AC no 001.2009.000.209-6/001 ACÓRDÃO Poder Judiciário do Estado da Paraíba Tribunal de Justiça Gabinete da Desembargadora Maria das Neves dp, Egito de A.- Éí. Ferreira APELAÇÃO CÍVEL No 001.2009.000.209-6/001t.L CAMPINA GRANDE RELATORA: Desa Maria das Neves do Egito deta. D. Ferreira APELANTE: Centro de Análises e Diagnóstico Veterinário DIAGNOVET ADVOGADOS: Thélio Farias e outros APELADO: Uziel Alves de Lyra ADVOGADO: Paulo Sérgio Cunha de Azevedo configura-se APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZA-FORJA, DANOS MORAIS E MATERIAIS. ERRO EM EXAME LABORATORIAL REALIZADO EM ANIMAL DE PROPRIEDADE DO APELADO. CONDUTA ILÍCITA DO APELANTE E NEXO DE CAUSALIDADE INEXISTENTES. DANOS. NÃO COMPROVAÇÃO. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. PROVIMENTO DO APELO. - É de conhecimento gerai que a responsabilidade civil mediante uma conduta comissiva ou missiva do agente, a ocorrência de um dano e o nexo de causalidade entre elas. No caso em tela não restou caracterizada a conduta ilícita do apelante e o nexo causal, tampouco.ficou demonstrado que o laboratório apelante tenha realizado o exame de forma diversa da convencional. VISTOS, relatados e discutidos estes autos. ACORDA a Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunas de Justiça da Paraíba, à unanimidade, dar provimento à apelação.
.AC n3 001.2009.000.209-Q/001 2 CENTRO DE ANÁLISES E DIAGNÓSTICO VETERINÁRIO DIAGNOVET interpôs apelação cível, inconformado com a sentença proferida pelo Juízo de Direito da 3a Vara Cível da Comarca de Campina Grande, que julgou procedente o pedido formulado nos autos da ação de indenização por danos materiais e morais, movida por UZIEL ALVES DE LYRA, condenando o apelante a pagar R$ 6.000,00 por danos morais e R$ 1.000,00 por danos materiais, com os acréscimos legais e honorários à base de 15% (quinze por cento) do valor da condenação (fls. 121/125). O autor/apelado alega ter sofrido dano moral por erro de diagnóstico de doença infecto-contagiosa (mormo) em cavalo de sua propriedade, o que motivou, inclusive, o sequestro do referido animal. O apelante, às fls. 127/134, reiterou que foram tomadas todas as cautelas para o procedimento no exame do referido animal e que sua conduta em nada se arredou dos preceitos contidos em instrução normativa do Ministério da Agricultura, não havendo, portanto, que se falar em dano moral, tampouco material. A parte recorrida, embora intimada, não apresentou suas contrarrazões (certidão de fls. 136v). Neste grau de jurisdição, instada a manifestar-se, a Procuradoria de Justiça, no parecer de fls. 142/147, opioou pelo desprovimento do recurso. É o relatório. VOTO: Desa MARIA DAS NEVES DO EGITO DE A. D. FERREIRA Relatora Compulsando os autos, verifico que o promovente/apelado aduziu, na exordial, que no dia 23 de junho de 2008 os exames habituais de cavalo de sua propriedade venceram-se e, ao realizar novos exames, no dia 07 de julho do referido ano, no mesmo laboratório, o resultado foi negativo para anemia infecciosa e positivo para a patologia conhecida como "mormo".
