Poucos livros, tratando de um objeto científico conseguiram



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Transcrição:

INTELIGÊNCIA EMOCIONAL OU INTELIGÊNCIAS MÚLTIPLAS Antonio Carlos Gil* 1. O sucesso da inteligência emocional Poucos livros, tratando de um objeto científico conseguiram a proeza de Inteligência emocional, de Daniel Goleman. Tendo aparecido em 1995, nos Estados Unidos, já foi traduzido para um grande número de idiomas, foi objeto de reportagens especiais em grandes revistas de circulação internacional e em muitos países, como o Brasil, vem se mantendo na lista dos best-sellers há mais de um ano. Mais ainda: é bastante significativo o número de livros que se referem a esse tema. Em português, já se encontram traduzidos, além do livro de Goleman: A inteligência emocional na empresa (Sawaf, 1997), A inteligência emocional e a arte de criar nossos filhos (Gottman, 1997), Inteligência emocional no trabalho (Weisinger, 1997), Teste a sua inteligência emocional (Martinaud & Englelhart, 1997), Inteligência emocional: uma nova vida para seu filho (Shapiro, 1997). Diversos autores brasileiros também já escreveram vários livros sobre o assunto, podendo ser encontrados: Alfabetização * Antonio Carlos Gil é doutor em ciências sociais e professor da Faculdade São Luís. Pensamento & Realidade 59

Artigos emocional (Antunes, 1997), A inteligência do coração (Felliozat, 1997), Razão e emoção: a inteligência emocional em questão (Moscovici, 1997), A inteligência emocional na construção do novo eu (Antunes, 1997), O cérebro do cérebro: as bases da inteligência emocional e da aprendizagem acelerativa (Machado, 1997) e Educação emocional (Valle, 1997). O sucesso desse livro pode ser creditado em boa parte ao seu próprio tema, que é bastante polêmico e capaz de emocionar as pessoas, pois questiona o coeficiente de inteligência (QI) que, durante muito tempo foi reconhecido como um dos mais importantes elementos na determinação do sucesso escolar e profissional. Além disso, o livro, apesar de fundamentar-se em experiências científicas e de utilizar vocabulário científico, é escrito em linguagem bastante acessível. O que se justifica, porque o autor, além de ser doutor em Psicologia, nos últimos anos vinha trabalhando como jornalista no conceituado The New York Times. 60 Ano I Nº 2/98 2. Apreciação crítica da obra de Goleman Não há como negar valor ao livro de Goleman, já que seus conceitos se apoiam nos trabalhos de renomados neurologistas, como Joseph LeDoux e Antonio Damásio. Não há como desconsiderar as críticas feitas por seu autor à medição do QI, cujo valor na predição do sucesso escolar e profissional já vem sendo questionado há várias décadas. Também não há como desconsiderar a importância que assumem as emoções na determinação do comportamento humano, sobretudo no que se refere à vida profissional. A despeito, porém, de todos esses aspectos positivos, não se pode deixar de reconhecer que a inteligência emocional tornou-se um modismo psicológico, tal como aconteceu com a Análise Transacional e com a Programação Neurolingüística. E também que seu sucesso tem estado muito mais relacionado com a divulgação pela mídia do que propriamente pela comunidade científica. Isto vem requerer a análise crítica de seu conteúdo e de sua metodologia. Talvez o aspecto mais crítico da Inteligência Emocional esteja no seu pretenso caráter revolucionário, que é apresentado no próprio subtítulo do livro. Embora o teste de QI tenha provocado muito entusiasmo após o seu aparecimento, logo passou a ser criticado nos meios científicos, em virtude da dificuldade de se considerar um conceito de inteligência que fosse suficientemente geral. Tanto é que Thurstone (apud Gardner, 1994, p. 13), em estudo desenvolvido em 1947, no-

