A CURVA METODOLÓGICA NA SESSÃO DE BIODANZA E SEUS EFEITOS SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO CARMEM HELENA GESSINGER



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INTERNATIONAL BIOCENTRIC FOUNDATION ESCOLA DE FORMAÇÃO DE FACILITADORES ROLANDO TORO DE PELOTAS A CURVA METODOLÓGICA NA SESSÃO DE BIODANZA E SEUS EFEITOS SOBRE O SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO CARMEM HELENA GESSINGER Porto Alegre 2005

CARMEM HELENA GESSINGER Monografia apresentada à Escola de Formação de Facilitadores Rolando Toro de Pelotas como requisito parcial para obtenção de grau de Facilitador Titular em Biodanza. Orientador: Carlos Garcia Porto Alegre agosto 2005

AGRADECIMENTOS Com certeza este trabalho não seria realizado sem a colaboração de muitas pessoas que fizeram parte da minha caminhada, motivo pelo qual, registro meus agradecimentos: Ao Carlos Garcia, por ter aceitado ser meu orientador; A Myrthes Gonzáles, pelo estímulo, apoio e amizade; Aos colegas Rute, Maira e André, que de uma maneira ou outra, me auxiliaram a desenvolver o trabalho e me ajudaram a concretizá-lo; A todos os colegas e amigos da Escola de Pelotas, da Frater; Em especial, a Nilza, que me acompanha desde o início da minha caminhada como facilitadora.

SUMÁRIO INTRODUÇÃO... 4 1 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO (SNA)... 5 1.1 Organização anatômica... 5 1.1.1 Organização básica do Sistema Nervoso Autônomo... 5 1.1.2 Organização do Sistema Simpático... 8 1.1.3 Organização do Sistema Parassimpático...11 1.2 Fisiologia do Sistema Nervoso Autônomo...13 1.2.1 Tipos de controle...13 1.2.2 Estratégias de controle...13 1.2.3 Ações do Sistema Nervoso Autônomo...16 2 A BIODANZA COMO SISTEMA INTEGRADOR...17 2.1 Definição de Biodanza...17 2.2 A vivência como método...18 2.2.1 Características das vivências, segundo Rolando Toro...20 2.2.2 Linhas de vivência...21 2.2.3 A relação entre música movimento e vivência...25 2.2.4 A ação da Biodanza sobre o Sistema Nervoso Autônomo...26 3 SESSÃO DE BIODANZA ENFOCANDO A CURVA METODOLÓGICA E SEUS EFEITOS SOBRE O SNA...28 3.1 Estrutura de uma sessão de Biodanza...28 3.2 Estruturação da parte vivencial...30 3.3 Gráficos e exemplos de aulas de Biodanza: uma correta e outra incorreta com os efeitos fisiológicos provocados...35 4 CONCLUSÃO...40 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...42 6 GLOSSÁRIO...43

INTRODUÇÃO O tema deste trabalho surgiu de uma necessidade minha de poder tomar posse e sedimentar conhecimentos que me foram passados durante os anos de formação em Biodanza que, para mim, são de fundamental importância a fim de que possamos desenvolver um trabalho nessa área, com responsabilidade, seriedade e consciência de que nós temos em nossas mãos um instrumento maravilhoso e poderoso de transformação, tanto para os alunos quanto para os facilitadores. A curva metodológica da aula é um fator fundamental para que o processo possa se realizar completamente e com eficiência.trazendo para as pessoas, dessa maneira, todos os benefícios que a Biodanza oferece, na sua totalidade. Nesta pesquisa, o enfoque se dá através do efeito da curva sobre o Sistema Nervoso Autônomo, ou seja, como a parte vivencial influencia organicamente (fisiologicamente) a pessoa que está fazendo aula. Para que o tema fosse melhor compreendido, foi necessário aprofundar os conhecimentos sobre a anatomia e fisiologia (funcional) do Sistema Nervoso Autônomo, por isso, iniciamos o trabalho falando sobre esse assunto. Após há um apanhado geral, enfocando a Biodanza como um sistema integrador, discorrendo sobre vários tópicos para que possamos entender, aos poucos, onde se encaixa a parte da ação da Biodanza sobre o Sistema Nervoso Autônomo. Para concluir este trabalho, há um capítulo sobre a estrutura da sessão (aula), bem como apresento gráficos e exemplos de aulas e seus efeitos fisiológicos. Este trabalho está baseado e estruturado na Teoria da Biodanza através de pesquisa de materiais e textos disponíveis nessa área.

