Desde 2003 o Brasil é membro efetivo da Associação Internacional de Conselhos Econômicos e Sociais e Instituições Similares (AICESIS), e em junho de 2007 assumiu a sua presidência para um mandato de dois anos. A AICESIS é uma organização intergovernamental que reúne instituições de países na África, Europa, América Latina e Ásia, tem assento no ECOSOC/ONU, no Conselho Europeu e é observadora junto à OIT. A proposta temática para o período da presidência brasileira (biênio 2007-2009) foi aprovada na reunião do Conselho de Administração da AICESIS, realizada nos dias 5 e 6 de novembro de 2007 nas cidades de Brasília e Lençóis, na Bahia. A AICESIS se dispôs, então, a debater e gerar recomendações sobre o Desenvolvimento com Eqüidade e Responsabilidade Ambiental, tendo como foco a energia e suas relações como o desenvolvimento e o meio ambiente, levando em conta sua vocação para questões que contemplam o conjunto dos povos e seu potencial para contribuir para um esforço mundial coordenado, convergente e solidário. O Coordenador Geral da Comissão Relatora, Conselheiro Artur Henrique, apresenta o texto abaixo como o primeiro documento da Comissão, a partir das contribuições enviadas por diversos conselhos, tais como, China, França, Holanda e Mali e pela contribuição da Mesa Redonda Internacional: Energia para o Desenvolvimento com Eqüidade e Responsabilidade Ambiental realizada, no Rio de Janeiro, nos dias 26, 27 e 28 de fevereiro. Primeiro Documento do relator-geral Tema de Trabalho : Desenvolvimento com Eqüidade e Responsabilidade Ambiental Aos Presidentes dos Conselhos Econômicos e Sociais e Instituições Similares membros da AICESIS. A proposta temática para o período da presidência brasileira (biênio 2007-2009) aprovada na reunião do Conselho de Administração da Associação Internacional dos Conselhos Econômicos e Sociais e Instituições Similares (AICESIS), realizada nos dias 5 e 6 de novembro de 2007 no Brasil, nas cidades de Brasília (DF) e Lençóis (BA) foi Desenvolvimento com Eqüidade e Responsabilidade Ambiental, tendo como foco a energia e suas relações com o desenvolvimento e o meio ambiente. A AICESIS se dispôs, então, a debater e gerar recomendações sobre o tema e todos os seus membros foram convidados a participar dessa construção coletiva. Representantes dos seis continentes que integram a Associação foram designados para coordenar os debates e desencadear um processo de reflexão coletiva. Para a relatoria geral, eu, Conselheiro Artur Henrique da Silva Santos, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social brasileiro (CDES), fui apontado. Discussões já se encontram, em andamento, no âmbito de diferentes Conselhos. Cinco desses - Brasil, China, França, Holanda e Mali já nos encaminharam reflexões sobre o tópico e recomendações quanto a possíveis formas de atuação da AICESIS no
âmbito de seus países, a partir de suas especificidades sociais, políticas, econômicas e ambientais e no contexto da economia globalizada. Para estimular o debate e colher subsídios, o Conselho brasileiro realizou uma mesa-redonda internacional intitulada Energia para o Desenvolvimento com Eqüidade e Responsabilidade Ambiental, nos dias 26 e 27 de fevereiro do ano corrente, no Rio de Janeiro. A mesa redonda abordou, com profundidade, dois tópicos específicos que estão embutidos no tema mais amplo. O primeiro tema tratou da questão energética e suas relações com o aquecimento global do planeta e abordou aspectos perversos e ecologicamente equivocados dos modelos de desenvolvimento, altamente poluidores, hoje adotados pela maioria dos países: desenvolvidos ou em desenvolvimento. Examinou, também, a viabilidade de correções a esses modelos ou mesmo mudanças de paradigmas. O segundo tema examinou a questão das energias renováveis, com destaque para os biocombustíveis, ressaltando aspectos de extrema importância para todos os povos como: a questão da segurança alimentar versus a segurança energética e a necessidade imperiosa de assegurar a geração de empregos decentes no processo de reconstrução da matriz energética mundial. Inúmeros estudiosos têm defendido a necessidade de manter os biocombustíveis como bons exemplos de energias limpas. Caso não sejam incluídos no rol das energias renováveis e limpas, sugerem, o mundo em desenvolvimento poderá estar perdendo mais uma vez uma grande oportunidade de dar um salto de desenvolvimento por meio de inovações tecnológicas e do comércio. Para os países desenvolvidos, sugerem esses analistas, esta exclusão poderá representar prejuízos para seus consumidores e agravar o atual quadro de desaceleração econômica nesses países. Advogam que os biocombustíveis podem se