TRIBUNAL PLENO SESSÃO DE 15/07/2015 ITEM 02 RECURSO ORDINÁRIO TC-045079/026/07 Recorrentes: José Carlos Ramos de Oliveira Ex-Superintendente do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual IAMSPE e Input Center Informática Ltda. Assunto: Contrato entre o Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual IAMSPE e Input Center Informática Ltda., objetivando a prestação de serviços de expansão da licença do Sistema Winhosp já implantado no Hospital do Servidor Estadual Francisco Morato de Oliveira. Responsável: José Carlos Ramos de Oliveira (Superintendente à época). Em Julgamento: Recurso(s) Ordinário(s) interposto(s) contra o acórdão da E. Primeira Câmara, que julgou irregulares a licitação e o contrato, bem como ilegais as despesas decorrentes, aplicando o disposto no artigo 2º, incisos XV e XXVII, da Lei Complementar nº 709/93. Acórdão publicado no D.O.E. de 17-11-10. Advogados: Paulo de Tarso Barbosa Duarte, Eduardo Leandro de Queiroz e Souza, Daniela Gabriel Clemente Fasson e outros. Procurador da Fazenda: Vitorino Francisco Antunes Neto e Celso Augusto Matuck Feres Júnior. Fiscalização atual: GDF-2 - DSF-I. RELATÓRIO Tratam os autos do Pregão Presencial nº 234/07, certame instaurado pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual IAMSPE, tendo em vista a expansão da licença do sistema WINHOSP, implantado no Hospital do Servidor Público Estadual Francisco Morato de Oliveira, bem como do correspondente contrato, negócio firmado com Input Center Informática Ltda.
A matéria integrou a pauta da Sessão de 19/10/10, da E. Primeira Câmara, oportunidade em que os atos examinados foram julgados irregulares. Concluíram os Eminentes Conselheiros que o certame contara com vício insanável, na medida em que teria sido direcionado à empresa ao final contratada, única detentora da patente do aludido software. No caso, o IAMSPE contratara a mesma empresa anteriormente para a cessão do uso do sistema WINHOSP, negócio igualmente rejeitado nos autos do TC-42479/026/06 (E. Segunda Câmara, Sessão de 1º/12/09) e que, portanto, seria a origem do aqui examinado. Prevaleceu, igualmente, o entendimento de que as condições de participação impostas pelo IAMSPE iriam de encontro com o enunciado da Súmula nº 30, uma vez que as características do software pretendido haveriam de ter sido genericamente dispostas no instrumento, além do que a compatibilidade dos preços contratados com o mercado não foi comprovada. Do julgado interpuseram razões de Recurso Ordinário tanto o ex-superintendente do IAMSPE, Doutor José Carlos 2
Ramos de Oliveira (fls. 327/333), como a contratada Input Center Informática Ltda. (fls. 344/364). Para o ex-superintendente, não caberia atribuir ao contrato dos autos qualquer relação de acessoriedade relativamente ao exaurido negócio que primariamente ajustara a cessão de uso do aludido sistema WINHOSP, na medida em que a irregularidade anteriormente decretada por este E. Tribunal em momento algum teria feito referência ao sistema de informática em si ou ao fato de ter sido fornecido pela empresa desenvolvedora do software. Nessas condições, inclusive, não caberia prevalecer o entendimento da E. Câmara, uma vez que a hipótese seria verdadeiramente de inexigibilidade de licitação, o que, portanto, afastaria não apenas qualquer questionamento incidente no processo de licitação instaurado, mas também o tema da validade do preço contratado, elemento invariável em face da condição ostentada pela contratada de detentora da licença de uso do software. A contratada, em seu arrazoado, disse que a restrição ao acesso de licitantes detentoras das licenças WINHOSP fazia-se motivada em função da necessidade de se compatibilizar os 3
módulos anteriormente implantados com a pretendida expansão do sistema. Logo, não havendo a hipótese de se contratar sistema diverso, justificada a cláusula impugnada. Além disso, afirmou não dispor da exclusividade de comercialização do sistema, o que remeteria à conclusão de que existiriam à época outros parceiros comerciais em condições de igualmente participar da disputa. Tanto foi que o processo licitatório contou com pesquisa de preços obtida a partir de consulta elaborada junto à contratada e outras duas empresas, estas igualmente habilitadas ao fornecimento do objeto 1. Afirmou, mais ainda, que o nível de exigências disposto no edital seria mais do que justificado, seja para assegurar ao IAMSPE a melhor contratação, seja porque a prévia implantação de aludido software implicava volume de investimento que, diante de eventual sistema diverso, seria perdido. Concluiu dizendo que a licitação e o contrato dos autos alcançaram as finalidades previstas, razão pela qual o princípio da eficiência foi observado pela Administração. 1 AIDC Tecnologia Ltda. e Macro Network Informática. 4