1 SISTEMA NERVOSO AUTÔNOMO (SNA) 1.1 Organização anatômica O Sistema Nervoso Autônomo é um conjunto de neurônios situados na medula e no tronco encefálico, cujos axônios se comunicam com praticamente todos os órgãos e tecidos do corpo humano. Sua tarefa é manter a homeostase, mesmo que suas ações não sejam totalmente autônomas; havendo coordenação das regiões superiores do Sistema Nervoso Central (no diencéfalo, particularmente o hipotálamo). Esse Sistema apresenta duas divisões clássicas: a simpática e a parassimpática. Os termos simpático e parassimpático derivam do grego e significam harmonia, solidariedade e têm a função de manter o equilíbrio interno; ou seja, a homeostase do corpo. 1.1.1 Organização básica do Sistema Nervoso Autônomo Inclui uma população de neurônios centrais situados no tronco encefálico e na medula, cujos axônios emergem do Sistema Nervoso Central e constituem os nervos que terminam em uma segunda população de neurônios, os periféricos; situados em gânglios ou distribuídos em plexos nas paredes das vísceras. Considerando os gânglios como pontos de referência, chamamos os neurônios centrais (e seus axônios) de pré-ganglionares e os periféricos de pósganglionares. Há uma diferença estrutural entre as duas divisões do Sistema Nervoso Autônomo: no Sistema Simpático os axônios pré-ganglionares são curtos e terminam próximos à coluna

6 vertebral e os pós-ganglionares são longos, se incorporam aos nervos periféricos e se estendem por todo o organismo até os órgãos-alvo. Já no Sistema Parassimpático, as fibras pré-ganglionares são longas, terminando em gânglios ou plexos situados muito próximos, ou mesmo na parede das vísceras, enquanto os pós-ganglionares são curtos. As sinapses ganglionares permitem a ocorrência de divergência periférica no Sistema Nervoso Autônomo, possibilitando que o axônio de um único neurônio pré-ganglionário estabeleça sinapses com inúmeros neurônios pós-ganglionares. Como cada um desses neurônios se ramifica extensamente no território-alvo, a divergência se amplia, resultando em uma ação difusa. FIGURA 1: O sistema nervoso autônomo (B e C) difere do sistema motor somático (A) pela existência de uma sinapse periférica entre a fibra eferente de origem central e a que inerva as células efetoras. Essa sinapse periférica se localiza em gânglios e plexos situados fora das vísceras ou em plexos situados no interior da parede visceral, B representa a organização básica da divisão simpática, e C a divisão parassimpática. FONTE: Lent (2001).

7 Outra característica do Sistema Nervoso Autônomo é a presença de sinapses modificadas entre neurônios pós-ganglionares e a estrutura alvo, seja fibra muscular lisa ou uma célula glandular. Os numerosos ramos das fibras simpáticas e parassimpáticas no território-alvo apresentam varicosidades em seqüência, como as contas de um colar, que ficam próximas, mas geralmente não são contíguas à célula-alvo, apresentando inúmeras vesículas parecidas com as vesículas sinápticas. Estas vesículas contêm neurotransmissores que são liberados ao meio extracelular pelos potenciais de ação e geralmente se difundem por grandes distâncias, até chegarem aos receptores de várias células da região e não só da mais próxima. FIGURA 2: Os axônios autonômicos pós-ganglionares não formam sinapses típicas com as células efetoras, como é o caso do sistema motor somático. Próximo a elas os axônios se ramificam bastante, e cada ramo terminal forma varicosidades com muitas vesículas que contêm neurotransmissores e neuromoduladores. Essas substâncias são liberadas no meio extracelular sob comando neural, mas têm que se difundir a uma certa distância para encontrar os receptores moleculares específicos na membrana das células efetoras. FONTE: Lent (2001).

