Criar condições de Segurança e de uma Paz Durável para Todos



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Transcrição:

Memorando do Workshop 5 http://jaga.afrique-gouvernance.net Criar condições de Segurança e de uma Paz Durável para Todos Contexto e Problemática De acordo com os termos de referência, o Workshop 5 referente às condições de segurança para todos, teve como principal objectivo, responder a 5 questões. No entanto, para incentivar a participação activa na discussão, o grupo adoptou uma metodologia de trabalho permitindo que os participantes, compartilhassem, por um lado, as suas experiências e pontos de vista acerca de cada uma das questões, e por outro, a questão da prevenção e gestão de conflitos. Deste modo, a reflexão levada a cabo permitiu: Fazer um inventário das ameaças à segurança e fontes de conflitos, discutir a eficácia dos mecanismos de prevenção, gestão e resolução existentes bem como o seu impacto no terreno e realidade do quotidiano; Identificar as tendências, evolução e benefícios, Identificar os principais problemas e desafios, os objectivos estratégicos de mudança e acções de estruturação, E, por último, identificar os diferentes atores e definir o seu papel e lugar na criação de condições de segurança e de paz durável para todos. Questão fundamental, em relação à crise em muitos países africanos, a questão da paz e segurança duradouras é um dos grandes problemas na governação, na medida em que questiona os fundamentos institucionais dos Estados-nação pós-coloniais. A reconstrução da governação anda de mãos dadas com a segurança e a paz, sem as quais todos os esforços desenvolvimento económico e social estão, à partida, comprometidos. Esta síntese faz um resumo de cada um destes pontos. Baseia-se em três pontos, tendo em conta a estrutura proposta pela organização: os resultados, as questões e os desafios, bem como as propostas de objectivos estratégicos e acções estruturantes relacionadas com as funções e responsabilidades das diferentes categorias de atores. 1 Apreciação Das reflexões e discussões tidas durante o workshop, conclui-se que, apesar da relativa pacificação da política através do processo de democratização, a questão da segurança e da paz continua a ser uma preocupação para os Estados cujas instituições esforçam-se para garantir a segurança de todos os seus cidadãos. Os Processos institucionais, decorrentes da democratização das sociedades, ainda não conseguiram criar as condições para uma paz 1

duradoura, apoiada em mecanismos de prevenção, gestão e resolução de conflitos a nível das ameaças à paz e à estabilidade política e social. Essas ameaças, muitas vezes inerentes aos processos institucionais que são construídos sem referência aos reais valores, princípios e realidades das sociedades africanas muitas vezes transformam-se em conflito aberto e violência em vários países. Os mecanismos modernos para a prevenção, gestão e resolução ainda não produziram o efeito desejado. Ao mesmo tempo, os mecanismos tradicionais em que as sociedades africanas foram baseadas antes da colonização e os estados pós-coloniais não são suficientemente utilizados como uma alternativa. Além disso, o processo de construção e formação para a cidadania não é capaz de construir nas pessoas um forte sentimento de pertença a um destino comum. Finalmente, num mundo onde as mudanças e as ameaças, são cada vez mais imprevisíveis e preocupantes, os Estados africanos enfrentam enormes desafios na luta contra a pobreza (ver as condições precárias de vida da maioria da população) e na instauração uma boa governação. Estas dificuldades contribuem para distanciar as instituições da sociedade e para deslegitimar a acção pública. A competição por recursos e poder (do local ao nacional) geralmente provoca posturas ou lógicas de confronto prejudiciais à paz e à segurança humana, devido à ausência de mecanismos para regular as relações entre as diferentes categorias de atores, a prevenção, gestão e resolução de conflitos, reconhecida e compartilhada por todos. No geral, a África é ameaçada pelo crime urbano e suburbano crescente, por conflitos decorrentes de disputa de terras, pela escassez de recursos naturais e desequilíbrios ambientais, uma criminalidade transfronteiriça e transnacional crescente dominada pelo tráfico de drogas, de armas, tráfico humano, e, especialmente, um terrorismo internacional desenfreado e que se regenera na pobreza e a miséria. Este contexto compromete a segurança humana e desenvolvimento económico e social dos Estados, enfraquecendo os processos democráticos e progressivamente destruindo os fundamentos de "viver em conjunto" tendo como resultado a desigualdade e a injustiça social e a desintegração do Estado e da sua autoridade. Esta situação resulta, de acordo com o grupo, em quatro falhas principais: i) De Visão, ii) De Estratégia iii) De Comunicação, e iv) De Meios. Além disso, dos debates e discussões do workshop, conclui-se que as principais fontes de conflito em África incluem: A má governação que exclui a maioria da gestão, o lucro e o controlo da acção pública (exclusão e marginalização no acesso aos bens e aos serviços públicos), A fraqueza da subsidiariedade activa entre Estados (regional, entre o Estado e as colectividades locais, A instrumentalização e politização das forças de defesa e de segurança pelos líderes, A competição pelo acesso ao poder e aos recursos (eleições, culturas políticas e práticas dos líderes, terra, recursos minerais, água, etc.), A intolerância e rejeição da diversidade (conflitos étnicos e/ou religiosos deslocação da população, migração), O desmoronamento dos valores tradicionais e dos processos socialização dos indivíduos, Os litígios políticos ou a crise das formas de representação (liderança política, etc.), 2

