UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica 2008 UFU 30 anos



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA 4ª Semana do Servidor e 5ª Semana Acadêmica 2008 UFU 30 anos A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO: UMA ANÁLISE DAS CATEGORIAS DO PENSAMENTO DE CALVINO, A ÉTICA PROTESTANTE E O CONCEITO DE VOCAÇÃO DA RELIGIÃO REFORMADA. Felipe de Oliveira e Silva 1 Universidade Federal de Uberlândia felipewavemaster@gmail.com Vinícius Oliveira Santos 2 Universidade Federal de Uberlândia vinicius.oliv@yahoo.com.br Resumo: A obra A ética protestante e o espírito do capitalismo de Max Weber nos traz importantes elementos para pensar a sociedade, pois o referido autor busca em origens históricas as influências de condutas que levam à formação da sociedade capitalista ocidental. O presente trabalho busca demonstrar a relação entre as teorias de João Calvino com a Ética Protestante e também o conceito de vocação presente nas teorias de Lutero e Calvino para a formação do espírito do capitalismo. Destarte, esclarecer-se-ão relações que levam a formação de um espírito propulsor do capitalismo baseado em formações de cunho religioso. Palavras-Chave: Capitalismo, Ética, Protestante, Vocação, Weber 1. INTRODUÇÃO A obra Ética Protestante e o espírito do capitalismo 3 é uma obra sociológica inovadora (para a época) onde seu autor Max Weber discorre sobre a gênese da cultura capitalista hodierna (moderna) buscando elementos religiosos significativos para o desenvolvimento dessa cultura, ou seja, pensa o capitalismo em características externas à economia: capitalismo pensado como um modo de vida. No decorrer da obra supracitada, o autor utiliza-se da criação de tipos-ideais 4 que na presente obra tem por base os conceitos de ética social do dever profissional e o trabalho como vocação. 1 Felipe de Oliveira e Silva é graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Uberlândia. Pesquisa a temática Cultura Jovem Japonesa sob orientação da professora Dra. Alessandra Siqueira Barreto. Faz parte da coordenação do grupo de estudos Antropologia e Antropologias e é também administrador e revisor de artigos publicados pelo grupo. 2 Vinícius Oliveira Santos é graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Uberlândia. Pesquisa a temática de Trabalho material e Trabalho imaterial sob a orientação do professor Dr. Edilson José Graciolli. Atualmente é membro do Grupo de Pesquisa Trabalhadores, Sindicalismo e Política (GPTSP) na Universidade Federal de Uberlândia. 3 Die protestantische Ethik und der Geist des Kapitalismus - Obra de Maximilliam Weber (1864-1920) 4 Tipo ideal é uma construção teórico-abstrata que possui por finalidade tornar mais explicitamente referida, não a categoria (classe) nem a característica média, mas sim as características essenciais, individuais e concretas do fenômeno estudado, ou seja, cria conceitos que tipificam, caracterizam certa individualidade histórica.

O capitalismo se constitui concomitantemente à Reforma Religiosa 5 iniciada na Europa do século XVI e as idéias principais referem-se à idéia de profissão enquanto vocação, a extrema valorização do trabalho e a busca pela salvação individual. E, por se desenvolverem tais mudanças no campo econômico e religioso, Weber correlaciona tais mudanças buscando aspectos significativos para a articulação de sua obra. Entre os grandes homens de negócios, os homens de maior prestígio social e econômico, os mais bem sucedidos empresários no capitalismo moderno, nota-se, mesmo não em sua totalidade, mas em sua maioria, que professam algum tipo de religião protestante. E é por perceber isso que Weber procura articular tais fenômenos em sua obra e o presente artigo buscará expor pontos essenciais para o entendimento da obra além de buscar acrescentar elementos úteis ao conhecimento do leitor. 