Ensaios Clínicos - Estudos de Fase I -

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Ensaios Clínicos - Estudos de Fase I - Dr. Sandro J. Martins Hospital Universitário de Brasília EBSERH Hospital das Forças Armadas - MD Consultor para Oncologia, Ministério da Saúde

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Objetivos de Estudos Fase I Primário: Identificar toxicidades dose-limitantes (DLTs) e a dose recomendada para fase II (RPTD) Secundário: Descrever o perfil de toxicidade do novo tratamento Avaliar farmacocinética (PK) Avaliar efeitos farmacodinâmicos (PD) no tumor e/ou amostras biológicas Documentar qualquer evidência preliminar de atividade antitumoral

Definições-chave Toxicidade Dose-limitante (DLT): Toxicidade considerada inaceitável (severidade e/ou irreversibilidade) e que limita escalonamento de dose. Especificada por critérios padronizados (ex: Common Terminology Criteria for Adverse Event - CTCAE). DLT é definida a priori, antes da execução do estudo. Em geral, baseada na toxicidade observada após o 1o ciclo.

Definições-chave Farmacocinética (PK): o que o corpo faz com a droga absorção, distribuição, metabolismo e excreção Parâmetros PK: Cmax, AUC (exposição à droga), t1/2, Clearance, etc. Farmacodinâmica (PD): o que a droga faz no corpo Ex: nadir hematológico, toxicidade não-hematológica, alterações moleculares, bioimagem funcional

Questões fundamentais A que dose começar? Quais os pacientes? Quantos pacientes por grupo? Como fazer o escalonamento da dose? Quais os desfechos de interesse?

Questões fundamentais A que dose começar? Quais os pacientes? Quantos pacientes por grupo? Como fazer o escalonamento da dose? Quais os desfechos de interesse?

Toxicologia pré-clínica Parâmetros: LD10 dose letal em 10% dos animais TDL (mínima dose tóxica) menor dose tóxica em animais NOAEL nível onde não foi observado efeito adverso

Fase I : dose inicial 1/10 da LD10 em roedores ou (dependendo da sensibilidade das espécies) 1/6 ou 1/3 da TDL em animais maiores Considerar dados pré-clínicos sobre linearidade ou não da relação dose/toxicidade

Species Conversão da dose animal em dose humana equivalente (HED) To convert animal dose in mg/kg to dose in mg/m 2, multiply by Km below: To convert animal dose in mg/kg to HED in mg/kg, either: Divide animal dose by Multiple animal dose by Human 37 - - Child (20 kg) 25 - - Mouse 3 12.3 0.08 Hamster 5 7.4 0.13 Rat 6 6.2 0.16 Ferret 7 5.3 0.19 Guinea pig 8 4.6 0.22 Rabbit 12 3.1 0.32 Dog 20 1.8 0.54 Primates: Monkeys 12 3.1 0.32 Marmoset 6 6.2 0.16 Squirrel monkey 7 5.3 0.19 Baboon 20 1.8 0.54 Micro-pig 27 1.4 0.73 Mini-pig 35 1.1 0.95

Questões fundamentais A que dose começar? Quais os pacientes? Quantos pacientes por grupo? Como fazer o escalonamento da dose? Quais os desfechos de interesse?

População do estudo Critérios convencionais : Tumores sólidos avançados, sem resposta ao tratamento padrão ou para os quais não há tratamento efetivo conhecido Performance status (ECOG 0 ou 1) Funções biológicas normais (ex: hemograma, creatinina, AST/ALT, bilirubinas) Tratamentos prévios (tipo e intervalo) Sem infecção ativa ou condição clínica nãocontrolada

Questões fundamentais A que dose começar? Quais os pacientes? Quantos pacientes por grupo? Como fazer o escalonamento da dose? Quais os desfechos de interesse?

Escalonamento de dose: desenho 3+3 # pts c/dlt Ação 0/3 Passar para o próximo nível 1/3 Recrutar + 3 pts neste nível 1/3 + 0/3 Passar para o próximo nível 1/3 + 1/3 Parar: recomendar dose do nível anterior 1/3 + 2/3 Parar: recomendar dose do nível anterior 1/3 + 3/3 Parar: recomendar dose do nível anterior 2/3 Parar: recomendar dose do nível anterior 3/3 Parar: recomendar dose do nível anterior Muitos estudos de fase I recrutam pacientes adicionais na RPTD para obter dados adicionais de segurança, PK e PD (mas esta expansão não é o mesmo que estudo de fase II)

Dose Estudos de Fase I: desenho padrão 3+3 MAD Dose Recomendada (alguns chamam MTD ) DLT 3 pts 3 pts + 3 pts DLT 3 pts 3 pts 3 pts 3 pts

Questões fundamentais A que dose começar? Quais os pacientes? Quantos pacientes por grupo? Como fazer o escalonamento da dose? Quais os desfechos de interesse?

Princípios básicos Iniciar com a dose segura Minimizar o número de doentes tratados em doses sub-tóxicas (sub-terapêuticas?) Escalonar rapidamente na ausência de toxicidade Escalonar lentamente na presença de toxicidade

Premissa do estudo Fase I Quanto maior a dose, maior a chance de eficácia Toxicidade aguda dose-relacionada: desfecho substituto para eficácia Dose segura mais alta = dose mais eficaz Conceito desenvolvido para drogas citotóxicas: aplicação questionável para modificadores de resposta biológica

Dose-resposta: eficácia & toxicidade Janela terapêutica

Questões fundamentais A que dose começar? Quais os pacientes? Quantos pacientes por grupo? Como fazer o escalonamento da dose? Quais os desfechos de interesse?

Desfechos em Estudos de Fase I DLT e outras toxicidades: segurança e tolerabilidade Farmacocinética Farmacodinâmica marcadores biológicos, bioimagem funcional Evidência preliminar de ação antitumoral

Segurança e eficácia em estudos de fase I em oncologia (Horstman et al, NEJM 352, 2005) Estudo N estudos N Pacientes Avaliados para resposta Taxa de resposta % N Pacientes Avaliados para Toxicidade Mortes pelo tratamento n (%) Total (estudos primeiro-emhumanos) 117 3164 4,8 3498 9 (0,26) QT citotóxica 43 1298 5,0 1422 7 (0,49) Imunomodulador 16 404 7,4 431 1 (0,23) Inibidor sinalização 27 742 3,8 853 1 (0,12) Antiangiogênico 8 200 7,0 228 0 Vacina 23 520 3,1 564 0

Falhas de estudos Fase I Toxicidade crônica não pode ser avaliada Toxicidade cumulativa em geral não pode ser identificada Toxicidades incomuns não serão vistas

Toxicidade em estudos Fase I Probabilidade de NÃO observar toxicidade grave que ocorra a taxa de: Número de pacientes 10% 20% 1 0.90 0.80 2 0.81 0.64 3 0.73 0.51 6 0.53 0.26 10 0.35 0.11 15 0.21 0.04 Probabilidade de negligenciar uma toxicidade: P OT (p) = (1-p) n ; n = amostra, p = frequência da toxicidade

Sucesso em Estudos Fase I: Colaboração Multiprofissional Pesquisador Enfermeiro Farmacêutico Laboratório Bioimagem Coordenador de pesquisa Estatístico Marketing Reguladores Patrocinador

Posição da SBOC 1. Apoio aos estudo clínicos 2. Decisões judiciais: seguimento por especialista 3. Não recomendamos a prescrição médica 4. Acompanhamento dos pacientes que estiverem em uso (não negar atendimento)