UM OLHAR PARA A ADOLESCÊNCIA



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Transcrição:

42 Interface Saúde UM OLHAR PARA A ADOLESCÊNCIA Benedito Francisco de Sousa (1) Sidney Medeiros de Oliveira (2) Denyse Torquato Alencar (3) Resumo Quando se fala em adolescência surge de imediato a idéia de juventude. Ser jovem é um fatalismo cronobiológico imposto pelo desenvolvimento de qualquer ser vivo. É habitual que as gerações mais idosas considerem jovens como um grupo à parte, face às atitudes que estes tomam em relação aos usos e costumes da sociedade do seu tempo. Este estudo busca discutir aspectos da fase adolescente da vida humana e suas características, numa perspectiva crítica. Palavras-chave: Adolescência, Juventude, Natureza humana Introdução Muito já se falou e publicou sobre a adolescência. Esta fase da vida tem sido entendida como uma passagem entre a infância e a idade adulta, a qual implica a recusa da infantilidade e a procura dum estado adulto. Face às inúmeras rupturas e aos paradoxos que acompanham todo o adolescente, esta é, por natureza, nas nossas sociedades, uma época de crise potencial e é entendida per si como um fator de risco para uma série de problemas tanto na saúde como na educação (JESSOR, 1991). Os adolescentes são descritos como os principais atores do abuso de drogas, doenças sexualmente transmissíveis, violência social, suicídio, acidentes de trânsito, alcoolismo, dentre outras situações críticas na atualidade. (JESSOR, 1991). Esta situação tem atraído olhares de diversos especialistas, tanto da Psicologia, como da Pedagogia, da Medicina, da Sociologia, dentre outras. Todos eles imbuídos no propósito comum de promover uma melhor qualidade de aos jovens e adolescentes. Em termos do curso da vida humana, nascer, crescer, envelhecer e morrer são marcos fundamentais na experiência de vida. Qualquer pessoa reconhece nestes quatro aspectos, características próprias que os diferenciam em matéria de necessidade e capacidades humanas. A designação curso de vida é um termo descritivo que se refere ao caráter concreto duma vida. Mas, a idéia de ciclo de vida vai mais além, ou seja, há

43 uma ordem temporal do curso de vida, desde o nascimento até a velhice. Apesar da vida de cada indivíduo ser única, todos passam pela mesma sequência de etapas, cada uma delas com características próprias. E cada indivíduo reagirá a cada uma delas de maneira diferente, de acordo com seu contexto, crenças, valores, acontecimentos a que foram expostos, significado que atribuem a elas, etc. (CLAES, 1991). Cada uma destas fases tem o seu tempo próprio e nenhuma é mais importante do que a outra (MOEN; ELDER e LUSHER, 1995). Etapas da Vida O ciclo da vida é como uma sequência de tempos sucessivos (LEVINSON; GOODEN, 1985). Cada qual com sua característica biopsicossocial distinta para um todo da vida humana. Levinson e Gooden (1985) concebem quatro grandes eras no ciclo de vida humana: Fase Pré-adulta, que vai do nascimento aos 22 anos. São anos em que os jovens passam de uma fase de maior dependência para outra de mais independência e responsabilidade. É uma fase de rápida evolução biopsicossocial. Fase Adulta jovem que vai dos 17 aos 45 anos de idade, onde se caracteriza por uma maior energia, e de um maior estresse e auto-afirmação profissional. Fase Adulta média. Esta se inicia aos 40 anos e vai até os 65. É uma época de autoavaliação, onde o indivíduo tende a rever o passado e fazer um balanço do que foi realizado/vivido. Há neste instante, uma certa expectativa em relação a morte e ao morrer. Fase Adulta tardia. Inicia-se aos 60 anos e é onde acontece uma nova avaliação da vida, desta vez, há uma maior ênfase em resolver a ambigüidade em relação a sentir-se integrado a vida social e o desespero da proximidade da morte. A Organização Mundial de Saúde em 1977 (WHO, 1977), definiu a adolescência como situando-se entre as idades dos 10 aos 20 anos. A palavra Adolescência deriva do latim, adolescere, forma infinita do verbo, a palavra significa "crescer, desenvolver-se, tornar-se maior, em sentido próprio e figurado (LOPES, 1998). Enquanto que adolescente indica um processo em curso de realização - que cresce, em crescimento -" adulto " revela, pelo contrário, que o processo está terminado - que cresceu, já crescido (LOPES, 1998). A forma como os adolescentes colocam tudo e todos em causa é (foi e será) sempre perturbadora (PRAZERES, 1998). Por isso, é importante que todos aqueles que têm de lidar com adolescentes, conheçam a adolescência o melhor possível, apercebendo-se do que há de maleável na personalidade adolescente, por forma a não se sentirem constrangidos nos seus esforços de estimular as melhores qualidades destes (PRAZERES, 1998). Os adolescentes têm tarefas a realizar, e uma vez que caminham para a autonomia, têm que ter flexibilidade na construção de valores próprios. Nesta etapa do desenvolvimento estudar é importante, mas não é tudo (SAMPAIO, 1994). É necessário que o jovem realize com sucesso as tarefas da adolescência, isto é, conquiste a autonomia através da mudança da relação com os pais e amigos e atinja a identidade sexual através de um processo complexo onde as experiências individuais e do grupo são fundamentais (SAMPAIO, 1994). Segundo Claes (1985), o conceito de adolescente, nasceu com a Revolução Industrial, por volta do século. XIX, quando o controle da família sobre os adolescentes se foi prolongando até a idade do casamento, devido à extensão da escolaridade e ao desenvolvimento do sentido doméstico. O aumento do controle dos pais sobre os adolescentes e a diminuição da independência dos jovens são as mudanças mais marcantes que a industrialização veio realizar na família (ELDER, 1980), por conta de uma maior permanência destes no lar de origem.

