PERC, CRIRSCO E UNFC: classificação e relatórios standard sobre recursos e reservas minerais



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Versão online: http://www.lneg.pt/iedt/unidades/16/paginas/26/30/185 Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 731-735 IX CNG/2º CoGePLiP, Porto 2014 ISSN: 0873-948X; e-issn: 1647-581X PERC, CRIRSCO E UNFC: classificação e relatórios standard sobre recursos e reservas minerais PERC, CRIRSCO, AND UNFC: minerals reporting standards and classifications C. M. P. Almeida 1,4*, S. Henley 2,4, R. Allington 3,4 2014 LNEG Laboratório Nacional de Geologia e Energia IP Artigo Curto Short Article Resumo: Existem dois sistemas reconhecidos internacionalmente para relatórios standard (sendo que o termo standard em português europeu será mais corretamente designado por padronizado) de classificação de recursos e reservas de minerais sólidos: o do sistema CRIRSCO que reúne vários relatórios standard e o da UNFC. Os relatórios standard da CRIRSCO que incluem o PERC, o JORC e o do CIM, entre outros, foram desenvolvidos para relatórios de carácter público, para companhias cotadas em bolsa de valores, de modo a fornecer uma terminologia adequada e consistente, assim como uma garantia de qualidade para o cálculo de recursos e reservas minerais. As diferenças entre os vários relatórios standard da família CRIRSCO são pequenas, diferindo apenas nos regimes regulatórios que diferem de país para país onde são utilizados. Os relatórios são de forma geral idênticos na sua matriz principal no que concerne a definições e classificações. A UNFC foi desenvolvida para fornecer um sistema totalmente inclusivo, para poder ser usado na inventariação de recursos minerais e nas políticas sobre esses mesmos recursos. Estes dois sistemas estão interligados visto que, o CRIRSCO fornece especificações detalhadas para as correspondentes categorias da UNFC. Esta contribuição descreve a história e utilização destes dois sistemas. Palavras-chave: PERC, CRIRSCO, UNFC, Recursos e reservas. Abstract: There are two internationally recognised systems for classification and reporting of reserves and resources of solid minerals: the CRIRSCO family of reporting standards, and the United Nations Framework Classification (UNFC). Despite a common perception that these are in competition, they are in fact closely linked, and they address different sets of requirements. The CRIRSCO standards, which include PERC, JORC, and the Canadian CIM standard among others, were developed for public reporting by companies listed on stock exchanges to provide a consistent terminology as well as quality assurance in company estimates of mineral resources and reserves. The underlying objective is protection of the public (in this case investors) by ensuring that the reports produced use consistent terminology and core content so that they can be understood, and that those who prepare public disclosure reports are competent to do so and are prepared to take personal responsibility for their own work. There are minor differences among the CRIRSCO standards as a result of differing regulatory regimes in the countries in which they are used, but all share identical core definitions and classification. The United Nations classification was developed to provide an all-inclusive system that could be used for mineral inventories and minerals policy planning by governments and companies alike. Where the two systems overlap, CRIRSCO provides the detailed specifications for the corresponding UNFC categories. This paper outlines the history and use of the two systems. Keywords: PERC, CRIRSCO, UNFC, Resources and reserves. 1 AM Almada Mining S.A., Campo de Jales, Portugal. 2 Resources Computing International Ltd, Matlock, United Kingdom 3 GWP Consultants LLP, Charlbury, United Kingdom 4 Membros do Comité Executivo do Pan-European Reserves & Resources Reporting Committee (PERC). * Autor correspondente / Corresponding author: calmeida@apgeologos.pt 1. Introdução Recursos e reservas minerais foram estimados sistematicamente durante décadas, mas com a expansão da indústria mineral a nível internacional e com o crescente envolvimento dos mercados de capital nos financiamentos de projetos mineiros, ficou clara (durante as décadas de 1980 e de 1990) a necessidade de sistematizar e regular esta área de negócio. O primeiro sinal de aviso surgiu em 1970-1971 por altura da descoberta de um grande depósito mineral de níquel pela companhia Poseidon na zona Ocidental da Austrália, que veio despoletar uma forte onda especulativa criando enormes flutuações na bolsa de valores por parte dos especuladores, baseadas em informações de cálculo de recursos minerais não consubstanciadas. Outro caso muito mais sério, foi o da fraude praticada pela companhia Bre-X, em 1997, onde esta companhia anunciou a descoberta de um depósito aurífero gigantesco na Indonésia, baseando essa descoberta em informação proveniente da análise de testemunhos de sondagem que foram previamente salgados, ou seja enriquecidos artificialmente antes de serem enviados para laboratório. Em ambos os casos (e em muitos outros de menor escala de grandeza) os investidores foram vítimas de fraude perdendo somas avultadas do seu capital. As organizações profissionais de geólogos e de engenheiros de minas por todo o mundo, decidiram que era necessário tomar medidas adequadas para racionalizar e regular os relatórios sobre recursos e reservas minerais. As primeiras iniciativas vieram do Reino Unido e levaram a uma cooperação Pan-Europeia com a parceria do Instituto de Geólogos da Irlanda (IGI) e a Federação Europeia de Geólogos (EFG).

