UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO MÉDIO COM INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS

Documentos relacionados
INTERPRETANDO A GEOMETRIA DE RODAS DE UM CARRO: UMA EXPERIÊNCIA COM MODELAGEM MATEMÁTICA

Realizado de 25 a 31 de julho de Porto Alegre - RS, ISBN

Investigando números consecutivos no 3º ano do Ensino Fundamental

Exercícios Teóricos Resolvidos

ESTATÍSTICA BÁSICA NO CURSO DE TÉCNICO INTEGRADO DE SEGURANÇA DO TRABALHO

JOGOS ELETRÔNICOS CONTRIBUINDO NO ENSINO APRENDIZAGEM DE CONCEITOS MATEMÁTICOS NAS SÉRIES INICIAIS

AS CONTRIBUIÇÕES DAS VÍDEO AULAS NA FORMAÇÃO DO EDUCANDO.

PIBID: DESCOBRINDO METODOLOGIAS DE ENSINO E RECURSOS DIDÁTICOS QUE PODEM FACILITAR O ENSINO DA MATEMÁTICA

A HISTÓRIA DA MATEMÁTICA As Fronteiras do Espaço

O uso de jogos no ensino da Matemática

O JOGO CONTRIBUINDO DE FORMA LÚDICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA FINANCEIRA

MÍDIAS NA EDUCAÇÃO Introdução Mídias na educação

MODELAGEM MATEMÁTICA: PRINCIPAIS DIFICULDADES DOS PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO 1

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

A ÁLGEBRA NO ENSINO FUNDAMENTAL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA DE INTERVENÇÃO

ATIVIDADES INVESTIGATIVAS NO ENSINO DE MATEMÁTICA: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA

UTILIZAÇÃO DA PLATAFORMA MOODLE PARA O ENSINO DE MATRIZES E DETERMINANTES

OS SABERES PROFISSIONAIS PARA O USO DE RECURSOS TECNOLÓGICOS NA ESCOLA

LUTAS E BRIGAS: QUESTIONAMENTOS COM ALUNOS DA 6ª ANO DE UMA ESCOLA PELO PROJETO PIBID/UNIFEB DE EDUCAÇÃO FÍSICA 1

OLIMPIADAS DE MATEMÁTICA E O DESPERTAR PELO PRAZER DE ESTUDAR MATEMÁTICA

ENSINO E APRENDIZAGEM DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS, COM A UTILIZAÇÃO DE JOGOS DIDÁTICOS: RELATO DE EXPERIÊNCIA.

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA À DISTÂNCIA SILVA, Diva Souza UNIVALE GT-19: Educação Matemática

X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

Energia Eólica. Atividade de Aprendizagem 3. Eixo(s) temático(s) Ciência e tecnologia / vida e ambiente

UMA PROPOSTA DE ATIVIDADE DE MODELAGEM MATEMÁTICA PARA O DESENVOLVIMENTO DE CONTEÚDOS MATEMÁTICOS NO ENSINO FUNDAMENTAL I

A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO ENSINO DAS PROPRIEDADES DE POTÊNCIAS

PUBLICO ESCOLAR QUE VISITA OS ESPAÇOS NÃO FORMAIS DE MANAUS DURANTE A SEMANA DO MEIO AMBIENTE

CONSTRUÇÃO DE QUADRINHOS ATRELADOS A EPISÓDIOS HISTÓRICOS PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA RESUMO

CÓDIGO CRÉDITOS PERÍODO PRÉ-REQUISITO TURMA ANO INTRODUÇÃO

PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO: ELABORAÇÃO E UTILIZAÇÃO DE PROJETOS PEDAGÓGICOS NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

A utilização de jogos no ensino da Matemática no Ensino Médio

A IMPORTANCIA DOS RECURSOS DIDÁTICOS NA AULA DE GEOGRAFIA

DESCOBRINDO ALTURAS POR MEIO DO TEOREMA DE TALES. GT 01 Educação Matemática no Ensino Fundamental: Anos Iniciais e Anos Finais

VII E P A E M Encontro Paraense de Educação Matemática Cultura e Educação Matemática na Amazônia