A ineficiência ou a crise nos mecanismos modernos de regulação social (falta de capacidade de antecipar e reagir adequadamente), O Terrorismo, A intolerância religiosa, O tráfico em todas as suas formas (armas, drogas, humano, etc.), A predação e pilhagem dos recursos naturais, muitas vezes com a cumplicidade das grandes companhias multinacionais, Etc. 2 - Problemas e desafios As questões de segurança ultrapassam as fronteiras nacionais. Elas envolvem a articulação das escalas territoriais (local, nacional e regional), de modo a ter em conta a diversidade de atores, a sua participação e responsabilidade na reflexão, o desenvolvimento e implementação de políticas de segurança. Podemos retirar assim 5 questões importantes: A reforma, construção e fortalecimento do Estado de Direito com as instituições republicanas fortes e estáveis; A Construção de um desenvolvimento económico para garantir o acesso da população aos direitos sociais e económicos para evitar a predação e a pilhagem dos recursos naturais por empresas multinacionais; A reconstrução do sector da segurança, combinando os mecanismos tradicional e moderno de modo a legitimar e tornar operacionais, os atores envolvidos, através de um domínio do ambiente institucional e político; Abertura de um diálogo construtivo e inclusivo entre os atores de modo a se avançar para compromissos colectivos, tendo em conta todos os níveis de governação; Fortalecimento das instituições regionais africanas proporcionando-lhes poder de coerção, o direito e o dever de intervir para evitar crises sempre que as trajectórias do governo se desviem do Estado de direito; Assim, podemos reter, essencialmente, que além de observações, o workshop focou-se mais numa reflexão prospectiva numa tentativa de fornecer respostas ao contexto acima apresentado que deixa muito a desejar. Esta reflexão exige, antes de mais, uma compreensão dos problemas reais. Destas questões surgem objectivos estratégicos e propostas de acções estruturantes, tendo em conta a diversidade de atores e a necessária inclusão nas abordagens e estratégias. O grupo tentou também definir o papel e responsabilidades dos actores. 3 - Propostas de acções estruturantes, papéis e responsabilidades dos atores Com base nestas questões e desafios o workshop propõe objectivos estratégicos e acções estruturantes e, finalmente, os papéis e as responsabilidades dos actores. Estas propostas estão divididas em quatro categorias de atores: Institucionais (Estado e suas instituições, autoridades locais, etc.); Não Institucionais (sociedade civil, sector privado, comunidades religiosas e costumeiras, actores tradicionais, pessoas capacitadas, etc.); Organizações Regionais e Africanas (UEMOA, da CEDEAO, SADC, União Africana, etc.); Parceiros e a Comunidade Internacional. As propostas incluem: a) A nível dos actores institucionais: O Estado e as Autoridades Locais: 3

