UMA ABORDAGEM MACROECONÔMICA DO TURISMO NO ESPAÇO RURAL



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Transcrição:

UMA ABORDAGEM MACROECONÔMICA DO TURISMO NO ESPAÇO RURAL ADRIANO DE CARVALHO PARANAIBA Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Goiás. adriano.paranaiba@ifg.edu.br RESUMO: O objetivo deste artigo é versar sobre como o turismo, no espaço rural, surge como uma importante atividade econômica não agrícola capazes de conduzir o desenvolvimento às áreas rurais de municípios reprimidos economicamente. Para tanto, pretende-se apresentar as possibilidades socioeconômicas criadas pelos agregados macroeconômicos da atividade turística no espaço rural, e confrontá-las com as do modelo vigente do agronegócio. Observa-se que o turismo no espaço rural é capaz de ser um detonador de desenvolvimento local, podendo ainda criar um novo fluxo de investimentos no campo, garantindo mais emprego e renda às pessoas que são marginalizadas no modelo atual da modernização agrícola. Ademais, o turismo no espaço rural auxilia na absorção da mão de obra no campo, via pluriatividade, reduzindo os problemas socioeconômicos observados nos grandes centros causados pelo êxodo rural, bem como caracterizar-se por uma atividade econômica que concatena-se com a preservação do meio ambiente e com comprometimento na sustentabilidade do meio ambiente. Palavras Chaves: Turismo, Espaço Rural, Agregados Macroeconômicos, emprego, renda. INTRODUÇÃO Este artigo se propõe a apresentar o turismo rural como opção à ocupação das áreas rurais, em contraposição ao agronegócio. O Agronegócio se configura como resultado de um processo de agro industrialização, iniciado na década de 70, com a revolução verde, que ocupando o campo traz uma série de transtornos socioeconômicos. Nesta condição, este artigo se divide em duas partes, além desta introdução: uma primeira parte será analisada os resultados tecnológicos da ocupação agropecuária no campo, especificamente no estado de Goiás, e confrontados com os resultados sociais. A segunda parte irá apresentar como o turismo no espaço rural surge como uma opção

para auxiliar no desenvolvimento dos agregados macroeconômicos envolvidos nesta atividade turística, podendo apresentar melhores resultados que o anterior. ANÁLISE DE DADOS DO AGRONEGÓCIO Conforme Paranaiba & Seixas (2011), nos últimos dez anos, o processo de expansão da fronteira agrícola, induzida por uma mudança nos padrões tecnológicos de produção, se consolida em Goiás aumentando não só a área plantada e colhida, mas principalmente, o valor da produção, conforme Gráfico 1. Fonte: IBGE/Seplan-GO O que se percebe na agricultura, também é evidente na pecuária, sendo que esta, mesmo em taxas menores que as taxas nacionais acompanham o crescimento, de uma forma geral, como observado no Gráfico 2.

Fonte: IBGE/Seplan-GO Base 100 = 1975 Quando se observa a contribuição da agroindústria atraída pela grande vantagem no processamento e na produção de alimentos, aproveitando a produção de matérias primas (Lopes & Caixeta Filho, 1997, p.20), a partir de 2007, Goiás apresenta desempenho maior que os índices de produção industrial, conforme Gráfico 3. Fonte: IBGE/Seplan-GO Para completar a análise do processo de transformação do padrão produtivo, fazse a leitura dos índices de produtividade total dos fatores da agricultura, estimados por Guasques et al (2010) 1. 1 Os autores tomaram como referência os censos agropecuários de 1970 a 2006, para o Brasil e todas as Unidades Federativas, para o cálculo da Produtividade Total dos Fatores (PTF), que representa o

Fonte: Guasques et al (2010) Goiás, conforme Gráfico 4, apresentou um forte crescimento de PFT, sendo superior que o PFT Brasil, a partir de 1980. Quando se compara o PFT com os índices de produto e insumo de Goiás, percebe-se que até 1980 a produção agrícola foi impulsionada pelo uso de insumos, caracterizado pelo processo de ocupação tecnológica do Centro-Oeste, conforme Gráfico 5. A partir de então, o índice de Produto é que passa a determinar o desempenho positivo do Índice de Produtividade Total dos Fatores (PFT). aumento de quantidade de produto que não é explicado pelo aumento da quantidade de insumos, mas pelos ganhos de produtividade destas. É calculada pela utilização do índice de Tornqvist, ( ) ( )( ( )) ( ( ) ) ( )( ( )) ( ( ) ) ( )