A MODELAGEM MATEMÁTICA NA MELHORIA DO ENSINO

O USO DE PROGRAMAS COMPUTACIONAIS COMO RECURSO AUXILIAR PARA O ENSINO DE GEOMETRIA ESPACIAL

RECURSOS DIDÁTICOS E SUA UTILIZAÇÃO NO ENSINO DE MATEMÁTICA

Pedagogia Estácio FAMAP

GEOMETRIA: RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS COM A UTILIZAÇÃO DE SOFTWARES MATEMÁTICOS

DOENÇAS VIRAIS: UM DIÁLOGO SOBRE A AIDS NO PROEJA

Tutorial 7 Fóruns no Moodle

UMA PROPOSTA DE ENSINO DA PROBABILIDADE A PARTIR DO MÉTODO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E DA LUDICIDADE EM SALA DE AULA

Projeto Pedagógico do Curso de Licenciatura em Matemática versus Estágio Supervisionado

A UTILIZAÇÃO DE RESOLUÇÃO DE PROBLEMA COMO ESTRATÉGIA DE ENSINO E APRENDIZAGEM NA MATEMÁTICA.

TECNOLOGIA E FORMAÇÃO DE PROFESSORES

O AMBIENTE MOTIVADOR E A UTILIZAÇÃO DE JOGOS COMO RECURSO PEDAGÓGICO PARA O ENSINO DE MATEMÁTICA

REFLEXÕES SOBRE A PRODUÇÃO DE SIGNIFICADO NA MATEMÁTICA ESCOLAR

Brasil avança em duas áreas da Matemática

Métodos de ensino-aprendizagem aplicados às aulas de ciências: Um olhar sobre a didática.

PRODUTO FINAL ASSOCIADA A DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Palavras-chave: Ambiente de aprendizagem. Sala de aula. Percepção dos acadêmicos.

O USO DO TANGRAM EM SALA DE AULA: DA EDUCAÇÃO INFANTIL AO ENSINO MÉDIO

A aula de leitura através do olhar do futuro professor de língua portuguesa

PEDAGOGIA EM AÇÃO: O USO DE PRÁTICAS PEDAGÓGICAS COMO ELEMENTO INDISPENSÁVEL PARA A TRANSFORMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA AMBIENTAL

Cotagem de dimensões básicas

TRABALHANDO GEOMETRIA COM PAVIMENTAÇÃO NO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

A IMPORTÂNCIA DO USO DO LABORATÓRIO DE GEOMETRIA NA FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES

Aula 1: Demonstrações e atividades experimentais tradicionais e inovadoras

Copos e trava-línguas: materiais sonoros para a composição na aula de música

UTILIZANDO O BARCO POP POP COMO UM EXPERIMENTO PROBLEMATIZADOR PARA O ENSINO DE FÍSICA

A PRÁTICA DA CRIAÇÃO E A APRECIAÇÃO MUSICAL COM ADULTOS: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA. Bernadete Zagonel

DESENVOLVENDO COMPETÊNCIAS MATEMÁTICAS Marineusa Gazzetta *

ANÁLISE DOS PROFESSORES DE MATEMÁTICA DE XINGUARA, PARÁ SOBRE O ENSINO DE FRAÇÕES

UTILIZANDO BLOG PARA DIVULGAÇÃO DO PROJETO MAPEAMENTO DE PLANTAS MEDICINAIS RESUMO

INVENÇÃO EM UMA EXPERIMENTOTECA DE MATEMÁTICA: PROBLEMATIZAÇÕES E PRODUÇÃO MATEMÁTICA

O USO DE JOGOS DE CARTAS COMO ESTRATÉGIA PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA

PROBLEMATIZANDO ATIVIDADES EXPERIMENTAIS NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES/AS

ÁGORA, Porto Alegre, Ano 4, Dez ISSN EDUCAR-SE PARA O TRÂNSITO: UMA QUESTÃO DE RESPEITO À VIDA

O ESTUDO DA CONSTRUÇÃO DE CASAS POPULARES E A RELAÇÃO COM CONTEÚDOS MATEMÁTICOS

A MATEMÁTICA ATRÁVES DE JOGOS E BRINCADEIRAS: UMA PROPOSTA PARA ALUNOS DE 5º SÉRIES

Base Nacional Comum Curricular Lemann Center at Stanford University

O LÚDICO COMO INSTRUMENTO TRANSFORMADOR NO ENSINO DE CIÊNCIAS PARA OS ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL COMEÇA NA ESCOLA: COMO O LIXO VIRA BRINQUEDO NA REDE PÚBLICA EM JUAZEIRO DO NORTE, NO SEMIÁRIDO CEARENSE

O ORIGAMI: MUITO MAIS QUE SIMPLES DOBRADURAS

5 Considerações finais

QUANTO VALE O MEU DINHEIRO? EDUCAÇÃO MATEMÁTICA PARA O CONSUMO.

