XII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE GESTÃO DE EFLUENTES SANITÁRIOS EM PORTOS MARÍTIMOS ORGANIZADOS: ESTUDO DE CASO DOS PORTOS DO NORDESTE



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Transcrição:

XII SIMPÓSIO DE RECURSOS HIDRÍCOS DO NORDESTE GESTÃO DE EFLUENTES SANITÁRIOS EM PORTOS MARÍTIMOS ORGANIZADOS: ESTUDO DE CASO DOS PORTOS DO NORDESTE Daniel Carlos Alves da Gama 1 ; Vitor Guimarães da Silva 2 ; Betina Maciel Versiani 3 ; Bruna Guerreiro Tavares 4 & Marcos Aurélio Vasconcelos de Freitas 5 RESUMO Os portos brasileiros possuem relevantes problemas associados a sua infraestrutura, o que dificulta a entrada de novas mercadorias e também gera diversos impactos ambientais associados à movimentação. O presente trabalho apresenta um panorama da gestão dos efluentes sanitários em dez portos (Itaqui, Fortaleza, Natal; Cabedelo, Recife, Suape, Maceió, Salvador, Aratu-Candeias e Ilhéus) localizados na Região Nordeste do Brasil, indicando como se dá o tratamento desses efluentes e quais os padrões de lançamento que deveriam ser respeitados pelos mesmos, de acordo com a legislação federal e estadual, quando existente. Este trabalho verificou que os portos do nordeste ainda precisam avançar na gestão dos seus efluentes sanitários, tanto relativo à eficiência de tratamento quanto à qualidade e manutenção das estruturas existentes. Ressalta-se que no ambiente portuário, a poluição hídrica é potencializada pela presença de diversos outros atores como efluentes oleosos e substâncias tóxicas, demonstrando a importância da visão sistêmica frente aos desafios existentes e a necessidade de revitalizar a infraestrutura portuária brasileira. ABSTRACT The Brazilian Ports have relevant infrastructure problems, what hinders the entry of new products and also generates many environmental impacts associated with handling. 1) IVIG/COPPE/UFRJ; AV. Pedro Calmon, s/n - Bloco P - P2, Centro de Tecnologia, Cidade Universitária - Ilha do Fundão, CEP 21941-596; (21) 3938-8258; daniel.gama@ivig.coppe.ufrj.br 2) IVIG/COPPE/UFRJ; (21) 3938-8258; vitor@ivig.coppe.ufrj.br 3) IVIG/COPPE/UFRJ; (21) 3938-8258; betina@ivig.coppe.ufrj.br 4) IVIG/COPPE/UFRJ; (21) 3938-8258; brunatavares@ivig.coppe.ufrj.br 5) IVIG/COPPE/UFRJ; (21) 3938-8258; mfreitas@ivig.coppe.ufrj.br XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 1

This paper presents an overview of the management of wastewater from ten ports (Itaqui, Fortaleza, Natal, Cabedelo, Recife, Suape, Maceio, Salvador, Ilheus Aratú-and Candeias) located in the Northeast of Brazil, indicating how the treatment of these effluents occur and the wastewater standards that should be respected by them, according to federal and local legislation. This study confirmed that the ports need to advance further in the management of wastewater, both on the treatment efficiency and on the quality and maintenance of existing structures. It is noteworthy that on the port environment, water pollution is enhanced by the presence of other actors such as oily waste and toxic substances, demonstrating the importance of a systemic vision toward existing challenges and the need to revitalize the Brazilian ports infrastructure. Palavras-Chave Portos; efluentes sanitários; gestão ambiental. XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 2