Inteligência emocional ou inteligências múltiplas meou sete faculdades primárias, relativamente independentes entre si, que poderiam ser medidas por tarefas diferentes: compreensão verbal, fluência numérica, visualização espacial, memória associativa, velocidade de percepção e raciocínio. Diversos estudos, como os de Gross e Hirst (citado por Gardner, 1993, p. 47), procuram, a partir de evidências empíricas, nomear e detalhar diferentes tipos de inteligência. No entanto, o trabalho mais significativo nesse sentido foi o desenvolvido por Howard Gardner, da Universidade de Harvard, que deu origem ao conceito de inteligências múltiplas. 3. As inteligências múltiplas de Howard Gardner Em seu livro, Estruturas da mente, Gardner (1994), a partir de pesquisas desenvolvidas no campo da Psicologia e da Neuropsicologia, apresenta sete tipos de inteligência que se desenvolvem de forma relativamente autônoma: Inteligência Lingüística. É a capacidade de se expressar por meio de palavras. É a exibida em sua forma mais completa pelos escritores e poetas e sua definição mostra-se bastante consistente com a psicologia tradicional. Inteligência Lógico-matemática. Como o nome implica, é a capacidade lógica e matemática, assim como a capacidade científica. Assim como acontece com a inteligência lingüística, designar a capacidade lógica e matemática como inteligência também é consistente com a psicologia tradicional. Para Gardner, os estudos desenvolvidos por Piaget, como correspondentes a toda a inteligência, consistiriam, na realidade, em estudos relativos a este tipo específico de inteligência. A inteligência lógico-matemática, juntamente com a inteligência lingüística na sociedade contemporânea, são colocadas num pedestal e constituem a base para a elaboração da maioria dos itens dos testes tradicionais de inteligência. O que significa que quem se sai bem em linguagem, lógica e matemática costuma sair-se bem nesses testes. Inteligência Espacial. É a capacidade de formar um modelo mental de um mundo espacial e de ser capaz de manobrar e operar utilizando esse modelo. Os navegadores, engenheiros, cirurgiões, escultores e pintores constituem alguns exemplos de pessoas que apresentam inteligência espacial altamente desenvolvida. Pensamento & Realidade 61

Artigos Inteligência Musical. Embora a capacidade musical não tenha sido tipicamente considerada uma capacidade intelectual, Gardner a considera como tal, apresentando, entre outros argumentos, o de que certas partes do cérebro desempenham importantes papéis na percepção e produção da música. Inteligência corporal-cinestésica. É a capacidade de resolver problemas ou de elaborar produtos utilizando o corpo inteiro ou partes do corpo. Dançarinos, atletas, cirurgiões e atores apresentam uma inteligência corporal-cinestésica altamente desenvolvida. Inteligência interpessoal. É a capacidade de compreender outras pessoas: o que as motiva, como elas trabalham e como trabalhar cooperativamente com elas. Políticos, professores, vendedores, psicoterapeutas e líderes religiosos são pessoas com altos graus de inteligência interpessoal. Inteligência intrapessoal. Refere-se ao conhecimento dos aspectos internos da pessoa: o acesso ao sentimento da própria vida, à gama das próprias emoções, à capacidade de discriminar essas emoções e eventualmente rotulá-las e utilizá-las como uma maneira de entender e orientar o próprio comportamento. A pessoa com boa inteligência intrapessoal possui um modelo viável e efetivo de si mesma. 4. Apreciação crítica da obra de Gardner A idéia da relativa independência das diversas inteligências não constitui novidade, pois já fora considerada por diversos psicólogos. O caráter revolucionário da obra de Gardner, no entanto, está no fato de considerar as inteligências pessoais (interpessoal e intrapessoal) no mesmo nível que as outras. Outro aspecto importante da obra de Gardner, de acordo com Valle (1997), é que esse sistema já incluiria as inteligências emocionais: musical, corporal-cinestésica, interpessoal e intrapessoal. Assim, a obra de Goleman não poderia ser considerada tão original, já que a inteligência emocional estaria inserida na teoria das inteligências múltiplas de Gardner e com um nível de especificidade muito mais satisfatório. É verdade que Goleman refere-se às obras de Gardner por sinal, em termos bastante elogiosos. No entanto, esforça-se para convencer seus leitores que sua teoria das inteligências múltiplas é que apresenta um caráter revolucionário. E parece que vem conseguindo bastante sucesso. 62 Ano I Nº 2/98