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa

UMA INVESTIGAÇÃO SOBRE AS DIFICULDADES DOS ALUNOS DAS SÉRIES INICIAIS DO ENSINO MÉDIO ENVOLVENDO FRAÇÕES

INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE CAMPUS CAICÓ

EDUCAÇÃO ALGÉBRICA, DIÁLOGOS E APRENDIZAGEM: UM RELATO DO TRABALHO COM UMA PROPOSTA DIDÁTICA 1

MODELANDO O TAMANHO DO LIXO

II MOSTRA CULTURAL E CIENTÍFICA LÉO KOHLER 50 ANOS CONSTRUINDO HISTÓRIA

A INCLUSÃO DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS EDUCATIVAS NAS SÉRIES INICIAIS SOB A VISÃO DO PROFESSOR.

Aula RELAÇÕES DE DISCIPLINARIDADE. TEMAS TRANSVERSAIS. CONTEXTUALIZAÇÃO NO ENSINO DE MATEMÁTICA

Passo a Passo Mais Educação

Palavras-chave: Educação Matemática; Avaliação; Formação de professores; Pró- Matemática.

PROFISSÃO PROFESSOR DE MATEMÁTICA: UM ESTUDO SOBRE O PERFIL DOS ALUNOS DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA UEPB MONTEIRO PB.

PROVA BRASIL E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS

PROGRAMA DE METODOLOGIA DO ENSINO DE EDUCAÇÃO MORAL E CÍVICA

ALGORITMOS DE CÁLCULO COM AS QUATRO OPERAÇÕES E SEUS SIGNIFICADOS PARA OS LICENCIANDOS EM MATEMÁTICA

SOBRE DEFICIÊNCIA NO OPERAR AS QUATRO OPERAÇÕES MATEMÁTICAS BÁSICAS E PONTENCIAÇÃO POR VESTIBULANDOS

A INFORMÁTICA E O ENSINO DA MATEMÁTICA

Colégio João Paulo I Unidade Norte e Higienópolis. Projeto Mostra Científica 2014 Vida eficiente: a ciência e a tecnologia a serviço do planeta

O COORDENADOR PEDAGÓGICO COMO MEDIADOR DE NOVOS CONHECIMENTOS 1

Profa. Ma. Adriana Rosa

Aula 1: Conhecendo a Calculadora

PERFIL MATEMÁTICO RELATO DE EXPERIÊNCIA. Resumo:

EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA E AS NOVAS ORIENTAÇÕES PARA O ENSINO MÉDIO

O USO DE JOGOS DE CARTAS COMO ESTRATÉGIA PARA O ENSINO DA MATEMÁTICA

ÁLBUM DE FOTOGRAFIA: A PRÁTICA DO LETRAMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL 59. Elaine Leal Fernandes elfleal@ig.com.br. Apresentação

Transcrição:

UMA EXPERIÊNCIA NO ENSINO MÉDIO COM INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS Elizane Mainardes Appel 1 emappel@yahoo.com.br Elisete Adriana José Luiz 2 eliseteadriana@yahoo.com.br RESUMO Este artigo visa relatar uma experiência durante o estágio supervisionado, aplicando duas tendências da Educação Matemática, a Investigação Matemática e a Resolução de Problemas, como metodologias de ensino em sala de aula. O estágio foi aplicado em uma escola da rede estadual, de Ensino Médio Técnico, no município de Canoinhas, SC, e o público alvo eram alunos do 2 ano do Curso Técnico em Agropecuária, a maioria deles provenientes do interior da própria cidade, bem como de cidades vizinhas. O tema escolhido para trabalhar foi o conteúdo de matrizes, desde suas primeiras definições até suas operações. Com esta experiência pode-se comprovar a eficácia do uso de novas metodologias de ensino em sala de aula. Palavras-Chave: Experiência; Educação Matemática; Tendências de Ensino. 1. INTRODUÇÃO Dentre as tendências da Educação Matemática, a Investigação Matemática e a Resolução de Problemas foram aplicadas no estágio supervisionado, visto que elas promovem uma maior motivação aos alunos em estudar matemática. Ao utilizarmos Investigação Matemática e Resolução de Problemas juntas como alternativa de ensino em sala de aula, elas proporcionam aulas mais produtivas, visando melhorar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos. Será relatada, neste trabalho, uma atividade desenvolvida durante o estágio, que trata-se de iniciar o conteúdo das operações com matrizes (adição, subtração, multiplicação de um número real por uma matriz e multiplicação de matrizes). 1 Acadêmica do 4 ano de Licenciatura Plena em Matemática FAFIUV (Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória - PR). 2 Professora orientadora FAFIUV (Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória - PR), graduada em Matemática Licenciatura Plena - UNOCHAPECÓ (Universidade Comunitária Regional de Chapecó), Especialização em Metodologia do Ensino e da Pesquisa em Interdisciplinaridade AMPARO (Faculdades Integrada de Amparo), mestrado em Ensino de Ciências e Matemática ULBRA (Universidade Luterana do Brasil). 787

2. INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA O uso da Investigação Matemática em sala de aula favorece o desenvolvimento de aptidões cognitivas no aluno, afinal, ele precisa fazer conjecturas para conseguir chegar ao desfecho de uma determinada situação. Para usar a Investigação Matemática para a construção de um novo conhecimento, de um novo conceito matemático, pode-se partir da própria matemática. E, para se obter sucesso na tarefa de investigação, deve-se investigar todos os caminhos que surgem de uma situação dada. Vemos então que: [...] uma investigação é uma viagem até o desconhecido [...], o objectivo é explorar todos os caminhos que surgem como interessantes a partir de uma dada situação. É um processo divergente. [...] sabe-se qual é o ponto de partida mas não se sabe qual será ponto de chegada (FONSECA, BRUNHEIRA e PONTE, 2008, p.4). Esse tipo de atividade proporciona ao aluno criar certa independência em relação ao professor. Fonseca, Brunheira e Ponte (2008) estruturam uma aula de Investigação Matemática segundo as seguintes fases: introdução da tarefa, desenvolvimento do trabalho e reflexão/discussão final. A fase de introdução da tarefa é bastante importante pois tem uma dinâmica própria que poderá influenciar decisivamente o sucesso do trabalho, principalmente se os alunos não estiverem familiarizados com esse tipo de actividade [...]. Na fase de desenvolvimento do trabalho pretende-se que os alunos adquiram uma atitude investigativa, devendo por isso haver a preocupação em centrar a aula na actividade dos alunos, nas suas idéias e na sua pesquisa [...]. A discussão final sobre a actividade dos alunos é também uma boa ocasião para promover a reflexão sobre o trabalho, sabendo que esta é um elemento indispensável numa aula de investigação. [...] Por um lado esta reflexão permite, por exemplo, valorizar os processos de resolução em relação aos produtos [...] por outro, permite estabelecer conexões com outras ideias matemáticas, [...] e pode construir um ponto de partida para outras investigações (FONSECA, BRUNHEIRA e PONTE, 2008, pp. 6 9). Essas fases podem ser concretizadas de várias maneiras, mas a mais usual é iniciar com uma pequena introdução, seguida da realização da investigação, normalmente em pequenos grupos, e, por último, a discussão dos resultados encontrados com toda a turma. Encontramos, relatado em Ponte, Brocardo e Oliveira (2006), que a realização de atividades de investigação proporciona o estabelecimento de conexões com outros conceitos matemáticos e até mesmo com conceitos extramatemáticos. Segundo eles, para que se obtenha sucesso nessas ocasiões [...] o professor precisa estar atento a tais oportunidades e, mesmo que não seja possível explorar cabalmente essas conexões, deve estimular os alunos a refletir sobre elas [...] (PONTE, BROCARDO e OLIVEIRA, 2006, 788