Esta estrutura sináptica modificada contribui ainda mais para que a ação funcional do Sistema Nervoso Autônomo seja difusa e extensa. 8 1.1.2 Organização do Sistema Simpático A grande maioria das somas (corpo) dos neurônios pré-ganglionares está na coluna intemédio-lateral da medula bilateral entre os segmentos T1 e L2. Esses são neurônios pequenos que emitem axônios mielínicos finos. Alguns desses axônios emergem pelas raízes centrais, mas logo formam um desvio, chamado de ramo comunicante branco (devido à mielina) e entram em um dos gânglios para-vertebrais, situados em ambos os lados da coluna, dentro dos quais formam sinapses com as células pós-ganglionares. Outros axônios pré-ganglionarios seguem o mesmo caminho pelo ramo comunicante branco, mas atravessam os gânglios para-vertebrais sem interrupção e vão estabelecer sinapses em um segundo grupo de gânglios pré-vertebrais. Os gânglios para-vertebrais são interconectados por troncos nervosos por onde passam os ramos ascendentes e descendentes das fibras pré-ganglionares e, assim, formam duas cadeias, uma em cada lado da coluna vertebral. Os gânglios prévertebrais são interconectados de maneira aparentemente desordenada, sem formar cadeias e, por isso, muitas vezes, não chamados de plexos. Quase todos os gânglios pré-vertebrais são estruturas ímpares e não bilaterais. Os axônios pós-ganglionais são amielínicos e muito finos, emergindo dos gânglios pelos ramos comunicantes cinzentos (devido à falta de mielina) e se reúnem com os nervos periféricos mistos e em alguns casos formam nervos exclusivamente autonômicos (como os nervos cardíacos).

9 FIGURA 3: As fibras pré-ganglionares simpáticas emergem da medula pela raiz ventral, misturadas às fibras motoras somáticas. Logo em seguida deixam os nervos espinhais pelos ramos comunicantes brancos e fazem sinapses com os neurônios pós-ganglionares. Os axônios pós-ganglionares da cadeia paravertebral retornam aos nervos espinais pelos ramos comunicantes cinzentos, e depois se incorporam aos nervos periféricos, enquanto os dos gânglios pré-vertebrais formam nervos periféricos diretamente. Alguns axônios pré-ganglionares inervam diretamente a medula adrenal, que nesses sentido é um "gânglio simpático" modificado. FONTE: Lent (2001). A segmentação da cadeia ganglionar acompanha aproximadamente a segmentação vertebral (um gânglio para cada segmento), no que se refere ao controle das estruturas da pele, do tronco e dos membros: vasos glandulares e pêlos. Para as vísceras abdominais e pélvicas, entram os gânglios pré-vertebrais que, não acompanham a segmentação vertebral.

FIGURA 4: Quase todos os órgãos do corpo são funcionalmente influenciados pelas fibras pós-ganglionares simpáticas (em vermelho). Estas se originam de neurônios situados na cadeia de gânglios paravertebrais (onde há também muitos interneurônios, não representados), e com gânglios pré-vertebrais. Os gânglios que parecem "vazios" na verdade alojam os neurônios pós-ganglionares que inervam os vasos sangüíneos de todo o corpo, bem como as glândulas sudoríparas e folículos pilosos da superfície cutânea. Os neurônios pré-ganglionares simpáticos (em azul) situam-se em segmentos torácicos e lombares da medula espinhal. FONTE: Lent (2001). 10

11 1.1.3 Organização do Sistema Parassimpático Os neurônios pré-ganglionares estão localizados em dois setores bem separados: um conjunto de núcleos, no tronco encefálico, e outro na coluna intermédio-lateral da medula sacra (S2 a S4). Já os gânglios parassimpáticos cranianos são estruturas arrendondadas bem delimitadas que se posicionam perto dos alvos correspondentes, como (sem a expressão por exemplo ) o gânglio ciliar, que se localiza atrás do globo ocular, bem próximo do nervo óptico e o submandibular e o óptico, que ficam próximos das glândulas salivares. Por seu turno, os neurônios pós-ganglionares do corpo, inervados pelo nervo vago e seus ramos, localizam-se em gânglios ou plexos situados próximo ou dentro da parede das vísceras torácicas e abdominais. Por fim, os neurônios pós-ganglionares propriamente ditos, por sua vez, inervam a musculatura lisa do trato gastrintestinal e são responsáveis pelos movimentos peristálticos que propelem o bolo alimentar, mas sua atuação é modulada e organizada pelos demais neurônios que formam o plexo.

