TRABALHO DE CAMPO: vivências e experiências na Amazônia brasileira Sandra Célia Muniz Magalhães Sandra.muniz@unimontes.br Noriel Viana Pereira noriel@estes.ufu.br Samuel do Carmo Lima Samuel@ufu.br Resumo Este artigo tem como objetivo discutir a importância da pesquisa de campo no ensino de Geografia e relatar experiências obtidas na Amazônia brasileira, momento em que foi possível aliar teoria à prática, pois vivenciamos elementos que até então só era possível analisar através de estudos teóricos. O método utilizado consistiu em levantamento bibliográfico acerca da temática e apresentação dos resultados obtidos através do trabalho de campo realizado em Manaus e algumas áreas do seu entorno, como Comunidade Terra Nova, no município de Careiro da Várzea - AM. Neste contexto, podemos pontuar que o estudo do meio é de grande importância para o ensino-aprendizagem. No trabalho de campo foi possível entender como esse método nos apresenta as diversas possibilidades de recortar, analisar e conceituar o espaço. Nesta experiência tivemos a oportunidade de conhecer um pouco da Amazônia tão falada, cheia de mistérios e fantasias que fertilizam o imaginário popular, principalmente o nosso, pois estamos distantes e só tínhamos contato por livros e vídeos. Seus mitos percorrem sua gente e seu povo, tratam de figuras mitológicas e, também, de misticismos. A vivência do trabalho de campo se traduz em conhecimento para a vida, que fortalece e enriquece o processo ensino-aprendizagem. Palavras-chave: Trabalho de Campo, ensino-aprendizagem, Amazonas Introdução No contexto histórico da Ciência Geográfica ocorreu uma dificuldade em articular a teoria e prática, devido à dicotomia entre a Geografia física e a Geografia humana, uma vez que o olhar do pesquisador enfatizará sempre a área humana ou a física, dependendo da tendência de cada sujeito. É importante ressaltar que não se pode dar ênfase apenas à base teórica ou apenas a prática, devendo ocorrer uma junção entre esses métodos, pois, através do trabalho de campo, o pesquisador analisa e conceitua assuntos discutidos nas aulas teóricas e tem a possibilidade de vivenciar o que leu, assim ir a campo se torna mais um elemento do conjunto. Quando existe uma 1
2 interação do pesquisador com o objeto, a pesquisa ganha vida, possibilitando-o modificar e transformar o objeto de pesquisa. Dessa forma, este artigo tem como objetivo discutir a importância da pesquisa de campo no ensino de Geografia e também relatar a experiência de trabalho de campo realizado na Amazônia brasileira, momento em que foi possível aliar a teoria à prática, já que vivenciamos elementos que até então só era possível analisar através de estudos teóricos. O método utilizado nesse trabalho consistiu em pesquisa bibliográfica acerca da temática e apresentação dos resultados do trabalho de campo realizado em Manaus e algumas áreas do seu entorno, como Comunidade Terra Nova localizada no município de Careiro da Várzea, Estado do Amazonas. Essa pesquisa foi de fundamental importância para ampliar nosso conhecimento acerca do trabalho de campo como ferramenta para o processo ensino-aprendizagem, possibilitando observar e colocar em prática a aprendizagem adquirida nos anos de estudo. Tivemos a oportunidade de conhecer um pouco da Amazônia tão falada, cheia de mistérios e fantasias, que fertilizam o imaginário popular, principalmente o nosso, pois estamos distantes e só tínhamos contato por livros e vídeos. Seus mitos percorrem sua gente e seu povo, tratam de figuras mitológicas e também de misticismos. A vivência do trabalho de campo se traduz em experiência para vida, conhecimento que se fortalece e enriquece o processo ensino-aprendizagem. Geografia: O Trabalho de Campo no processo Ensino/Aprendizagem Os trabalhos de campo fazem parte do método de trabalho do Geógrafo mesmo antes da sistematização da Geografia como Ciência, pois as descrições do espaço e quantificações de diversos fenômenos fornecidos por viajantes, mascates, ambulantes, entre outros foram fundamentais para a construção das bases da Geografia atual. No que se refere ao Brasil, esse método também não é recente, pois estudos apontam que faz parte das práticas de ensino de diversos estudiosos há mais de um século. Confirmando essa assertiva Lopes e Pontuschka (2009, p. 176) destacam que: O Estudo do Meio não é uma prática pedagógica nova no universo educacional brasileiro. Faz parte, na verdade, de uma tradição escolar que, inspirada em educadores tais como Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909) e Célestin Freinet 2