732 C. M. P. Almeida et al. / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 731-735 2. O CRIRSCO O Committee for Mineral Reserves International Reporting Standards (CRIRSCO) foi formado em 1994 segundo os auspícios do Conselho de Institutos de Mineração e Metalurgia (CMMI), foi estabelecido como um grupo de organizações representativas responsáveis pelo desenvolvimento de códigos e linhas guia para relatórios sobre recursos minerais na Australásia (JORC), Canadá (CIM), Chile (Comisión Minera) desde 2004, Europa (PERC), Rússia (NAEN/OERN) desde 2011, África do Sul (SAMREC) e USA (SME). O valor combinado das companhias listadas nas bolsas de valores destes países corresponde a mais de 80% de todas as companhias com capital na indústria da mineração. De acordo com estas instituições, foram definidas duas categorias principais: Recursos Minerais e Reservas Minerais, com as respetivas subcategorias denominadas como Recursos Minerais Medidos, Indicados e Inferidos e ainda as Reservas Minerais Prováveis e Provadas. Esta classificação pode ser observada na Figura 1. Todos os relatórios standard do CRIRSCO seguem as mesmas diretrizes e princípios e utilizam a mesma classificação. O âmbito do CRIRSCO inclui os recursos minerais sólidos (minerais metálicos, gemas, matérias primas em concentrados, agregados, minerais industriais, minerais energéticos, como o carvão e o urânio). A sua missão principal é a de promover internacionalmente as melhores práticas nos relatórios públicos de resultados da exploração (entenda-se prospeção e pesquisa) de recursos e reservas minerais, de modo a alcançar consenso internacional nos relatórios standard, encorajando consistentemente a alta qualidade dos mesmos através da exigência e manutenção dos standards relacionados com a Pessoa Competente (Competent Person). A Tabela 1 sintetiza a atual listagem de organizações membro e as respetivas associações profissionais. Os países listados na seguinte tabela estão presentemente representados no CRIRSCO. Fig. 1. A classificação standard do CRIRSCO actualmente usada por todos os relatórios standard alinhados com o CRIRSCO. Fig. 1. The CRIRSCO standard classification now used by all reporting standards that are aligned with CRIRSCO. Tabela 1. Organizações Membro e os seus respectivos relatórios standard nacionais. Table 1. National Minerals Reporting Standards and their Sponsor Organisations.