1. INTRODUÇÃO A Secretaria de Portos da Presidência da República (SEP), preocupada com a melhoria das atividades portuárias no Brasil e com as questões ambientais associadas a elas, vem investindo no levantamento de dados e informações, de modo a atender as exigências normativas nacionais e internacionais no que tange o gerenciamento de resíduos sólidos e de efluentes líquidos e o controle da fauna sinantrópica nociva nos portos marítimos brasileiros (SEP/COPPE/UFRJ, 2013). As atividades portuárias têm potencial geração de impactos sobre o ar, água, solo e sedimento de ambientes marinhos e terrestres. Além disso, as instalações e a estrutura do setor portuário no Brasil são significativamente antigas, gerando ineficiência no setor. Mesmo com a Lei de Modernização dos Portos (BRASIL, 1993), KITZMANN e ASMUS (2006) apontam que o processo de reestruturação do setor ainda não está completo, sendo, portanto, necessários investimentos para reverter esse quadro. Os portos brasileiros apresentam diversos problemas de infraestrutura, seja para o armazenamento das cargas ou para a própria logística de movimentação, e também relacionados à grande geração de resíduos e efluentes pelas embarcações e pelas operações portuárias, gerando problemas ambientais tais como: a contaminação do mar por óleos e material orgânico despejado sem tratamento (ANTAQ, 2011 e GUIA PORTUÁRIO, 2012). Os principais problemas da geração de efluentes líquidos nos portos tem como desdobramento a proposição de ações para a promoção e melhoria da gestão ambiental no segmento portuário brasileiro, chamadas de Boas Práticas Portuárias. Entre os potenciais resultados positivos decorrentes da adoção dessas medidas podemos destacar: Conformidade com a Legislação Ambiental; Melhoria dos aspectos na relação porto-cidade, com o melhor aproveitamento das sinergias positivas e redução dos impactos socioambientais negativos; Aumento da competividade portuária, decorrente da redução do consumo de água e de custos com outros insumos; Redução dos riscos sanitários aos trabalhadores portuários; Minimização da contribuição de poluentes nos corpos hídricos e zonas costeiras; Redução dos riscos de contaminação do solo e de mananciais subterrâneos; Melhoria das condições de segurança e saúde dos trabalhadores portuários; Otimização dos processos de coleta, armazenamento e destinação de resíduos. XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 3

As informações descritas neste trabalho foram levantadas no âmbito do projeto intitulado Implantação do Programa de Conformidade do Gerenciamento dos Resíduos Sólidos e Efluentes Líquidos nos Portos Marítimos Brasileiros, o qual foi fruto de uma parceria estabelecida entre a SEP e a Universidade Federal do Rio de Janeiro, pelo Programa de Planejamento Energético (PPE/ COPPE/UFRJ) e o Instituto Virtual Internacional de Mudanças Globais (IVIG)/COPPE/UFRJ no qual o IVIG é o responsável pelo desenvolvimento do Programa que contempla 22 portos marítimos localizados na costa brasileira, com o auxílio de universidades locais parceiras que atuaram como bases pontuais para o desenvolvimento das metodologias propostas (SEP/COPPE/UFRJ, 2013). Entretanto o presente trabalho irá abordar apenas os seguintes Portos Públicos localizados no nordeste: Porto do Itaqui; Porto de Fortaleza; Porto de Natal; Porto de Cabedelo; Porto do Recife; Porto de Suape; Porto de Maceió; Porto de Salvador; Porto de Aratu-Candeias; e Porto de Ilhéus. Vale ressaltar que neste Programa há diversas questões sendo analisadas concomitantemente ao longo de toda a costa brasileira, porém no presente trabalho foram abordadas somente as questões referentes ao desenvolvimento da Região Nordeste alinhado à melhoria das atividades portuárias, em relação à geração e tratamento dos esgotos sanitários. O objetivo do trabalho é traçar um panorama dos efluentes sanitários nos portos citados acima e identificar onde há potencial para melhorias nos portos da Região Nordeste no que se refere à gestão de efluentes sanitários, principalmente nas áreas não arrendadas do porto. O trabalho também realiza um levantamento da legislação pertinente, tanto a nível federal quanto local, isto é, estadual. 2. MATERIAL E MÉTODOS A metodologia utilizada para a coleta de informações referentes à gestão de efluentes líquidos nos portos públicos considerados está vinculada a sucessivas visitas técnicas, com registro fotográfico, avaliando assim o ambiente portuário ao longo do ano de 2012, obtendo assim um diagnóstico referente aos efluentes sanitários nos portos analisados que possibilita comparar tipologias de tratamento e formar um panorama da gestão desses efluentes nos portos da região nordeste. Dessa forma, a análise se baseia em uma avaliação qualitativa das informações obtidas em campo. A obtenção dos dados presentes neste trabalho foi subordinada à metodologia adotada pelo projeto citado anteriormente, com idas periódicas a todos os portos estudados, entrevistas com os responsáveis da área de meio ambiente, inspeções visuais e aplicação de um checklist, composto por XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 4