3 (1896-1966), tem por objetivo proporcionar aos estudantes uma aprendizagem mais perto da vida, ou seja, um contato mais direto com a realidade estudada, seja ela, natural ou social. O trabalho de campo conforme Silva (2002, p. 2) pode ser entendido como uma técnica para a realização do estudo do meio. Na visão de Pontuschka (1994, p. 26) é "um método para conhecer um objeto de estudo extraído da realidade local ou de outras realidades". Sendo assim, o estudo do meio pode ser entendido como método de ensino interdisciplinar que tem em vista o contato direto com um determinado meio, seja urbano ou rural, tendo como propósito desvendar a realidade pré determinada, para a partir daí produzir um conhecimento novo. De acordo com Ruellan (1944) citado por Silva (2002, p.03), o propósito das excursões é ensinar o estudante como se trabalha no campo para chegar à descoberta de novas relações entre os fatos e as novas interpretações de Geografia Regional, de onde se poderá tirar elementos para as comparações indispensáveis à Geografia Geral. Nas palavras de Marcos (2006, p.6): Penso que a maior parte dos geógrafos concorde com o fato de que a ida a campo seja um instrumento didático e de pesquisa de fundamental importância para o ensino e pesquisa da/na Geografia, pois o trabalho de campo como recurso didático é essencial para a visualização das abordagens realizadas em sala de aula, já que é neste momento que se pode aplicar a teoria na prática. A importância do planejamento é fundamental para que ocorra realmente o ensino/aprendizagem/produção do conhecimento. Com a institucionalização da Geografia a partir de 1930 no Brasil, ocorre, no centro das discussões da Geografia Tradicional, um significativo desenvolvimento do trabalho de campo em função da forte influência da escola francesa e também dos naturalistas no Brasil, a partir desse momento, a prática torna-se uma ferramenta indispensável na observação e descrição do meio. Entretanto, após a segunda Guerra Mundial, com as crises econômicas e sociais, os geógrafos passaram a percorrer novos caminhos que buscassem atualizar ou romper com os princípios da geografia clássica. Diversos estudiosos da temática (RUA, ALENTEJANO E ROCHA-LEÃO, MAMIGONIAN, ANDRADE) apontam que até 1970 a Associação dos Geógrafos Brasileiros -AGB- teve 3
4 importante papel na divulgação dessa prática, já que em seus primeiros congressos eram disponibilizados espaços de discussão para os trabalhos de campo, momento em que eram apresentadas pesquisas e experiências nesse sentido. A partir de 1970 com a hegemonia da escola quantitativista, a AGB passa a não difundir mais o trabalho de campo e o mesmo é retirado da sua grade. O método de ensino deixou de ter o seu real valor na Geografia, sendo priorizados os procedimentos matemáticos e tecnológicos para entendimento da realidade. Alentejano e Rocha-Leão (2006, p.55) mostram que foi a partir dos anos 1970, quando no rastro da hegemonia da Geografia Teorético-Quantitativa os trabalhos de campo passaram a ser execrados e praticamente riscados do mapa das práticas dos geógrafos [...]