PESSOA COM DEFICIENCIA VISUAL E EDUCAÇÃO A DISTANCIA: POSSIBILIDADES E ADVERSIDADES Eurides Miranda Edna Aparecida Carvalho Pacheco Diego de Morais Batista Universidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM Palavras-chaves: Cegos, Educação a Distância, Acessibilidade Introdução O artigo problematiza a inclusão de discentes cegos no Ensino Superior, em especial, em Cursos de Especialização oferecidos na modalidade a distância. Trata-se de um relato de experiência que aponta as dificuldades enfrentadas pelos discentes cegos para navegar por plataformas virtuais e as vantagens que as atividades pedagógicas acessíveis oferecem aos mesmos discentes. A Educação a Distância EAD, no contexto da educação inclusiva, por ser uma modalidade educativa que utiliza as tecnologias de informação e comunicação deveria facilitar estudo para as pessoas com deficiência visual. Nesse sentido, a experiência de um discente cego no curso de pós-graduação em Educação Especial Deficiência Visual, que é ofertado a distância pela UNIRIO, buscou evidenciar ações que promovam as condições necessárias à autonomia e liberdade do aluno com deficiência visual ao navegar em plataformas educativas. Observou-se que a Educação a Distância, tem uma proposta instigante, mas ainda são necessárias alterações no sistema educacional para que o deficiente visual tenha plena condição de acesso a esse tipo de ensino. Objetivo geral Levantar e propor ações, que promovam as condições necessárias à autonomia e liberdade do aluno com deficiência visual ao navegar em plataformas educativas. Objetivos específicos
Identificar as maiores dificuldades enfrentadas pelos alunos com deficiência visual ao navegar em plataformas educativas; e Identificar as principais diretrizes para a elaboração de plataformas educativoinstitucionais que propiciem mais independência ao aluno com deficiência. Método A metodologia utilizada é a história de vida. História de vida é um relato retrospectivo de uma experiência pessoal relativa a fatos e acontecimentos significativos e constitutivos, embasado em referencial teórico. Resultados A plataforma de EAD não é totalmente acessível, pois o Moodle 1 até para as pessoas que não possuem restrições visuais oferece obstáculos. No entanto, com o apoio digitalizadores de textos é possível adaptar-se à modalidade. Outro transtorno inquietante e excludente é a falta de áudio descrição das charges e dos vídeos que são propostos nos fóruns. Muitas vezes pensei em desistir, pois me sentia alienado e indignado em saber que o curso era totalmente voltado para as pessoas com deficiência visual parcial e total. Não posso deixar de enfatizar a distância que se cria na EAD, ou seja, o aluno cego está totalmente distante de tudo, pois o acesso às fotos postadas pelos colegas, professores e tutores ainda são impossíveis de visualização para o discente com cegueira total. Outra dificuldade encontrada foi durante o processo de orientação do TCC, pois mesmo com toda a dedicação e comprometimento da orientadora, senti um vazio na comunicação, ou seja, faltou um áudio contendo uma descrição para que o pesquisador se sentisse menos distante da distância. Existem cegos que não dominam ou simplesmente não gostam de informática, e neste caso, se torna muito difícil à inserção destes indivíduos na EAD, pois as plataformas não 1 O Moodle é uma plataforma de aprendizagem a distância baseada em software livre. É um acrônimo de Modular Object-OrientedDynamic Learning Environment (ambiente modular de aprendizagem dinâmica orientada a objetos). Ele foi e continua sendo desenvolvido continuamente por uma comunidade de centenas de programadores em todo o mundo, que também constituem um grupo de suporte aos usuários, acréscimo de novas funcionalidades, etc., sob a filosofia GNU de software livre. Uma fundação (www.moodle.org) e uma empresa (www.moodle.com) fornecem, respectivamente, o apoio para o desenvolvimento do software e sua tradução para dezenas de idiomas, e apoio profissional à sua instalação. Sabbatini, Ambiente de Ensino e Aprendizagem via Internet A Plataforma Moodle. Acessível em: http://www.ead.edumed.org.br/file.php/1/plataformamoodle.pdf. Acessado em: 21/02/2016.
