAS ESTAÇÕES METEOROLÓGICAS DOS AEROPORTOS DE GUARULHOS E CONGONHAS. Edson Cabral

REGIME HIDROLÓGICO DO RIO MUNDAÚ ALAGOAS.

Condições meteorológicas e Clima

EFEITOS DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA, TEMPERATURA E UMIDADE RELATIVA DO AR, NOS CASOS DE GRIPE, NO ANO DE 2002 EM MACEIÓ, AL.

FLUTUAÇÃO DAS CHUVAS EM ÁREAS AGRÍCOLAS NO PARÁ

ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DA FREQUÊNCIA MENSAL DE PRECIPITAÇÃO DO MUNICÍPIO DE CARIRA, SERGIPE.

ESTAÇÃO CHUVOSA DO ESTADO DE GOIÁS: ANALISE E RELAÇÃO COM O FENÔMENO LA NIÑA

VARIABILIDADE ESPACIAL E TEMPORAL DAS ESTAÇÕES NO ESTADO DE SÃO PAULO PARA AS VARIAVEIS TEMPERATURA E PRECIPITAÇÃO

A INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES DO ANO NO CONSUMO DE ÁGUA EM MARINGÁ-PR

DOENÇAS RESPIRATÓRIAS E AS CONDIÇÕES CLIMÁTICAS NO INVERNO EM JATAÍ-GO

SUDESTE DO BRASIL: UMA REGIÃO DE TRANSIÇÃO NO IMPACTO DE EVENTOS EXTREMOS DA OSCILAÇÃO SUL PARTE I: EL NIÑO. Alice M. Grimm (1); Simone E. T.

Correlação e Regressão linear simples

Plano da Apresentação. Correlação e Regressão linear simples. Correlação linear. Associação entre hábitos leitura e escolaridade.

Estudo do comportamento da Dengue na cidade de Araguari- MG por meio de séries temporais.

PREVISÃO DE OCORRÊNCIA DOS MOSQUITOS DA DENGUE EM BELO HORIZONTE, COM BASE EM DADOS METEOROLÓGICOS

4.1. Variáveis meteorológicas para previsão de carga

ANALISE DAS ANOMALIAS DAS TEMPERATURAS NO ANO DE 2015

VARIABILIDADE DA PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS COM CHUVAS DE DUAS CIDADES DISTINTAS DA PARAÍBA

ANÁLISE DE FALHAS DE COMPUTADORES

O ciclo dos arbovírus? incubação. viremia 5-6dias 4-6dias. ciclo extrínseco

Características Agroclimáticas de PALMAS (TO) Expedito Ronald Gomes Rebello 1. Nadir Dantas de Sales 2

relevante no monitoramento ambiental é a observação das temperaturas extremas (máximas e mínimas) e médias, sejam estas diárias e/ou mensais.

Medidas de Localização

Pernambuco. Tabela 1: Indicadores selecionados: mediana, 1º e 3º quartis nos municípios do estado de Pernambuco (1991, 2000 e 2010)

INFLUÊNCIA DAS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NOS CASOS DE DENGUE NOS ANOS DE 2007 A 2011 NO MUNICÍPIO DE CASCAVEL PR

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002 INFLUÊNCIA DA LA NIÑA NAS TEMPERATURAS MÁXIMAS E MÍNIMAS MENSAIS PARA VIÇOSA-MG

VARIABILIDADE TEMPORAL DA TEMPERATURA DO AR EM JABOTICABAL SP

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO E DO NÚMERO DE DIAS DE CHUVA NO MUNICÍPIO DE JAGUARUANA-CE

para a estação chuvosa no Ceará

XII Congresso Brasileiro de Meteorologia, Foz de Iguaçu-PR, 2002

RESUMO ABSTRACT. Palavras Chave: Geada, análise de freqüência, Probabilidade, Intensidade do fenômeno.