FIGURA 5: Da mesma forma que no caso da divisão simpática, quase todos os órgãos do corpo são funcionalmente influenciados pelas fibras pós-ganglionares parassimpáticas (em vermelho). Estas se originam de neurônios situados em gânglios ou plexos situados próximo aos efetores. Os neurônios pré-ganglionares parassimpáticos (em azul) situam-se no tronco encefálico e em segmentos sacros da medula espinhal. Por isso a divisão parassimpática é conhecida também como craniossacra. FONTE: Lent (2001). 12

13 1.2 Fisiologia do Sistema Nervoso Autônomo 1.2.1 Tipos de controle O Sistema Nervoso Autônomo controla o organismo e mantém constante o meio interno (equilíbrio homeostático) de duas maneiras: um modo reflexo e um modo comando. O modo reflexo envolve o recebimento de informações provenientes de cada órgão ou sistema orgânico e a programação e execução de uma resposta apropriada. Isso pode ser sentido quando, ao se levantar da cama subitamente os mecanorreceptores situados na parede da aorta e das carótidas acusam uma tendência de queda da tensão arterial e imediatamente acionam a divisão simpática que promove um pequeno aumento da freqüência cardíaca e um vaso constrição periférica que re-equilibram a pressão. Os reflexos empregados nesse tipo de controle podem ser locais (na própria víscera) ou centrais (envolvendo neurônios e circuitos do Sistema Nervoso Central). Já o modo comando, envolve a ativação do Sistema Nervoso Autônomo por regiões corticais ou subcorticais do Sistema Nervoso Central. Pode-se observar esse modo de controle através da lembrança de uma emoção; já que isso pode provocar taquicardia, sudorese, salivação e muitas outras reações orgânicas, sem que haja, necessariamente, qualquer ativação sensorial ou aferente. Muitas vezes, o Sistema Nervoso Autônomo usa, simultaneamente, o modo reflexo e o comando e, em outras vezes, só um deles entra em ação, como nos exemplos há pouco mencionados. 1.2.2 Estratégias de controle O Sistema Nervoso Autônomo emprega diferentes estratégias para comandar os efetores de maneira capaz de regular com precisão a função dos órgãos. A grande maioria dos órgãos e tecidos é inervada, tanto pela divisão simpática como pela divisão parassimpática. Essa

14 interação pode ocorrer de três maneiras: antagonista; isto é, na qual a atividade parassimpática provoca efeito contrário à atividade simpática. Sendo assim, quando a atividade de um cresce a do outro decresce. Um exemplo dessa integração acontece com o coração que é inervado por fibras pós-ganglionares simpáticas e parassimpáticas. A estimulação simpática provoca taquicardia (aumento da freqüência cardíaca), enquanto a estimulação parassimpática, tem efeito contrário, ou seja, bradicardia (diminuição da freqüência cardíaca). Pode ocorrer por sinergia, em que ambos os sistemas provocam o mesmo efeito. Como nas glândulas salivares, que têm fibras simpáticas e parassimpáticas, mas ambas provocam a secreção salivar. Outro tipo de ocorrência é a exclusiva, na qual a inervação autônoma é de um único tipo. Como exemplo típico, temos os vasos sangüíneos que, com algumas exceções, a musculatura lisa vascular é inervada exclusivamente pela divisão simpática, que mantém, em condições normais, um estado relativamente constante de contração muscular chamado de tônus simpático ou vascular. As variações de diâmetro necessárias à regulação da pressão arterial e do fluxo sangüíneo são obtidas variando para mais ou menos o tônus simpático. Isto quer dizer que quando as fibras simpáticas pós-ganglionares aumentam sua freqüência de disparo, ocorre vasoconstrição, e, quando diminui sua freqüência, ocorre vasodilatação.