perguntas relativas à forma de gerir os efluentes sanitários nas diferentes instalações e os tipos de tratamento dados aos mesmos. Assim foi possível obter informações sobre fluxos, instalações existentes e potencial de contaminação dos corpos hídricos próximos. A partir dos dados obtidos em campo, das informações coletadas nas pesquisas bibliográficas sobre boas práticas na gestão de efluentes sanitários e das legislações aplicáveis foi possível obter um panorama da gestão dos efluentes sanitários nos portos da Região Nordeste. Importante ressaltar que os dados tratados e a análise dos mesmos estão armazenados em um banco de dados digital. Os dados coletados e as informações obtidas deverão permanecer em uma base de dados única, com acesso remoto a toda rede de instituições parceiras no projeto. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A seguir, são apresentados os resultados do diagnóstico realizado nos portos, abordando as informações levantadas em cada porto. O porto de Itaqui é atendido por fossas sépticas, com retirada periódica do lodo restante por empresas terceirizadas, responsáveis pela destinação desse resíduo. Apesar do município de São Luís possuir rede de esgotamento sanitário não há viabilidade de ligação do porto a esta porque não existe tronco coletor nas proximidades. O Porto de Fortaleza, localizado no Estado do Ceará, é atendido por fossas sépticas e tanques de acúmulo distribuídos de acordo com as instalações portuárias. Os resíduos de limpeza dessas estruturas são destinados para a CAGECE (Companhia de Água e Esgoto do Ceará). Segundo informações obtidas na Coordenadoria de Infraestrutura CODINF da CDC (Companhia Docas do Ceará), no Porto de Fortaleza não existe monitoramento sistemático dessas estruturas, que são limpas e esvaziadas conforme demanda com periodicidade de 6 meses a um ano. Este porto também fica distante do tronco coletor da rede de esgotamento sanitário da cidade. No Porto de Natal, no Estado do Rio Grande do Norte, a CAERN (Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte) cobra uma taxa de esgoto equivalente a 70% do valor cobrado pela água, todavia, nem todo o efluente sanitário gerado nos perímetros/prédios é destinado para a rede pública coletora. Dessa forma, uma parcela dos esgotos ainda segue para sistemas de fossa séptica/sumidouro, com lodo da limpeza destinado por uma empresa privada. XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 5

Todo efluente sanitário do Porto de Cabedelo, localizado no Estado da Paraíba, é tratado por fossas sépticas sem periodicidade específica de limpeza ou manutenção, com posterior encaminhamento para a rede de drenagem e em seguida para o estuário do Rio Paraíba (corpo hídrico receptor). A empresa Grande Moinho Tambaú (área arrendada), diferentemente do restante do porto, possui uma estação de tratamento de efluentes, com posterior reuso dos mesmos para fins não nobres. No Porto de Recife, no Estado de Pernambuco, somente três edificações do porto (dois prédios administrativos e um prédio do OGMO Órgão Gestor de Mão de Obra) estão ligados à rede pública de esgotamento sanitário existente na cidade. Tanto nas áreas não arrendadas como nas arrendadas há direcionamento dos efluentes sanitários para fossas sépticas, entretanto, durante o levantamento em campo junto aos profissionais da Gestão Ambiental da autoridade portuária, não foi possível precisar o número exato de fossas sépticas existentes na área primária do porto. Em Suape (PE), nas áreas não arrendadas e em algumas áreas arrendadas, o sistema de tratamento utilizado é o de fossa séptica seguida de sumidouro. Diversos terminais possuem estações de tratamento de esgoto próprias, e em apenas um terminal há uma estação de tratamento e reuso da água tratada. Nas unidades que possuem ETE e não possuem reuso, o efluente tratado é destinado para o mar, seja diretamente ou a partir de interligação à rede de drenagem pluvial. No Porto de Maceió, no Estado de Alagoas, apenas o prédio da administração encontra-se ligado à rede de esgotamento sanitário municipal que desemboca num emissário submarino, construído para atender toda a população de Maceió. Há previsão de obras de ampliação do sistema de esgotamento sanitário do município, entretanto, o porto ainda não foi inteiramente ligado à rede. Não há um tratamento centralizado para os efluentes sanitários, sendo o mais observado fossas sépticas associadas a um sumidouro na sequência, que frequentemente encontra-se afogado, uma vez que o lençol freático do porto é muito alto. Já em outras edificações há apenas caixas de acúmulo, onde os efluentes sanitários são armazenados e posteriormente transportados para o emissário submarino da cidade. O Porto de Salvador, na Bahia, está inserido em uma área atendida pela rede pública de esgotamento sanitário da EMBASA (Empresa Baiana de Águas e Saneamento S.A.), porém ainda não se encontra conectado à rede. Neste porto, tanto nas áreas arrendadas como não arrendadas do porto, o abastecimento de água é realizado pela concessionária local e todo o efluente sanitário é direcionado para fossas sépticas. A autoridade portuária possui estudos para lançamento dos seus XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 6

