Hipersensibilidade dentinária causas e tratamento. Uma revisão da literatura



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Rev Inst Ciênc Saúde 2005 jan-mar; 23(1):67-71 Hipersensibilidade dentinária causas e tratamento. Uma revisão da literatura Dentin hypersensitivity causes and treatment. A review Flávio Henrique Baggio Aguiar* Elcio Magdalena Giovanni** Fabio Henrique Lozano Monteiro*** Halbert Villalba** José Jam de Melo** Nicolau Tortamano** Resumo Este artigo é uma revisão da literatura sobre hipersensibilidade dentinária. Sua prevalência, mecanismo de ação e etiologia são citados e discutidos. As diversas formas de tratamento e suas eficiências são apresentadas, incluindo dentifrícios, flúor, agentes dessensibilizantes, adesivos, lasers e restaurações. Palavras-chave: Sensibilidade da dentina, etiologia Sensibilidade da dentina, terapia Abstract This article is a literature review of dentin hypersensitivity. Its prevalence, mechanism and etiology are cited and discussed. Treatment modalities and their effectiveness are presented, including dentifrices, fluorides, desensitization agents, dentin-bonding agents, lasers and restorations. Key words: Dentin sensitivity, etiology Dentin sensitivity, therapy Introdução A hipersensibilidade dentinária (Hiperalgesia) pode ser definida como uma dor aguda de curta duração causada pela presença de túbulos dentinários abertos em uma superfície dentinária exposta (Liu et al. 12, 1998; Rees et al. 20, 2003). A hipersensibilidade é um problema comum à população adulta com prevalência que pode variar de 18% a 74% na população (Wilchgers e Emert 26, 1997; Liu et al. 12, 1998; Rees et al. 20, 2003). Esta ampla variação da prevalência pode ser devido a diversos fatores, incluindo diferentes métodos de diagnóstico usados, variação no consumo de alimentos e bebidas com capacidade de causar erosão e o local onde o estudo foi conduzido (Rees et al. 20, 2003). Estudos conduzidos em Clínicas de Periodontia tendem a apresentar uma maior incidência de hipersensibilidade devido ao maior risco de exposição de raiz como resultado do tratamento periodontal (Rees et al. 20, 2003). A hipersensibilidade dentinária é causada por uma variedade e combinações de fatores, incluindo recessão gengival, tratamento periodontal, alimentos e bebidas ácidas, desordens alimentares, hábito agressivo de escovação de dentes, dentifrícios abrasivos, algumas doenças sistêmicas e desordens de oclusão (Swift Jr. et al. 24, 2001). Segundo Wilchgers e Emert 26 (1997), a hipersensibilidade dentinária é demonstrada por uma resposta exagerada a vários estímulos (táteis, químicos, térmicos e osmóticos), que varia desde leve desconforto até dor extrema. Neste ultimo caso, o desconforto acaba interferindo nos hábitos de alimentação e higiene do paciente (Aranha 2, 2003). Desta forma, o interesse profissional nas causas e no tratamento da hipersensibilidade tem aumentado nos últimos 150 anos (Aranha 2, 2003). Assim sendo, o propósito deste trabalho será discutir, através da revisão da literatura, o mecanismo e etiologia da hipersensibilidade, bem como os diversos tratamentos descritos na literatura. Mecanismo Estudos fisiológicos e morfológicos têm demonstrado que a hipersensibilidade dentinária em áreas cervicais é resultado dos túbulos dentinários abertos na superfície da dentina (Arrais et al. 3, 2003). Em situações normais, a dentina é recoberta por esmalte em sua porção coronária e cemento e tecido periodontal em sua porção radicular (Sensitivity teeth 23, 2003). Entretanto, a perda de esmalte e/ou de tecido periodontal de revestimento associado ou não à perda óssea pode levar à exposição da dentina coronária e/ou radicular (Addy e Urquhat 1, 1992; Renton-Harper e Midda 21, 1992; Aranha 2, 2003). * Especialista em Dentística. Mestre e Doutor em Clínica Odontológica. Professor Adjunto da Disciplina de Clínica Integrada da Universidade Paulista (UNIP) Campus São Paulo e Sorocaba. E-mail: aguiarfhb@yahoo.com.br ** Professor Doutor Titular da Disciplina de Clínica Integrada da UNIP Campus São Paulo. *** Professor Adjunto da Disciplina de Clínica Integrada da UNIP Campus Sorocaba