p.51). Durante uma atividade de investigação, o papel do professor é incentivar os alunos a fazer conjecturas, devendo também apoiar os alunos, promovendo sua reflexão sobre o trabalho que realizaram. Para obter sucesso no trabalho de investigação [...] o professor deve, sem dúvida, privilegiar uma postura interrogativa [...] (PONTE, BROCARDO e OLIVEIRA, 2006, p.52). Essas questões têm como objetivo, muitas vezes, apenas clarificar as ideias. Investigação Matemática é descobrir relações existentes entre conteúdos matemáticos e também descobrir suas propriedades. Para que isso aconteça é necessário que o aluno esteja envolvido na construção de seu conhecimento, o que torna a Investigação Matemática uma alternativa que busca incentivar o aluno a essa busca pelo conhecimento. 3. RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS A Resolução de Problemas, como alternativa de ensino em sala de aula, proporciona aos alunos aplicarem os conhecimentos que eles já possuem a situações novas, com o objetivo de que aprendam esse novo conteúdo. [...] para aprender um conteúdo qualquer, os estudantes devem envolver-se na exploração, conjecturação e no processo de simplificação mais do que na aprendizagem memorística de dados, regras, procedimentos [...] 3 (VILLELLA, 2006, p.11). A Resolução de Problemas proporciona aos alunos explorarem caminhos diferentes para a resolução de um mesmo problema, permitindo a possibilidade de criar estruturas de pensamento, de modo que estas possam ser aplicadas a uma grande quantidade de situações, parecidas e até mesmo diferentes daquelas que ele resolveu em sala de aula. Os PCNs ressaltam a importância do uso da Resolução de Problemas, enfatizando que a resolução de problemas é peça central para o ensino de Matemática, pois o pensar e o fazer se mobilizam e se desenvolvem quando o indivíduo está engajado ativamente no enfrentamento de desafios [...] (BRASIL, 2002, p.112). Segundo Polya (1997, pp. 1-2): resolver um problema é encontrar os meios desconhecidos para um fim nitidamente imaginado [...] é encontrar um caminho onde nenhum outro é conhecido de antemão, encontrar um caminho a partir de uma dificuldade, encontrar um caminho que contorne um obstáculo, para alcançar um fim desejado [...]. 3 [...] para aprender un contenido cualquiera, los estudiantes deben involucrarse en la exploración, conjeturación y en el processo de razonamiento más que en el aprendizage memorístico de datos, reglas, procedimientos [...] 789

Mas afinal, o que é um problema? Um problema pode ser entendido como uma situação que tenha um objetivo a atingir, que requeira do aluno uma série de ações ou operações para chegar a sua solução. E, conforme encontramos no dicionário Michaelis, um problema é: [...] toda questão em que se procura calcular uma ou várias quantidades desconhecidas, denominadas incógnitas, ligadas mediante relações a outras conhecidas e chamadas dados [...] tema cuja solução ou decisão requer considerável meditação ou habilidade [...] (WEISZFLOG, 1998, p. 1699). Um problema é algo que requer concentração, meditação e/ou habilidade para resolver. E muitos alunos só se sentem motivados a resolver alguma tarefa ou a aprender algum conteúdo quando este chama a sua atenção, quando ele se sente desafiado a encontrar a solução. É isso que muitos problemas proporcionam: eles desafiam o aluno a querer chegar a sua solução. Dentro da matemática existem muitos tipos de problemas. Butts (1997) os classificou da seguinte maneira: - Exercícios de reconhecimento: são aqueles que exigem apenas que o aluno reconheça uma definição, um enunciado de um teorema. - Exercícios algorítmicos: podem ser resolvidos com a aplicação de um algoritmo passo-a-passo. - Problemas de aplicação: nesse tipo de problema, deve-se aplicar um algoritmo para sua resolução e, normalmente, seu enunciado já contém a (ou uma) estratégia para resolvê-los. Conforme Butts (1997), o único obstáculo que o aluno deve vencer é traduzir a palavra escrita para uma forma matemática apropriada, para que os algoritmos adequados possam ser aplicados. - Problemas de pesquisa aberta: seu enunciado não contém uma estratégia de resolução, deve-se, portanto, analisá-lo e encontrar um meio de resolvê-lo. - Situações problema: como nos afirma Butts (1997), o grande desafio das situações-problema é identificar o(s) problema(s) inerente(s) à situação, cuja solução irá melhorá-la. E são os problemas dos dois últimos tipos que mais chamam a atenção dos alunos, são eles que mais cativam o interesse dos alunos em resolvê-los, afinal, são os mais desafiantes. E os alunos, normalmente, atacarão com mais entusiasmo os problemas que acham interessantes e atrativos [...] (BARNETT, SOWDER e VOS, 1997, p.132), e é nestes que eles obtêm mais sucesso. 790