PERC, CRIRSCO & UNFC 733 3. Classificação Quadro das Nações Unidas (UNFC) A Classificação Quadro das Nações Unidas (UNFC) é anterior à do CRIRSCO e tinha um propósito diferente. O desenvolvimento da UNFC iniciou-se em 1990 por intermédio da UNECE e deu continuidade ao mandato global promovido pelo Conselho Económico e Social das Nações Unidas. A UNFC (Fig. 2) é mais complexa e mais extensa que a do CRIRSCO, e abarca os recursos de petróleo, carvão e gás além recursos minerais sólidos, sendo que o seu objetivo principal é o de fornecer um método standard para uso governamental e intergovernamental no âmbito da regulação e estatística. A classificação UNFC é a genérica classificação quadro para recursos minerais sólidos, petróleo e gás. Deve ser enfatizado o facto que esta classificação não é, nem representa um relatório público standard. Nesta classificação não existem princípios básicos como os que existem num relatório standard e não tem reconhecimento pelos reguladores dos mercados. Em 1999 foi alcançado um acordo com a Comissão Económica para a Europa das Nações Unidas (UN-ECE), que esteve desde 1992 a desenvolver uma Classificação Quadro para Reservas e Recursos Minerais (UNFC). A semelhança entre os vários códigos de relatórios standard e suas diretrizes, permitiu ao CRIRSCO desenvolver um modelo tipo de um Código de Relatório Standard Internacional para Minerais em 2006, que está disponível no website do CRIRSCO. O CRIRSCO funciona como uma estrutura consultiva sem a componente de autoridade fiscalizadora, contando com os seus membros constituintes para assegurar regulação e disciplina com supervisão a nível nacional. Deve ser realçado o facto de não existir conflito entre o CRIRSCO e a UNFC, isto porque a classificação CRIRSCO fornece por si só as especificações para as correspondentes categorias dentro da classificação UNFC. A UNFC não comporta, contudo, o conceito de Competência, ou seja, por outras palavras, não define o que é uma Competent Person, pessoa essa que toma responsabilidade pessoal por estimativas, nem fornece diretrizes que indiquem o guião para a elaboração escrita deste tipo de relatórios. Outra distinção entre o CRIRSCO e a UNFC é que esta classificação inclui as definições de material Não Descoberto e Não Económico, que não pode ser incluído num relatório alinhado com o CRIRSCO. A classificação CRIRSCO é bidimensional, com eixos definidos para o conhecimento geológico e para os fatores de modificação, enquanto a classificação UNFC é tridimensional, com eixos para o conhecimento geológico, viabilidade do projeto e viabilidade socioeconómica. Fig. 2. Classificação Quadro das Nações Unidas (UNFC). Fig. 2. The United Nations Framework Classification.

734 C. M. P. Almeida et al. / Comunicações Geológicas (2014) 101, Especial II, 729-735 4. Relatórios standard da família CRIRSCO: PERC como exemplo Em 1991 foi publicado em Londres pela Instituição de Mineração e Metalurgia (IMM) um código simples, com a intenção de o utilizar para elaboração de relatórios sobre recursos e reservas minerais de projetos de companhias listadas em bolsa de valores. Este código evoluiu rapidamente e convergiu com o JORC e outros relatórios standard. O código Pan-European Reserves & Resources Reporting Committee (PERC) foi preparado com o envolvimento ativo e apoio da EFG, da British Geological Society (BGS), do IGI e da IMM. Foi chamado simplesmente de The Reporting Code, onde a intenção era a de que fosse um relatório standard para a Europa, com potencial para se poder tornar como um relatório standard internacional utilizado em todo o mundo. O código PERC foi criado em 2008 e a sua atualização foi publicada em 2013, o PERC é reconhecido pela Autoridade Europeia de Segurança de Mercados (ESMA) sendo válida a sua utilização em todas as bolsas de valores europeias. Também é reconhecido pelos reguladores canadianos, podendo ser utilizado no âmbito do contemplado no sistema de relatórios canadiano ( National Instrument 43-101 ). 5. A Pessoa Competente ( Competent Person ) O que é que faz com que os relatórios standard alinhados com o CRIRSCO sejam muito mais do que uma simples classificação para que um relatório seja preparado e assinado por uma Pessoa Competente? Ou seja, uma Pessoa Competente ao assinar um relatório, toma a responsabilidade pelo seu conteúdo (quer seja contratado para produzir o relatório como um técnico independente, ou como um empregado de uma companhia). Estas são as qualificações da Pessoa Competente, acrescidas como já foi referido principalmente pela sua experiência relevante, que fornecem ao utilizador do relatório produzido uma segurança intrínseca da sua veracidade e credibilidade. Os relatórios standard do CRIRSCO fornecem definições simples para os que poderão ser aceites