Medidas de dispersão e assimetria

COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE ESTIMATIVA DA EVAPOTRANSPIRAÇÃO DE REFERÊNCIA EM PETROLINA-PE

DISTRIBUIÇÃO DA PRECIPITAÇÃO EM TAUBATÉ, VALE DO PARAÍBA (SP)

50 anos a trabalhar pela saúde das pessoas

BOLETIM CLIMÁTICO OUTONO (Início: 20/03/ :30 ; término: 20/06/ :34)

MOQ 13 PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA. Professor: Rodrigo A. Scarpel

Defesa da Floresta Contra Incêndios

Maranhão. Tabela 1: Indicadores selecionados: mediana, 1º e 3º quartis nos municípios do estado do Maranhão (1991, 2000 e 2010)

A influência climática na proliferação da dengue na cidade de Areia, Paraíba

DISTRIBUIÇÕES DE VENTOS EXTREMOS. Função Densidade de Probabilidade para Ventos Extremos Tipo I (Gumbel) exp

Aula 12: Correlação e Regressão

VARIABILIDADE ESPACIAL DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA NO MUNICIPIO DE MACEIÓ-AL NO 1 SEMESTRE DE 2006.

Programa de Ciências Experimentais

ME613 - Análise de Regressão

Curso de Análise Estatística Comparação entre variáveis contínuas: correlação e regressão Linear

Regressão linear múltipla. Prof. Tatiele Lacerda

ASSOCIAÇÃO ENTRE INCIDÊNCIA DE MALÁRIA AUTÓCTONE E PRECIPITAÇÃO NO ESTADO DO AMAPÁ

ANÁLISE DE CASOS DE VERANICO EM VÁRIAS CIDADES DO RIO GRANDE DO SUL

CARACTERIZAÇÃO DA VELOCIDADE E DIREÇÃO PREDOMINANTE DOS VENTOS PARA A LOCALIDADE DE ITUPORANGA-SC

ANÁLISE DE HOMOGENEIDADE EM SÉRIES DE TEMPERATURA DO AR EM VIÇOSA - MG

AQUECIMENTO GLOBAL NA PB? : MITO, FATO OU UMA REALIDADE CADA VEZ MAIS PRÓXIMA.

COMPORTAMENTO PRODUTIVO DO COQUEIRO ANÃO-VERDE IRRIGADO NA REGIÃO LITORÂNEA DO CEARÁ

CARACTERIZAÇÃO PRELIMINAR DA DIREÇÃO E VELOCIDADE DO VENTO EM CAMPOS DOS GOYTACAZES, RJ

Análise temporal da variação da temperatura utilizando-se a geoestatística

MINISTÉRIO DA DEFESA COMANDO DA AERONÁUTICA DEPARTAMENTO DE CONTROLE DO ESPAÇO AÉREO

I COLIFORMES E ph MÉDIAS ARITMÉTICAS, MÉDIAS GEOMÉTRICAS E MEDIANAS

TENDÊNCIAS DE MUDANÇAS CLIMÁTICAS PARA OS ESTADOS DO RN E PB E SUAS RELAÇÕES COM A TSM DO ATLÂNTICO E PACÍFICO

CLASSIFICAÇÃO E INDÍCIO DE MUDANÇA CLIMÁTICA EM NOVA FRIBURGO - RJ

PLANO DE ENSINO CONTEÚDO PROGRAMÁTICO. Unidade 1: MEDIDAS E GRANDEZAS Introdução Padrões usados para avaliar grandezas físicas

INFORMATIVO CLIMÁTICO

SISTEMÁTICA DE ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO DE DESEMPENHO

21º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

Análise de Regressão. Notas de Aula

MONITORAMENTO HIDROLÓGICO

DETERMINAÇÃO DE EQUAÇÕES DE CHUVAS INTENSAS PARA MESORREGIÕES DO ESTADO DE PERNAMBUCO USANDO DADOS PLUVIOMÉTRICOS

Acre. Tabela 1: Indicadores selecionados: mediana, 1 o e 3 o quartis nos municípios do estado do Acre (1991, 2000 e 2010)