Fonte: Guasques et al (2010) Contudo, quando observamos o comportamento da população rural, conforme Gráfico 6, há uma considerável redução da população rural, demonstrando que a modernização da agricultura não conseguiu absorver a população, sendo um fator de exclusão da população no campo. Fonte: IBGE/Seplan-GO Vários são os indicadores sociais que demonstram o incremento de desenvolvimento a uma região, em especial a um estado ou município. Conforme Barros et.al. (2002), a educação é um indicador diretamente relacionado, não só ao desenvolvimento socioeconômico, mas também com a sustentabilidade do processo de desenvolvimento.

a expansão educacional promove maior igualdade e mobilidade social, na medida em que a condição de ativo nãotransferível faz da educação um ativo de distribuição mais fácil do que a maioria dos ativos físicos. Além disso, devemos observar que a educação é um ativo que pode ser reproduzido e geralmente é ofertado à população pobre por intermédio da esfera pública. Essas duas vias de transmissão, portanto, tornam transparente que, do ponto de vista econômico, a expansão educacional é essencial para fomentar o crescimento econômico e reduzir a desigualdade e a pobreza. (BARROS et.al, 2002, p.1) No caso de Goiás, o distanciamento do avanço econômico, e do desenvolvimento social fica mais evidente ao observar o número de matrículas no estado de Goiás, que nos últimos oito anos, decresce de forma acentuada, conforme Gráfico 7 2. Fonte: IBGE/Seplan-GO Os dados sugerem que houve uma forte participação de políticas macroeconômicas nacionais para a implantação de um processo moderno de produção agroindustrial, mas que o mesmo não considerou um enraizamento das relações sociais no campo, e nem na cidade, prejudicando o desenvolvimento endógeno do Estado como um todo, haja vista que não se pode afirmar que o fenômeno classificado como embededdness - fio condutor ao desenvolvimento endógeno. 2 Este dado refere-se a todas as matrículas da rede de ensino, tanto público como particular; urbano e rural.

O TURISMO RURAL COMO OPÇÃO As atividades econômicas caracterizadas como turismo rural, mesmo sendo consideradas antigas no mundo, são ainda muito recentes no Brasil. Autores como Roque e Vivian (1999), e Zimmermann (1996) apontam que a prática de turismo rural, no Brasil, surgiu em 1986 como ação pioneira de alguns produtores do município de Lages, no estado de Santa Catarina, que, frente à dificuldades encontradas na exploração de madeira principal atividade da região - buscaram diversificar suas atividades, abrindo a propriedade rural para visitantes que vinham passar o fim de semana e vivenciar o dia a dia da fazenda (ROQUE e VIVIAN, 1999, p.7). O Ministério do Turismo conceitua turismo rural como o conjunto de atividades turísticas desenvolvidas no meio rural, comprometido com a produção agropecuária, agregando valor a produtos e serviços, resgatando e promovendo o patrimônio cultural e natural da comunidade (MINISTÉRIO, 2006, p.49). Este segmento turístico surge como resultado de uma nova ruralidade, com ênfase nas atividades não agrícolas e na pluriatividade presentes no novo rural (KAGEYAMA, 2008, p. 68). Atualmente, muitos produtores rurais buscam a diversificação produtiva das suas propriedades, buscando nas atividades não-agrícolas, entre estas o turismo, como tentativa de aumento da rentabilidade da área rural, caracterizando novos movimentos no processo de ocupação do campo. Para Graziano da Silva (1981), no campo ocorreu um processo de modernização conservadora que privilegia apenas algumas culturas e regiões assim como alguns tipos de unidades produtivas (médias e grandes propriedades). Nunca uma transformação dinâmica, auto-sustentada; pelo contrário, uma modernização induzida através de pesados custos sociais e com o amparo do Estado. Normalmente os empresários que se instalam dispõem de vultoso capital financeiro e know-how, aliados a uma legislação agrária que incentiva a grande produção, principalmente àquela destinada à exportação, e, em Goiás esta realidade não foi diferente. O Agribussines se orientou para algumas regiões do estado de Goiás, concentrando-se em uma parcela pequena de municípios, em detrimento dos demais municípios e regiões. Este processo de ocupação de grandes conglomerados

