ISSN 1984-9354 Comparação entre a certificação LEED-NC e o Selo Azul da Caixa Área temática: Gestão Ambiental & Sustentabilidade Gabriel Meliga Pimentel gmp.meliga@gmail.com Renata Faísca renatafaisca@gmail.com Ana Seroa da Motta anaseroa@gmail.com Resumo: A construção civil é uma das atividades mais capazes de causar impactos ambientais, sociais e econômicos, tornando este ramo de atividade um dos focos do desenvolvimento sustentável na atualidade. Na tentativa de reduzir os impactos e integrar as três dimensões mencionadas diversas certificações de construção sustentável surgiram nos últimos anos por todo o mundo, as quais tentaram padronizar alguns critérios que caso sejam seguidos caracterizarão uma construção sustentável. Mas por não haver um consenso com relação a uma construção efetivamente sustentável, cada certificação aborda a questão à sua maneira, sendo influenciadas por diferentes fatores. Para este trabalho foram considerados para comparação duas destas certificações: o LEED-NC (Leadership in Energy and Environment Design New Constructions), certificação americana utilizada em vários países do mundo; e o Selo Casa Azul (elaborado pela CAIXA ECONÔMICA FEDERAL), certificação brasileira para construções habitacionais. Palavras-chaves: LEED-NC, Selo Casa Azul, Construção Sustentável
Introdução Na indústria da construção civil, segundo Kibert (2008), o ambiente construído, mais que qualquer outra atividade humana, possui impactos diretos, complexos e duradouros sobre a biosfera. A busca por padrões cada vez mais sustentáveis de desenvolvimento vêm crescendo de forma exponencial, principalmente nos mercados internacionais. O passo de maior incentivo para as empresas construtoras mundiais, rumo ao atendimento das metas de desenvolvimento sustentável, foi a criação de metodologias de avaliação dos edifícios (certificações), pois, até antes da padronização, os chamados greenbuildings eram idealizados e conceituados por arquitetos e engenheiros, que por conta própria interpretavam as partes constituintes do que deveriam ser os edifícios verdes. (PONTES, 2010) No Brasil, a dificuldade em preservar o meio ambiente é agravada pelos grandes desafios que o setor da construção civil ainda deve enfrentar em termos de déficit habitacional e infraestrutura para transporte, comunicação, abastecimento de água, saneamento, energia, atividades comerciais e industriais (DEGANI, 2010). Neste panorama, a CAIXA Econômica lançou, em 2010, o Selo Casa Azul, que é o primeiro sistema de classificação da sustentabilidade de projetos desenvolvido para a realidade da construção habitacional brasileira. O Selo busca reconhecer os projetos de empreendimentos que demonstrem suas contribuições para a redução de impactos ambientais e da desigualdade social. Para orientar os empreendedores que buscam este selo, a CAIXA lançou o um guia denominado SELO CASA AZUL Boas Práticas para Habitação mais Sustentável, que serviu como uma das principais referências para este artigo. Em âmbito internacional, muitos outros certificados já foram criados, dentre os quais o LEED-NC (Leadership in Energy and Environment Design New Constructions), certificado de construção sustentável desenvolvido nos EUA para novas construções. O certificado é pautado majoritariamente nas questões ambientais, tendo uma influência internacional, sendo aplicado em diversos países, inclusive no Brasil, onde mais de 200 construções já foram certificadas. Estes certificados possuem uma metodologia de avaliação semelhante, sendo ambos de adesão voluntária, funcionam a partir de um checklist que é dividido em categorias de temáticas específicas. Cada qual com sua determinada quantidade de critérios, que são separados em pré-requisitos ou 2
critérios obrigatórios, cujo cumprimento é indispensável para a obtenção da certificação. Os requisitos ou itens de livre escolha, possuem uma quantidade mínima pré-estabelecida a ser cumprida para obter o certificado. Apesar da semelhança inicial e da possibilidade de ser aplicado em um mesmo empreendimento, quando se analisa o conteúdo dos certificados mais profundamente, evidencia-se a real distinção entre suas metodologias. Isso demonstra que, mesmo com objetivos idênticos, tornar uma construção mais sustentável, a questão não é analisada da mesma maneira. Neste artigo, o objetivo é apresentar as principais diferenças entre LEED-NC e SELO CASA AZUL, a partir de conceitos dos certificados. Estes conceitos são a base para se determinar como a certificação irá lidar com as questões de sustentabilidade e, assim, concluir como a padronização das metodologias de avaliação deve ser