efluentes sanitários na rede coletora da EMBASA, entretanto os mesmos ainda não estão sendo executados. No Porto de Aratu-Candeias, localizado no Município de Candeias (BA), existem apenas, fossas sépticas. Não há uma rotina estabelecida de manutenção e limpeza dessas estruturas de tratamento, dessa forma, a limpeza das unidades é realizada somente quando ocorre a detecção de problemas visíveis como entupimentos e transbordamentos. O Porto de Ilhéus (BA) não possui áreas arrendadas, logo a autoridade portuária é responsável pelo tratamento de todo efluente sanitário gerado nas instalações portuárias. Os efluentes sanitários desse porto são inteiramente direcionados para fossas sépticas, porém não há uma rotina estabelecida de manutenção e limpeza dessas instalações de tratamento de efluentes sanitários. A limpeza das unidades nunca foi realizada, pois, ainda, não ocorreu detecção de problemas visíveis como entupimentos e transbordamento. A Tabela 1, a seguir, apresenta uma compilação das tipologias de tratamento de efluentes sanitários nos portos públicos do Nordeste supracitados. Cabe destacar que foi utilizada a caracterização como tanque de acúmulo nos portos onde não foi possível identificar o pleno funcionamento de unidades de fossas sépticas, devido principalmente à falta de uma rotina de limpeza e manutenção, ou mesmo o próprio desconhecimento da localização destas unidades por parte dos setores responsáveis. Tabela 1: Compilação da tipologia de tratamento de efluentes sanitário nos portos públicos do Nordeste Porto Itaqui Fortaleza Natal Cabedelo Recife Suape Maceió Salvador Aratu Ilhéus Tipologia de tratamento Fossa séptica/tanque de acúmulo Fossa séptica Conexão à rede coletora/fossa séptica Fossa séptica/tanque de acúmulo Conexão à rede coletora/fossa séptica/tanque de acúmulo Fossa séptica Conexão à rede coletora/fossa séptica/tanque de acúmulo Fossa séptica Fossa séptica Fossa séptica XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 7