Desenvolver um inventário dos actuais mecanismos tradicionais, das suas modalidades de adaptação e activação; Mapeamento de zonas de conflito, de acordo com sua tipologia e identificar soluções; Criar as condições de confiança entre as forças de segurança e manutenção da paz e as populações; Redefinir os papéis de cada actor tendo em conta todas as escalas territoriais; Formar cidadãos conscientes dos valores da república, da nação e da cidadania; Identificar, documentar e institucionalizar mecanismos tradicionais que constituam instrumentos eficazes e adaptados de prevenção, gestão e resolução de conflitos; Criar uma ponte eficaz entre os mecanismos modernos e tradicionais; Identificar os princípios e métodos para a reconstrução, reinventar; Desenvolver e implementar sistemas de ensino reais, capazes de formar cidadãos responsáveis, conscientes do seu papel e responsabilidades, valores e princípios de convivência e das exigências de defesa e segurança; Fazer das forças de defesa e de segurança agentes do desenvolvimento através de novas práticas de construção social e económica; Construir instituições de defesa e segurança fortes, legítimas e operacionais; Criar um ambiente institucional e legal que permita reduzir a predação e a pilhagem dos recursos naturais por parte das multinacionais; b) A nível dos actores não institucionais: Colocar os jovens e as mulheres no centro das políticas de desenvolvimento, da promoção da segurança humana, a condição sine qua non de paz sustentável; Ajudar a promover valores positivos e mecanismos endógenos para a prevenção, gestão e resolução de conflitos; Informar, educar, sensibilizar e ajudar na formação da opinião pública, com engajamento na preservação e promoção da segurança humana; Educar as crianças num espírito de preservação e protecção da segurança humana; Promover e divulgar o seu papel, conhecimento e experiência na prevenção e resolução de conflitos; c) A nível das entidades regionais e africanas: Criar estruturas especializadas, com filiais a nível nacional no que diz respeito às questões religiosas, étnicas, latifundiárias, etc.; Fortalecer a capacidade de antecipação e pró-atividade das autoridades regionais de modo a prevenir conflitos e assegurar a segurança de todos os estados; Desenvolver uma visão e uma estratégia comum de defesa e segurança; Facilitar a colaboração e a sinergia entre as forças de defesa e segurança em diferentes países; Dotar as autoridades regionais e africanas de capacidade de injunção e apropriação, bem como implementação dos instrumentos existentes, em determinadas entidades regionais; Apropriação e implementação dos instrumentos existentes, em determinadas entidades regionais; 4

d) A nível de parceiros técnicos e financeiros e da comunidade internacional: Integrar a segurança em todo o projecto de governação democrática e no desenvolvimento económico e social a nível nacional e regional; Acompanhar e apoiar o continente africano na construção de uma visão, uma estratégia e de um plano operacional de segurança que alie os mecanismos tradicional e o moderno; Apoiar a formação de novas forças de defesa e segurança, que estejam conscientes dos problemas existentes e, consequentemente, bem equipadas. 5

A tabela abaixo apresenta um resumo mais detalhado das propostas do workshop acerca cada um destes pontos: Problemas e Desafios Evolução, tendências e benefícios Objectivos estratégicos e acções estruturantes Papel e responsabilidades dos atores Combinar a segurança e a paz nas abordagens para gestão de conflitos Controle do ambiente institucional, político, dos atores que representam o estado, das pessoas e das forças de segurança A maioria das questões de defesa e segurança ultrapassam os limites fronteiriços Insuficiência de resultados, mecanismos modernos e tradicionais não considerados nos instrumentos para a prevenção e resolução de conflitos Desenvolver um inventário dos actuais mecanismos tradicionais, os métodos de adaptação e activação Mapeamento das zonas de conflito, de acordo com sua tipologia e identificar soluções Governo: a) O Governo central Estabelecer a boa governação e implementar políticas de desenvolvimento económico equitativo Promoção, protecção e defesa dos direitos humanos Controle do ambiente institucional, político, dos atores que representam o estado, das pessoas e das forças de segurança Os conflitos acontecem principalmente devido a rupturas sociais e políticas Criar as condições de confiança entre as forças de segurança e manutenção da paz e as populações Desenvolver políticas de segurança a partir de mecanismos reconhecidos, partilhados e aceites pela sociedade Diálogo construtivo e inclusivo entre os actores e trabalhar no sentido de compromissos coletivos considerando todos os níveis de governação A instauração de regimes democráticos reais A necessidade de ter em conta a questão da justiça social, a igualdade de acesso ao conhecimento e ao serviço publico Os princípios de boa governação, os valores endógenos podem alimentar mecanismos de regulação Necessária apropriação de mecanismos de regulação dos conflitos, pelas populações Necessidade de encontrar mecanismos africanos que regulem os conflitos atendendo aos contextos específicos e plurais dos seus palcos Redefinir os papéis de cada actor tendo em conta todas as escalas territoriais Formar cidadãos conscientes dos valores da república, da nação e da cidadania Identificar, documentar e institucionalizar mecanismos tradicionais que constituam instrumentos eficazes e adaptados de prevenção, gestão e resolução de conflitos Abrir o debate sobre segurança a todos os actores Desenvolver uma estreita colaboração entre os países, nas áreas regionais de modo a compartilharem recursos, informação e dispositivos b) As Forças de Segurança: Investir na formação para melhor aprender, compreender e respeitar a sua missão Abster-se de compromissos políticos Aliar a construção da paz ao desenvolvimento económico Importância da abordagem cultural para a prevenção, gestão e resolução de conflitos Criar uma ponte eficaz entre os mecanismos modernos e tradicionais Abrir-se às populações de modo a assegurar condições de estreita colaboração c) O poder local