enxergada. Comparação conceitual geral Para iniciar a análise das certificações, é necessário primeiro estabelecer o panorama geral dos conceitos que serão desenvolvidos ao longo do artigo, indicando as semelhanças e, principalmente, as diferenças entre as metodologias. Este panorama é apresentado na Tabela 1. Tabela 1 - Panorama Geral das Certificações. LEED-NC Selo Casa Azul Contexto de Criação Aplicabilidade Metodologia Desenvolvido para o contexto estadunidense, baseado nas normas e meio de vida do país, apesar de ser utilizado internacionalmente. Aplicável a qualquer tipo de nova construção. Avaliação dos edifícios é realizada por meio de uma lista de critérios pré-estabelecidos pelo certificado, alguns obrigatórios (pré-requisitos) e outros opcionais (créditos). Aos opcionais são atribuídos pontos que podem ser obtidos com o cumprimento dos critérios. A classificação final é obtida pela soma dos pontos atingidos nas categorias. Desenvolvido para o contexto brasileiro, baseado em normas e técnicas de construção voltadas para habitação. Aplicável a construções habitacionais. Avaliação das construções é realizada a partir de uma lista de critérios pré-estabelecidos, alguns obrigatórios e outros de livre escolha (cumprimento opcional). A classificação final é obtida a partir do cumprimento da quantidade mínima de critérios estabelecidos para cada nível. 3
Compreensão Categorias Análise da documentação e definição do nível de certificação Níveis De fácil compreensão, aplicação simples e fácil preenchimento por ser checklist. Sítios Sustentáveis; Eficiência de água; Energia e Atmosfera; Materiais e Recursos; Qualidade do Ar Interno; Inovação em Projeto; e Prioridade Regional. Análise e definição do nível de certificação feita após a finalização das obras e ocupação do edifício. Platina; Ouro; Prata; e Certificado. De fácil compreensão, aplicação simples e fácil preenchimento por ser checklist. Qualidade Urbana; Projeto e Conforto Eficiência Energética; Conservação de Recursos Materiais; Gestão da Água; e Práticas Sociais. Análise e definição do nível de certificação feita antes de se iniciar o preparo do terreno para as obras. Ouro; Prata; e Bronze. A partir dos dados apresentados na Tabela 1, pode-se começar a entender algumas das principais diferenças entre cada certificado, os quais apesar de terem uma metodologia e uma organização semelhante (checklist), que é considerada de fácil interpretação, abordam as questões de construção sustentável com visão distinta, em muitos pontos. Um exemplo nítido desta distinção, apresentado na Tabela 1, é a presença da categoria de Práticas Sociais na certificação Selo Casa Azul, categoria essa cujos conceitos não são abordados em nenhuma das categorias do LEED-NC, o qual está quase que todo voltado para a dimensão ambiental da sustentabilidade. Alguns autores defendem que o LEED está voltado para a dimensão ambiental, uma vez que as questões econômica e social em seu país de origem encontram-se melhor resolvidas que no Brasil e que este, assim como outros países em desenvolvimento, ainda está bastante aquém em ambos os aspectos. Assim, a necessidade de redução da desigualdade social e econômica não é tão importante quanto o aspecto ambiental. 4
Para se discutir melhor as diferenças e/ou semelhanças entre as certificações e entender o motivo de suas ocorrências, serão apresentadas nos próximos itens, comparações pontuais das temáticas apresentadas na Tabela 1. Comparação do contexto de criação e aplicabilidade Como qualquer novo sistema de avaliação é normal e recomendável que inicialmente se considere as condições conhecidas (nacionais) para criação de seus critérios, e posteriormente, adapte-os às demais condições que surgirem. Sendo assim, conforme mostrado na Tabela 1, cada certificado foi criado para o contexto de seu país de origem, considerando em sua elaboração as condições de vida, clima e normas nacionais. Nesse contexto, o LEED-NC apresenta uma inflexibilidade quando comparado ao Selo Casa Azul. Em muitos critérios o LEED-NC exige certificados, classificações e cumprimento de normas estadunidenses para obtenção da pontuação, sendo que muitas vezes as certificações não são difundidas em outros países, ou a norma estabelecida não é aplicável. Nesses casos, a construção simplesmente não tem possibilidade de conseguir a pontuação, mesmo que dentro do país haja certificações, classificações e normas semelhantes às estabelecidas pelo LEED-NC ou mesmo que a construção alcance os objetivos do critério por outros métodos. Já o Selo Casa Azul é bem mais flexível para essas questões, exceto as normas de legalização