2 - A REFORMA E LUTERO: ELEMENTOS INICIAIS DE UMA DISCUSSÃO Não há como falar d A Ética Protestante e o espírito do capitalismo de Max Weber sem conhecermos as bases do que foi a Reforma Protestante e a influência de Lutero, portanto fazemo-lo nas linhas a seguir pois assim o leitor há de se contextualizar. Durante o período renascentista (período que marca a passagem da Idade Antiga para a Idade Moderna) a até então hegemônica Igreja Católica começou a perder seu poder sobre a população e a ser contestada. Um dos principais contestadores dos dogmas da Igreja Católica foi Martinho Lutero 6 que além de queimar em praça pública a bula papal 7, publicou também 95 teses reformadoras da Igreja Católica. Em suas teses, Lutero propunha uma nova Igreja onde a graça de Deus se estendia a todos que seguissem uma vida axiomática (adotando seu sentido de ordem), em parcimônia e fiel ao trabalho que exercia (à vocação profissional). Lutero defendia também a livre interpretação da Bíblia, por isso, foi um dos primeiros a retomar o trabalho de tradução da Bíblia para outros idiomas 8, pois a mesma era em latim e apenas os membros do corpo eclesiástico da Igreja (salvo raras exceções) conheciam o latim, o que permitia apenas uma interpretação da Bíblia (a interpretação da Igreja Católica). Enquanto que na Igreja Católica a Salvação 9 era obtida mediante não só pelo exercício da fé, mas também por meio das indulgências da própria Igreja (e a Salvação sendo concedida pela Igreja, por intermédio de seus representantes). Já, na Igreja Reformada de Lutero a Salvação seria obtida mediante a fé do crente em Deus e somente Ele poderia conceder a Salvação. Temos então uma mudança no estilo religioso de vida. Pois agora, todos aqueles que têm fé e que seguem os mandamentos de Deus, podem conseguir a Salvação. E não apenas aqueles que vão à Igreja carregando algumas moedas para comprar um terço e rezá-lo algumas vezes na esperança de que seus pecados sejam realmente perdoados com a bênção de um representante religioso... Portanto fica claro pelo já exposto que Lutero possui ligação direta com a Reforma. Como dito anteriormente, um fator importante para a nova religião é a apreciação da vocação profissional. 5 A Reforma Religiosa que há de ser mencionada em todo o artigo diz respeito ao processo histórico da Europa do século XVI cujas transformações afetaram radicalmente a esfera religiosa. 6 Martinho Lutero (Martin Luther em alemão) Teólogo alemão que viveu de 1483 a 1546. 7 A bula papal se caracteriza não apenas por seu conteúdo escrito, seu documento, mas também pelo símbolo que carrega consigo cunhado em chumbo ou ferro, que denomina e representa a autoridade papal. Queimá-la em praça pública constitui uma forma de ofensa grave à autoridade papal. 8 Lutero fez a tradução para o Alemão, mas não foi o primeiro a traduzir o Testamento para outro idioma. No início do Cristianismo, os próprios Judeus fizeram traduções do Velho Testamento para o idioma Grego como fonte de propagação da religião. 9 A Salvação aqui e doravante mencionada é a condição psíquico-mental que permeia a idéia de haver possibilidade da alma do crente ser despida dos pecados e direcionada ao Paraíso, Céu ou como seja tratada particularmente em outras religiões a condição de máxima de elevação espiritual.

3 - A VOCAÇÃO EM LUTERO A INOVAÇÃO TRADICIONAL Para iniciarmos a discussão de vocação em Lutero, recorremos ao início do terceiro capítulo da obra de Weber (2004), A ética protestante e o espírito do capitalismo, como uma introdução ao tema: Não dá para não notar que já na palavra alemã Beruf 10, e talvez de forma mais nítida no termo inglês, calling 11, pelo menos ressoa uma conotação religiosa a de uma missão dada por Deus, e quanto mais enfaticamente acentuamos a palavra num caso concreto, mais ela se faz sentir[...] Weber objetivamente inicia a discussão sobre vocação no prelúdio do capítulo 3 e prossegue desenvolvendo o tema, porém, irá se atentar ao caráter que lhe interessa para sua obra e discutirá o conceito de vocação adotado, vale dizer, teorizado por Lutero. Para Lutero, a vocação ou trabalho vocacional seria uma forma para se conseguir a graça de Deus, pois o engenho humano é de todo, capaz de coisas boas e vis e aquele homem que permanece fiel à sua vocação profissional e assim a mantém, segue os desígnios de Deus, pois Ele ordena que cada um atente-se à sua vocação. Ou seja, temos aí uma valorização do trabalho mundano (secular), por meio de uma profissão (vocação) adotada pelo indivíduo e à qual