68 Tradicionalmente, a perda de esmalte pode ocorrer como resultado de três processos distintos: abrasão, erosão ou abfração. Doenças periodontais determinam a perda de tecido periodontal de revestimento e conseqüente exposição da raiz (Aranha 2, 2003). Segundo a teoria hidrodinâmica da dor de Brännström (Brännström et al. 6, 1979; Brännström 4, 1966), a dentina exposta com túbulos dentinários abertos permite a movimentação do fluido tubular para dentro ou fora do túbulo. Esta movimentação faz com que ocorra a contração ou distensão do prolongamento de odontoblasto, ativando assim ramificações nervosas presentes no inicio do prolongamento de odontoblasto, próximo à interface dentina-polpa (Ochi e Matsumoto 15, 1988; Pashley 18, 1996; Wilchgers e Emert 26, 1997, Aranha 2, 2003). A teoria hidrodinâmica da dor é mais aceita (Wilchgers e Emert 26, 1997). Outras teorias, que descreviam a presença de ramificações nervosas dentro dos túbulos dentinários (Gillam*, 1997) ou que afirmavam que os prolongamentos de odontoblastos seriam responsáveis pela condução de impulsos nervosos são menos aceitas, pois segundo os trabalhos de Pashley** (1992), Brännström 4 (1966) e Brännström e Astron 5, (1972), a presença de ramificações nervosas dentro dos túbulos dentinários está limitada a 10 µm da interface dentinapolpa, e que não existe evidências de sinapse entre os odontoblastos e os nervos pulpares (Aranha 2, 2003). A dentina cervical contém numerosos túbulos pulpares transversais ao longo eixo do dente. Estudos utilizando-se de MEV têm mostrado que a dentina com hipersensibilidade têm oito vezes mais túbulos abertos do que a dentina não sensível (Wilchgers e Emert 26, 1997). O diâmetro dos túbulos também parece ser outro fator determinante na sensibilidade da dentina, pois em dentinas sensíveis, o túbulo dentinário tem o diâmetro maior em duas vezes quando comparado com o túbulo de uma dentina não sensível (Aranha 2, 2003). Etiologia Conhecer a etiologia da hipersensibilidade dentinária é de fundamental importância para a prevenção e a indicação do tratamento. Numerosos fatores podem levar à exposição dos túbulos dentinários, e conseqüentemente à hipersensibilidade dentinária, entre eles: nível de higiene oral baixa, higiene oral inapropriada, terapia periodontal, exposição a ácidos não bacterianos, contato oclusal com força excessiva e contato oclusal prematuro. Nível de higiene oral baixa Pacientes com baixo nível de higiene oral estão relacionados com alto nível de destruição do tecido periodontal, perda de tecido ósseo de suporte e exposição radicular (Mayhew et al. 14, 1998). A exposição radicular está relacionada com a hipersensibilidade dentinária, podendo esta ser agravada pela ação dos ácidos das bactérias, que podem abrir ainda mais os túbulos dentinários (Wilchgers e Emert 26, 1997). Higiene oral inapropriada Alguns pacientes podem realizar o controle mecânico de placa de modo inapropriado, levando a um desgaste anormal do dente e/ou recessão gengival, principalmente na região cervical. Este processo, conhecido como abrasão está fortemente associado com hipersensibilidade dentinária (Wilchgers e Emert 26, 1997), pois leva à exposição dos túbulos dentinários. Técnica e força de escovação