FIGURA 6: A maioria dos órgãos recebe inervação autônoma dupla: simpática e parassimpática. Nesse caso, há interação entre ambas as divisões para o controle funcional, seja de natureza antagonista ou sinergista. Em alguns órgãos a inervação e o modelo de controle são exclusivos, como as glândulas sudoríparas e os vasos sangüíneos. As funções apresentadas ao lado de cada órgão as que resultam da ativação das fibras correspondentes. FONTE: Lent (2001). 15

16 1.2.3 Ações do Sistema Nervoso Autônomo As ações do Sistema Nervoso Autônomo estão descritas na tabela a seguir, na qual estão relacionados o órgão ou tecido em comparação à atividade simpática e à parassimpática e descriminado qual é o mecanismo utilizado para o funcionamento do órgão ou tecido em questão. Quadro 1 Ações do Simpático e do Parassimpático Órgão ou tecido Ativação Simpática Ativação Parassimpática Mecanismo Bexiga Brônquios Coração Cristalino Enchimento (relaxamento da musculatura lisa e contração do esfíncter interno) Broncodilatação (relaxamento da musculatura lisa) Taquicardia e aumento da força contrátil Acomodação para longe (relaxamento do músculo ciliar) Fechamento (contração da musculatura lisa) Esvaziamento (contração da musculatura lisa e relaxamento do esfincter interno) Bronconstrição (contração da musculatura lisa) Bradicardia e diminuição da força contrátil Acomodação para perto (contração do músculo ciliar) Abertura (relaxamento da musculatura lisa) Antagonista Antagonista Antagonista Antagonista Esfíncteres antagonista digestivos Fígado Aumento de liberação de glicose Armazenamento de glicogênio Antagonista Glândulas Diminuição da secreção Aumento da secreção Antagonista digestivas Glândulas Lacrimejamento (vasodilatação e Diminuição do lacrimejamento Antagonista lacriminais secreção) (vasoconstrição) Glândulas Salivação viscosa Salivação fluida Sinergia salivares Glândulas Sudorese* - Sinergias ou sudoríparas exclusivo Íris Midríase (contração das fibras) Miose (contração das fibras circulares) Antagonista órgãos linfóides Imunossupressão (redação da Imunoativação (aumento da produção Antagonista (timo, baço e produção de linfócitos) de linfócitos) nodos) Pâncreas endócrino Pênis e clitóris Tecido adiposo Trato gastrointestinal Vasos sangüíneos em geral Vasos sangüíneos pélvicos e de algumas glândulas Redução da secreção de insulina Aumento da secreção de insulina Antagonista Supressão da ereção e do intumescimento após o orgasmo Ereção e intrumescimento (vasodilatação) Antagonista Lipólise e liberação de ácidos - Exclusivo graxos Diminuição do peristalismo Ativação do peristalismo Antagonista Vasoconstrição - Exclusivo Vasoconstrição Vasodilatação Antagonista *As glândulas sudoríparas possuem apenas inervação simpática, mas alguns terminais são colinérgicos, outros são adrenérgicos, e ambos provocam secreção glandular.