tornar uma maneira eficiente de estender os benefícios da globalização à grande maioria da população pobre do mundo e, ao mesmo tempo, assegurar uma resposta adequada ao desafio do aquecimento global. Essa questão, contudo, é extremamente controversa e deve merecer uma reflexão profunda por parte dos nossos Conselhos. Participaram da mesa redonda representantes do Brasil, China, Espanha, Argélia, Guiné Conakry, Rússia, Itália e CESE. Os especialistas e demais palestrantes contribuiram, de forma significativa para aportar conceitos e reflexões para a construção coletiva do documento final que será produzido ao longo da presidência brasileira da AICESIS. As oito delegações que compareceram ao evento se reuniram no dia 28 de fevereiro de 2008, sob a coordenação do Senhor Bertrand Duruflé, Secretário-Geral da AICESIS e pactuaram uma metodologia de trabalho que permitisse ampliar as contribuições de todos os Conselhos e propiciar uma construção coletiva de posições e recomendações da AICESIS sobre o tema de trabalho acima especificado. A metodologia para os trabalhos da relatoria, acordada nessa reunião, prevê que representantes regionais provoquem e coordenem contribuições dos demais Conselhos e Instituições Similares no âmbito de suas regiões. Eu fiquei responsável, enquanto relator-geral, pela preparação do documento final a ser apreciado na Assembléia Geral de 2009. Dada a complexidade do tema e a diversidade de opiniões, espera-se que este documento retrate visões alternativas e recomendações quanto às formas de participação que a sociedade civil pode assumir no processo de discussão e encaminhamento de políticas privadas e públicas. Coube, também, a mim, encaminhar a todos os membros da AICESIS esta nota sucinta de orientação, contendo uma síntese das contribuições que alguns países nos 2
enviaram sobre o tema e os subsídios colhidos das apresentações dos especialistas na mesa-redonda internacional. Com base nestas notas os demais Conselhos e Instituições Similares vão debater e enviar novas contribuições, com prazo de apresentação estipulado para 1 o de maio. Como foi ressaltado em carta anterior aos Presidentes dos Conselhos, os representantes regionais têm um papel particular a ser cumprido: mobilizar seus pares para realizar esse esforço coletivo, de forma que, o documento a ser debatido na Assembléia de Roma, prevista para os dias 12 e 13 de junho do presente ano, nos permita delimitar pontos comuns e possíveis acordos sobre aspectos importantes para os países envolvidos. Reunindo as contribuições encaminhadas, na primeira etapa do trabalho, à Secretaria-Geral e à SEDES e aspectos que me pareceram de grande importância ressaltados na mesa-redonda internacional, faço o esforço de elaborar um parecer preliminar e compartilhá-lo com todos os membros da AICESIS. Considerando: Que nosso planeta tem enfrentado mudanças do clima que, por definição, não são resultado simplesmente de fenômenos naturais. A ação humana tem papel predominante nessas alterações que decorrem do aquecimento global da Terra; Que mudanças do clima somente serão resolvidas dentro de uma perspectiva de desenvolvimento sustentável, caracterizado pelo equilíbrio entre: crescimento econômico e desenvolvimento social, político e proteção ambiental. Que a busca de soluções para os problemas causados pelo aquecimento global devem ser coordenadas com recomendações referentes ao desenvolvimento dos países e tendo a questão da promoção da eqüidade como norte para todos os debates; Que crescimento econômico é objetivo de todos os países do mundo e que crescimentos explosivos provocam demandas crescentes por recursos naturais, em geral, e por energia, em particular; Que a crescente demanda por energia, somada à convicção de que as reservas de petróleo insumo mais importante da matriz energética mundial - são finitas, vêm levando a um aumento significativo do preço dessa commodity estratégica o que pode vir a comprometer o futuro do crescimento sustentável de países não produtores e/ou importadores de petróleo; Que estudos sugerem que os prejuízos serão maiores em regiões onde as temperaturas já são altas, com tendência a reforçar o fosso que separa os países ricos dos pobres ampliando a já desigual relação Norte-Sul; Que durante o último século, os países mais desenvolvidos completaram o seu processo de industrialização, consumindo enormes quantidades de recursos naturais, especialmente energia, e utilizando matrizes energéticas sujas: 95% de combustíveis fósseis contra 5% de combustíveis renováveis. E que hoje, alguns países em desenvolvimento estão passando pelo seu próprio processo de industrialização, e um aumento do consumo de energia com ampliação das 3