esse indivíduo deve zelar por sua permanentia. Tal atividade (o trabalho secular), até então abominado pela tradicional Igreja Católica, passa a ser um ponto a ser tratado devido às mudanças realizadas na religião devido à Reforma. Para a Igreja Católica, o ócio não-produtivo, a clausura em monastérios e mosteiros e um rigor provindo de uma ascese conduta extra mundana, eram bastante valorizados como meios de se alcançar Deus e sua Salvação 12. Porém, segundo as palavras do próprio Weber (2004)... em Lutero o conceito de vocação profissional permaneceu com amarras tradicionalistas. Mas, como pode um conceito inovador se submeter a essa contradição das amarras tradicionalistas? A inovação pressupõe exatamente a mudança do antigo e do tradicional, mesmo que seus novos aspectos sejam positivos ou negativos. Como pode um dos destaques da Reforma Luterana ser algo que não oblitera a categoria tradicional intrínseca à Igreja que é criticada? Weber (2004) desenvolve os motivos por considerar o conceito de vocação de Lutero ainda tradicionalista, pois para ele, a vocação, tal como é proposta por Lutero, direciona a conduta do indivíduo [...] à idéia de destinação : o indivíduo deve permanecer fundamentalmente na profissão e no estamento em que Deus o colocou e manter sua ambição terrena dentro dos limites dessa posição na vida que lhe foi dada. Dessa forma podemos perceber que mesmo valorizando o trabalho secular mundano, o conceito de vocação profissional de Lutero ainda faz o que a tradicional Igreja Católica fazia: pregava uma idéia estática de conduta de vida, uma vida serena e parcimoniosa. Para a Igreja Católica tradicionalista, o indivíduo deveria se contentar com o que possuía, levando uma vida pacata e simples, sempre pensando apenas no presente, tal como se preocupar com o que comer hoje (mas não com o que terá pra comer no amanhã ), o que fazer hoje (mas não se preocupar em o que fazer no amanhã )... A conduta de valorização do trabalho secular mundano de Lutero também possui essa característica: o indivíduo não poderia reclamar do trabalho que ele exerce (sua vocação profissional), como também deveria se contentar com os bens que possuísse e com a posição social 10 Beruf, do alemão, pode ser traduzido como vocação ou profissão. 11 Calling, do inglês, pode ser traduzido como chamado. Remete-nos à idéia do chamado divino. Esse chamado divino é uma crença presente entre os participantes de diversas religiões, principalmente entre seus paladinos, onde o indivíduo seria convocado por Deus através de um chamado. 12 Mas não nos esqueçamos dos mediadores e distribuidores da Salvação de Deus na terra: os representantes da Igreja Católica;

que ocupasse, pois a condição em que o indivíduo se encontra é justamente devido ad designius Deus e Este deseja que assim seja. Portanto é dessa forma com que Weber trata a questão da Vocação em Lutero. No luteranismo o conceito de vocação está ligado ao tradicionalismo e esse tradicionalismo nada contribui em aspectos significativos para o desenvolvimento da hipótese weberiana de espírito do capitalismo. Mas, a questão da vocação em Lutero não é totalmente descartável. Essa vocação profissional, presente no luteranismo, também se apresenta e fornece elementos necessários e centrais à religião protestante (e suas seitas). Passemos então a observar essa questão da vocação noutras religiões protestantes. 4 - JOÃO CALVINO 13 : O PROTESTANTISMO, A QUESTÃO DA VOCAÇÃO E PREDESTINAÇÃO. Assim como Lutero, João Calvino foi um transformador (reformador) da religião. Porém, diferentemente de Lutero (que vivencia amorosamente a existência religiosa), Calvino aplica uma rigorosa racionalização à existência religiosa e à conduta moral dentro da religião. Conhecida por Calvinismo, essa vertente da religião protestante teve forte influência na Inglaterra, França e les Pays-Bas 14. Não obstante, esses países foram os primeiros a desenvolverem o capitalismo moderno, mas deixemos esse fato para ser tratado posteriormente, atentemo-nos à questão da vocação em Calvino e sua Doutrina de Predestinação. A questão da vocação em Calvino é deveras interessante. Enquanto em Lutero a vocação profissional estava