AC n 3 091.2009.000,209-6/001 Em consequência dessé: eé" ultado, o demandado/apelante informou o fato imediatamente à Secretaria de Defesa Agropecuária, cumprindo as determinações impostas na legislação, uma vez que "mormo" é uma doença infecciosa, podendo inclusive ser transmitida ao homem, tendo de ser sacrificado o animal portador do mal. Sabedor desse fato, o proprietário do animal ingressou com ação cautelar na Justiça Federal para impedir o sacrifício, tendo sido acatado seu pedido (fls. 18). Posteriormente, acreditando que o animal não era portador de tal enfermidade, e alegando que houve erro no primeiro exame, submeteu-o novamente a exames, desta vez em outro laboratório, qual seja, ACLIVE Análise Clínicas Veterinários de Equinos, em Recife-PE, cujo resultado deu negativo. Pois bem, diante das considerações expendidas, entendo que não deve prosperar a decisão do Magistrado singular de julgar procedentes os pedidos para condenar o recorrente à indenização a títulos de danos morais na quantia de R$ 6.000,00 (seis mil reais) e danos materiais no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais), conforme fls. 121/125. Ora, verifica-se que o Juízo de primeiro grau, ao fundamentar a decisão objurgada, entendeu que houve erro no diagnóstico inicial, cujo resultado apontou ser o animal do apelado portador de "mormo". Portanto, no caso em tela a questão gira em torno do erro ou não do serviço prestado pelo Centro de Análises e Diagnóstico Veterinário DIAGNOVET. De acordo com o informativo de fls. 75, MORMO "é urna Zoonose, ou seja, doença transmissível ao homem. E segundo o escribno Internacional de Epizootias, esta enfermidade no homem é fatal em 95% dos casos. Atingindo todos os equídeos (cavalos, burros, mulas) causada pela bactéria a Burkholderia mallei. Acometendo as vias aéreas e apresentando lesões cutâneas. Os animais se contaminam através da água e alimentos contaminados com secreções (catarro) de outros animais doentes, através de esporas, freios, professoras e outros arreios. NÃO
AC no 001.2009.000.209-6/001 EXISTE TRATAMENTO." Pois bem, analisando os ailtos, mais precisamente as fis. 77/78, vejo que na Instrução Normativa no 24, de 5 de abril de 2004, expedida pela Secretária de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, constam as normas para o controle e a erradicação do "mormo". Dentre outras regras, consta no art. 1 que o "estabelecimento onde foi comprovada e notificada, pelo serviço veterinário oficial, a presença de um ou mais animais infectados pelo agente etioiógico do mormo" deve entrar em regime de saneamento, visando eliminar o agente causador da doença. Ademais, o capítulo II, artigo 2, parágrafo único, da referida Instrução Normativa diz que: O resultado Positivo deverá ser encaminhado imediatamente ao SSA da DFA da UF onde se encontra o animal reagente. O resultado Positivo poderá ser encaminhado diretamente para o Serviço de Defesa Sanitária Animal da Secretaria de Agricultura da UF, a critério da respectiva UF. -e importante transcrever os artigos 8 e 9 0 da mesma Instrução Normativa, deixando claro corno agiu corretamente o Laboratório apelante. Vejamos: Art. 8 0. A propriedade que se apresente um ou mais animais com diagnóstico de mormo positivo conclusivo será considerada foco da doença e imediatamente interditada e submetida a Regime de Saneamento, Art. 90. Animais positivos serão sacrificados imediatamente, não cabendo indenização (conforme Decreto no 24.538, de 03 de julho de 1934), procedendo-se, em seguida, à incineração ou enterro dos cadáveres no próprio local, à desinfecção das instalações e fômites, sob supervisão do serviço veterinário oficial. Todos os equideos restantes serão submetidos aos testes de diagnóstico para mormo previstos no Capítulo II desta Instrução Normativa. É de conhecimento geral que a responsabilidade civil
AC n 001.2009.000.209-6/001 configura-se mediante uma conduta comissiva' dó missiva do agente, a ocorrência de um dano e o nexo de causalidade entre ambos. In casu não resta caracterizada a conduta ilícita do apelante, nem o nexo causal, urna vez que não restou provado que ele tenha realizado o exame de forma diversa da convencional. Desse modo, não deve ser mantida a sentença que condenou o recorrente em danás morais e materiais, pois o Laboratório agiu dentro das normas previstas para erradicação do "mormo". O dano moral exprime sofrimento, dor, definida esta por Aurélio Buarque de Holanda como "sensação desagradável, variável em intensidade e em extensão de localização, produzida pela estimulação de terminações nervosas especializadas em sua recepção" ou ainda "sofrimento moral, mágoa, pesar, aflição". Por oportuno, trago ensinamentos de Christino Almeida do Valle sobre o tema: A dor, física ou moral, é uma só: é a dor!..) Corno a fisiologia e a psicologia não diferenciam a dor, somente pode haver diferença na sua causalidade. Logo, dor física e dor moral ficam igualadas, não obstante a dor física impedir o labor manual, algumas vezes. Mas. o acabrunhamento ou a prostração moral tambem impede a execução dos serviços, sejam físicos ou intelectuais.' Yussef Said Cahali leciona o seguinte: Dano moral, portanto, é a dor resultante da violação de um bem juridicamente tutelado, sem repercussão patrimonial. Seja dor física dor-sensação, como a denomina Carpenter nascida de uma lesão material; seja a dor moral dor-sentimento, de causa imaterial Então, é impossível conceber a existência do dano moral 1 Ir, Dano Moral. Rio de Jar,eiro: Aide, 1996. p. 57..w Dano e indenizaçàe. 5'03 Paulo: 1960., p. 7.