Reconhecer a segurança humana (satisfação das necessidades básicas), como base para a acção pública Criar as condições dignas de vida para as populações Necessidade de considerar a questão da segurança como factor libertador do medo e da carência O reconhecimento da importância do acesso aos direitos políticos e económicos (bens e serviços públicos, direitos humanos, etc.) A necessidade de instauração do princípio da precaução (a começar ao nível da família, seguindo-se a vizinhança, o bairro, municípios, regiões, países da sub-região e do continente) Identificar os princípios e métodos para a reconstrução, reinventar Desenvolver e implementar sistemas de ensino reais, capazes de formar cidadãos responsáveis, conscientes do seu papel e responsabilidades, valores e princípios de convivência Fazer das forças de defesa e de segurança agentes do desenvolvimento através de novas práticas de construção social e económica Criar estruturas especializadas e de descentralização a nível nacional em matéria religiosa, étnica, de posse terras, etc. Assegurar a prevenção, a gestão da proximidade e a resolução de conflitos locais envolvendo todos os atores locais Identificar, adaptar e, se necessário, activar os mecanismos locais de regulação de conflitos Fortalecer a cooperação transfronteiriça em matéria de segurança e a convivência pacífica nessas áreas Sociedade Civil: Reforçar a sua capacidade de influenciar as políticas de segurança Promover, proteger e defender os direitos humanos Construir instituições de defesa e segurança fortes, legítimas e operacionais; Integrar a segurança em todo o projecto de governação democrática e no desenvolvimento económico e social a nível nacional e regional Educar os cidadãos com base nos princípios e valores endógenos Assegurar o controle das acções pelos cidadãos, desafiar as políticas e garantir a preservação da paz social Contribuir para a apropriação das políticas públicas, das estratégias e participação na sua implementação pelas populações Fortalecer a capacidade de antecipação e pró-atividade das autoridades regionais de modo a prevenir conflitos e assegurar a segurança de todos os estados Instituições regionais e africanas: Desenvolver uma visão comum e uma estratégia de defesa e segurança Colocar os jovens no centro das políticas de desenvolvimento, da promoção da segurança humana Dotar os organismos regionais e africanos de capacidade de injunção e apropriação, bem como implementação dos instrumentos existentes, em

determinados órgãos regionais; Os parceiros e a Comunidade internacional: Acompanhar e apoiar o continente africano na construção de uma visão, uma estratégia e de um plano operacional de segurança que alie os mecanismos tradicional e o moderno Apoiar a formação de novas forças de defesa e segurança conscientes e equipadas de acordo Os restantes actores: a) As comunidades: Ajudar a promover valores positivos e mecanismos endógenos para a prevenção, gestão e resolução de conflitos b) Os Meios de comunicação: Informar, educar, sensibilizar e contribuir para a formação da opinião pública, envolvendo-se na preservação e promoção da segurança humana c) As mulheres e a família: Educar as crianças no espírito de preservação e protecção da segurança humana d) Os Comunicadores tradicionais: Promover e divulgar o seu papel, conhecimento e experiência na prevenção e resolução de conflitos