inadequada, freqüência de escovação, tipos de cerdas das escovas dentais e abrasividade das pastas dentais são alguns fatores associados à abrasão (Mayhew et al. 14, 1998; Osborne-Smith et al. 16, 1999). Segundo Sanges e Gjermo 22 (1976), a abrasão é freqüente em superfícies vestibulares de caninos e pré-molares esquerdos de pacientes destros, pois esta região e de fácil acesso a estes pacientes. De acordo com Osborne-Smith et al. 16 (1999), além das áreas citadas anteriormente, também as áreas na qual o paciente inicia a escovação estão freqüentemente associadas com abrasão, devido à maior força empregada neste momento. Terapia periodontal A terapia periodontal tem sido associada à hipersensibilidade devido à remoção de cálculos supra e/ou subgengivais, o que expõe os túbulos dentinário. Outro fator é a remoção do cemento dentário que recobre a raiz ou ainda a remoção da própria dentina radicular durante a raspagem periodontal. Alguns estudos têm mostrado forte aumento da hipersensibilidade dentinária em pacientes submetidos ao tratamento periodontal (Uchida et al. 25 ; 1987; Pashley 18, 1990). Exposição a ácidos não bacterianos Através de dieta, produtos químicos, medicamentos, drogas ou ácidos endógenos, pacientes entram em contatos com substâncias de baixo ph que levam à perda da estrutura dentária por dissolução química sem envolvimento de bactéria (Eisenburger e Addy 8, 2002). Este processo, chamado de erosão, produz uma zona de esmalte descalcificada, e mais amolecida (Eisenburger e Addy 8, 2002). Na área cervical, o esmalte mais delgado pode ser gradativamente dissolvido e a dentina acaba sendo exposta ao meio bucal (Osborne-Smith et al. 16, 1999). O meio ácido também pode abrir mais os túbulos dentinários, levando a uma sensibilidade maior (Wilchgers e Emert 26, 1997). Além disso, este processo pode estar associado à abrasão, principalmente em casos de dieta ácida ou refluxo gástrico coligado com a escovação realizada imediatamente após estes processos. * Gillam DG. Clinical trial designs for testing of products for dentin hypersensitivity: a review. 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69 Contato oclusal com força excessiva e contato oclusal prematuro Forças oclusais excessivas têm sido relacionadas à deformação e flexão do dente, resultando em fratura dos cristais de esmalte da região cervical, contribuindo com a exposição da dentina coronária e em casos mais severos, da dentina coronária e radicular do dente (Litonjua et al. 11, 2003; Osborne-Smith et al. 16, 1999). Esta lesão, classificada como abfração, não está diretamente relacionada à dieta, doença periodontal ou abrasão (Litonjua et al. 11, 2003), entretanto, pode ser um fator predisponente à hipersensibilidade dentinária (Mayhew et al. 14, 1998; Ikeda et al. 10, 1998). Tratamento A hipersensibilidade dentinária pode ser tratada com dentifrícios, flúor, dessensibilizantes, adesivos dentários, uso de laser, restaurações, cirurgias muco-gengivais e tratamento endodôntico (Wilchgers e Emert 26, 1997; Aranha 2, 2003). Com exceção do laser e do tratamento endodôntico, todos os outros tratamentos buscam obliterar os túbulos dentinários, diminuindo ou cessando a hipersensibilidade. Entretanto, o grande desafio da Odontologia Moderna é encontrar uma substância que seja eficaz em um curto espaço de tempo, que não cause recidiva de hipersensibilidade e que elimine efetivamente a sensação dolorosa (Aranha 2, 2003). Em 1935, Grossman 9 sugeriu um número de critérios para o tratamento da hipersensibilidade que ainda são aplicáveis, como: biocompatibilidade, eficácia consistente, ausência dor durante a aplicação, ser de fácil aplicação, efeito permanente e ação rápida e que não