AC no 001.2009.000.209-6/0e1 no caso em análise, até mesmo porque o animal não foi sacrificado e corno dito alhures, o laboratório agiu em perfeita harmonia com a Secretaria da Agricultura. Há de observar-se também que, embora o exame tenha sido realizado em outro laboratório e o resultado tenha dado negativo para a doença, esta pode ser mascarada com o uso de antibiótico animal, podendo ensejar equívoco em outros exames. Extrai-se dos autos (fls. 112) que o proprietário do animal avaliado / o senhor Uziel Alves de Lyra, em data posterior ao exame ora questionado, utilizou-se dos serviços do apelante, o que demonstra que ele confiava nos serviços prestados pelo recorrente, pois, se assim não fosse, por que utilizaria novamente seus serviços laboratoriais? Em relação aos danos materiais, também não estão configurados. Conforme depoimentos das testemunhas arroladas pelo recorrido, mais precisamente às fls. 113, a testemunha Francisco Aranha Filho asseverou "que tem conhecimento de que esse animal não foi sacrificado pela Secretaria de Agricultura; que tem conhecimento de que provavelmente a causa morte do referido cavalo foi rlaminite', conhecida corno 'aguamentow. Para concretizar-se o dano patrimonial é necessário prova documental que evidencie perda no patrimônio. O dano patrimonial pode ser entendido corno aquele no qual, "em regra, os efeitos do ato danoso incidem no patrimônio atual, cuja diminuição ele acarreta. Pode suceder, contudo, que esses efeitos se produzam em relação ao futuro, impedindo ou diminuindo o benefício patrimonial a ser deferido à vítima. Aí estão identificados o dano positivo ou damnum ememens e o lucro frustrado ou lucrum cessae,' Assim, os danos materiais não foram provados, razão pela qual não cabe indenização a tal título. Afinal, os benefícios ou interesses hipotéticos não são indenizáveis. STOCO ; Rui. In Da Respnsabdidade Civd, Tomo II, 3a ed., Forense, Rio de Janeiro, 1954, o. 711.
AC u) 001.2009.000.209-6/601-7 Ante o exposto, por entender que nao houve danos morais nem materiais a serem indenizados, dou provimento apeio, julgando improcedente o pedido inicial e, por conseguinte, invertendo os ônus suciimbenciais. É como voto. Presidiu a Sessão ESTA RELATORA, que participou do julgamento com a Excelentíssima Desembargadora MARIA DE FÁTIMA MORAES BEZERRA CAVALCANTI (Revisora) e com o Excelendssirno Desembargador MARCOS CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE. Presente à Sessão a Excelentíssima Doutora LÚCIA DE FÁTIMA MAIA DE FARIAS, Procuradora de Justiça. Sala de Sessões da Segunda Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, em João Pessoa/PB, 09 de junho de 2011. Desa MARIA DAS NEVES DO EGITO DE A. D. FERREIRA irelatora
TRIBUNAL DE JUSTIÇA Coordeisont Judiciária Regtstrado 126