INDX apresenta estabilidade em abril

Pesquisa Mensal de Emprego

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS ESCOLA DE AGRONOMIA SETOR DE ENGENHARIA DE BIOSSISTEMAS ÁREA DE CLIMATOLOGIA AGRÍCOLA

VARIABILIDADE HORÁRIA DA PRECIPITAÇÃO EM PALMAS-TO

Importância da associação do ELISA IgM e Soroaglutinação Microscópica para diagnóstico e epidemiologia da leptospirose humana

ATLAS CLIMÁTICO DOS ESTADOS DA REGIÃO SUL DO BRASIL

Coordenação geral Kennya Beatriz Siqueira Alziro Vasconcelos Carneiro

Capítulo IX. Carregamento de transformadores

Boletim Climatológico Mensal Março de 2014

CLIMATOLOGIA DA TEMPERATURA MÍNIMA DE RELVA EM SANTA MARIA, RS

Avaliação de uniformidade de aplicação de água de um sistema de irrigação por aspersão convencional no setor de olericultura do IFMG, campus-bambuí

DISCIPLINA DE ESTATÍSTICA

ANÁLISE DA PRECIPITAÇÃO PLUVIOMÉTRICA E DO NÚMERO DE DIAS COM CHUVA EM CALÇOENE LOCALIZADO NO SETOR COSTEIRO DO AMAPÁ

ESCOLA SECUNDÁRIA DE CALDAS DAS TAIPAS PLANIFICAÇÃO ANUAL. Ano letivo 2014 / 2015

Linha: Nova Friburgo (RJ) - Belo Horizonte (MG)

Índices Climáticos Extremos para o Município de Petrolina, PE

Análise: O preço dos alimentos nos últimos 3 anos e 4 meses

Maio Belo Horizonte. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE

Boletim Climatológico Fevereiro 2016 Região Autónoma dos Açores

Relações de Preço Sorgo/Milho nos Estados de São Paulo, Goiás e Rio Grande do Sul, Alfredo Tsunechiro e Maximiliano Miura

Influência do El Niño Oscilação Sul (ENSO) na época de semeadura da cultura do milho em diferentes localidades do Brasil

OCORRÊNCIA DE INVERSÃO TÉRMICA NO PERFIL TOPOCLIMÁTICO DO PICO DA BANDEIRA, PARQUE NACIONAL DO ALTO CAPARAÓ, BRASIL.

Boletim eletrônico trimestral sobre a participação das mulheres no mercado de trabalho a partir dos dados da - Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE -

Mortalidade em Portugal no Verão de 2003: influência das ondas de calor

RELAÇÃO ENTRE INTENSIDADE, DURAÇÃO E FREQÜÊNCIA DE CHUVAS EM MOCOCA, SP 1

Climatologia da Precipitação no Município de Igarapé-Açu, PA. Período:

Tendências recentes da atividade econômica em Araxá: empresas, trabalho formal

A Significância Estatística do Proger na Redução da Taxa de Desemprego por Haroldo Feitosa Tajra

RELATÓRIO DE ANÁLISE: FRANCO DA ROCHA 10/03/2016

Climas do Brasil PROFESSORA: JORDANA COSTA

Variabilidade da Precipitação Pluviométrica no Estado do Amapá

Transcrição:

