Fichamento do texto: SCHEINER, Tereza.: Comunicação, Educação, Exposição: novos saberes, novos sentidos. Semiosfera, ano 3, n 4-5, http://www.eco.ufrj.br/semiosfera/anteriores/semiosfera45/conteudo_rep_tscheiner.htm, acessado em 10 de abril de 2007. Obs: grifos (verde): grifo sobre minhas observações Grifos (cinza): grifo sobre observações relevantes do autor 1. Espaço metafórico, espaço relacional A partir deste texto Teresa Scheiner explora o poder e a responsabilidade da exposição, que é uma das ferramentas base do museu. Sobre esta, ela a define como: uma poderosíssima instancia relacional, um vigoroso instrumento mediático que não apenas conjuga pessoas e objetos, mas também e principalmente conjuga pessoas e pessoas: as que fizeram os objetos, as que fizeram a exposição, as que trabalham com o público, as que visitam o museu, as que não estão no museu, mas falam e escrevem sobre a exposição. 1 Portanto, se a exposição está ligada às relações humanas, está ela também aliada às noções de sentido. É essa a lógica que Scheiner vai buscar e seu apelo é justamente à percepção deste espaço do museu como o local onde ocorrem as infinitas e delicadas nuances de trocas simbólicas possibilitadas pela imersão do corpo humano no espaço expositivo 2. E vai além: não bastando a constatação deste poder sensitivo, ela ressalta ainda o caráter afetivo onde, segundo a autora, se elabora a comunicação: é no afeto que a mente e o corpo se mobilizam em conjunto, abrindo os espaços do mental para os novos saberes (...) 3. 1 SCHEINER, Tereza.: Comunicação, Educação, Exposição: novos saberes, novos sentidos. Semiosfera, ano 3, n 4-5, p. 02. 2 Idem. Ibidem. 3 Idem. Ibidem.
Sob esta óptica poderíamos imaginar, em nosso subconsciente, uma aproximação ou defesa de espetáculos tecnológicos, uso massivo de luzes, máxima exploração de sons, enfim, milhares de estratégias contemporâneas que tem por objetivo justamente exaltar ou aguçar os sentidos. Porém, Tereza Scheiner diz justamente o contrário. Ela o faz não de forma a negar as ferramentas tecnológicas, pois as considera sim como aliadas na busca que propõem. Ela coloca no entanto, alguns termos que são muitas vezes esquecidos e deixados de lado pela na não confiança na sua eficácia, como a ponderação, a sutileza, o mínimo necessário, chegando a fazer uma comparação muito feliz com a culinária, ao propor uma degustação, pois segundo ela: (...) toda exposição deveria ser saboreada ponto a ponto, passo a passo, no tempo perceptual de cada indivíduo, possibilitando que todo o seu ser se impregnasse daquela experiência. É esta impregnação dos sentidos que efetivamente mobiliza a emoção e desperta para a mudança. 4 A explicação para tal é dada pelo fato de que o excesso de informação de estímulo de luz, cor, som, formas, pode causar reações inversas: anestesiar os sentidos, usando as palavras da própria autora. Aprofundando um pouco mais a idéia de museu, Scheiner o coloca como uma nova instância do aprendizado, uma forma de conhecimento ligada à liberdade de experiência, ou seja, uma construção através dos sentidos. Assim como qualquer outra entidade ligada ao saber, Tereza admite a presença de diversas visões de mundo nas exposições museólogicas, na maioria das vezes relacionadas aos grupos sociais aos quais se insere, ou seja, sabe-se que as narrativas históricas não são totalmente imparciais. O que importa, segundo ela, é justamente como ocorre essa representação em cada museu, quais seus instrumentos de mediação. Ainda no campo do aprendizado, tal mediação deveria ser dada explorando o caráter ativo do visitante, já que o processo de aprender está intimamente ligado ao que os estudos de Gestalt comprovaram: à ampla gama de experiências visuais, tácteis, aurais e emocionais. 2. A voz do Museu: a exposição como linguagem 4 Idem. Ibidem.