agroindustriais irão ocupar, especialmente, a região Sudoeste do estado, em torno dos municípios de Santa Helena, Rio Verde e Jataí (SANTOS, 2010, p.86)., contribuindo para uma formação agrícola e agrária heterogênea no território goiano. É neste cenário de construção dicotômica do desenvolvimento rural, em Goiás, que o Turismo Rural surge como possibilidade de fio condutor para as regiões não contempladas com a dinâmica econômica que o agronegócio pretende inserir. Duas características do turismo rural devem ser especialmente consideradas. Primeira, de que o seu desenvolvimento pode produzir-se em zonas que não disponham de recursos turísticos extraordinários, o que significa que a aptidão para o turismo em área rurais pode estenderse para amplas regiões do território. A segunda característica fundamental é o seu baixo nível de barreiras à entrada, o que implica que o turismo rural pode criar postos de trabalho com reduzidos volumes de investimentos. (GRAZIANO DA SILVA, VILARINHO, DALE, 1998, p.115). Assim, o turismo rural surge como uma das importantes atividades não agrícolas capazes de levar o desenvolvimento aos municípios com áreas rurais, mas excluídos da lógica agroindustrial que se insere no estado de Goiás. Contudo, para Capucha (1996) o turismo rural representa uma alternativa para a condução do desenvolvimento econômico às regiões rurais. As tendências atuais de transformação dos lazeres e da procura turística e de valorização do patrimônio e da qualidade ambiental, podem constituir uma oportunidade para o desenvolvimento das regiões rurais mais desfavorecidas que puderam ser relativamente preservadas do ponto de vista ecológico jogando o turismo rural um papel importante nesse domínio. (CAPUCHA, 1996, p.29) Santos & Kadota (2012) apontam que a quantidade de multiplicadores aplicados ao impacto macroeconômico do turismo é grande e envolve muito mais do que as atividades diretamente relacionadas, envolvendo uma grama muito grande de atividades, muitas destas até mesmo urbanas. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente artigo buscou levantar informações que concatenassem a atividade turística no espaço rural com os benefícios socioeconômicos que este pode porver. Em contra partida, o modelo vigente de ocupação rural atual, principalmente no estado de Goiás, o agronegócio, demonstra suas fragilidades no que se refere à construção de um

arcabouço que sustente a geração de benefícios socioeconômicos aos atores locais, principalmente às famílias, que se deparam com uma atividade que provoca êxodo rural, inchaço nas cidades e problemas sociais, tanto no campo, como na cidade. REFERÊNCIAS BIBILIOGRÁFICAS BARROS, R. P. de, HENRIQUES, R., MENDONÇA, R. (2002). Pelo Fim Das Décadas Perdidas: Educação E Desenvolvimento Sustentado No Brasil. IPEA: Texto para Discussão nº857. Rio de Janeiro. BRASIL, Ministério do Turismo. (2006). Segmentação do Turismo: Marco conceitual. Brasília, DF. CAPUCHA, L. M. A.(1996) Fazer render o belo questões à volta do turismo e do desenvolvimento em zonas rurais recuadas. Sociologia Problemas e Práticas, nº 21, p. 29-46. FERNANDES, A.D. (2006). A Dinâmica Da Fronteira Agrícola Em Goiás (1970-1985). Dissertação de Mestrado em História. UFG. Goiânia-GO: GOMES, B. M. A.; ROMANIELLO, M. M.; SILVA, M. A. C. (2006). Os efeitos do turismo em comunidades receptoras: um estudo com moradores de Carrancas, MG, Brasil. Revista de Turismo y Patrimonio Cultural. Tenerife. Espanha. v. 4. n. 3. p. 391-408. GRAZIANO DA SILVA, J. (1981) Progresso técnico e relações de trabalho na agricultura. São Paulo: HUCITEC. KAGEYAMA, A. (2008) Desenvolvimento Rural: conceitos e aplicação ao caso brasileiro. Porto Alegre: Editora da UFRGS. LOPES, R.L., CAIXETA FILHOR, J.V. (1997). Logística de localização aplicada à suinocultura: um estudo para o estado de Goiás. Preços Agrícolas, Ano XI, n.133, p.19-25, Nov.

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