44 A emergência de um longo período entre a puberdade e o acesso ao status de adulto coincide com o aparecimento da vida moderna. Segundo Shorter (1977), é preciso assegurar a promoção social dos filhos e garantir a persistência do seu sistema de valores. Adolescência e cultura A adolescência é um fenômeno da civilização. Segundo Avanzini (1978), começou por ser exclusiva de um pequeno número de jovens, isto é, daqueles que eram escolarizados durante mais tempo. Antes do Século XX, a adolescência nem sequer era considerada como um estágio do desenvolvimento. Tratava-se de uma etapa provisória entre a infância e a vida adulta, envolvida em muitos rituais iniciáticos, facilitadores da separação da família de origem e da aquisição rápida do novo status adulto (FLEMING, 1993). Trata-se de uma fase da vida muito desejada, onde espera-se que perdure por muito tempo (ARIÉS, 1973). Segundo Claes (1985), é uma época marcada pelas mudanças, onde várias realidades novas, inserem-se na experiência e na consciência e impõem opções fundamentais que comprometem o indivíduo para toda a vida. O conceito de adolescência tende a mudar à medida que a sociedade se desenvolve, e a adolescência, nascida em meados do Século XIX como um período prolongado de vida, tem vindo a sofrer modificações importantes no contexto cultural, racial, e mesmo familiar. É pois, impreciso o fim da adolescência, sendo problemático saber quando é que, na sociedade atual, se pode considerar que um indivíduo é plenamente adulto. Enquanto que no início da adolescência há uma modificação biológica, no fim há uma consolidação da estrutura psico-social: não só a adolescência começa mais cedo, como também acaba mais tarde do que ainda há umas décadas atrás (OLIVEIRA SILVA, 1992). Os limites cronológicos da adolescência são difíceis de estabelecer, pois se existe um consenso em considerar o início coincidente com o da puberdade, o seu término nem sempre é fácil de determinar já que varia em função do desenvolvimento físico, intelectual e psicossocial (ATHEA, 1987). A Organização Mundial de Saúde (1977), situa a adolescência entre os 10 e os 19 anos. Considera ainda dois sub-grupos: um entre os 10-14 anos, denominado por puberdade, em que os aspectos do desenvolvimento físico são mais evidentes, e outro entre os 15-19 anos, em que predominam os aspectos do desenvolvimento psico-social. Ainda, e de acordo com a Organização Mundial de Saúde, a adolescência é caracterizada por mudanças fisiológicas, anatômicas e psicológicas a que os jovens necessitam de se adaptar num mundo em constante mudança sócio-cultural. Embora os adolescentes de hoje atinjam a maturidade biológica mais cedo que as gerações passadas, a maturidade psicossocial e a independência econômica só são alcançadas mais tarde. Muitos adolescentes têm dificuldade em adaptar-se a esta etapa da sua vida. Segundo Sampaio (1997), a adolescência corresponde a um período maior do tempo, que vai do início da puberdade (11-13 anos) até ao estabelecimento do caráter, por volta dos 18 a 20 anos. Se o início da adolescência é marcado por um acontecimento biológico bem determinado - primeira menstruação na jovem e primeira ejaculação no rapaz - o fim desse período é de mais difícil percepção e com maior número de alterações. E o aumento da escolaridade é um dos fatores responsáveis pelo prolongamento da adolescência, e onde é visível a dependência face à família e a ausência de inserção profissional.

