um filme de TERESA VILLAVERDE
ENTREVISTA COM TERESA VILLAVERDE Lance Freud: Teresa, cinco anos entre o Transe e o Cisne. Precisou disso? Teresa Villaverde: Pelo contrário, o Transe já tinha sido um processo longo e precisava mesmo de me libertar, foi um filme duro de escrever, de fazer. Foi muito bom vê-lo feito, mas precisava mesmo de começar logo a escrever outro, e foi o que fiz. O Cisne aparece agora porque no cinema muitas vezes é assim e não podemos fazer as coisas logo quando precisamos. De tal forma foi atribulado o caminho que acabei por abrir a minha própria produtora para produzir o filme. LF: É uma experiência para continuar, a da produção? TV: Chegámos até aqui e chegámos bem, então não sei. Tenho que pensar, mas devo dizer que gostei. Foi bem mais fácil do que eu pensava. Consegui rodear-me de pessoas em quem tinha toda a confiança, e no momento da rodagem, fui só realizadora, mesmo. Foi bom. Não é fantasia, isto do cinema ser um trabalho de grupo. Há um momento em que o autor tem mesmo que se sentir apoiado, arrisca mais porque se sente mais forte. No fundo, o próprio filme é sobre isso. Sobre criar, sobre a solidariedade, sobre as dificuldades inerentes a criação, a solidão que isso tudo às vezes gera. Uma escritora portuguesa de quem gosto muitíssimo, a Maria Grabriela Llansol (1931-2008) tem num dos seus livros uma frase de que me lembro muitas vezes e que aliás já citei num filme o sem apoio apoia-se na falta de apoio que leio ou a ler o poema é sem apoio. Acho lindo escrever-se isto do sem apoio se apoiar na falta de apoio. É forte. Comove-me muito a força dos frágeis. Não me sinto de fora disso. Acho que este nosso Cisne é muito sobre isso, o desequilíbrio de um é o equilíbrio do outro, mas as pessoas tem que se
encontrar, têm que poder estar. Têm que ter tempo, têm que estar abertas. Têm que estar prontas. É difícil. Os artistas lutam muito consigo próprios e depois ainda têm que ir lutar com o mundo. É bom, mas também é duro. Acho que a liberdade também é um dos temas deste filme. Eu ajudo-te porque te quero ajudar, não preciso perguntar a ninguém o que devo fazer. Eu peço-te ajuda porque não tenho medo nem vergonha de te pedir ajuda. E se não me puderes ajudar, não te acuso de nada. Penso que estes personagens são muito pessoas que falam e vivem assim. Dois deles são artistas, o homem e a mulher, a Vera e o Sam. Não se pode ser artista e ter medo de sofrer, por exemplo. Lembrei-me agora de um texto meio louco que escrevi para a estreia dos Três Irmãos em Veneza em 1994, eu dizia que toda a gente devia ter o direito de se atirar de um muro de não sei quantos metros de altura, já não me lembro, mas eram imensos metros, e ter alguém em baixo a amparar a queda. Só uma pessoa é que me perguntou o que aconteceria à pessoa que apanhava a que vinha do ar. Eu era muito nova, não tinha pensado nisso, claro (risos). Agora é diferente, já se passaram muitos anos, cresci. Estamos no caminho da aprendizagem da gestão do caos, eu e os personagens. LF: E o seu cinema, cresceu? TV: Acho que sim. LF: Em que é que vê isso, sabe dizer? TV: Sabe, ainda não sinto que tenho o filme todo na palma da mão, que o conheço todo, ou que sei exactamente como foi que cheguei ao que fui chegando, mas domino mais, conheço melhor o que faço mesmo no momento de fazer. Acho que há mais unidade dentro do
orçamento, posso dar-me ao luxo de deixar a margem da poesia crescer nos filmes e em mim. A que faço. Não digo poesia, a música, o isso como se eu visse tempo e o espaço. isso como uma meta, Mas o cinema não é um fim em si, não é isso? isso. Aprecio as LF: Mais uma vez os dissonâncias, gosto seus actores são mesmo, mas gosto de muito fortes, e saber onde é que está misturou, de novo, a escada, que a pus lá actores profissionais encostada a uma com não profissionais. parede, não quero que tenha todos os Ainda diria que para degraus em bom si os actores são o estado, mas quero principal? que exista, que esteja TV.: Digo sem hesitar lá. Talvez o que eu um segundo. procure seja a escada LF.: Mas a presença que se aguenta em dos actores não a pé no meio do nada, afasta do que disse sem apoio e que não antes, da poesia? caia. TV.: Não, pelo LF: A Teresa sempre contrário. Eles são o falou na poesia espelho do sonho de quando falou dos quem os imaginou. seus filmes Mais poético do que anteriores. isto? TV.: Isso não mudou. Um bom actor de Está mais cimentado cinema pode ser um em mim. trabalhador, pode Faço filmes de baixo trabalhar, pode estudar, pode-se preparar muito, mas o que fica, são aqueles minutos ou segundos filmados em que eles se abrem ao meio com toda a confiança. É uma coisa terrivelmente maravilhosa, quase perigosa, esta coisa de se ser um grande actor/actriz. É muito difícil e é muito comovente para quem está de fora a ver a entrega deles. LF.: Já disse várias vezes actor/actriz de cinema, porquê? Está a diferenciar do teatro? TV.: Estou. Porque tenho muita vontade de trabalhar no teatro com actores, mas não sei como é que se chega lá. Como é que se