2 A BIODANZA COMO SISTEMA INTEGRADOR 2.1 Definição de Biodanza Para conceituar a Biodanza em um contexto acadêmico e científico deve-se primeiramente vivenciá-la, senti-la na pele, nos órgãos, pelo sangue correndo nas veias, dançá-la através das emoções. Só depois transformar seu conceito em palavras, pois como diz Rolando Toro em seu livro Biodanza: A base conceitual da Biodanza provém de uma meditação sobre a vida, do desejo de renascermos de nossos gestos despedaçados, de nossa vazia e estéril estrutura de repressão; provém, com certeza, da nostalgia do amor. Portanto, a Biodanza não é uma ciência nem um sistema terapêutico só de idéias, teorias e palavras, mas sim de algo que vai além de tudo isso, ultrapassando essas barreiras e se instalando em nosso mais íntimo ser, em nossa essência. Na verdade, há uma definição acadêmica de Biodanza que permite traduzir em palavras o seu significado, mesmo que essa definição seja uma janela que se abre apenas para poder abarcar todo o seu significado: A Biodanza é um sistema de integração humana, de renovação orgânica, de reeducação afetiva e de reaprendizagem das funções originárias da vida.. Ela tem como base metodológica as vivências integradoras induzidas pela música, pelo canto, pelo movimento e pelas situações de encontro em grupo. Para compreender melhor aborda-se alguns dos termos usados nessa definição. A integração humana como processo dentro da Biodanza abarca três níveis: - Integração consigo mesmo, resgatando a unidade psicofísica do indivíduo;

18 - Integração com o semelhante, resgatando o vínculo original com a espécie, como totalidade biológica; - Integração ao universo, resgatando o vínculo primordial do homem à natureza e se reconhecendo como parte da totalidade maior, o cosmos. A renovação orgânica na Biodanza ocorre por efeito da homeostase, do equilíbrio interno e da redução dos fatores de estresse, sendo estimulada mediante exercícios que induzem estados de transe e de regressão integradores. Um objetivo essencial na Biodanza é o estímulo da afetividade no ser humano, tão perturbada nos dias de hoje, em que o vínculo com o outro e as relações de afeto não são estimuladas, gerando seres sem amor, áridos e estéreis, levando a humanidade à solidão, à tristeza, à violência e à morte. O reaprendizado das funções originárias da vida consiste na sensibilização dos instintos básicos, que constituem uma expressão da programação biológica. Os instintos representam a natureza em nós e sensibilizar-se a eles significa restabelecer a ligação entre homem e cultura. Para ilustrar é oportuna a frase de Rolando Toro: A auto-regulação dos instintos tem uma base orgânica constituída por uma infraestrutura neuroendócrina de notável precisão: por esta razão, a liberação dos instintos não representa perigo; ao contrário, resgatar no próprio estilo de vida, uma coerência a esses impulsos inatos é um modo natural de responder harmoniosamente às necessidades orgânicas e assim, manter a saúde (TORO, 2002, p. 36). 2.2 A vivência como método A vivência é, segundo Toro (2002), uma experiência vivida intensamente por um indivíduo em um lapso de tempo, aqui e agora (gênesis atual), abarcando funções emocionais, cenestésicas e orgânicas. A metodologia de Biodanza é baseada em vivências integradoras, induzidas através da música e traduzidas na forma de movimento, carregado de emoção. Quando se trata de aqui e agora, fala-se em estar presente, sentindo e vivendo o momento, estando em compromisso com o que se está fazendo.

19 Quando se está preso ao passado ou ao futuro e não conectado ao tempo presente, não se está em vivência. Existem as dimensões de tempo: passado, futuro e aqui-e-agora, que é uma bagagem na qual trazemos nossos passado e presente em conexão. Na Biodanza, as vivências têm um efeito harmonizador e estão associadas a situações em que se reforça o lado positivo das mesmas. Podemos descrever a vivência através do seguinte gráfico da linha de tempo, no qual saímos através dela do nosso cotidiano, entramos no tempo vivencial (que não tem tempo, por isso podemos senti-lo como se tivesse 15 min, 1 min, ou 1 hora, dependendo de quem experiencia) e, ao sairmos dele, levamos um aprendizado que envolve todo o nosso organismo, nos níveis emocional, visceral e, mais tarde, racional (no nível da consciência). Portanto, a vivência vai da emoção à consciência e não vice-versa. Quando voltamos ao nosso cotidiano, já não é a mesma coisa de quando saímos dele. As vivências que tivemos ficam impregnadas em nós e, com o tempo, as traremos à consciência, onde serão registradas. Não tempo Tempo vivencial Aprendizagem Cotidiano (racional) Vivência Cotidiano (racional) Linha do tempo A transformação do aprendizado pode ou não ser conscientizada. Muitas vezes, podemos mudar nossas atitudes sem ter passado pelo racional (sem a palavra ou ) pela análise ou pela interpretação psicológica, e sim só por ter vivido e sentido a vivência. A importância de se priorizar as vivências em Biodanza se dá pelo fato de que as mudanças ou iniciativas existenciais partem dessas vivências, e só depois delas se informa à consciência do