amarrada ao tradicionalismo, em Calvino ela faz o oposto: ela é racionalizada sistematicamente. Mas o que isso quer dizer? Recorramos a uma passagem da obra de Weber (2004): Para Calvino, não é Deus que existe para os seres humanos, mas os seres humanos que existem para Deus, e todo acontecimento incluindo pois aí o fato para ele indubitável de que só uma pequena parcela dos humanos é chamada à bem-aventurança eterna (predestinação) 15 pode ter sentido exclusivamente como um meio em vista do fim que é a autoglorificação da Majestade de Deus. Pela passagem retirada da obra de Weber podemos notar que os homens existem para Deus e uma forma de se glorificar Deus é a partir do trabalho, da vocação profissional do indivíduo. Mas onde está a diferença de Calvino e Lutero? Reside justamente que a vocação profissional é pensada de forma racional, onde o indivíduo deve (assim como em Lutero) possuir uma profissão mas (diferente de Lutero) deve trabalhar não apenas para seu sustento e por manter uma vida pacata mas sim para acumular ganhos e reinvesti-los para a graça de Deus. Para tal, o crente não pode se dar aos luxos de uma vida de ostentações fúteis. Não lhe é permitido abusar de suas finanças a menos que seja reinvestindo-as para que possa assim gerar mais riquezas e aplicá-las em Obras 16 que beneficiem outros, pois tudo o que ganhar, um dia há de prestar contas a Deus. É necessário levar uma vida de frugalidade, ou seja, uma vida regrada. Mas, o que faz com que o indivíduo se submeta a essa vida regrada, esse estilo de vida frugal? Entra em cena a doutrina da Predestinação de Calvino. A doutrina da Predestinação proposta por Calvino diz que entre os homens, há aqueles Predestinados por Deus e aqueles que não são abraçados por Ele. No calvinismo, o indivíduo se sente um predestinado, e como tal, deve sempre exercer a sua vocação profissional para gerar riquezas, armazená-las, reinvesti-las para gerar mais riquezas. Ou seja, trabalhar sempre, poupar 13 João Calvino (Jean Calvin, do francês) Teólogo francês que viveu de 1509 a 1564. 14 Os Países Baixos; Monarquia constitucional que faz parte da União Européia e que faz divisas com a Alemanha, a Bélgica e o Mar do Norte. Normalmente considerado por Holanda. 15 Inclusão nossa. Tal passagem diz respeito ao princípio de predestinação de Calvino que será tratado a seguir. 16 Adota-se por Obras o trabalho realizado pelo crente que visa a salvação espiritual.

para trabalhar mais e fazer mais riquezas, pois dessa forma glorifica a Deus e, como um predestinado, segue as ordens do Pai. Mas, e aqueles que não são os predestinados? Aqueles que são pobres e estão em classes sociais de baixo prestígio? Se eles não são predestinados e não são abraçados por Deus, não precisariam trabalhar certo? Bem, sob a ótica atual, provavelmente todo e qualquer leitor da obra de Weber pensaria algo semelhantes a: Se eu não sou um predestinado, não preciso trabalhar para ganhar sempre mais. Porém, convém lembrar que falamos de religiões de séculos anteriores, religiões essas que intersubjetivamente compartilhadas exerciam forte influência sobre as pessoas. Para Calvino, mesmo aquele que não se sentia um predestinado, deveria trabalhar para honrar e agradecer a Deus, pois os homens é quem vivem pra Deus e não o inverso 17. Dessa forma, temos aí uma conduta de vida, um ethos, calcado num ascetismo 18 intramundano, ou seja, numa conduta moral baseada no trabalho secular apoiado pela vocação profissional do indivíduo. Portanto, temos primeiramente a vocação em Lutero, que não sai do tradicionalismo, mas nos fornece elementos para o conceito de vocação em Calvino, que, ao lado de uma doutrina de predestinação do indivíduo que se submete à uma ascese mundana (por mais que a todo momento queira-se glorificar o Divino), garante um ethos de vida. E esse ethos que surge é o que será relacionado com o espírito do capitalismo pensado por Weber. 