altere a cor das estruturas dentárias. Dentifrícios O tratamento com dentifrício tem sido amplamente indicado, principalmente por ser de baixo custo, de fácil uso e pode ser aplicado em própria casa do paciente (Wilchgers e Emert 26, 1997). A desvantagem deste método é o tempo de ação deste tratamento, que pode durar de 2 a 12 semanas. O método de ação baseia-se na obliteração dos túbulos dentinários pela precipitação de fosfato de cálcio na superfície dentinária, sendo o cálcio um componente freqüentemente presente nos dentifrícios (Arrais et al. 3, 2003). Outros agentes dessensibilizantes podem estar presentes, como o cloreto de estrôncio (Sensodyne ) e o nitrato de potássio (Emoform ). Embora não haja evidências científicas ainda, o estrôncio poderia agir como um interruptor da transmissão dos neurônios (Arrais et al. 3, 2003). Já o nitrato de potássio tem demonstrado uma efetiva ação dessensibilizante. Acredita-se que o aumento da concentração do potássio extracelular ao redor das fibras nervosas causa uma despolarização das mesmas, evitando uma repolarização, e assim resultando na inativação do potencial de ação (Wilchgers e Emert 26, 1997). Flúor A aplicação tópica de flúor, na forma de fluoreto de sódio, sobre a dentina exposta também tem sido sugerida como forma de tratamento à hipersensibilidade. A vantagem deste tratamento está relacionada com o custo do produto, entretanto é necessária a aplicação supervisionada pelo cirurgião-dentista (Aranha 2, 2003). O mecanismo se dá pela formação de cristais de fluoreto de cálcio na superfície de dentina. Entretanto, os cristais formados são menores do que o diâmetro do túbulo dentinário, o que implica na necessidade de repetição da aplicação deste produto (Wilchgers e Emert 26, 1997). Além disso, o composto de fluoreto de cálcio é extremamente instável, dissociando-se rapidamente e fazendo com que o seu efeito seja de pouca duração (Aranha 2, 2003). Dessensibilizantes Os agentes dessensibilizantes mais freqüentes são o oxalato férrico a 6%, o oxalato de monopotássio monohidrogenado a 3%, e oxalato de potássio a 30% (Wilchgers e Emert 26, 1997). Os íons de oxalatos reagem com o cálcio para formar oxalatos de cálcio na forma insolúvel, que podem obliterar os túbulos dentinários (Wilchgers e Emert 26, 1997). Além da formação de oxalatos de cálcio, o potássio age diretamente na fibra nervosa, como descrito anteriormente, auxiliando na diminuição da sensibilidade (Aranha 2, 2003). Uma desvantagem desta técnica é a penetração superficial do oxalato de cálcio, fazendo com que este composto possa ser removido após um período curto de tempo. Adesivos O uso dos adesivos está indicado como tratamento da hipersensibilidade dentinária, pois se mostram muito efetivos ao apresentar efeito imediato, ser de fácil aplicação e manuseio, e ser indolor durante a aplicação (Aranha 2, 2003). Segundo Dondi dall Orologio e Malferrari 7 (1999), o adesivo tem efeito de selar os túbulos dentinários, pela formação da camada híbrida. Em dois estudos in vivo, Prati et al. 19 (2001) e Swift Jr. et al. 24 (2001) concluiram que a aplicação do adesivo foi efetiva na redução da hipersensibilidade, e que adicionais camadas de adesivos podem ser aplicadas sempre que ocorra um aumento da sensibilidade. Laser Segundo Aranha 2 (2003), o uso de laser de baixa potência apresenta um efeito satisfatório, e apresenta um efeito de regulação das funções fisiológicas celulares de analgesia, desinflamação e biorregulação das respostas celulares. Segundo Navratil e Dylevsky* (1997) os efeitos do laser de baixa potencia afetam a liberação das endorfinas α e β, promovendo uma analgesia pelo bloqueio da entrada de substâncias de transmissão.