que houve, porquê, ao se analisar, de imediato, pode-se reforçar ou ativar os mecanismos de defesa e permitir, com isso, a instalação de conflitos. 20 2.2.1 Características das vivências, segundo Rolando Toro As características aqui apresentadas foram compiladas do livro A Biodanza, de Rolando Toro, bem como da apostila A Vivência, do curso de Formação Docente em Biodanza. Primeiramente, tem-se a experiência original, que se constitui na experiência original de nós mesmos, de nossa identidade, anterior a qualquer elaboração simbólica ou racional. Depois há a anterioridade à consciência, sendo uma manifestação do ser que precede a consciência. Esse tipo de conscientização pode ser imediato ou vir em um segundo momento. A última a ser informada é a consciência. No processo de integração da identidade e de expressão das potencialidades genéticas, a vivência tem, por isso, prioridade sobre a consciência. Outra característica é a espontaneidade: a vivência não está sob o controle da consciência, por isso, pode ser evocada, mas não dirigida pela vontade, possuindo qualidade do original. Já a subjetividade, se manifesta a partir da identidade, pois as vivências que cada pessoa experimenta são únicas, íntimas, incomparáveis e, muitas vezes, incomunicáveis sem palavras para se expressar o que se está, de fato, sentindo. Além disso, tem-se a intensidade variável, que é a intensidade das vivências, que varia conforme a sensibilidade de cada pessoa, do tipo específico de vivência experimentada e da qualidade do estímulo que essa vivência produz. À medida que diminui a atividade consciente de controle e de vigilância, aumenta a intensidade da vivência. A temporalidade, por seu turno, é passageira. Ela se manifesta no momento presente, no aqui-agora, e constitui uma experiência de Gênese atual, no sentido dado por Alfred Awersperg, para referir-se à contínua criação da vida, que se verifica nos organismos vivos. Já a emocionalidade, está presente nesse processo porque freqüentemente a vivência dá origem a emoções. Além disso, a dimensão cenestésica

21 (sensação interna) é importante, uma vez que as vivências vêm sempre acompanhadas de sensações cenestésicas e agregam sensações de prazer, alegria, bem-estar, erotismo e comprometem todo o organismo. Já a influência sobre o inconsciente vital ocorre porque a vivência é a via de acesso ao inconsciente vital, sendo o maior fator de regulação do mesmo. E a dimensão ontológica é a vivência que constitui a conexão íntima e absoluta, ligada ao ser e à percepção de estar vivo. Ela tem um valor ontológico (o indivíduo como identidade) e compromete a validade de ser. Por fim, temos a expressão da identidade, na qual as vivências comprometem a identidade como um todo, significando que as vivências têm influência nos estados orgânicos, emocionais e existenciais do indivíduo. 2.2.2 Linhas de vivência As linhas de vivência são cinco e significam as modalidades de expressão do potencial genético e as principais aspirações humanas. Segundo Rolando Toro: todos os aspectos da vida humana considerados tradicionalmente como integrantes da esfera psíquica têm origem biológica. Eles são gerados no coração dos processos celulares e chegam por diferenciação à qualidade de impulsos, de pulsões e de instintos e se transformam no interior do homem em vivências, emoções e sentimentos. Essas cinco linhas são: A - Vitalidade É o potencial do equilíbrio orgânico, da homeostase, da saúde, do ímpeto vital e da alegria de viver. O desenvolvimento da linha da vitalidade gera-se estimulando, mediante as danças, o sistema neurovegetativo (simpático e parassimpático), a homeostase (equilíbrio interno que se conserva apesar das trocas externas), o instinto de conservação (luta e fuga), a energia para a ação e a resistência imunológica (TORO. In: Definição do Modelo Teórico de Biodanza).