CICLO ANUAL DE OCORRÊNCIA DOS VETORES DA DENGUE EM BELO HORIZONTE E SUAS RELAÇÕES COM AS VARIÁVEIS METEOROLÓGICAS 1 Rubens Leite Vianello 1 José Eduardo Marques Pessanha 2 Gilberto C. Sediyama 3 RESUMO - No presente estudo, dados entomológicos coletados pelo Serviço de Controle de Zoonoses e de Epidemiologia da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte foram correlacionados com os dados meteorológicos observados e tratados, estatisticamente, com o propósito de conhecer o papel de cada variável meteorológica na ocorrência dos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. Uma associação estatística foi estabelecida entre a ocorrência dos mosquitos da dengue e as estações chuvosas, altas temperaturas e umidade relativa do ar. Os estudos mostraram a existência de ciclos climáticos sazonais e de ciclos de ocorrência de infestações por aedinos em Belo Horizonte, com valores mínimos no inverno seco e frio e valores máximos no verão quente e chuvoso. Os meses de início da estação chuvosa (outubro-novembro) e da estação seca (abril-maio) marcam a ascensão e queda, respectivamente, da curva de ocorrência dos vetores. O ciclo de ocorrência dos aedinos em Belo Horizonte acha-se sintonizado com o ciclo climático, ou seja, a máxima ocorrência dos mosquitos causadores da dengue coincide com a estação quente e chuvosa e, as mínimas ocorrências, com a estação seca e fria. Isso foi verificado nos três anos de observações e concorda com estudos realizados em algumas localidades do Brasil, do Japão e da Tailândia. Para os dados meteorológicos defasados de um período de coleta de quatorze dias, em relação dos dados de ovitrampas positivas, todos os coeficientes de determinação foram superiores àqueles obtidos com os dados sincrônicos, destacando-se as chuvas e as temperaturas mínimas como os parâmetros ambientais mais importantes, seguindo-se a umidade relativa do ar, as temperaturas médias e as máximas. Os limites térmicos de ocorrência dos aedinos em Belo Horizonte se situaram entre 2,2 C e 29,6 C, em boa concordância com os resultados obtidos em estudos laboratoriais para o Aedes albopictus, entre 2 C e 3 C. 1 Instituto Nacional de Meteorologia, INMET/5ºDISME; Rua Curitiba,1588, ap. 162, Bairro de Lourdes, Belo Horizonte, MG, CEP: 317-122; tel/fax:(31) 3291-155; 3291-1493; vianello@inmet.gov.br. 2 Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, Secr. Mun. De Saúde; Av. Afonso Pena, 2336, Funcionários, Belo Horizonte, MG, CEP: 313-7; tel/fax: (31)3277-8214; 3277-9546; edumar@uai.com.br. 3 Universidade Federal de Viçosa, UFV, Departamento de Engenharia Agrícola, Campus Universitário, Viçosa, MG, CEP:3657-; tel/fax(31) 3899-195; 3899-2735; g.sediyama@ufv.br.

2 SUMMARY: In the present study, the collected entomological data of the Serviço de Controle de Zoonoses e de Epidemiologia de Belo Horizonte, were used as data base for study of the stochastic relationships between dengue mosquitoes (Aedes aegypti and Aedes albopictus) occurrence and the climatic data observed in Belo Horizonte metropolitan area, in Minas Gerais. A statistical association was established between the dengue incidence, rainfalls, air temperatures and relative humidity of the air. The studies clearly showed the existence of seasonal climatic cycles and of cycles of occurrence of aedinos infestations in Belo Horizonte, with minimum values in the dry and cold winter and maxima values in the hot and rainy summer. The months at the beginning of the rainy season (October - November) and the dry season (April - May) were marked as the curve of occurrence of the vectors ascension and fall, respectively. The cycle of the aedinos outbreaks in Belo Horizonte is synchronized in with the climatic cycle, in other words, the maximum occurrence of the mosquitoes causes of dengue coincides with the hot and rainy season and, the low occurrences, with the dry and cold season. Those results were verified in the three years of observations and they agree with studies accomplished at some locations of Brazil, Japan and Thailand. For the meteorological data lag of an entomological week of fourteen days, in relationship to the data of positive ovitrampas, all of the determination coefficients were superior the those obtained with the synchronous data, standing out the rainfalls and the minimum temperatures as the more important environmental parameters, followed by relative humidity of the air, the averages and the maxima temperatures. The thermal limits of the aedinos occurrence in Belo Horizonte is located between 2,2 C and 29,6 C, in good agreement with the results obtained in labs studies for the Aedes albopictus, which is between 2 C and 3 C. Palavras-chave Dengue - Belo Horizonte - Elementos climáticos. INTRODUÇÃO No Município de Belo Horizonte, a Secretaria Municipal de Saúde, por meio de seus Serviços de Controle de Zoonoses e de Epidemiologia, Informação e Vigilâncias, vêm atuando no monitoramento e no controle da dengue, reduzindo riscos e gerando estatísticas de distribuições espacial e temporal. Assim, as primeiras coletas sistemáticas de dados de ovitrampas iniciaram-se em agosto de 22 e se tornaram regulares a partir de 23, com pequenos períodos de interrupção entre novembro de 25 e março de 26. Com base nos dados coletados, relatórios periódicos têm sido gerados para fins prognósticos e para a elaboração de propostas de intervenção (PMBH, 23). No presente estudo, esses dados epidemiológicos foram comparados aos dados meteorológicos observados em Belo Horizonte e tratados, estatisticamente, com o propósito de conhecer o papel de cada variável meteorológica na ocorrência dos mosquitos vetores.

