VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CÍVEL n.º 0029389-71.2013.8.19.0001-E Obrigação de Fazer 14ª Vara de Fazenda Pública da Comarca da Capital APELANTE: SINDICATO DOS TRABALHADORES AUTÔNOMOS, AUTORIZATÁRIOS OU PERMISSIONÁRIOS, CONDUTORES, AUXILIARES, PESSOAL DE APOIO E AFINS EM TRANSPORTE ALTERNATIVO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO APELADO : MUNICIPIO DO RIO DE JANEIRO RELATORA : DES. LETÍCIA SARDAS ACÓRDÃO DIREITO ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. SERVIÇO DE TRANSPORTE INTRAMUNICIPAL. COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL. LEI Nº 3.360/2002. DECRETO Nº 31.052/2009. PODER REGULAMENTAR. MÉRITO ADMINISTRATIVO. VEDAÇÃO DE ANÁLISE PELO JUDICIÁRIO. PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. 1. O Município possui competência constitucional para regulamentar e prestar o serviço de transporte local, por força do que dispõe o art. 30, V, e art. 175, da Constituição da República. 2. No que tange ao denominado Serviço de Transporte Especial Complementar de Passageiros no Município demandado, a Lei Municipal n.º 3360/02 definiu a forma de Página 1 de 6
prestação do serviço em áreas não atendidas pelo transporte convencional ou regular de passageiros, estabelecendo condições para contratação pelo Poder Público de pessoa física, organizada ou não sob a forma de cooperativa, sob ocorrência de autorização provisória e a título precário. 3. Posteriormente, a Administração Municipal, por meio do Decreto n.º 31.052/09, instituiu o de Transporte Público Urbano Local da área de Planejamento AP5, estabelecendo a exigência de licitação e contrato de permissão, bem como uma série de deveres, vedações e direitos aos interessados em contratar com o Poder Público. 4. Não se verifica qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade no aludido Decreto Municipal, já que, sem extrapolar o seu poder regulamentar, apenas fixou, da forma que melhor entende conveniente para a satisfação do interesse público, as regras próprias para estruturação do sistema de transporte urbano. 5. O procedimento licitatório está em perfeita consonância com a legislação, restando intocável a sentença vergastada. 6. Desprovimento do recurso. Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL n.º 0029389-71.2013.8.19.0001 em que é APELANTE:... e APELADO: SINDICATO DOS TRABALHADORES AUTÔNOMOS, AUTORIZATÁRIOS OU PERMISSIONÁRIOS, CONDUTORES, AUXILIARES, PESSOAL DE APOIO E AFINS EM TRANSPORTE ALTERNATIVO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO e APELADO : MUNICIPIO DO RIO DE JANEIRO. Página 2 de 6
ACORDAM os Desembargadores que integram a Vigésima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em negar provimento ao apelo. Trata-se de demanda ajuizada pelo SINDICATO DOS TRABALHADORES AUTÔNOMOS, AUTORIZATÁRIOS OU PERMISSIONÁRIOS, CONDUTORES, AUXILIARES, PESSOAL DE APOIO E AFINS EM TRANSPORTE ALTERNATIVO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO em face do Município do Rio de Janeiro, objetivando a suspensão dos procedimentos licitatórios instaurados pela Secretaria Municipal de Transporte (SMTR), por Concorrência Pública nº CO 001/2012, 002/2012, 003/2012, 004/2012, 005/2012, 006/2012 e 007/2012 e a declaração de nulidade do Decreto 31052/2009, que dispõe acerca da delegação de permissão da prestação de Serviços de Transporte Complementar Intramunicipal na área de planejamento AP 2.1, AP 3.1, AP 3.2, AP 3.3, AP 4, AP 5.2 e AP 5.3 AP-5. A sentença julgou improcedentes os pedidos. Inicialmente, cabe consignar que o Município possui competência constitucional para regulamentar e prestar o serviço de transporte local, por força do que dispõe o art. 30, V, e art. 175, da Constituição da República. No que tange ao denominado Serviço de Transporte Especial Complementar de Passageiros no Município demandado, a Lei Municipal n.º 3360/02 definiu a forma de prestação do serviço em áreas não atendidas pelo transporte convencional ou regular de passageiros, estabelecendo condições para contratação pelo Poder Público de pessoa física, organizada ou não sob a forma de cooperativa, sob ocorrência de autorização provisória e a título precário. Página 3 de 6