Inteligência emocional ou inteligências múltiplas Tanto é que Lair Ribeiro (1997, p. 55), numa obra destinada a preparar candidatos aos exames vestibulares, apresenta as sete inteligências múltiplas definidas por Gardner e em nota de rodapé afirma que uma oitava inteligência foi introduzida por Daniel Goleman Inteligência Emocional. Atente-se, pois, para o risco que se corre, quando são aceitos novos princípios ou teorias com base em sua publicidade. Conclusões O grande mérito de Goleman está em que se tornou o principal divulgador de estudos inovadores no campo da inteligência humana. Não apenas dos estudos de Gardner sobre inteligências múltiplas, mas também do neurologista luso-americano Antonio Damásio, que publicou recentemente o Erro de Descartes. A obra de Goleman, assim como outras que vêm divulgando a inteligência Emocional, pode ser muito útil para educadores, administradores e outros profissionais cuja atuação envolva fundamentalmente a relação com pessoas. Também pode ser de muita utilidade para as pessoas de um modo geral, desde que interessadas em melhorar o seu relacionamento interpessoal. À medida que sejam alfabetizadas emocionalmente, as pessoas estarão mais capacitadas para controlar suas emoções, para canalizá-las mais produtivamente, para entender melhor os outros e para lidar com relacionamentos conflituosos. Pessoas alfabetizadas emocionalmente tenderão a apresentar maior tolerância à frustração, maior capacidade de se expressar adequadamente, maior comunicabilidade, maior autocontrole, maior empatia e sensibilidade em relação aos sentimentos dos outros, maior capacidade de analisar e de compreender relacionamentos, maior habilidade para negociar desacordos e solucionar conflitos e maior disposição para cooperar com os outros. Por essa razão, a obra de Goleman é recomendável, assim como as obras de divulgação da teoria da Inteligência Emocional, desde que elaboradas por profissionais competentes para transmitir informações complexas a não-especialistas. Bibliografia ANTUNES, Celso. A inteligência emocional na construção no novo eu. São Paulo, Vozes, 1997.. Alfabetização emocional. São Paulo, Vozes, 1997. Pensamento & Realidade 63

Artigos COOPER, Robert, SAWAF, Ayman. Inteligência emocional na empresa. São Paulo, Campus, 1997. FELLIOZAT, Isabelle. A inteligência do coração: a nova linguagem das emoções. São Paulo, Campus, 1997. GARDNER, Howard. Estruturas da mente: a teoria das inteligências múltiplas. Porto Alegre, Artes Médicas, 1994..Inteligência múltiplas: a teoria na prática. Porto Alegre, Artes Médicas, 1995. GOLEMAN, Daniel. Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é Ser inteligente. Rio de Janeiro, Objetiva, 1996. MARTINAUD, Sophie, ENGELHART, Dominique. Teste a sua inteligência emocional. Rio de Janeiro, Ediouro, 1997. GOTTMAN, John. Inteligência emocional e a arte de educar nossos filhos. Rio de Janeiro, Objetiva, 1997. FELLIOZAT, Isabelle. A inteligência do coração: a nova linguagem das emoções. São Paulo, Campus, 1997. MACHADO, Luiz. O cérebro do cérebro: as bases da inteligência emocional e da aprendizagem acelerativa. 2 ed. Rio de Janeiro, Qualitymark, 1997. MOSCOVICI, Fela. Razão e emoção: a inteligência emocional em questão. Salvador, Casa da qualidade, 1997. VALLE, Edênio. Educação emocional. São Paulo, Olho d água, 1997. WEISINGER, Hendric. Inteligência emocional no trabalho. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997. 64 Ano I Nº 2/98