como Pessoas Competentes. A definição de Pessoa Competente está descrita no PERC Standard 2013 da seguinte forma: A Pessoa Competente é um profissional industrial, registado ou licenciado por um corpo profissional reconhecido (incluído organizações profissionais reconhecidas mutuamente e internacionalmente) com características de disciplina de processos de credenciação e com capacidade para suspender ou expulsar um dos seus membros. A Pessoa Competente deve ter pelo menos um mínimo de cinco anos de experiência num determinado tipo de mineralização ou depósito mineral em consideração para o relatório, considerando ainda a atividade desenvolvida por essa pessoa nessa área. Corpos profissionais e membros reconhecidos de acordo com o standard que cumprem com estes requisitos listados na Europa e no resto do mundo. A definição de Pessoa Competente está sujeita a restrições adicionais ou condições adicionais que sejam requeridas pelas bolsas de valores ou autoridades reguladoras de mercado. Membros de corpos profissionais reconhecidos (listados em anexo no Standard) carecem como requisito uma qualificação de nível terciário de qualificações, onde se inclui um diploma universitário, assim como anos de experiência na indústria mineira. É esperado que uma Pessoa Competente seja por norma um geólogo com vista a produzir relatórios de Exploração de Recursos Minerais (Prospeção e Pesquisa) podendo ser qualificado noutros campos ligados à engenharia de minas ou tratamento de minérios. No cerne do processo de acreditação existe o conceito do peer review em conjunto com o papel da organização profissional. A Federação Europeia de Geólogos é aceite por todos os CRIRSCO standards, como uma organização profissional reconhecida e o título de Euro Geólogo (EurGeol) estabelece o técnico como uma potencial Pessoa Competente. De modo a poder exercer como uma Pessoa Competente, num contexto de um determinado depósito mineral, deverão obrigatoriamente satisfazer o critério associado de ter experiência relevante. Isto é descrito pela afirmação pessoal do técnico na declaração incluída no relatório, que está sujeito a fiscalização, sendo que deste modo a Pessoa Competente deverá ser capaz de consubstanciar a prova da sua experiência referindo-se a projetos anteriores que tenha participado. Falsas declarações das condições necessárias para ser Pessoa Competente, serão sempre uma brecha que incorrerá contra o Código de Ética ou Código de Conduta da organização profissional a que pertence a Pessoa Competente. Este tipo de não conformidades poderão levar a uma acção disciplinar por parte das organizações profissionais contra qualquer dos seus membros que se proclamam como Pessoas Competentes, quando de facto a sua experiência, qualificação e qualidade de trabalho estão aquém do requerido pelo standard. 6. Conclusões Uma questão comum, surge quando se procura elencar qual será o melhor standard: O CRIRSCO ou o UNFC? Ou no caso de se utilizar o CRIRSCO qual será o melhor standard a adotar? Ao preparar um relatório para uma companhia listada numa bolsa de valores, a escolha do standard é feita pelo regulador dessa bolsa de valores: normalmente qualquer dos relatórios standard alinhados com o CRIRSCO é necessário. Na União Europeia, por exemplo, a escolha recaí pela lista de todos os relatórios standard reconhecidos e alinhados com o CRIRSCO.

PERC, CRIRSCO & UNFC 735 As decisões sobre a descrição e garantia de qualidade são independentes das decisões sobre a classificação a adotar: O CRIRSCO refere-se à descrição e à garantia de qualidade e classificação; A UNFC 2009 requer documentação prévia e necessidade da concordância dos utilizadores na descrição dos itens da garantia de qualidade. A UNFC fornece uma metodologia para os governos e ONG s para incorporar informação publicada da indústria (utilizando a classificação CRIRSCO) em bases de dados, inventários minerais, etc.. Os standards CRIRSCO requerem que toda a publicidade de declaração de recursos tenham prospetos credíveis para a sua extração económica. Os relatórios não deverão incluir nenhum inventário de supostas mineralizações, não esquecendo a componente económica, que não sejam suportadas por provas geológicas adequadas. O planeamento a curto e médio prazo deve utilizar os recursos e reservas minerais reportados de acordo com os relatórios standard do CRIRSCO como uma base sólida e confiável com vista a criar um modelo financeiro. O planeamento a longo prazo poderá simplesmente migrar para a classificação UNFC, com a inclusão da estimação do potencial mineral, sendo que estes não poderão ser reportados publicamente. Referências PERC http://www.percstandard.eu EFG http://www.eurogeologists.de CRIRSCO http://www.crirsco.com UNFC-2009 http://www.unece.org/energy/se/reserves.html