ANAIS DO XV CONGRESSO NACIONAL DE LINGUÍSTICA E FILOLOGIA



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Transcrição:

CARACTERIZAÇÃO DO GÊNERO DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA UM ESTUDO COM A REVISTA SUPERINTERESSANTE Alexandre Pereira dos Santos (UFRRJ) alexandre.sp10@hotmail.com Mário Newman de Queiroz (UFRRJ) mcnqsofocles@terra.com.br 1. Introdução A reflexão sobre a divulgação científica, torna-se de grande importância, remetendo-nos ao caráter do gênero, o que leva a uma análise das suas dimensões e abrangências de caráter acadêmico, técnico científico e popular. Um dos pontos que marca a divulgação científica ao longo da sua existência é o embate entre os cientistas e divulgadores, onde, por um lado os cientistas reclamam a falta de exatidão dos divulgadores no uso da divulgação, já pelo lado dos divulgadores fica o embate de agradar o seu leitor não o meio acadêmico. Os cientistas sofrem com a dificuldade de conseguir transmitir o saber científico as massas, uma vez que os usos de termos técnicos dificultam a recepção por parte do público. Mas podemos dizer que ciência e divulgação científica já estiveram longe desde o princípio? Com certeza não. Wolf Lepenies em sua obra As Três Culturas, diz o seguinte: O cientista há muito não é mais um mero virtuoso, que inclui também a diversão entre os objetivos de sua atuação; mais ainda predomina a convicção de que a ciência seria antes uma vocação que uma ocupação, mais uma profissão de fé, que uma profissão. (LEPENIES, 1996) Antes de tudo a caracterização do cientista como um profissional puramente técnico é um equívoco, uma vez que ideologias e convicções são intrínsecas ao campo da ciência, alterando-se conforme os anseios e desejos ao longo do tempo. Alguns dos mais famosos filósofos e cientistas sociais, como Auguste Comte (1798-1857), retrata a grande importância em que a ciência pode atrelar-se com a forma de divulgar seus estudos. Apesar do estilo nada comum de Comte, ele conseguiu unir ciência e literatura de uma forma sem igual. O que a princípio para Comte foi alvo de duras críticas dos literatos da sua época, por seu descaso com o estilo, o que lhe provo- p. 1509 Cadernos do CNLF, Vol. XV, Nº 5, t. 2. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011

cou profunda revolta, mais tarde veio a se tornar incentivo à sua melhora na forma de escrever. Como Wolf Lepenies cita em sua obra, As três culturas: (...) Comte agora reconhecia a importância das questões de estilo. Admitia a- gora que as ideias filosóficas podem ter muito mais força de persuasão se forem pelo menos expressas de forma apropriada, quando não elegante. (LEPE- NIES, 1996). Segundo o próprio Wolf Lepenies, nos meados do século XVIII, não é possível uma separação nítida entre o modo de produção da obra literária e o da obra científica. A busca pelo o interesse do leitor pode se configurar um objetivo não só dos divulgadores científicos em si, mais em grande parte dos próprios cientistas, como cita Calvo Hernando. Um largo caminho percorrido desde o conceito minoritário e quase secreto da ciência até a gostosa e unânime participação atual do homem de rua na grande aventura do conhecimento. Uma participação que não é, por suposto, satisfatória como desejaríamos, e nem afeta todos os seres humanos, como tampouco os afeta a luz elétrica, a medicina ou o alfabeto, mais que se amplia com o passar do tempo, num ritmo cada vez mais vivo e exigente. (HER- NANDO, 1995, p. 18). 2. Analisando dados, resultados e discussão sobre a revista Superinteressante A coleta de dados foi realizada através da indicação dos editores da revista Superinteressante, através de dados enviados via e-mail e coleta on-line. Além de entrevista via telefone com a redação da revista. Os dados obtidos da revista, mostrado no gráfico abaixo indica alguns pontos importantes a serem analisados. Gráfico 1.0 Dados de leitores da Superinteressante em 2010. Cadernos do CNLF, Vol. XV, Nº 5, t. 2. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 1510