oferecem outra opção de estudo e fazer um curso a distância em braile, é sem dúvida tarefa muito desgastante. Além das plataformas não muito acessíveis e dos leitores de tela que apresentam restrições, outra inquietação que vivia era em relação ao polo, local onde realizaria minhas avaliações presenciais. O local é totalmente inacessível para um aluno cego. Lá não existe computador com leitor de tela, falta piso tátil, os livros não são digitalizados e nem são transcritos para o Braille e, por fim o acesso à internet deixa muito a desejar. Atualmente existem vários softwares que possibilitam ao cego navegar na internet, porém os leitores de tela ainda apresentam falhas. O aluno que está cursando a EAD ainda está em desvantagem em relação aos outros cursistas. A EAD necessita aprimorar-se para tornar-se verdadeiramente inclusiva. Inserir o cidadão no sistema educacional principalmente a pessoa com deficiência, é uma das propostas mencionadas pelos governos. Sendo assim, a EAD oferece subsídios capazes de tornar possível a inclusão de alunos nas universidades descaracterizando a alienação e quebrando os paradigmas do preconceito e da exclusão social. Realmente, as plataformas de EAD são ferramentas inclusivas, porém inúmeros reajustes precisam ser feitos e com maior participação das pessoas com deficiência visual que é o público em destaque nessa pesquisa. Discussão Apesar de a educação ser direito de todos, para as pessoas com deficiência, isto ainda é irreal A concepção de educação inclusiva busca contemplar a atenção para as diferentes necessidades decorrentes de condições individuais dos alunos. O termo necessidades educacionais especiais NEE coloca ênfase nas ações que a instituição de ensino deve promover para responder às diferentes necessidades dos alunos. O ensino no Brasil vem passando por modificações significativas. O objetivo do governo juntamente com o Ministério da Educação (MEC), é diminuir o índice de analfabetismo, e garantir o acesso do cidadão aos cursos superiores das universidades federais, para que todos possam ter condições de buscar uma profissão neste desigual mercado de trabalho. Faltam professores capacitados para trabalhar com pessoas com deficiência e o material didático inexiste. O espaço físico nas universidades não contempla as necessidades e direitos das pessoas com deficiência fazendo com que os alunos que precisarem utilizar este ambiente fiquem alienados e excluídos dos demais acadêmicos.
A produção de pesquisas e a implantação de políticas para a inclusão de pessoas com deficiência no ensino superior ainda não é suficiente, mas o movimento em prol da atenção às pessoas com deficiência tem evoluído. Esses movimentos têm atuado principalmente na questão da acessibilidade, lutando para que ocorra a eliminação de barreiras tanto no espaço físico como no espaço digital e na questão da igualdade de oportunidades entre as pessoas sem e com limitações. É nesse contexto que se insere a Educação a Distância, conforme afirma Guedes, (2014, p. 3): A EaD surge, então, como uma modalidade auxiliar, atendendo ao público que devido a correria do dia-a-dia não tem tempo de frequentar aulas presenciais diárias e até mesmo não está localizado na mesma região que uma instituição de ensino. Esta modalidade acaba por abranger um tipo de público que, devido às distâncias ou falta de acessibilidade nas instituições também passam a se aproveitar da EaD: as pessoas com deficiência. Então, para que aconteçam reformulações necessárias que proporcionem ao deficiente o ingresso e continuação no curso superior torna-se indispensável à análise e a investigação sobre diferentes aspectos, tais como a formação dos docentes, as estruturas e serviços existentes para atender a diferentes demandas, os resultados alcançados pelas experiências de inclusão pelas instituições de ensino. Sendo assim, a EAD oferece subsídios capazes de tornar possível a inclusão de alunos nas universidades descaracterizando a alienação e quebrando os paradigmas do preconceito e da exclusão social. (COSTA; LOZANO, 2013) Conclusões Ao término do curso na modalidade a distância, fica evidente que a educação e a acessibilidade precisam se reciclar para contemplar os anseios e as dificuldades enfrentadas pelas pessoas com deficiência visual. Acessibilidade é um conceito que não se restringe às pessoas com deficiência e sim a todos os cidadãos que se deparam com obstáculos causando transtornos, inviabilizando suas ações cotidianas. Atualmente, é através da acessibilidade que as pessoas com deficiência conseguem mostrar suas competências e quebrar o estigma de piedade com que eram tratadas no convívio social. Não podemos culpabilizar somente o sistema governamental pela falta de acesso ao ensino. Precisamos refletir e analisar nossos direitos e deveres, pois os profissionais não são capacitados e nem sempre procuram se reciclar, os deficientes por sua vez não buscam subsídios para estes enfrentamentos. Sendo assim, a educação EAD vai caminhando para
mesma vertente da educação presencial, ou seja, alienar as pessoas com deficiência não lhes oferecendo subsídios e tendo como resposta evasões educacionais. A proposta da EAD é levar a educação para pessoas que estão distantes, no entanto as pessoas com deficiência não podem ser mantidas distantes da distância, ou seja, o deficiente quer se manter presente enquanto protagonista partícipe do seu processo de formação profissional. Referências GUEDES, D. M. A educação a distância EAD- como instrumento de acessibilidade ao ensino superior para pessoas com deficiência visual. Revista Científica de Educação a Distância. Santos, vol.5, nº 9, jan-2014. Disponível em: <http://periodicosunimes.unimesvirtual.com.br/index.php?journal=paideia&page=article&op =viewfile&path%5b%5d=360&path%5b%5d=357> Acesso em: 25 fev. 2015. COSTA, M. L..; LOZANO, T. V. Educação e deficiência visual: possibilidades e perspectivas. Revista Atos de Pesquisa em Educação. Blumenau, vol. 8, nº 3, p. 901-920, set/dez 2013. Disponível em: <http://proxy.furb.br/ojs/index.php/atosdepesquisa/article/view/3431/2482> Acesso em: 03 mar. 2015.