Neste painel há notícias de jornais que tratam da violência e domínio do tráfico e da milícia nos morros do Rio de Janeiro. Essas manchetes de jornais contrastam com fotos recentes do projeto TRE CIDADÃO nas comunidades em que foram implantadas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). A proposta é mostrar a segurança pública como um direito de cidadania do qual os moradores das favelas foram secularmente excluídos. Com o projeto social desenvolvido pelo TRE-RJ, a presença do Estado é reforçada nessas comunidades. O projeto facilita o acesso dos moradores locais aos serviços prestados pela Justiça Eleitoral e lhes garante o direito de votar e serem votados. A tela de fundo é Morro da Favella, de Tarsila do Amaral. Na obra, a paisagem é representada de forma colorida e agradável, bem diferente de outras representações que circulavam na época, em que a favela é metaforizada como ambiente de doenças, vadiagem e crimes. O quadro mereceu alguma teorização sobre arte e conhecimento, porque sintetiza algumas das principais características do movimento modernista, que completou 90 anos em 2012: a plena liberdade de tema e criação (com algo de iconoclasta e transgressor), engajamento social e experimentação de novas linguagens.
Este painel lembra a ação fiscalizadora do TRE-RJ nas Eleições 2012 nas favelas do Rio de Janeiro e em toda a cidade. O aparato de fiscalização reuniu tropas federais e um forte efetivo policial. Batizada de política de tolerância zero, a estratégia do TRE-RJ foi de utilizar o poder dissuasório do Estado para impedir a ação de grupos criminosos que costumam intimidar eleitores. A política de tolerância zero acabou por mandar um recado a toda a sociedade: não há democracia ou cidadania sem ordem social, autoridade do Estado e respeito à legislação. Na tela de fundo, o quadro O Café, de Portinari, homenageia os trabalhadores que cultivavam e colhiam a principal riqueza brasileira durante a República Velha. A tela também traz as inovações do modernismo, como o engajamento social e a ousadia na linguagem, em especial as deformações dos pés e mãos que procuram representar a força dos trabalhadores. Nada de pintura tradicional e realista, mas um universo próprio, criado pela pintura do autor.
O painel trata das propagandas política e institucional, temas que merecem atenção da imprensa e da sociedade em geral. A ideia é mostrar que política e publicização caminham juntas. Políticos à direita e à esquerda necessitam divulgar seu projetos e propostas, o que é possibilitado pelas campanhas eleitorais. A informação é abordada como um bem de interesse público, que deve circular com transparência. Isso também é verdade para os atos dos governantes, que devem ter publicidade. O painel aponta para essa tensão entre o respeito ao direito à informação e um certo oportunismo político, que leva a gastos abusivos e à tentativa de alguns de se valerem da máquina pública para autopromoção. Uma charge publicada na revista Careta mostra a indignação com a poluição visual das campanhas políticas já na década de 1940 do século passado. No quadro de fundo, a tela Mulheres Protestando, de Di Cavalcanti, remete a um elemento histórico presente nas circunstâncias do nascimento da Justiça Eleitoral, o da emancipação da condição feminina.
Neste painel, algumas breves linhas sobre temas fundamentais: voto feminino, voto de cabresto e o contraste entre a higienização da favela e a política assisntencialista do ex-prefeito Pedro Ernesto, na década de 1930. A representação do eleitor como passivo e ludibriado pelos coronéis é questionada. Muitas vezes essa imagem é utilizada para desqualificar o eleitor da República Velha. Oprimido por um sistema autoritário e excludente, esse eleitor é, na verdade, vítima também de um sistema de poder que institucionalizava as fraudes eleitorais, a Política dos Governadores, consolidada por Campos Salles. Neste sistema, o voto servia para dimensionar o poder das oligarquias locais, com quem os governadores se relacionariam. Nesse jogo de barganhas, o governadores davam sustentação ao governo federal. Mesmo assim, nas cidades havia pressões por direitos e modificações no sistema eleitoral. Também no campo, consideradas a muitas restrições econômicas e sociais, o eleitor costumava usar, pragmaticamente, a campanha eleitoral para barganhar melhorias para sua vida pessoal, como mostram estudos já clássicos sobre o coronelismo. Na tela de fundo, mais uma obra da artista Tarsila do Amaral, Operários. Reparem como ela usa o quadro como um eixo cartesiano. As cabeças dos operários vão sendo organizadas de modo a formar uma curva ascendente. A obra inaugura a pintura social no Brasil e faz uma clara referência ao crescimento do movimento operário à época, um fenômeno que teve grande influência política nos centros urbanos do país.
Os dois painéis são autoexplicativos. Eles trazem a narrativa da comparação que quisemos traçar entre o momento atual e o do nascimento da Justiça Eleitoral. Falta-nos apenas explicitar os pontos de vista adotados e que orientaram toda a pesquisa. A principal interpretação aceita nesta exposição é a de que a sociedade brasileira vive um processo de americanização, no sentido proposto por Alexis de Tocqueville, de uma constante igualitarização. Por isso, a referência direta, entre outras, aos valores americanos e à modernidade. Não se trata apenas da força que a tecnologia tomou junto à Justiça Eleitoral, em especial com o advento das urnas eletrônicas. Os autores que são referência nesta forma de interpretar a trajetória histórica do processo político republicando são Maria Alice Rezende de Carvalho e Luís Werneck Vianna. Outra interpretação importante procura explicitar a mistura entre o arcaico e o moderno nas formas políticas republicanas no Brasil. Pensadores como José Murilo de Carvalho e Roberto da Matta defendem tal ponto de vista. Embora não seja a posição aqui adotada, acreditamos que seja relevante observar a forma com que práticas políticas arcaicas resistem e se hibridizam com as práticas que hoje chamamos de republicanas, ou seja, igualitárias, eticamente orientadas e modernas. Sem deixar, no entanto, de reconhecer a evolução igualitária e democrática da sociedade brasileira. O conceito de cidade escassa também permeia o texto dos painéis. Elaborado por Maria Alice Rezende de Carvalho, o conceito coloca a questão da privação da liberdade como fator central para que os excluídos fossem impedidos de lutar por seus direitos e por sua incorporação à comunidade política. Trata-se de refletir sobre as relações históricas entre um Estado excludente, uma sociedade civil frágil e a população. Pouco democratizado, afastado dos interesses populares, o Estado tem servido a interesses patrimoniais e assistencialistas, sem legitimar a sua autoridade. Da mesma forma, a interpretação estreita das carências populares como falta material dificulta o entendimento dos vários aspectos dos direitos da cidadania. Tratar a diferença apenas no aspecto econômico, sem vínculos com as desigualdades políticas e jurídicas, reduz o papel da participação política e do acesso à Justiça, enfim, dos direitos políticos e civis. Direitos que são fundamentais na efetivação dos direitos sociais, pois garantem a participação e o controle da população sobre os serviços públicos.