emissões de gases de efeito estufa - é inevitável para sustentar suas trajetórias de desenvolvimento econômico e social. Que as responsabilidades pelo equacionamento dos problemas decorrentes do aquecimento global, embora comuns, precisam ser diferenciadas; Que os desafios ambientais e os efeitos colaterais do desenvolvimento, somente podem ser superados por meio do próprio desenvolvimento; Que, neste cenário, o potencial apresentado pelos combustíveis renováveis se torna particularmente relevante e sua incorporação à matriz energética mundial imperativa. Tanto enquanto fonte de geração de energia limpa como porque os combustíveis renováveis podem abrir grandes oportunidades de produção, consumo e de geração de empregos para países pobres e em desenvolvimento; Que há convicção de que a conservação dos recursos globais e a possibilidade de surgimento de crises energéticas requerem ação concertada de todos os países; parece não haver dúvida quanto à necessidade da AICESIS se comprometer com o futuro do planeta e buscar induzir a sociedade civil a apoiar a implementação de políticas e boas práticas que busquem combater os fatores que agravam o aquecimento global junto aos setores privado e público e que conduzam a situações de maior eqüidade entre cidadãos de países e entre países, diminuindo o fosso entre os ricos e pobres. Assim, urge que nossas Instituições trabalhem junto aos responsáveis pela elaboração de políticas públicas, aos empresários dos setores privado e público, aos que militam em organismos não governamentais e outros segmentos da sociedade civil organizada, em seus respectivos países e, atuem, também,,junto às Instituições Internacionais competentes, inclusive as do setor financeiro, no sentido de implementar novos modelos de desenvolvimento, financiamento e propriedade intelectual que: Promovam o fortalecimento do desenvolvimento científico e tecnológico, a justiça social e a proteção ambiental, atribuindo à ciência, tecnologia e inovação (CT&I) papel preponderante na busca de novos modelos de desenvolvimento limpo. O conhecimento tecnológico e sua transferência para todos os países é um fator fundamental para lidar com os problemas decorrentes dos efeitos do aquecimento global do planeta. Somente se continuarmos no caminho de busca de tecnologias apropriadas e limpas, economicamente eficientes e de baixo consumo de recursos naturais, poderemos atingir o equilíbrio entre crescimento econômico e proteção ambiental; Garantam a eqüidade no compartilhamento de tecnologias que contemplem soluções para a questão do desemprego tecnológico, considerando, além de aspectos meramente econômicos, aspectos sociais, políticos e ambientais. Os frutos do crescimento e da inovação devem ser compartilhados, com vistas à manutenção da paz. Deve-se estimular o intercâmbio em várias áreas como: financiamentos, tecnologias avançadas, conhecimentos e recursos humanos; Procurem equacionar a questão da possibilidade de competição entre a produção de biocombustíveis e alimentos no que tange ao uso da terra e acesso à água; 4
Assegurem, que as energias renováveis como oportunidade de desenvolvimento contemplem a criação de empregos, mas que a importância do foco deve recair não apenas sobre a quantidade criada de novos postos de trabalho, mas, principalmente, sobre a qualidade dos empregos criados. Neste contexto é consenso que a AICESIS tem a oportunidade de construir uma posição de liderança, pois dela participam países desenvolvidos e em desenvolvimento, produtores de praticamente todas as fontes de energia. Essa realidade abre espaços importantes de interlocução internacional com organismos como a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a Conferência de Alto Nível do Conselho Econômico e Social da Organização das Nações Unidas - (ECOSOC/ONU). Temos convicção que nossos Conselhos influenciam a formulação de políticas públicas e são ouvidos pela sociedade civil e pelos governos em seus respectivos países. Entendemos, também, que a sociedade civil organizada é fundamental na moderação das relações entre diferentes atores sociais e na solução de conflitos. As posições dos Conselhos, não sendo vinculadas aos governos, são independentes para propor soluções de vanguarda para os desafios, riscos e oportunidades que se apresentam para a geração de uma matriz energética mundial mais limpa. Podem, também, de forma efetiva, disseminar conceitos ecológicos na vida social e influenciar a consciência pública na adoção de boas práticas com respeito à proteção ambiental. Sabemos, contudo, que não é fácil construir consensos e acordos em âmbito mundial, mas é possível. 5