das obras, que são obrigatórias. Todas as normas, certificações e classificações brasileiras são contempladas, mas não são obrigatórias para o cumprimento dos critérios do certificado, aparecendo dentro da certificação como recomendações a serem seguidas. Deste modo, caso o empreendimento não cumpra a norma, mas alcance os objetivos do critério através de outras estratégias, este ainda poderá cumprir o critério. Abordando as certificações pela sua aplicabilidade geral, não pelo seu contexto de criação, tem-se uma visão diferente da apresentada anteriormente. O LEED-NC passa a apresentar uma flexibilidade maior, dando oportunidade para que qualquer construção nova possa aplicar o certificado, independente de sua finalidade ou proprietário. Já o Selo Casa Azul, é bem restrito quanto à questão de aplicação, sendo aplicável apenas a empreendimentos habitacionais, com candidatura feita por empresas construtoras, Poder Público, empresas públicas de habitação, cooperativas, associações e entidades representantes de movimentos sociais. 5
Comparação Conceitual das Categorias Analisando-se as categorias apresentadas pelas certificações na Tabela 1, nota-se que as temáticas abordadas são muito semelhantes. Algumas vezes mais explícitas, como o caso das categorias que abordam o uso de água e o uso de energia. Outras vezes menos explicitas, sendo necessário um estudo mais detalhado dos critérios envolvidos para notar a aproximação das categorias. Entretanto, nem todas as questões abordadas pelas categorias de uma certificação estão presentes na outra, demonstrando um caráter diferenciado que as certificações possuem. Na Tabela 2, serão apresentadas as questões base da sustentabilidade, indicando em qual categoria dentro de cada certificação a questão é abordada, explicitando-se o caráter das certificações. Tabela 2 - Aspectos principais para uma construção sustentável. Questão Categoria do LEED-NC Categoria do Selo Casa Azul Conexão com o Entorno Recurso Hídrico Espaço Sustentável. Espaço Sustentável; e Uso Racional da Água. Qualidade Urbana; e Projeto e Conforto. Gestão da Água Consumo de energia Energia e Atmosfera Eficiência Energética Gerenciamento de resíduos e materiais Qualidade do Ar Materiais e Recursos. Qualidade do Ambiente Interno. Projeto e Conforto; Qualidade Urbana; e Conservação de Recursos e Materiais. Aspectos sociais - Práticas Sociais Conforto Qualidade do Ambiente Interno. - Projeto e Conforto. Como se pode observar, os aspectos sociais da sustentabilidade, questão presente na categoria de Práticas Sociais, contida no Selo Casa Azul, não é abordado por nenhuma das categorias do LEED- NC. Alguns autores defendem que o Brasil ainda apresenta inúmeras questões de desenvolvimento social, havendo desigualdade social elevada e pouca mão de obra qualificada, sendo necessário um investimento maior na vertente social da sustentabilidade. A falha nesta defesa está no fato do LEED 6
se propor a ser um certificado de sustentabilidade e, portanto, deveria contemplar os três pilares da sustentabilidade: o ambiental, o social e o econômico. Para que uma construção seja efetivamente sustentável, é necessária a abordagem dos três pilares de sustentabilidade (Figura 1). Caso um dos pilares falte, então o conceito de sustentabilidade acaba sendo falho. Nenhum país é tão desenvolvido a ponto de não precisar de mais estimulo à redução de suas desigualdades ou a disseminação de uma nova cultura e capacitação. Assim, as questões sociais deveriam ser abordadas no LEED também, mesmo que com relevância inferior às questões ambientais. A falta desta abordagem demonstra que o LEED-NC é uma certificação de sustentabilidade ambiental apenas, não uma certificação de construção sustentável propriamente dita. Figura 1 - Pilares da Sustentabilidade (PONTES, 2010). Ao se analisar a categoria de Qualidade do Ambiente Interno do LEED-NC, a qual possui como objetivo principal tornar o ambiente agradável e salubre para seus ocupantes, tem-se que a categoria propõe alcançar esse objetivo a partir de duas análises: uma considerando as vistas, o conforto térmico e quantidade iluminação; e outra considerando as questões de qualidade do ar no interior do edifício tanto durante a construção quanto durante a ocupação. Para esta última análise, é proposto a utilização de produtos como tintas, solventes, adesivos e alguns tipos de madeira composta, com baixa emissão de Compostos Orgânicos Voláteis) (COV), controle de fontes poluentes, planos de gerenciamento da qualidade do ar com análises de poluentes, para se alcançar um desempenho mínimo de qualidade interna. A preocupação com a qualidade do ar interno, conforme mostrado na Tabela 2, não é abordado em nenhuma das categorias do Selo Casa Azul. Isso indica que, apesar do apelo social presente no selo, 7