45 Segundo Prazeres (1998), é possível dizer que a melhoria das condições de vida, da alimentação, e de outros fatores, implicaram numa aceleração da a puberdade. O fato de a saída da adolescência não se fazer da mesma maneira do que se fazia na nossa adolescência, tem a ver com os acontecimentos e os marcos que habitualmente estavam ligados à aquisição do estatuto de adulto. A maioria dos indivíduos atinge o final da escolaridade mais tarde, os caminhos da profissionalização estão mais bloqueados, a independência sócioeconômica é protelada e o casamento e a reprodução voltam a ser mais tardios (PRAZERES, 1998). Quanto a etimologia do termo, adolescere significa crescer, o que na verdade não diz muito, se tiver em conta que sempre se cresce do nascimento até à morte. O que talvez identifique melhor este período é a celeridade da mudança. Porém, o indivíduo, além de ter um processo de maturidade biológica único, não cresce no vacuum. Fatores históricos, demográficos, sócio-econômicos e culturais modificam a caracterização do desenvolvimento normal. Mesmo na nossa sociedade, e até ao princípio do século XX, havia apenas referência a duas idades: a infância e a idade adulta. A criança passava do meio familiar, onde aprendia o conhecimento básico, ao mundo do trabalho. Com a industrialização, o saber passa a ser assegurado pela escola e o seu tempo de duração equivale à adolescência (ARIÉS, 1986). Por vezes, ainda hoje se afirma que a adolescência não é mais do que um período difícil e de constrangimentos, stress ou rebelião (CLAES, 1991). Por outro lado, a adolescência é vista como uma síndrome de ordem cultural (culture-bound syndrome), que não pode ser compreendida, descontextualizada da cultura (HILL; FORTENBERRV, 1992). Sendo assim, na nossa constelação social, é normal ser anormal durante a adolescência (HILL; FORTENBERRV, 1992). Isto foi demonstrado, num inquérito aplicado a adultos sobre quais os adjetivos associados à palavra adolescente (HILL; FORTENBERRV, 1992). Os resultados referem que os adultos percebem os adolescentes de forma predominantemente negativa (confusos, imorais, conformistas, rebeldes), e que essas imagens são consistentes num largo leque da nossa sociedade e que são os adultos mais jovens a deter as piores percepções (HILL; FORTENBERRV, 1992). Bailey (1992) sugere que os comportamentos no decorrer da adolescência podem ser interpretados como o resultado de uma espécie de aprendizagens sucessivas a serem integradas naquilo que o estádio de desenvolvimento pode proporcionar. Esta fase do desenvolvimento, torna-se ainda mais significativa, quando, autores como Jessor (1991) propõem que trarão conseqüências para os estágios seguintes da vida. Referências: ARIÉS, P. L'Enfant et La Vie Familiale sous L' Ancien Régime. Paris: Seuil, 1973. ARIÉS, P. (1986). Para uma história da adolescéncia. Alter Ego, 1, 5-16, 1986. ATHEA, N. Propositions pour une politique de Santé d'adolescents. Paris: Masson, 1987. AVANZINI, G. O Tempo da Adolescência, Lisboa: Edições 70, 1978. BAILEY, S. Adolescentes multisubstance use partrtens: The role of alcohol and cigarrete use. American Joumal of Public Health, 82 (9), 1220-1224, 1992. CLAES, M. Os problemas da Adolescência. Lisboa: Editorial Verbo, 1985. CLAES, M. L'experience adolescent. Paris: Mardaga, 1991. ELDER, G. Adolescence in historical perspective. New York: Wiley, 1980. FLEMING, M. Adolescência e autonomia. Porto: Edições Afrontamento, 1993. HILL, R., & FORTENBERRV, J. Adolescence as a culture-bound syndrome. Social Sci- ence and Medicine, 35 (1), 78-80, 1992.

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