70 Restaurações As restaurações dentárias só são justificadas quando, além da hipersensibilidade dentinária, existem lesões apresentando cavidades. De acordo com Osborne- Smith et al. 16 (1999) as lesões cervicais não cariosas (abrasão, abfração e erosão) devem ser restauradas quando estiverem cavitadas, mas este tratamento deve ser acompanhado pela remoção da causa destas lesões. Segundo Marais et al. 13 (1995), o sucesso das restaurações é limitado, pois as restaurações podem exacerbar a hipersensibilidade. Com o propósito de comparar as diferentes formas de tratamento, Aranha 2 (2003) realizou um estudo comparando alguns métodos dessensibilizantes durante seis meses de acompanhamento clínico. Observou-se que os agentes adesivos apresentaram efeito imediato após a aplicação, com remissão do nível de dor constante até os seis meses. Em relação à irradiação com laser de baixa potência, este se mostrou efetivo, porém com efeito não imediato. Os agentes dessensibilizantes e flúor fosfato acidulado apresentaram efeito somente após o primeiro e terceiro mês, respectivamente. Desse modo, pode-se concluir que todos os agentes dessensibilizantes foram eficazes em reduzir a hipersensibilidade dentinária, porém com efeitos diferentes. Conclusões 1. A hipersensibilidade dentinária é causada por uma variedade e combinações de fatores. 2. Existem diversos tratamentos propostos na literatura, sendo que todos apresentam efetividade em diferentes graus e tempo. 3. A aplicação de sistema adesivo dentário parece ter efeito imediato e duradouro. Referências 1. Addy M, Urquhat E. Dentine hypersensitivity: Its prevalence, aetiology and clinical management. Dent Update 1992; 19:407-8. 2. Aranha ACC. Estudo in vivo da efetividade de diferentes métodos de dessensibilização dentinária em lesões cervicais não cariosas. [dissertação de mestrado] Piracicaba: Faculdade de Odontologia de Piracicaba da Universidade Estadual de Campinas, 2003. 3. Arrais CAG, Micheloni CD, Ginnini M, Chan DCN. Occluding effect of dentifrices on dentinal tubules. J Dent 2003; 21: 577-84. 4. Brännström M. Sensitivity of dentine. Oral Surg Oral Med Oral Pathol 1966; 21: 517-27. 5. Brännström M, Astron A. The hydrodynamics of the dentin: its possible relationship to dentinal pain. Int Dent J 1972; 22: 219-27. 6. Brännström M, Jonhson G, Nordenvall KJ. Transmission and control of dentinal pain: resin impregnation for the desensitization of dentin. J Am Dent Assoc 1979; 19: 692-8. 7. Dondi dall Orologio G, Malferrari S. Dentin desensitizing effects of Gluma Alternate, Health-Dent Desensitizer and Scotchbond Multi-Purpose. Am J Dent 1999; 12: 103-6. 8. Eisenburger M, Addy M. Erosion and attrition of human enamel in vitro. Part I: Interaction effects. J Dent 2002; 30: 341-7. 9. Grossman LI. A systematic method for the treatment of hypersensitivity dentin. J Am Dent Assoc 1935; 22: 592-602. 10. Ikeda T, Nakano M, Bando E, Suzuki A. The effect of light premature occlusal contact on tooth pain threshold in humans. J Oral Rehabil 1998; 25: 589-95. 11. Litonjua LA, Andreana S, Bush PJ, Tobias TS, Cohen RE. Noncarious cervical lesions and abfractions, a re-evaluation. J Am Dent Assoc 2003; 134:845-50. 12. Liu HC, Lan WH, Hsieh CC. Prevalence and distribution of cervical dentin hypersensitivity in a population in Taipei, Taiwan. J Endod 1998; 24: 45-7. * Navratil LI, Dylevsky I. Mechanism of the analgesic effect of therapeutic lasers in vivo. Laser Ther 1997; 9:33-40 apud Aranha op. cit. ref. 2.

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