Quando os alunos se deparam com um problema, eles devem criar estratégias para resolvê-lo. E, para isso, Polya (1995, pp. 3-4) sugeriu quatro etapas para a resolução de um problema: [...] Primeiro, temos de compreender o problema, temos de perceber claramente o que é necessário. Segundo, temos de ver como os diversos itens estão interrelacionados, como a incógnita está ligada aos dados, para termos a idéia da resolução, para estabelecermos um plano. Terceiro, executamos o nosso plano. Quarto, fazemos um retrospecto da resolução completa, revendo-a e discutindoa. Cada uma dessas etapas tem sua importância específica no processo da resolução do problema, não se pode dizer qual delas é a mais importante. Afinal, não se pode resolver um problema se ele não for compreendido, também não é possível resolvê-lo se não possuir um plano de ação. E, após chegar a um resultado, de nada adiantará se não entender o que fez durante o processo, afinal, a fase do retrospecto [...] supõe a reflexão sobre o processo seguido e sua possível generalização a outras situações 4 (VILLELLA, 2006, p.41). O objetivo da Resolução de Problemas é desafiar o aluno a resolver um problema e, através do processo de sua resolução, generalizá-lo a outras situações é esta habilidade que se busca obter dos alunos. Fazê-los capazes de compreender uma situação e poder usar esse conhecimento em outras ocasiões. 4. UNINDO INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA E RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS NO CONTEXTO ESCOLAR Quando usamos Investigação Matemática e Resolução de Problemas juntas como metodologia de ensino em sala de aula, as aulas tornam-se mais produtivas, visto que os alunos se sentem motivados a aprender o que está sendo estudado. A aula torna-se bem mais dinâmica. Apesar de serem tendências distintas, existem muitas relações entre Investigação Matemática e Resolução de Problemas. Ponte, Brocardo e Oliveira (2006, p.16) afirmam que: uma investigação matemática desenvolve-se usualmente em torno de um ou mais problemas. Pode mesmo dizer-se que o primeiro grande passo de qualquer investigação é identificar claramente o problema a resolver. Por isso, não é de admirar que, em Matemática, exista uma relação estreita entre problemas e investigações [...]. 4 [...] supone la reflexión sobre el processo seguido y su possible generalización a otras situaciones 791

O grande desafio da educação é, portanto, articular esses diferentes tipos de tarefas, de modo que se torne possível promover o desenvolvimento matemático em alunos de todos os graus de escolaridade e em diferentes níveis de desempenho. 5. RELATO DA EXPERIÊNCIA A atividade desenvolvida no estágio supervisionado, utilizando Investigação Matemática e Resolução de Problemas foi para iniciar o conteúdo das operações com matrizes, com o objetivo que os alunos, antes de conhecerem a teoria sobre as operações com matrizes, pudessem investigar a maneira como elas são realizadas. A atividade constava de um problema que visava trabalhar com o estoque de uma livraria. Nela, os alunos encontravam questionamentos que não informavam o tipo de operação que deveria ser usado para resolvê-los. Portanto, durante o encaminhamento da atividade, os alunos puderam discutir a melhor maneira para solucioná-la e chegar, portanto, às suas próprias conclusões. Para a realização da atividade, solicitou-se que os alunos formassem duplas. ATIVIDADE DE INVESTIGAÇÃO CALCULANDO O ESTOQUE DE UMA REDE DE LIVRARIAS: Nas lojas A, B, C e D de uma rede de livrarias o estoque de seus livros didáticos de Matemática M 1, M 2 e M 3 é o seguinte: M 1 M 2 M 3 A 10 120 80 B 20 15 48 C 5 40 30 D 15 10 54 a) Escreva a matriz E que representa o estoque dessa rede de livrarias. Esse item foi de fácil resolução, visto que eles já haviam trabalhado com as definições de matrizes e sabiam como passar de tabela para matriz. b) O que cada linha da matriz representa? E as colunas? Neste item obtive respostas como: linha loja, coluna produto ; linha representa cada livraria (A, B, C, D), coluna representa cada livro (M 1, M 2, M 3 ), cada linha representa uma loja e seu estoque e cada coluna representa um tipo de livro didático de matemática, dentre outras. 792