SINOPSE consegue sem estarmos colados a eles, não sei como se faz nem sei se é para mim. Mas espero em breve tentar, se falhar, falho só uma vez porque não tentarei de novo. LF: Tão radical assim? TV: Sim. Gosto que os actores olhem para o que fizeram comigo e sintam que estivemos bem. Não quero brincar com isso nunca. LF: A Beatriz Batarda já tem um curriculum bastante longo, tanto de teatro como de cinema, mas só agora é que trabalharam juntas, quem vê o resultado pode estranhar porquê tão tarde. TV.: Tarde não. Tarde é quando já não é bom, e encontrar a Beatriz Batarda foi das coisas mais bonitas que me aconteceram na vida. LF: Os seus personagens centrais são quase sempre femininos TV: Até agora, sempre. LF: O trabalho das actrizes nos seus filmes é sempre marcante, fica na memória de quem vê. TV.: Sei que na minha memória ficam, e não ficam só na memória. Sou-lhes muito grata. Vera é uma cantora com trinta e alguns anos que volta a Lisboa para encerrar uma série de concertos. Pablo é o seu acompanhante que ela escolhe através de um questionário e que a ajuda nas noites de insónia. Na casa de Vera, longe de tudo está Sam, o homem que ela ama. Só se entendem longe um do outro e por escrito. A casa é dela, ele aparece para ficar, pede-lhe que saia da sua própria casa onde diz precisar ficar sozinho perto das coisas dela, mas sem ela. Isto magoa-a, mas deixa e vai-se embora deixando-o lá. Uma criança protegida de Pablo comete um acto irreversível matando um homem. Vera envolve-se e protege a criança debaixo da sua asa, e ao salvar a criança, salva-se. E salva Sam.
ELENCO BEATRIZ BATARDA VERA MIGUEL NUNES PABLO ISRAEL PIMENTA SAM SÉRGIO FERNANDES ALCE MARCELLO URGEGHE SANTIS TÂNIA PAIVA AMY RITA LOUREIRO - BELA VERONIK SILVA - VERONIK
TERESA VILLAVERDE Melhor Actriz (Ana Moreira) Festival de Buenos Aires, Argentina. Melhor Filme, Festival luso-brasileiro, Melhor Actriz (Ana Moreira), Festival Luso-Brasileiro. Melhor Fotografia FILMOGRAFIA: (Acácio de Almeida), Festival Luso-Brasileiro, Melhor Filme - Casa A IDADE MAIOR, 1991 da Imprensa, Portugal. World Premiere: Berlinale, Forum ÁGUA E SAL, 2001 Prémios: Melhor Filme, Festival du World Premiere: Festival de Cinema Cinéma et Vídeo de Montreal, Canada. de Veneza, Cinema del Presente Melhor Actriz (Teresa Roby) Festival FAVOR DA CLARIDADE, 2003 de Dunkerque, France Documentário/Ensaio CICAE award, France. Visions of Europe, 2004 prémio especial do jury, Valencia, COLD WA(TE)R, Segmento Português. Spain. TRANSE, 2006 TRÊS IRMÃOS, 1994 World Premiere: Festival de Cannes, World Premiere: Festival de Cinema Quinzaine des Réalisateurs. de Veneza (em competição). Prémios: Prémio especial do Júri, Prémios: Melhor Actriz (Maria Lecce, Itália. Melhor Fotografia (João de Medeiros) Festival de Cinema de Ribeiro) Lecce, Itália. Veneza. Prémio Eurimages, Melhor Filme Melhor Realizador, Valencia, Espanha. financiado pela Eurimages Film Fund, Best Actress (Maria de Medeiros) Novi Sad, Serbia. Melhor Fotografia Valencia, Espanha. Melhor fotografia (João Ribeiro) Festival CPLP, Brasil. (Volker Tittel), Valencia, Esapanha. Melhor Actriz (Ana Moreira) Festival Melhor Actriz (Maria CPLP, Brasil, Melhor Filme, Ankara, de Medeiros) Cancún, México. Turquia. O AMOR NÃO ME ENGANA Prémio Internacional da Crítica (documentário TV, ARTE), 1996 Ankara, Turquia. Prémio Humberto OS MUTANTES, 1998 Mauro, Brasil. World Premiere: Festival de Cannes Selecção Oficial, Un Certain Regard Prémios: Prémio Nações Unidas no 50 º Aniversário da Decalaração dos Direitos do Homem, Roma, Itália. Melhor Jovem Realizador, Festival Cinema de Seattle, USA. Melhor Actriz(Ana Moreira), Festival de Taormina, Itália.
FOTOGRAFIA ACÁCIO DE ALMEIDA MONTAGEM ANDRÉE DAVANTURE SOM VASCO PIMENTEL, TIAGO MATOS, JOEL RANGON DECORAÇÃO ZÉ BRANCO GUARDA ROUPA SILVIA GRABOWSKI DIRECÇÃO DE PRODUÇÃO ANTÓNIO GONÇALO ESCRITO, PRODUZIDO E REALIZADO TERESA VILLAVERDE MUSICA CHICO BUARQUE, JOHN CAGE, DMITRI SHOSTAK- OVICH, ILDO LOBO, MISHA MAISKY, PAVEL GILILOV, BLANCA ROSA GIL, CAETANO VELOSO, DORIVAL CAYMMI 35 MM COR DURAÇÃO 103 PRODUÇÃO - ALCE FILMES 2011