O gráfico 1.0 mostra a distribuição do público leitor da revista. As porcentagens relacionadas a cada sexo o que levanta algumas questões que requerem a nossa atenção, no sentido de avaliar qual é abrangência do sexo masculino predominar no público leitor da revista. A tabela 1.0 Número de leitores no mês de maio/2010 da revista Superinteressante. Total de Leitores 2.299.000 Fonte: Projeção Brasil Leitores 2010 A partir desse panorama procuraremos responder as seguintes indagações: 2.1. Quais as expectativas do leitor sobre a divulgação científica? Tal questão torna se importante para a compreensão da intervenção e no feedback dado pelo leitor de divulgação científica. E no caso da nossa fonte de investigação, a maneira no qual atua no espaço formado por jovens. A pesquisa concentrará esforços em torno de obter amostras do público da revista a fim de analisar em uma visão geral, e daí partimos em busca de resultados aprofundados a respeito. 2.2. Quais as expectativas que levam cientistas a se tornarem autores de divulgação científica? Procuraremos a partir de um levantamento em média escala analisar de forma mais abrangente possível às motivações que levam os cientistas a se tornarem divulgadores científicos, tais informações ajudarão a construir uma análise mais aprofundada do perfil do gênero divulgação científica, bem como, nortear os rumos da divulgação no cenário nacional. 2.3. Quais as expectativas editoriais sobre o texto de divulgação científica? Ao mesmo tempo em que desejamos fazer uma análise do público leitor, procuraremos nortear as expectativas por parte do veículo respon- p. 1511 Cadernos do CNLF, Vol. XV, Nº 5, t. 2. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011

sável pela divulgação, assim queremos encontrar o centro da motivação, motivação esta que vai além do fator econômico, buscando as motivações sociais e culturais por trás da proposta da revista Superinteressante. 3. Análise A pesquisa em torno da revista desenvolve-se no sentido de ampliar a discussão e o campo de visão sobre o assunto abordado com ênfase na revista Superinteressante. Em virtude disso obtivermos uma entrevista com redator da revista, Sérgio Gwercman 1, que nos forneceu algumas informações importantes da visão diretiva da revista, e sobre seu papel na divulgação científica brasileira. Ao perguntamos para ele sobre quais as expectativas editorias sobre as matérias científicas divulgadas na revista, o redator foi enfático em dizer que: A revista busca a expansão do conhecimento científico a um público cada vez maior, além de enfatizar que a revista não busca em primeiro lugar altos índices de vendas. Indagamos sobre o principal alvo na atualidade a ser alcançado pela revista no geral. Para o Sérgio, que: A revista visa cada vez mais à satisfação dos seus leitores, sendo que esse é o seu único objetivo, uma vez que agradar seus leitores e sua busca constante. Em relação ao feedback percebido pela redação o redator citou Através da reação das matérias divulgadas na revista, provocação de um ótimo debate e aumento da circulação das novidades ali apresentadas. A Editora Abril realiza pesquisas de desempenho e opinião com seus leitores a fim de acompanhar a repercussão das matérias apresentadas, e poder acompanhar as tendências do público leitor. Uma vez que a editora considera este público sempre ávidos por novidades. Também é imprevisível denotar um assunto de maior interesse. Um importante fator que foi possível perceber é que a revista Superinteressante circula em grande massa entre o público jovem, ao perguntamos sobre essa relação, o redator coloca que: 1 Diretor da redação da revista Superinteressante Ótimo. Frutos dos objetivos da revista, na qual foca os seus esforços em circular no espaço jovem. Cadernos do CNLF, Vol. XV, Nº 5, t. 2. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 1512

Para o redator, esses elementos só provam que os esforços da revista estão sendo correspondidos, uma vez que, o público alvo da revista são os jovens. Ao analisamos os conteúdos publicados na revista, é visível o uso de recursos amplamente atrativos para este público, como gráficos, uso de uma linguagem simplificada, e até alguns casos, usos de gírias, como analisaremos mais a frente em nosso estudo. Outro importante aspecto a ser analisado é de como a revista vê o seu papel no campo da divulgação científica brasileira. Conforme a resposta do redator: A Revista se propõe a divulgar cada vez mais conhecimento afim do seu leitor ser capaz de separar as informações certas das erradas, ela não se propõem a ser uma revista de cunho acadêmico, não se assemelha perto da revista FAPESP, o grande foco, é agradar os leitores da revista, sempre levando em consideração o aspecto da novidade, em produzir um conhecimento prático, em desmitificar os mitos e conclusões errôneas. Apesar de a revista não está preocupada com a opinião dos acadêmicos sobre a sua maneira de divulgar, a Superinteressante para mim, desempenhar papel importante no cenário da divulgação científica brasileira, e que de certa forma contribuir para o crescimento e divulgação dos campos da ciência no Brasil. Como podemos ver segundo redator, independente da opinião dos acadêmicos, ele considera ser de grande importância o seu papel na atual conjuntura da divulgação científica brasileira. 4. A divulgação científica na Superinteressante Um dos nossos objetivos neste estudo é fazer uma análise da divulgação científica na revista Superinteressante, uma vez que, a revista se colocar como um importante veículo nacional de divulgação, e partir deste ponto de vista notar as principais ferramentas linguísticas ora usadas para atingir o seus leitores. E a questão da linguagem usada, denotase de suma importância para uma caracterização do gênero. Divulgar ciência na atualidade é de tal importância para o mundo científico, mas ao mesmo tempo uma grande barreira a ser superada, para que a ciência não se feche em si mesma. Em recente matéria publicada na edição agosto de 2011, encontramos a seguinte matéria: Por que não resistimos á uma fofoca? O título chama a nossa atenção e nos indaga, para completar o apelo visual, uma foto composta por uma cena, em que, com várias senhoras idosas sorrin- p. 1513 Cadernos do CNLF, Vol. XV, Nº 5, t. 2. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011