22 No aspecto biológico, o nível de vitalidade pode ser medido através dos níveis de saúde (equilíbrio fisiológico) e doença (desequilíbrio fisiológico). No aspecto psicológico, o nível de vitalidade pode ser expresso através da motivação para a ação, da força dos instintos (de conservação, fome, sede etc) e da alegria de viver. Na Biodanza, a avaliação da saúde é feita através de alguns indicadores de vitalidade, tais como resistência ao esforço; vitalidade do movimento; estabilidade neurovegetativa (atividade-repouso); potência dos instintos e estado nutricional. Ter vitalidade não significa simplesmente ter a força e a potência dos movimentos e dos gestos. Quer dizer também possuir a harmonia e a agilidade dos mesmos, a luz e o brilho do olhar, o riso fácil e espontâneo, o som genuíno da voz e a força dos instintos. B - Sexualidade A sexualidade há séculos tem sido reprimida, das mais diversas formas, principalmente através das religiões, inibindo o fluxo natural da energia sexual, que é instintiva no ser humano e está relacionada com a reprodução da espécie (fecundação). Isto traz como conseqüência uma distorção das formas de sexualidade, de onde vão surgir as patologias (sadomasoquismo, sexofobia, fetichismo etc.), bem como os mecanismos de defesa do EU (idealizações, racionalização, formação reativa etc.) fazendo com que haja uma desintegração da sexualidade, bem como um afastamento do verdadeiro sentido da mesma. A sexualidade está associada ao prazer e o prazer ao desejo. O desejo, por sua vez, é o primeiro passo que move a sexualidade. Para podermos viver plenamente a nossa sexualidade, inicialmente temos que despertar a nossa fonte do desejo e depois expressá-lo; para que possamos realizá-lo e desfrutá-lo. Muitas vezes, conseguimos chegar até o momento de despertar o prazer e então nos sentimos culpados, devido a toda essa repressão cultural e social que sofremos.

23 Para que possamos desfrutar e sentir prazer sem culpa, é necessário elaborá-la. A biodanza trabalha todas essas questões, desde o despertar da fonte do desejo até a elaboração da culpa e do prazer, para que se possa viver a sexualidade de modo pleno. A sexualidade não se refere somente ao sexo em si, mas se estende a todos os grandes e pequenos prazeres da vida, desde sentir as gotas de chuva caindo no rosto e no corpo todo; o sabor e o prazer da comida; o toque das carícias e os beijos molhados, o calor do sol na pele e a brisa nos cabelos, tornando-se consciente dos prazeres cotidianos. C - Criatividade Se o ato de viver é uma sutil manifestação do prodigioso movimento de um universo biologicamente organizado e em criação permanente, a criatividade humana pode ser considerada uma extensão dessas forças biocósmicas que se exprimem através de cada indivíduo. Nós somos ao mesmo tempo a mensagem, a criatura e o criador. [...]. Compreende as dificuldades intelectuais que esta idéia comporta para aqueles que costumam abordar o fenômeno criativo como uma manifestação do espírito. Chegou a hora de assumir que a nossa grandeza não está no espírito, mas sim na existência. E digo de uma maneira ainda mais radical, nossa grandeza é nossa existência (TORO. In: Criatividade, p. 1). A criatividade, do ponto de vista da Biodanza, consiste em se deixar que a expressão dos impulsos naturais de criação aflore, em um sentido mais amplo, não só da criação artística, mas sim da criação como uma extensão do processo de vida. Isto envolve o cotidiano: escolher como se quer viver, desde os menores atos - como fazer uma comida diferente, sair da rotina do dia-a-dia, criando momentos especiais dentro dela. A criatividade é estimulada através de vivências de expressão primal, de integração das forças ying-yang, de comunicação afetiva e elaboração criativa, nas quais se estimulam os impulsos inatos de inovação e expressão. D - Afetividade A afetividade está relacionada com o sentimento de amor pela espécie (outro ser humano), pelo instinto de solidariedade, pela empatia, por se colocar no lugar do outro (altruísmo), pelo sentimento de pertencer à espécie (sentir-se parte) e pelo reconhecimento da