este acaba por falhar em parte na questão ambiental e em parte da social, deixando de lado um fator ambiental que afeta diretamente o conforto, saúde e bem estar dos ocupantes do edifício. Partindo das semelhanças identificadas entre os dois métodos de certificação estudados, será apresentada nas Figuras 2 e 3, a distribuição estatística de critérios que cada certificado possui por categoria. Estes gráficos explicitam assim quais as categorias que cada certificação considera mais relevante para uma construção sustentável. Sabendo que a certificação LEED-NC trabalha com pontuação, é mostrado na Figura 2, além da distribuição estatística de critérios, a distribuição estatística dos pontos em cada categoria, para que desta forma, fique mais evidente as categorias favorecidas pela certificação, a fim de facilitar a comparação com o Selo Casa Azul. Figura 2- Distribuição Estatística da Quantidade de Critérios e Pontos do LEED-NC. 8
Figura 3- Distribuição Estatística da Quantidade de Critérios do Selo Casa Azul. Na Figura 2, nota-se que o LEED-NC nitidamente prioriza a categoria de Energia e Atmosfera. Esta categoria, apesar de não possuir tantos critérios, possui a maior porcentagem de pontos da certificação. Em seguida, observa-se que a categoria de Espaço Sustentável, possui a porcentagem de critérios e pontos semelhantes. Somadas a porcentagem de pontos de ambas, percebe-se que possuem mais de 50% do total de pontos da certificação, ressalta-se que possuem, aproximadamente, 40% dos critérios. Das demais categorias do LEED-NC, pode-se notar a desvalorização da categoria de Uso Racional da Água, que possui o menor número de critérios e de pontos. A categoria de Qualidade do Ambiente Interno, como se pode observar, é a categoria com a maior porcentagem de critérios, demonstrando que para sua avaliação, são necessários muitos parâmetros. Entretanto, possui a mesma porcentagem de pontos que a categoria de Materiais e Recursos, indicando que mesmo sendo avaliada por muitos critérios, a categoria de Qualidade do Ambiente Interno é menos valorizada que a categoria de Materiais e Recursos. As categorias de Prioridade Regional e Inovação não estão sendo analisadas, pois estas são categorias extras, cuja pontuação é baseada nas outras cinco principais categorias. Já na Figura 3, pode-se observar que a priorização do Selo Casa Azul não é tão marcante, sendo pequena a diferença de porcentagem entre as categorias, demonstrando que para este certificado as 9
categorias possuem importância quase igualitária. Ainda assim, nota-se certa hierarquia quanto às categorias que possuem mais critérios, e assim, mais exigências. Ainda na Figura 3, observa-se que as categorias de Práticas Sociais e Projeto e Conforto são as prioritárias, seguidas da categoria de Conservação dos Materiais, que com pouca diferença, fica a frente das categorias de Eficiência Energética e Gestão de Águas. Por último, com 9% dos critérios exigidos pela certificação, está a categoria de Qualidade Urbana. A Tabela 3 apresenta a ordem de prioridade que cada certificação possui, baseada na análise apresentada acima. Tabela 3 - Critérios prioritários nas Certificações. Prioridade LEED-NC Selo Casa Azul Primeira Energia e Atmosfera Práticas Sociais e Projeto e Conforto Segunda Espaço Sustentável Conservação de Recursos Materiais Terceira Materiais e Recursos Gestão de Águas e Eficiência Energética Quarta Qualidade do Ambiente Interno Qualidade Urbana Quinta Uso Racional da Água -. A supervalorização da categoria de energia e atmosfera pela certificação LEED-NC, pode vir do fato de nos EUA haver um consumo de energia, majoritariamente, advinda de fontes não renováveis, o que acarreta em impacto ambiental elevado. Assim, é de suma importância para o país, que esta questão seja estimulada e os conceitos de economia energética e de utilização de fontes de energia renovável sejam desenvolvidos. Neste aspecto, o Brasil possui certa vantagem em relação à matriz mundial por possuir boa parte de sua matriz energética mantida por hidrelétricas. As hidrelétricas são consideradas fontes de energia renováveis, dispensando a necessidade de supervalorizar a questão energética no contexto brasileiro, mesmo dando importância para a economia de energia e estimulando a continua utilização de recursos renováveis. Ao se comparar as categorias que abordam a utilização de recursos hídricos, nota-se que o LEED-NC desvaloriza a questão, sendo a categoria de Uso Consciente de Água a que possui a menor quantidade de critérios e de pontos. Já no Selo Casa Azul, a categoria é mais valorizada, sendo tão importante 10