5 - AS CATEGORIAS DE CALVINO E SUA RELAÇÃO COM A ÉTICA PROTESTANTE Weber formula sua hipótese a partir da relação entre o ethos econômico e a ética racional do protestantismo ascético: a vivência espiritual da doutrina protestante e a conduta religiosa exigida pelo protestantismo teriam organizado uma maneira de agir econômica necessária para a realização de um lucro sistemático. O espírito do capitalismo é um tipo ideal que tem por base os conceitos de ética social do dever profissional e o trabalho como vocação. Sumariamente, vocação aqui se entende como uma posição de vida em termos de um trabalho definido. E o trabalho como vocação seria um trabalho como um fim em si mesmo; trabalhar arduamente, se especializar, se dedicar, porque desta forma, se aproxima de Deus. Assim sendo, para o autor, as práticas religiosas calvinistas teriam um significado mais rico para a investigação, do que as práticas luteranas. O primeiro permitiria melhor relação da ética protestante com o desenvolvimento do espírito do capitalismo. A ética calvinista deriva das idéias prescritas na Bíblia Sagrada (tanto o novo testamento quanto o velho) e também nas idéias de Santo Agostinho, São Tomás de Aquino, entre outros. As idéias de Calvino pregam Deus como o Todo-poderoso criador do universo e todas as coisas nele existentes inclusive o homem, que o criou à sua imagem e semelhança no sentido moral. Assim os homens refletem as virtudes divinas relacionadas à ética e moralidade entre a principal delas, o amor. O relacionamento genuíno do homem com Deus vem do amor. Por parte de Deus, este amor se expressou quando enviou Jesus Cristo para morrer pelo pecado dos homens. Por parte dos homens, ele deve expressar o amor a Deus acima de todas as coisas, a si mesmo e ao próximo: Se alguém disser: amo a Deus e odiar a seu irmão, é mentiroso; pois aquele que não ama a seu irmão, a quem pode ver, não pode amar a Deus, a quem não vê 19. Desta forma, o amor ao próximo se expressaria pelo trabalho em favor do bem comum, e este trabalho seria uma expressão da fé e amor em Deus. Isto fica claro no trecho bíblico do livro de Tiago 2:18: com obras mostrarei minha fé. Weber (2004:99) se refere a isto em outros termos: 17 E temos que nos contentar com tal proposição pois maiores explicações sobre isso não são visíveis na obra. 18 Ascetismo adotado como uma conduta moral/religiosa que o individuo se submete a fim de alcançar uma perfeição moral. 19 I São João 4:20.

Mas Deus quer do cristão uma obra social porque quer que a conformação social da vida se faça conforme seus mandamentos [...] o amor ao próximo [...] expressa-se em primeiro lugar no cumprimento da missão vocacional-profissional imposta pela lex naturae, e nisso ele assume um caráter peculiarmente objetivo-impessoal: trata-se de um serviço prestado à conformação racional do cosmos social que nos circunda. Então, o calvinismo acrescentou um conteúdo importante: a necessidade de comprovação da fé na vida profissional mundana, sistematizando a conduta de vida ética. A idéia principal do modo de pensar se assenta sob alguns princípios: a extrema valorização do trabalho; a idéia de profissão enquanto uma vocação; e a busca pela salvação individual. A ocupação seria instituída por Deus e cada um deveria adaptar-se à ela. Segundo Weber, a doutrina da soberania divina e a doutrina da predestinação teriam formado o que ele chamou de individualismo protestante. A doutrina da predestinação divina profere que existem os homens que são eleitos por Deus para a salvação; e outros que são eleitos para a morte eterna. A doutrina da predestinação é o fundamento dogmático da moral puritana, na perspectiva de uma conduta de vida ética e metódica marcada pela racionalização. A graça para Calvino é inata. Deus elegeu os bem-aventurados para a salvação. Tal mandato é irrevogável; seus desígnios não podem mudar. Uma parte da humanidade será salva e a outra será condenada. Os atos, boas vontades e sacramentos não podiam alterar a autoridade divina. Isso criou segundo Weber, uma inacreditável solidão interna do indivíduo, pois, ninguém poderia ajudá-lo. Ele seguia os mandamentos para glorificar a Deus. É necessário fazer aqui alguns comentários sobre o estado mental de confiança, que implicava na certeza que o indivíduo era realmente um dos predestinados. Calvino não tinha dúvidas: se sentia como escolhido por Deus para a salvação. Para tal autoconfiança a intensa atividade profissional era