c) Qual é o elemento que representa o número de exemplares que a livraria A possui do livro de Matemática M 2? Muitos alunos responderam apenas 120 exemplares (que é o número de exemplares que pode ser encontrado na tabela) e não o elemento, que era o que o enunciado estava solicitando. Mas alguns responderam como o aluno 1, conforme verificamos na figura 01. Figura 01: Resolução do item c) realizada pelo aluno 1. Suponha agora que foi feita uma entrega a essas livrarias com as seguintes quantidades de cada um dos livros de Matemática: M 1 M 2 M 3 A 30 0 10 B 10 35 12 C 15 40 20 D 20 70 16 d) Como essa entrega poderia ser representada na forma matricial? Chame de F essa matriz. Da mesma maneira que o item a), este também foi de fácil resolução. e) Após essa entrega, como ficou o estoque dessa rede de livrarias? Represente o estoque atualizado pela matriz A. Este foi o primeiro item que requereu dos alunos a aplicação de uma operação (estratégia) para encontrar a resposta. Todos desenvolveram o cálculo apropriado, mas apenas alguns o anotaram. A maioria preferiu fazer diretamente, sem mostrar o passo-apasso da realização. Podemos perceber, no detalhe em destaque da figura abaixo, que o aluno 1 anotou a operação utilizada, o que mostra que ele entendeu o que estava sendo solicitado, mesmo que tenha esquecido que a referida operação foi realizada com as matrizes dos itens a) e d), e não com as matrizes dos itens a) e e). 793

Figura 02: Resolução do item e) realizada pelo aluno 1. Se a tabela de preços desses livros informar que M 1 custa R$40,00, M 2 custa R$50,00 e M 3 custa R$60,00, então esses preços também podem ser representados por uma 40 matriz, P: P = 50. 60 f) Qual é o valor total do estoque desses livros nas quatro lojas? Represente esse valor pela matriz V. Para resolver este item, era necessário que os alunos efetuassem a multiplicação da matriz obtida no item e) com a matriz dada P dos valores. A maioria dos alunos resolveu da mesma maneira que os alunos 1 e 2, conforme as figuras 03 e 04. Figura 03: Resolução do item f) realizada pelo aluno 1. 794

Figura 04: Resolução do item f) realizada pelo aluno 2. Como podemos perceber nas imagens acima, tanto o aluno 1 como o aluno 2 efetuaram primeiro as multiplicações separadamente (em cada loja, cada livro pelo seu respectivo valor), para só depois efetuar a soma dos resultados e encontrar o valor total do estoque, que era o que o enunciado pedia. Vamos supor, agora, que após dois meses o estoque dessas livrarias era representado 25 80 74 pela matriz D: 16 37 24 D = 13 54 23. 14 63 48 g) Qual foi o número de exemplares de cada livro que cada livraria vendeu? Represente o resultado pela matriz N. A partir desse item, alguns alunos já começaram a utilizar uma anotação referente à operação que estavam utilizando, como podemos perceber no detalhe em destaque na figura 05. Figura 05: Resolução do item g) realizada pelo aluno 1. h) Qual foi o valor arrecadado por cada livraria nessa venda? Represente o resultado pela matriz G. Nesse item, por ser semelhante ao item f), o aluno 1 já não fez as multiplicações separadamente para depois efetuar a soma, mas apresentou o resultado diretamente e, como podemos perceber no detalhe em destaque na figura 06, apresentou apenas uma anotação sobre qual operação ele usou para chegar a tal resultado. Figura 06: Resolução do item h) realizada pelo aluno 1. 795

Suponha agora que nos três meses seguintes a rede de livrarias conseguiu triplicar o número de vendas dos primeiros dois meses. i) Qual foi a quantidade de cada livro que cada livraria vendeu nesses três meses? Represente o resultado pela matriz T. Como podemos perceber no detalhe em destaque na figura 07, o aluno 2, bem como os demais alunos da classe, multiplicou, para resolver este item, a matriz N, obtida no item g), por 3, visto que o enunciado dizia que o número de vendas havia sido triplicado. Figura 07: Resolução do item i) realizada pelo aluno 2. j) Qual foi a quantidade de livros vendidos por essas livraria nos cinco meses? Represente o resultado pela matriz Q. No detalhe em destaque da figura 08, podemos perceber que o aluno 2, para calcular a quantidade total de livros vendidos nos cinco meses, somou a quantidade de livros vendida nos primeiros dois meses, representada pela matriz N, com a matriz T, que representa a venda nos três meses seguintes, obtendo, então, a matriz Q. Figura 08: Resolução do item j) realizada pelo aluno 2. k) Qual a quantidade mínima de cada livro que cada livraria deve ter encomendado para suprir o estoque e conseguir realizar essa quantidade de vendas? Teve alguma livraria que não precisou encomendar algum dos livros? Quais livrarias? E quais livros? Para este item, além de calcular a diferença entre as matrizes Q (que representa a quantidade de livros vendidos nos cinco meses) e A (que representa a quantidade de livros que as livrarias tinham em estoque), os alunos tinham que analisar o resultado obtido para ver se foi necessário a alguma das livrarias encomendar mais livros. 796