As estruturas de fossas sépticas, presentes na grande maioria dos portos nordestinos, não atendem aos padrões de lançamento de efluentes sanitários ainda em nível federal (CONAMA 430/11), de acordo com a eficiência de remoção de matéria orgânica pelas fossas sépticas estimada por Jordão (2011), o que impossibilitaria seu descarte no corpo hídrico. A eficiência de remoção do filtro anaeróbio acoplado à fossa séptica varia de 70% a 85% para a DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) e de 60 a 80% para os SST (Sólidos Suspensos Totais). Entretanto, várias estruturas avaliadas não possuem filtros acoplados, o que faz sua eficiência cair drasticamente (Jordão, 2011). Além disso, o procedimento padrão adotado atualmente pelos portos necessita de caminhões para o transporte do lodo que é retirado das fossas, o que implica em outras desvantagens associadas, como maior tráfego de veículos no porto, maior gasto de combustível, desgaste das vias de circulação, além da incerteza da adequada destinação final desse efluente, uma vez que muitas empresas não disponibilizam o certificado de destinação desses efluentes coletados. Na Tabela 2, é apresentado o resumo dos padrões de lançamento de efluentes em nível federal e estadual, quando aplicável. Verifica-se que apenas quatro estados do Nordeste possuem especificações relativas a esse tipo de efluentes. Estado Federal Tabela 2: Padrões de lançamento de efluentes líquidos em nível federal e estadual CONAMA N 430/2011 Legislação Padrões de Lançamento Valores Máximos Permissíveis DQO (mg/l) Efluentes de qualquer fonte poluidora - DBO (mg/l) - SST (mg/l) Esgotos Sanitários 120 60 - Eficiência de Remoção DBO SST (%) (%) CE PORTARIA N. 154/2002 - - 100 - - PB NT 301/1988-60 - 80 - PE CPRH N 2.002 (Efluentes não industriais) C 2 KgDBO/d 360 180 2 <C 6 KgDBO/d 160 80 70-6 <C 50 KgDBO/d 120 60 80 C > 50 KgDBO/d 60 30 90 AL DECRETO ESTADUAL N 6.200/85 150 60 - - 60 40 - - 4. CONCLUSÃO A avaliação da gestão dos efluentes sanitários nos portos públicos do Nordeste indica que as estruturas de tratamento não são suficientes para evitar a poluição dos corpos hídricos próximos aos XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 8

portos, uma vez que não passam por constantes manutenções e muito provavelmente operam acima do seu limite de capacidade. Neste sentido, há uma clara lacuna relacionada à gestão de efluentes sanitários nos portos públicos do nordeste, indicando a necessidade de investimentos para melhoria das infraestruturas portuárias, visando avanços relacionados às questões ambientais, a partir da implementação e utilização de boas práticas para a gestão dos efluentes sanitários. Além disso, é indicada a substituição das estruturas de tratamento do tipo fossas sépticas, que não são ideais para esse tipo de empreendimento, por outras que possuam capacidade e eficácia para tratar devidamente os efluentes, evitando assim a potencial contaminação dos corpos hídricos por esgotos sanitários. Cabe destacar que o contexto portuário é muito dinâmico. Portanto, o panorama aqui apresentado representa um momento específico nessa realidade. Finalmente, ressalta-se que os efluentes sanitários representam apenas uma parte dos fatores que devem ser levados em consideração para uma gestão ambiental portuária integrada e efetiva, que vise à melhoria ambiental dos portos nordestinos e de todo o Brasil, atraindo mais investimentos e ao mesmo tempo possuindo uma robusta infraestrutura logística e de operação, aumentando visibilidade internacional. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTAQ (2011). Gerência de Estudos e Desempenho Portuário 4ºTrimestre/2011. Disponível em: <http://www.antaq.gov.br/portal/pdf/boletimportuario/boletimportuarioquartotrimestre2011.pdf>. BRASIL. LEI Nº 8.630, DE 25 DE FEVEREIRO DE 1993. Dispõe sobre o regime jurídico da exploração dos portos organizados e das instalações portuárias e dá outras providências. (LEI DOS PORTOS). [S.l.]. 1993. CONAMA nº 430, de 13 de maio de 2011. Dispõe sobre as condições e padrões de lançamento de efluentes, complementa e altera a Resolução nº 357, de 17 de março de 2005, do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA. GRUPO UPDATE, GUIA PORTUÁRIO, 2012. XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 9

JORDÃO, E. P.; PESSÔA, C.A. Tratamento de Esgoto Doméstico. Editora: ABES, 6ª ed. Rio de Janeiro, 2011. KITZMANN, D.; ASMUS, M. Gestão ambiental portuária: desafios e possibilidades2006. RAP 40 (6), Rio de Janeiro, Dezembro 2006. 1041-60. SEP/COPPE/UFRJ. Guia de Boas Práticas Portuárias - Programa de Conformidade do Gerenciamento de Resíduos Sólidos e Efluentes Líquidos nos Portos Marítimos Brasileiros. Publicação Restrita. Secretaria Especial de Portos; Universidade Federal do Rio de Janeiro. Brasília. 2013. XII Simpósio de Recursos Hídricos do Nordeste 10