o meio mais adequado para se livrar da dúvida. Ou seja, uma atividade secular era o meio apropriado para a libertação da ansiedade religiosa. A prática ascética (exercício prático, diário que leva à plenitude da vida moral), a conduta para elevar a graça de Deus, seriam então certificadores do estado de graça. As boas obras nunca ocasionariam na salvação, porém, é um meio extremamente eficaz para a libertação do medo da condenação. O calvinista buscava estas práticas na santificação pelas obras, não de forma isolada, mas sim de forma unificada por um tipo metódico de conduta ética decisiva na influência sobre a vida prática. Quando se analisa no calvinismo a questão da riqueza, percebe-se que ela constitui em si sérios perigos tais como o seu gasto no ócio ou nos prazeres carnais representava o abandono da santidade. O momento dependido no ócio poderia estar glorificando a Deus. A perda de tempo é, assim, o primeiro e em princípio o mais grave de todos os pecados (Weber, 2004:143). Ao invés disto, o homem deveria estar se dedicando à sua vocação. A todos os homens foi imposta esta vocação, onde cada um deve-se dedicar para a honra divina; não importa se este trabalho é físico ou mental. O enriquecimento por esta via não é condenável, pois, o ato de trabalhar para ser rico para Deus é uma virtude; o que é censurável é a questão da riqueza constituir uma tentação para a vadiagem e para as práticas pecaminosas. Convém agora explicitar os pontos pelos quais a concepção puritana de vocação e a requisição de um modo de via ascético veio a influenciar no desenvolvimento do estilo de vida capitalista, ou no espírito do capitalismo. Adquirindo seu mais alto expoente representativo com os puritanos, estes demonstravam oposição em relação aos gastos em relação às práticas carnais. Com isso, vem uma série de repúdios a certas coisas mundanas: o esporte só era bem visto se fosse para aprimorar a eficiência do corpo, e não como impulso de prazeres aos jogos; o teatro era visto como expressão de sensualidade, e arte só era bem concebida no caso da decoração pessoal 20. O não-ascético deveria ser totalmente rejeitado pelo fato de não contribuir para a glória de Deus. Os puritanos deveriam prestar conta de cada centavo, eles deveriam ser cautelosos com tudo que lhes foi dado: eles deveriam aumentar a riqueza pelo trabalho sistemático ou pela poupança, ou 20 Convém destacar que os conceitos como idle talk {conversa-mole}; superfluities {superfluidades}; vain ostentation {ostentação vã} era vistos como caminhos que não levavam à glória de Deus, mas sim a do homem e que estavam fortemente ligados às manifestações de prazeres das artes;

seja, reinvestir, recolocar no processo (assim estaria demonstrando o amor ao próximo e a si mesmo, como também o amor a Deus). Ora, isto representa claramente uma conduta capitalista. Os gastos irracionais eram assim rejeitados. Na produção riqueza, a ganância e a desonestidade eram condenadas pela ascese; pelo contrário a riqueza pelo trabalho infatigável era bem vinda, e mais, era um sinal que o indivíduo era um dos eleitos. E mais: [...] a valorização religiosa do trabalho profissional mundano, sem descanso, continuado, sistemático, como meio ascético simplesmente supremo e a um só tempo comprovação o mais segura e visível da regeneração de um ser humano e da autenticidade de sua fé, tinha que ser, no fim das contas, a alavanca mais poderosa que se pode imaginar da expansão dessa concepção de vida que aqui temos chamado de espírito do capitalismo. (WEBER, 2004:156-157) E ainda somando com a restrição do consumo e a liberdade de buscar riqueza decorre a acumulação capitalista através da compulsão ascética da poupança. Os tabus impostos permitiram o investimento de capital. Assim sendo, na medida em que a influência do modo de vida puritano foi se estendendo, ela permitiu o desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa. É a idéia de ganhar tudo quanto pode e poupar o tanto quanto puderem. É a ética profissional burguesa. Isto só se dá mediante um longo e árduo processo de educação que necessita de lutar contra o tradicionalismo. Nas palavras de Franklin (apud Weber,2004):...quando se gasta