Na instância da exposição, o papel da linguagem assim como em outras formas comunicacionais é dado, segundo a semiótica, a partir de uma uma relação muito especial entre quem fala e quem ouve. E para que esta comunicação seja bem sucedida, no sentido de propiciar ao visitante algum tipo de experiência ou aprendizado significante para sua vivência, Scheiner ressalta alguns pontos que devem merecer especial cuidado no processo de formação de um museu ou exposição. São eles: A fala organizada e o espaço de criação: No tocante ao espaço de exposição e criação, a autora relembra, resumidamente, as diversas maneiras de abordagem da história nas salas de museu do último século trazendo, por exemplo, a tendência da aproximação máxima da realidade buscada nos anos 20; ao mesmo tempo em que ocorria a exploração do museu como obra aberta por parte dos artistas modernos; dando um salto, têm-se nos anos 60 as teorias de museu integral, onde a noção de espaço expositivo se amplia, abarcando vilas, casas, fazendas, em que no limite tudo pode ser objetificado; e, a partir dos anos 90, o advento da exploração dos sentidos, que pode ser intensa, verdadeira, intangível, personalíssima, mas que é fugaz 5. Nestas deferentes formas de apresentação do museu, a linguagem e o tipo de organização que esta recebeu está intimamente ligada a boa leitura que dele se faz. Para tanto, Tereza ressalta a importância de se que elaborar um discurso de maneira clara e compreensível, fazendo uso das diferentes linguagens de comunicação para configurar a linguagem da exposição - forma específica de discurso, que se fundamenta numa conjugação muito especial de signos para dar forma às estruturas narrativas. 6 A estrutura do discurso. Para este aspecto, Tereza parte do que Lyotard definiu como a metamorfose do afeto, ou seja, à realidade dos fatos sobrepõe-se a interpretação narrativa, que recria os fatos a partir de operações ideológicas definidas visando, quase sempre, provocar certos efeitos emocionais no interlocutor 7. Portanto, segundo ela, à museologia cabe duas tarefas principais, sendo a primeira justamente buscar identificar (...) limites éticos de interpretação da realidade e, a segunda, 5 Idem, p. 03. 6 Idem, p. 04 7 Idem, Ibidem.
reconhecer, cada vez mais, o visitante como emissor de narrativas, atuando o museu como um espaço experimental de interpretação. 8. Sob esses dois aspectos, a autora prega a necessidade de se adotar uma ótica plural por parte dos museus, devido ao seu caráter de memória coletiva que possui, pois do contrário têm-se como resultado algo desastroso como a omissão ou não apresentação de certos fatos ou memórias que são consideradas perturbadoras por alguns segmentos da sociedade 9. Em vista disso, ela defende sistematicamente que os museus construam estratégias narrativas integrando passado e presente, e buscando apresentar os fatos a partir de uma ótica plural, que permita o máximo possível de interpretações. 10 Seguindo ainda o cuidado que propõe para a estrutura narrativa do museu, Tereza ressalta mais uma vez o uso ponderado das mídias tecnológicas e adverte sua aproximação com a linguagem das propagandas e mídias de massa que, segundo ela, é muito distinta da linguagem do museu, além de ser um perigoso recurso, pois pode limitar as interpretações como acontece em um noticiário televisivo. Além disso, ressalta ainda a vitalidade da linguagem, já que o museu utiliza como ferramenta principal a memória simbólica. Esta poderia ter seu uso efetivo quando o museu fizesse uso das novas tecnologias comunicacionais, estabelecendo suas narrativas a partir de códigos que estejam em pleno uso na sociedade contemporânea. Segundo a autora, é a vitalidade das linguagens, e não o acervo em si mesmo, o que torna fascinante qualquer exposição. 11 3. Museu e Imaginação: a exposição como universo alternativo Antes de tudo, Scheiner coloca em primeiro plano a importância da imaginação em nosso processo de memória: A capacidade imaginativa coloca em ação permanente a memória, como instrumento de elaboração de experiências. É o oposto do hábito, que atribui valor 8 Idem, Ibidem. 9 Idem, Ibidem. 10 Idem, Ibidem. 11 Idem, p. 05.
à permanência. A infinita capacidade imaginante do ser humano desdobra-se em fluxo continuado, permitindo-nos apreender o real como poética e desenhar incontáveis percursos entre a mente e os sentidos, como verdadeiros sonhos de vôo - que se iniciam na mente e percorrem todos os caminhos da memória, em busca do maravilhoso e do desconhecido. 12 Deste aspecto, é demonstrada a dimensão pedagógica do museu que se daria não pela via formal das operações didáticas controladas, dependentes do logos, mas pela que permite deixar fluir uma relação espontânea entre a capacidade imaginante do indivíduo e as muitas linguagens da exposição. 13 Scheineir coloca que vivenciar é infinitamente mais importante que informar., utilizando-se da Psicologia como suporte. E, além disso, deposita no museu a crença se ser este um novo meio de se olhar o mundo, de realmente enxergá-lo, diferente do afogamento por notícias e informações assolados por estímulos. Este novo olhar possibilitaria uma nova forma de apreensão do mundo, pois no permitiria ver fora das coisas e para além das coisas, buscando por detrás delas algo oculto, invisível, essencial; e aquém delas, já que ao invés de ver as coisas o sujeito trata de ver-se a si mesmo e acaba por ver também, dentro de si e para além de si, o Outro.. Este seria aquilo que o museu poderia proporcionar de melhor para a sociedade, ou seja, a construção do auto-conhecimento do indivíduo e do (re)conhecimento daqueles com os quais convive e com o mundo que o cerca. 12 Idem, Ibidem. 13 Idem, p. 06.