3 METODOLOGIA As coletas de dados de ovitrampas positivas foram realizadas no período de agosto de 22 a novembro de 25, com a periodicidade de duas semanas entomológicas, organizadas em um período de coleta. Cada período de coleta teve duração de 14 dias, período em que as armadilhas foram distribuídas em toda a zona urbana de Belo Horizonte. Ao final de cada período de coleta, foram obtidos os percentuais de armadilhas positivas, isto é, a razão entre o número de armadilhas nas quais se constataram presenças de ovos ou larvas e o número total de armadilhas distribuídas naquela semana. Os dados meteorológicos foram observados na Estação Climatológica Principal de Belo Horizonte. Como os percentuais de ovitrampas positivas são representativos de um período de 14 dias, correspondendo a duas semanas entomológicas, os dados meteorológicos foram também preparados para representarem o mesmo período, isto é, as temperaturas e a umidade relativa foram organizadas em médias para 14 dias, coincidindo com o período de duração das coletas entomológicas. Para a chuva, os valores diários foram acumulados ao longo do mesmo período de coletas entomológicas. Assim, dispõe-se de pares de dados de ovitrampras positivas e parâmetros meteorológicos, prontos para serem correlacionados separada ou conjuntamente. Foram realizadas análises de regressão entre as variáveis meteorológicas (chuvas acumuladas, temperatura mínima, temperatura média, temperatura máxima e umidade relativa) e os percentuais de ovitrampas positivas coletadas ao longo de 16 semanas entomológicas (8 períodos de coleta). Para cada variável independente, foram realizados ajustes estatísticos para a equação da reta, para as funções exponencial e potência ou para a equação quadrática. RESULTADOS Ao contrário do que se esperava, os ajustes estatísticos para os dados síncronos mostraramse precários, com baixos coeficientes de determinação, variando de,16 a,48. Baseando-se no ciclo de desenvolvimento dos aedinos, em torno de 17 dias, para temperaturas de 27,5 C (CALADO & SILVA, 22), os dados foram reorganizados, tal que as variáveis meteorológicas, antecipadas de 14 dias, foram correlacionadas com os dados entomológicos, repetindo-se o ajuste estatístico das funções. A Figura 1 mostra a nova distribuição temporal dos dados assíncronos.