Na figura 09 verificamos, nos detalhes em destaque, o que o aluno 1 fez e a que conclusão ele chegou. Analisou o resultado corretamente, visto que se a diferença entre o total de exemplares vendidos e o número de exemplares disponíveis em estoque apresenta sinal negativo, é porque não foram vendidos todos os livros que a livraria possuía em estoque e, portanto, não precisou fazer encomenda desse livro. Figura 09: Resolução do item k) realizada pelo aluno 1. No momento da discussão da atividade, os alunos foram questionados a respeito de quais operações eles haviam utilizado para resolver os itens que compunham a atividade, visando que analisassem as operações que efetuaram entre as matrizes que compunham a atividade. Para a operação dos itens e) e j), os alunos responderam prontamente adição, para a operação dos itens g) e k), responderam menos, para a operação dos itens f) e h), responderam de vezes, e, quando questionados sobre a maneira como haviam chegado à resposta do item i), responderam multiplicando a matriz por 3 era pra triplicar né?. De forma geral, a atividade se desenvolveu da maneira como se esperava, pois os alunos conseguiram compreender mais facilmente as operações envolvendo matrizes a partir desse exercício. Pode-se então dizer que os objetivos para esta atividade foram alcançados. CONCLUSÃO Com a aplicação desta atividade, conseguimos acompanhar o desenvolvimento dos alunos, perceber o quanto eles estavam interessados ou não pela atividade, pelo conteúdo em questão. O resultado obtido com essa experiência foi o esperado, os alunos conseguiram, num momento posterior, entender mais facilmente a teoria envolvida nessas operações. O que nos impressionou, já de início, foi a rapidez com a qual eles entenderam o que estava sendo solicitado em cada item da atividade. Durante a execução do trabalho, foram ouvidas exclamações do tipo: nossa! É só isso, será que é assim mesmo, tá muito fácil, dentre outras. Como a atividade foi 797

realizada em duplas, percebeu-se que eles estavam realmente motivados a resolvê-la, pois a maioria estava discutindo-a. Durante a discussão, quase todos os alunos participaram. Após essa experiência, pode-se confirmar na prática que é altamente recomendável a utilização de novas alternativas de ensino em sala de aula, especialmente a Investigação Matemática e a Resolução de Problemas juntas, pois, desta maneira, estaremos instigando nossos alunos a pensar matematicamente. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN + Ensino Médio: Orientações educacionais complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais Ciências da natureza, matemática e suas tecnologias. Brasília: MEC; SEMTEC, 2002. 144p.. BARNETT, J. C.; SOWDER, L.; VOS, K. E.. Problemas de livros didáticos: complementando-os e entendendo-os. In: KRULIK, S.; REYS, R. E.. A resolução de problemas na matemática escolar. Tradução: Hygino H. Domingues, Olga Corbo. São Paulo: Atual, 1997. p. 131-147. BUTTS, T.. Formulando problemas adequadamente. In: KRULIK, S.; REYS, R. E.. A resolução de problemas na matemática escolar. Tradução: Hygino H. Domingues, Olga Corbo. São Paulo: Atual, 1997. p. 32-48. FONSECA, H.; BRUNHEIRA, L.; PONTE, J. P.. As actividades de investigação, o professor e a aula de matemática. Educação Matemática Um outro olhar sobre a tabuada. Disponível em: <http://educ.matematica.googlepages.com/ asactividadesdeinvestigao.pdf>. Acessado em: 29/set./2008. POLYA, G.. A arte de resolver problemas: um novo aspecto do método matemático. Tradução e adaptação: Heitor Lisboa de Araújo. 2. reimpr. Rio de Janeiro: Interciência, 1995.. Sobre a resolução de problemas de matemática na high school. In: KRULIK, S.; REYS, R. E.. A resolução de problemas na matemática escolar. Tradução: Hygino H. Domingues, Olga Corbo. São Paulo: Atual, 1997. p. 1-3. PONTE, J. P.; BROCARDO, J.; OLIVEIRA, H.. Investigações matemáticas na sala de aula. 1. ed., 2. reimpr. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. VILLELLA, J.. Ideas para enseñar... a través de problemas. Montevideo: Espartaco, 2006. WEISZFLOG, W. (editor). Michaelis: moderno dicionário da língua portuguesa. São Paulo: Companhia Melhoramentos, 1998. 798