quanto a Eficiência Energética, além de ter pouca diferença no percentual de critérios que possui com relação às demais categorias. Comparação da definição do nível de certificação Em ambos os certificados, o nível de certificação que o empreendimento irá alcançar é definido após a análise completa da documentação comprobatória do cumprimento de todos os pré-requisitos ou itens obrigatórios, além dos créditos ou itens de livre escolha. Outra distinção importante entre as certificações, está na época na qual a documentação será avaliada, conforme apresentado na Tabela 1, o LEED-NC avaliará os documentos depois de todo o investimento e todas as intervenções já terem sido finalizadas e a edificação já estiver em utilização. Enquanto o Selo Casa Azul, avaliará os documentos antes de qualquer intervenção ser iniciada. Sabendo que ao optar pelo Selo Casa Azul, o empreendedor terá um financiamento diferenciado, a postura da CAIXA com relação à análise dos documentos já é esperada, sendo o financiamento liberado depois de se ter a garantia de que o empreendimento se encaixa nos padrões exigidos pelo selo e está apto para um financiamento diferenciado. Mas, mesmo sem considerar as questões de financiamento, a metodologia da CAIXA pode ser considerada mais justa e correta, pois o empreendedor terá desde o início de suas intervenções e de seus investimentos a garantia de que o empreendimento será certificado no nível desejado. Após a aprovação dos documentos, qualquer modificação que os projetos sofram deve ser acompanhada e aprovada pela CAIXA, demonstrando que o empreendimento pode se adaptar e se inovar no decorrer das obras, sem que este perca a certificação. Já no LEED-NC, não há nenhuma garantia de que os investimentos realizados pelo empreendedor serão recompensados com o nível de certificação que o mesmo almeja. Apesar do LEED-NC oferecer um ponto pela contratação de um consultor aprovado pelo USGBC, os documentos apenas serão avaliados depois que tudo estiver finalizado. Ao contrário da metodologia do Selo Casa Azul, a análise do LEED-NC pode ser considerada injusta, pois mesmo que o empreendedor opte pelo acompanhamento de um consultor aprovado pelo conselho, haverá o risco de que qualquer intervenção e/ou modificação no prédio seja aprovado pelo consultor, 11
mas não necessariamente pelo Green Building Council (GBC), assim, todo o investimento feito para alcançar um determinado nível, não será recompensado conforme as expectativas do empreendedor. Neste aspecto o ideal seria uma pré-aprovação dos documentos pelo USGBC e posterior acompanhamento por um consultor habilitado, assim haveria uma maior segurança para que o empreendedor investisse nas intervenções propostas. Conclusão A partir das considerações apresentadas neste trabalho, pode-se concluir que as certificações são consideravelmente distintas, apresentando diferenças na forma de se avaliar pontualmente as questões da sustentabilidade. Isto se dá, em grande parte, pelo contexto de criação dos certificados, principalmente em relação a aplicabilidade proposta e ao país de origem, que é a base para o desenvolvimento de cada metodologia de avaliação. O maior exemplo disto é a valorização dada por cada certificado para cada categoria, sendo a mais valorizada aquela que é mais evidente no país de origem e menos valorizada (ou inexistente) aquela que aparentemente não é tão grave nacionalmente. Outra conclusão, é que de ambos os certificados, o Selo Azul da CAIXA é o único realmente sustentável por abordar todos os três pilares da sustentabilidade. Já o LEED-NC é um selo ambientalmente sustentável, abordando, majoritariamente, as questões ambientais, um pouco as econômicas e nada das sociais. Por fim, conclui-se que as certificações abordam as questões de sustentabilidade de forma semelhante e ao mesmo tempo distintas, indicando que tais questões não podem ser 100% padronizadas, pois sempre haverão adaptações a serem consideradas dependendo do local onde determinado tipo de empreendimento será construído e gerenciado. Referências BENEVIDES, Jean Rodrigues. Experiências na Implementação do Selo Casa Azul em Projetos Habitacionais de Interesse Social. In: 84º Encontro Nacional da Industria da Construção. Belo Horizonte BH. 2012 JOHN, Vanderley, PRADO, Racine Tadeu Araujo (Coord.). Boas práticas para habitação mais sustentável. São Paulo SP. Páginas & Letras - Editora e Gráfica. 2010. 204 p. 12
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