4 1 9 8 7 6 5 4 3 2 1 AGO/2 VALORES RETARDADOS DE TEMPERATURAS M ÍNIMAS, M ÉDIAS, MÁXIMAS, UM IDADE RELATIVA E CHUVAS VERSUS OVITRAMPAS POSITIVAS EM BELO HORIZONTE, DE AGO/22 A NOV/25 NOV/2 FEV/3 JUN/3 AGO/3 NOV/3 FEV/4 JUN/4 AGO/4 NOV/4 FEV/5 JUN/5 AGO/5 NOV/5 5 45 4 35 3 25 2 15 1 5 mm U.R.(%) Tmed.( C) Tmin.( C) Tmax.( C) Ov.Pos.(%) Chuv.(mm) Figura 1 Valores médios das variáveis meteorológicas retardas de um período de coleta em relação aos percentuais de ovitrampas positivas. No eixo das ordenadas, à esquerda, podem ser lidos os valores das temperaturas ( C), umidade relativa (%) e ovitrampas positivas (%); à direita lêem-se os valores das chuvas acumuladas (mm). As temperaturas médias dos períodos oscilaram entre 12,3 C e 31,5 C, enquanto os valores diários situaram-se entre 1,2 C e 35,1 C. Considerando as temperaturas mínimas, médias e máximas, separadamente, seus extremos diários foram os seguintes: temperaturas mínimas (1,2 C e 23,3 C); temperaturas máximas (18,5 C e 35,1 C); temperaturas médias (14, C e 28,4 C). A umidade relativa média dos períodos esteve entre 42,3% e 86,6%, e seus valores diários entre 26,3% e 1%. As chuvas acumuladas para 14 dias localizaram-se entre, mm e 497,8 mm e as diárias entre, e 84,4 mm. Observa-se também a existência de ciclos climáticos sazonais e de ciclos de ocorrência de infestações por aedinos em Belo Horizonte, com valores mínimos no inverno seco e frio e valores máximos no verão quente e chuvoso. Os meses de início da estação chuvosa (outubro-novembro) e da estação seca (abril-maio) marcam a ascensão e queda, respectivamente, da curva de ocorrência dos vetores. Para a análise estatística, cada parâmetro meteorológico foi tratado como uma variável independente (X), sendo a ovitrampa positiva a variável dependente (Y). Modelos de regressão linear simples e múltiplos, exponenciais e de potência foram analisados. Todas as análises estatísticas foram conduzidas no nível de 95% de confiabilidade. Para assegurar que a variação de X influencia significativamente a variação de Y, realizou-se a análise de variância da regressão, valendo-se do Teste F para a validação da equação final. Os melhores ajustes para as funções linear, quadrática, potencial e exponencial podem ser vistos da Figura 2.

5 8 7 6 5 4 3 2 1 OVITRAMPAS POSITIVAS E CHUVAS DA SEMANA EPIDEMIOLÓGICA ANTERIOR, OBSERVADAS EM BELO HORIZONTE, DE AGO/ 22 A NOV/ 25 y = -,4x 2 +,322x + 17,674 R 2 =,6121 1 2 3 4 5 6 CHUVAS ACUMULADAS (mm) 8 7 6 5 4 3 2 1 OVITRAMPAS POSITIVAS E TEMPERATURAS MÍNIMAS DEFASADAS DE UMA SEMANA EPIDEMIOLÓGICA EM BELO HORIZONTE, DE AGO/22 A NOV/25 y =,844e,3123x R 2 =,553 1 15 2 t emperat uras mí nimas ( C) (a) (b) 8 7 6 5 4 3 2 1 OVITRAM PAS POSITIVAS E TEM PERATURAS M ÁXIM AS DEFASADAS DE UM A SEM ANA EPIDEM IOLÓGICA EM BELO HORIZONTE, DE AGO/22 A NOVA/25 y = 9E-7x 5,1594 R 2 =,246 19 21 23 25 27 29 31 33 TEMPERATURAS MÁXIMAS ( C) OVITRAMPAS POSITIVAS E TEMPERATURAS MÉDIAS DEFASADAS DE UMA SEMANA EPIDEMIOLÓGICA EM BELO HORIZONTE, DE AGO/22 A NOV/25 8 7 y =,728e,2633x 6 R 2 =,3982 5 4 3 2 1 15 2 25 TEMPERATURAS MÉDIAS ( C) (c) (d) OVITRAM PAS POSITIVAS E UM IDADE RELATIVA DEFASADA DE UM A SEM ANA EPIDEM IOLÓGICA EM BELO HORIZONTE, DE AGO/22 A NOV/25 8 7 6 y = 1,747x - 79,926 R 2 =,5941 5 4 3 2 1 4 45 5 55 6 65 7 75 8 85 9 UMIDADE RELATIVA (%) (e) Figura 2 - Funções de melhor ajuste entre as variáveis meteorológicas retardadas de um período de coleta e os percentuais de ovitrampas positivas em Belo Horizonte: a) chuva; b) temperatura mínima; c) temperatura máxima. d) temperatura média; e) umidade relativa. Segundo Teng & Aperson (2), citados por CALADO & SILVA (22), estudos em laboratórios mostraram que a faixa mais adequada para o desenvolvimento de imaturos do Ae. Albopictus situa-se entre 2 C e 3 C. Citado pelos mesmos autores, Gomes et al (1995), em condições de campo, apontam a faixa entre 17 C e 23 C como a mais adequada ao desenvolvimento do mesmo mosquito. Os resultados mostrados apontam, para condições de campo em Belo Horizonte, a faixa de máxima ocorrência dos aedinos (Ae. aegypti e Ae. Albopictus) entre 19,5ºC e 27,4 C. A mais alta