do e cochichando no ouvido, remetendo a nós a impressão de fofocas. Ao iniciarmos a leitura somos abordados com a seguinte introdução: Desnecessário dizer que fofoca pega mal e que as regras sociais a condenam fortemente ser chamado de fofoqueiro é uma grande ofensa para qualquer um. Mas vamos ser sinceros: é MUITO difícil não prestar atenção quando uma dessas informações, digamos, clandestinas chega até nós, não? Antes de se sentir culpado, porém, saiba que há uma explicação científica para nossa obsessão pela vida alheia. Percebe que no trecho acima, a edição preocupa-se em remeter o leitor primeiramente a situações cotidianas e a nossa própria noção de moral, e depois traz um pouco de humor se dirigindo ao leitor, citando que há um desejo natural nosso para a vida alheia, e nesse momento é colocado o conteúdo de cunho mais científico. Agora vejamos o segundo parágrafo da reportagem: Um estudo recente da Universidade de Northeastern, em Boston, descobriu não só que o nosso subconsciente valoriza a fofoca, como nossa mente e nossos olhos prestam atenção particular quando estão em jogo informações negativas. Olha que danadinhos. Agora a reportagem cita a fonte do estudo, no caso a Universidade de Northeastern, em Boston, perceba que a citação da fonte da pesquisa é breve, e a reportagem já traz a explicação do estudo, como forma de facilitar a compreensão do leitor, e mais, talvez com objetivo de prender a atenção do leitor, ela se atribui da seguinte expressão ao final do parágrafo, Olha que danadinhos, referindo se aos nossos olhos e subconsciente citado no estudo. No restante da matéria podemos ver uma descrição do estudo realizado pelos cientistas, de forma que a linguagem usada é simples, e sempre se remetendo ao leitor com exemplos e situações práticas, como forma de atrair e aumentar a compreensão do leitor. O experimento funcionou assim: primeiro, os voluntários viram fotos de algumas pessoas, e receberam uma informação sobre elas. Essa informação podia ser positiva, negativa ou neutra, e o assunto podia ser social ou não. Por exemplo, ele jogou uma cadeira em seu colega de classe seria uma declaração social negativa, enquanto que ela desenhou as cortinas da sala seria uma informação neutra e não social (não trata de algo que ela tenha feito com outra pessoa). (...) Vê se claramente que a edição da revista evita o uso de termos científicos, e que na maioria da reportagem preocupa-se em explicar o estudo e procedimentos realizados pelos pesquisadores. Cadernos do CNLF, Vol. XV, Nº 5, t. 2. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011 p. 1514

5. Conclusão A divulgação científica de caráter bombástico e como fator gerador de uma sociedade voltada para a ciência e a tecnologia. O fato de a- dentramos na ciência e na sua divulgação e nas suas diversas facetas, que criam a relação entre divulgador, cientista e público, uma relação um tanto conflituosa, mas de certa forma enriquecedora no sentido de ao longo do tempo aparar as diferenças e criar uma sociedade capaz de refletir sobre os seus desafios. Ao encaramos um mecanismo de divulgação como a revista Superinteressante, conseguimos ver claramente a evolução da divulgação científica brasileira, a conquista do seu espaço e a interação cada vez maior com um público formador de opinião, e sua constante influência na formação do senso comum. Os resultados do estudo ainda são dados prévios, muito embora já obtivermos um panorama bem promissor, visto que pretendemos levar a pesquisa a um tempo bem maior, objetivamos delinear a importância do gênero para a comunidade acadêmica e sua influência sobre a sociedade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS SUPERINTERESSANTE. Agosto de 2011, ed. 294. São Paulo: Abril. LEPENIES, Wolf. As três culturas. Tradução de Maria Clara Cescato. São Paulo: Edusp, 1996. HERNANDO, Manuel Calvo. Teoria e técnica do jornalismo científico, p. 18. HERNANDO, Manuel Calvo. La divulgación científica y los desafios del nuevo siglo. In: Primeiro Congresso Internacional de Divulgação Científica, 2002. p. 1515 Cadernos do CNLF, Vol. XV, Nº 5, t. 2. Rio de Janeiro: CiFEFiL, 2011