Os apelos seguiram ao GTP, que ofereceu pareceres no sentido da admissibilidade e processamento das peças (fls. 340/341), proposta acolhida pela E. Presidência (fl. 342). Distribuídos os recursos na forma regimental (fls. 343 e 369), seguiram os autos para a ATJ e d. PFE (fl. 370). Assessoria Técnica (fls. 371/375) e Chefia de ATJ (fls. 376/377) consignaram em suas manifestações que as razões de ambos os recursos não apresentavam elementos aptos a desconstituir os fundamentos do v. Aresto combatido. Diverso não foi o parecer do digno representante da Procuradoria da Fazenda (fl. 378). Divergente, porém, a opinião da SDG, para quem as cláusulas de qualificação técnica utilizadas na licitação dos autos não afrontaram a Súmula nº 30, bem como a existência de outras empresas habilitadas a comercializar a extensão dos módulos do sistema significaria medida suficiente para motivar a instalação do ambiente de competição (fls. 380/381). A matéria integrou a pauta da Sessão de 04/06/14, oportunidade em que houve pedido de vista dos autos pelo d. MPC. 5
O parecer do eminente Procurador designado foi no sentido do conhecimento e desprovimento dos Recursos Ordinários, uma vez que as razões interpostas não apresentariam fundamentação técnica bastante para justificar a exigência de comprovada capacidade de fornecimento do exato software de gestão então utilizado pelo IAMSPE (fls. 384/386). É o relatório. JAPN 6
VOTO PRELIMINAR Publicado o v. Acórdão em 17/11/10, contra ele vieram razões de Recurso Ordinário protocolizadas em 29/11 e 02/12/10. Os apelos, com isso, são tempestivos e adequados. Sendo as partes, ainda, legitimadas, conheço dos Recursos Ordinários. 7
VOTO DE MÉRITO A licitação instaurada pelo Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual IAMSPE voltou-se à contratação de serviços de expansão da licença de uso do sistema WINHOSP, software de gerenciamento contratado originalmente com Input Center Informática Ltda., empresa desenvolvedora do programa, titular da respectiva patente e dos direitos autorais e comerciais correspondentes. No mesmo sentido, referida empresa havia sido selecionada e contratada para implantar o sistema no aludido Hospital do Servidor Público Estadual Francisco Morato de Oliveira, negócio julgado irregular pela E. Segunda Câmara nos autos do TC- 42479/026/06 (Sessão de 1º/12/09). No caso concreto, portanto, os termos e condições do edital direcionaram o objeto à desenvolvedora do software, uma das recorrentes. Afinal, somente ela detinha, à época, o códigofonte do software e, consequentemente, a exclusividade no licenciamento do programa de computador, comparecendo em 8
condição privilegiada para atender aos requisitos de qualificação técnica e de preço. A instrução conferida ao presente recurso por ATJ (fls. 371/375) e d. PFE (fl. 378) adotou como premissa a tese de que o negócio nada mais fez do que estender os efeitos da avença pretérita, inclusive no que se refere à irregularidade decretada por esta Corte, conforme fez consignar, ao final do dispositivo de seu voto, o insigne Relator de Primeira Instância 2. Afinal, o contrato em questão essencialmente serviu à ampliação das funcionalidades de diversos módulos que compunham o sistema outrora adquirido pelo IAMSPE, tais como agendamento de consultas, estatísticas via web de internações e pronto atendimento, ou atendimento de voz em ambulatório. É verdade que, assumindo que a Autarquia estabelecera, desde então, um standard, seria absolutamente viável admitir que a expansão do sistema de informática devesse necessariamente recair sobre a desenvolvedora do pacote de software, inclusive como hipótese de incidência de inexigibilidade de licitação. 2 cf. fl. 318. Conselheiro Cláudio Ferraz de Alvarenga. 9
Nesse cenário, aliás, qualquer crítica à opção pela instauração do certame licitatório tornar-se-ia menos provável. Entretanto, num contexto mais amplo, inegável que a expansão contratada não poderia ser avaliada de forma divorciada do contrato que implantou a solução WINHOSP, porquanto nitidamente operou aditamento aos termos e condições de fornecimento e manutenção daquele sistema. A cronologia dos fatos, inclusive, reforça esse entendimento, na medida em que o contrato examinado nos autos do TC-42479/026/06, firmado para viger por 12 (doze) meses, teve seu termo final em outubro de 2007, tempo em que igualmente foi firmada a autorização de abertura da licitação em questão (fl. 2), sendo que o contrato objeto deste apelo veio a ser aperfeiçoado em 07/12/07 (fls. 105/109). E, assim sendo, há de prevalecer a abordagem que transfere ao contrato aqui examinado os vícios que gravaram aquele negócio original, como se tratasse, portanto, de verdadeiro aditamento contaminado por acessoriedade. Ademais, conforme deliberação deste E. Plenário, que seguiu relatório apresentado pela eminente Conselheira Cristiana de Castro Moraes nos autos do referido TC-42479/026/06 10
(Sessão de 30/04/14), foi ratificada, em sede de Recurso Ordinário, a irregularidade da licitação e do contrato que primeiro ajustaram o fornecimento do sistema WINHOSP para o IAMSPE, resultado que, para mim, confirma a sorte idêntica que ora proponho para os atos aqui debatidos. Por essas razões, mais ainda, de rigor a manutenção da pena pecuniária aplicada ao responsável. Diante do exposto, na linha da manifestação da ATJ, bem como dos Pareceres oferecidos pela d. PFE e d. MPE, NEGO provimento aos Recursos Ordinários interpostos por José Carlos Ramos de Oliveira, ex-superintendente do Instituto de Assistência Médica ao Servidor Público Estadual e por Input Center Informática Ltda., confirmando, dessa forma, a irregularidade da licitação e do contrato destinado à expansão da licença de uso do sistema WINHOSP. É o meu VOTO. RENATO MARTINS COSTA CONSELHEIRO 11