Posteriormente, a Administração Municipal, por meio do Decreto n.º 31.052/09, instituiu o Serviço de Transporte Público Urbano Local da área de Planejamento AP5, estabelecendo a exigência de licitação e contrato de permissão, bem como uma série de deveres, vedações e direitos aos interessados em contratar com o Poder Público, vedando a participação de pessoas físicas nos procedimentos licitatórios. Neste diapasão, não se verifica qualquer ilegalidade ou inconstitucionalidade no aludido Decreto Municipal, já que, sem extrapolar o seu poder regulamentar, apenas fixou, da forma que melhor entende conveniente para a satisfação do interesse público, as regras próprias para estruturação do sistema de transporte urbano. Não se verifica qualquer violação aos princípios constitucionais mencionados pelo recorrente, nem, tampouco, ilegalidade ou desvio de finalidade no atuar do Poder Executivo Municipal, o qual, aliás, detém autonomia na regulamentação do referido serviço público. E, como brilhantemente asseverou a nobre Procuradora de Justiça, em seu parecer ministerial de fls.,... entende-se que a análise da conveniência ou não da opção política do Administrador de optar pela contratação apenas de operadores autônomos indicados pelas pessoas jurídicas cooperativadas, esbarraria em uma indevida intromissão do judiciário no mérito do ato administrativo, notoriamente insindicável quanto aos seus elementos discricionários, sob pena de violação ao princípio da separação dos poderes. Assim, o procedimento licitatório está em perfeita consonância com a legislação, restando intocável a sentença vergastada. Neste sentido, a seguinte decisão proferida por esse Tribunal em hipótese análoga: Página 4 de 6
0285154-82.2009.8.19.0001 - APELACAO DES. TERESA CASTRO NEVES - Julgamento: 08/02/2012 - SEXTA CAMARA CIVEL APELAÇÃO. DIREITO ADMINISTRATIVO. CONSTITUCIONAL. MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. SERVIÇO DE TRANSPORTE INTRAMUNICIPAL. COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL. LEI Nº 3.360/2002. DECRETO Nº 31.052/2009. PODER REGULAMENTAR. MÉRITO ADMINISTRATIVO. VEDAÇÃO DE ANÁLISE PELO JUDICIÁRIO. PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES. 1- Tese de ilegitimidade ativa afastada. Aplicação da teoria da asserção. Interesse jurídico da parte, sob o aspecto necessidade-utilidade-adequação. Preliminares afastadas; 2 - Análise da legalidade da licitação na modalidade concorrência, para a delegação do serviço de transporte urbano especial, no Município do Rio de Janeiro; 3 - Art. 30, inciso V da CRFB/88, prevê a competência do Município quanto a prestação do serviço de transporte público, seja diretamente, ou por meio de delegação, através do regime de concessão ou permissão; 4 - Lei nº 3.360/2002 dispõe sobre o prestação de transporte complementar, que figura como parte integrante da rede viária do sistema de transporte urbano municipal, não excluindo a execução do transporte público por outros meios, principalmente em privilégio ao princípio da eficiência, que deve atingir qualquer que seja a atividade desempenhada pela Administração, bem como diante do inequívoco interesse público que reveste o serviço público em questão; 5 - Decreto nº 31.052/2009 mostra-se em perfeita consonância aos estreitos limites da legislação, bem como da previsão constitucional, ao instituir o Serviço de Transporte Público Urbano Local, a ser desenvolvido de forma gradativa, através de licitação e mediante permissão a determinada área de planejamento; 6 Competência do Secretário Municipal de Transportes tanto para a instauração do procedimento licitatório, quanto para a escolha dos operadores, bem como dos veículos adequados para a prestação do serviço. Exercício de atividade discricionária reservada à Administração, com base no seu juízo de conveniência e oportunidade. Vedação do Poder Judiciário de imiscuir -se no seu mérito, sob pena de violação ao princípio da separação dos poderes. Precedentes desta Corte e da Corte Superior. Manutenção da sentença. Negado provimento ao recurso. Página 5 de 6
POR TAIS FUNDAMENTOS, voto no sentido de negar provimento ao recurso. Rio de Janeiro, 04 de junho de 2014. DES. LETÍCIA SARDAS RELATORA Página 6 de 6