desnecessariamente uma quantia não se perde apenas ela, mas tudo o que ela poderia gerar. O autor ressalta que um dos componentes fundamentais do espírito moderno de capitalismo tem como um dos componentes a conduta racional baseada na idéia da vocação oriundo do espírito da ascese cristã. O que orienta este espírito é a ética social do dever profissional: do trabalho como um fim em si mesmo, como vocação. É importante lembrar que para que este espírito /ética/modo de vida pudesse dominar os outros modos, ele deveria aparecer em grupos, em modos comuns de vida, e não em indivíduos isolados. Entender o espírito do capitalismo ocidental é entender sua mentalidade: a racionalização da vida; a criação de um ethos, a efetivação da ação econômica capitalista: aquela que se baseia nas oportunidades de troca formalmente pacíficas de lucro, que é feita por meio de um balanço racional para a efetivação inicial da empresa, e final para a obtenção de lucro. Portanto, damos fim às nossas articulações e esperamos ter conseguido demonstrar as relações do pensamento calvinista com o surgimento de uma ética protestante, bem como as bases dos conceitos de vocação presentes no pensamento de Calvino e Lutero. Procuramos fazer toda uma contextualização inicial da questão da vocação em ambos reformadores para relacionarmos as bases com o foco principal da obra do Weber: a criação de um ethos que caracterize o capitalismo tal como ele é visto no ocidente e não em outras partes do mundo. AGRADECIMENTOS Agradecemos a todos os nossos amigos de classe que nos apoiaram no decorrer de construção desse trabalho. Agradecemos principalmente à professora Dra. Eliane Schmaltz Ferreira que nos acompanha desde o nosso ingresso na Universidade e que nos corrige rigorosamente com seu alto teor metodológico. Agradecemos também a nossos orientadores de nossas áreas de pesquisas afins por nos apoiarem e humanamente se doarem para nos guiar nos caminhos acadêmicos. Agradecemos também aos realizadores e aos participantes da 5ª Semana Acadêmica da Universidade Federal de Uberlândia Universidade Necessária: Utopias+Distopias.

REFERÊNCIAS FERREIRA, F; Uma Introdução à Max Weber e à obra A ética protestante e o Espírito do Capitalismo ; Disponível em: http://www.mackenzie.com.br/teologia/fides/vol05/num02/franklin.pdf ; Último acesso: Uberlândia, 3 Agosto 2007; 15:37; WEBER, M; A ética protestante e o espírito do capitalismo. Ed. Comemorativa; Tradução: Antônio Flávio Pierucci; São Paulo: Companhia das Letras, 2004. 355 p. A ÉTICA PROTESTANTE E O ESPÍRITO DO CAPITALISMO: UMA ANÁLISE DAS CATEGORIAS DO PENSAMENTO DE CALVINO, A ÉTICA PROTESTANTE E O CONCEITO DE VOCAÇÃO DA RELIGIÃO REFORMADA. Felipe de Oliveira e Silva 21 Federal University of Uberlândia felipewavemaster@gmail.com Vinícius Oliveira Santos 22 Federal University of Uberlândia vinicius.oliv@yahoo.com.br Abstract: The book A ética protestante e o espírito do capitalismo by Max Weber bring us important elements to think about society, because the author seeks the historical origins of conducts that leads to the formation of Western capitalism society. This paper seeks to demonstrate the relationship between the theories of John Calvino with Protestant Ethics and also the concept of this vocation in the theories of Luther and Calvino for the forth of the capitalism s spirit. Thus, will clarify relationships that leads to formation of a propellant spirit of capitalism based in religious formations. Keywords: Capitalism, Ethics, Protestant, Vocation, Weber 21 Felipe de Oliveira e Silva is graduating in Social Science by the Federal University of Uberlândia. Research the theme Young Japanese Culture under the guidance of Dra. Alessandra Siqueira Barreto. Member coordinator of Anthropology and Anthropologies studies s group, also administrator and reviewer of articles published by the group. 22 Vinícius Oliveira Santos is graduating in Social Science by the Federal University of Uberlândia. Research the theme Material Work and Immaterial Work under the guidance of Dr. Edilson Jose Graciolli. Currently a member of the Research Group: Workers, Unionism and Policy (GPTSP) at the Federal University of Uberlandia.