6 correlação em Belo Horizonte ocorreu com as chuvas (Figura 2a), contrariamente ao observado no Estado de São Paulo, onde as chuvas apresentaram pequena influência na ocorrência do Aedes aegypti (DONALISIO & GLASSER, 22). Destaquem-se ainda, como condições ideais para o registro de altos níveis de infestação, a alta umidade relativa do ar (média semanal de 85,5%) e a grande pluviosidade (valores diários em torno de 35,6 mm), no decorrer do período anterior. CONCLUSÕES O ciclo de ocorrência dos aedinos em Belo Horizonte acha-se sintonizado com o ciclo climático, ou seja, a máxima ocorrência dos mosquitos causadores da dengue coincide com a estação quente e chuvosa e, as mínimas ocorrências, com a estação seca e fria. Isso foi verificado nos três anos de observações e concorda com estudos realizados em algumas localidades do Brasil, do Japão e da Tailândia. Para os dados meteorológicos defasados de quatorze dias, em relação dos dados de ovitrampas positivas, todos os coeficientes de determinação foram superiores àqueles obtidos com os dados sincrônicos, destacando-se as chuvas e as temperaturas mínimas como os parâmetros ambientais mais importantes, seguindo-se a umidade relativa do ar, as temperaturas médias e as máximas. Os limites térmicos de ocorrência dos aedinos em Belo Horizonte se situaram entre 2,2 C e 29,6 C, em boa concordância com os resultados obtidos em estudos laboratoriais para o Aedes albopictus, entre 2 C e 3 C. É mais importante o uso dos dados defasados, pois permitem monitorar os surtos epidêmicos com 14 dias de antecedência. Adicionalmente, as relações estatísticas estabelecidas entre os percentuais de ovitrampas positivas e as variáveis meteorológicas chuva, temperatura mínima e umidade relativa são mais robustas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CALADO, D. C., SILVA, M. A. N. A Avaliação da Influência da Temperatura sobre o desenvolvimento do Aedes albopictus, Revista de Saúde Pública, v. 36(2), p. 172-179, 22. DONALÍSIO, M. R., GLASSER, C. M. Vigilância Entomológica e Controle de Vetores do Dengue; Revista Brasileira de Entomologia, v. 5, n.3, p.259-272, 22. PREFEITURA MUNICIPAL DE BELO HORIZONTE. A dengue em Belo Horizonte, situação em julho de 23 e propostas de intervenção. Belo Horizonte, 23.