. Entendiam os adeptos dessa corrente que as tecnologias da informação e os modelos matemáticos responderiam melhor às necessidades de investigação da realidade da época. Em texto publicado em 1977, Lacoste (2006, p. 86) afirma que a maioria dos estudantes se limita apenas a reprodução do conhecimento, já que não tiveram a oportunidade de conhecer as diversas possibilidades que teriam de produzir, por si mesmos elementos de um saber novo. O autor aponta ainda a necessidade de atentarmos para o perigo do desaparecimento da Geografia nas Universidades por falta de estudantes, sendo necessário iniciá-los na pesquisa ainda no início dos seus estudos. Fato esse que poderá auxiliar também como prática acadêmica, caso tenham a oportunidade de trabalhar nos Liceus ou colégios. Assim, a partir da pesquisa e do trabalho de campo, poderão apontar problemas existentes na área de pesquisa e buscar soluções. Nas abordagens iniciais da Geografia Crítica, o empirismo predominante na Geografia Tradicional é criticado e, dentro desse contexto, a validade do trabalho de campo também é questionada em razão da ênfase dada à teoria como construção do pensamento geográfico. Alentejano e Rocha-Leão (2006, p. 55) ratifica essa idéia afirmando que [...] a radicalização crítica ao empirismo dominante na Geografia tradicional levou a uma negação da validade do trabalho de campo como instrumento de construção do pensamento geográfico, em função da ênfase conferida à teoria. É nesse momento que surge a possibilidade de reflexões sobre categorias geográficas, como lugar e paisagem. 4
5 Outro fator importante em relação ao trabalho de campo é a objetividade, Marcos (2006, p.113-114) destaca: A objetividade do trabalho, entendo, é garantida quando o pesquisador, mesmo ligado através de laços de afeto às pessoas que pesquisa, é capaz de distanciar-se deles e da realidade por eles vivida e que ele está estudando e apontar os problemas ali existentes. Dessa forma entendemos que o trabalho de campo deve contribuir para que sejam detectados os problemas existentes em determinados espaços com vista à transformação daquela realidade, e para que isso ocorra é preciso que o pesquisador se desvincule dos laços de afetividade. Nos últimos anos vislumbramos o retorno dos trabalhos de campo nos Congressos e Universidades brasileiras, inclusive nos Encontros da AGB, porém com menos intensidade que anteriormente. Percebemos também que na atualidade (2010), grande parte dos trabalhos de campo não possibilita o aprendizado necessário para se construir teorias concisas, pois na maioria das vezes não se segue um Projeto previamente construído e debatido. Um trabalho de campo como instrumento didático deve ser realizado com o intuito de contribuir para a ampliação dos conhecimentos já adquiridos, sendo assim é necessário que seja bem planejado e discutido. Devemos entender também que o espaço está em constante movimento e que o geógrafo deve ficar atento a tais mudanças. É dever do geógrafo buscar o entendimento da realidade contextualizando-a e dialogando sempre com o espaço geográfico através dos trabalhos de campo, ultrapassando as fronteiras verbais. Trabalho de Campo: vivências e experiências na Amazônia Brasileira A oportunidade de realização do trabalho de campo na Amazônia Brasileira surgiu por meio da participação no IX Curso de vetores, controle biológico e mudanças climáticas realizado pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia - INPA. O curso teve a participação de pesquisadores tanto da Amazônia, como Manaus, Coari e Rondônia, como também de São Paulo, Olivença e Minas Gerais. Os participantes eram geógrafos, biólogos, filósofos, cientistas 5
6 sociais, profissionais da educação física, enfermagem, geólogos, entre outros, sendo graduados e graduandos, totalizando 60 (sessenta) pessoas. O trabalho de campo foi coordenado por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia INPA - (Wanderli Pedro Tadei, Iléia Brandão e Sérgio Bringel). A programação do curso incluiu atividades como a apresentação de pesquisas na área de vetores e doenças tropicais e teve como finalidade o embasamento teórico das disciplinas. As atividades programadas tiveram a participação de renomados profissionais e pesquisadores de Instituições nacionais e internacionais que divulgaram seus estudos sob a forma de seminários e palestras abrangendo as diversas áreas do conhecimento. Os seminários e palestras foram intercalados de calorosos debates, possibilitando a elaboração de questionamentos, como também de algumas reflexões sobre a ida a campo, o que fazia parte da programação do curso. Alentejano & Rocha-Leão (2006, p. 57) afirmam que: Fazer trabalho de campo representa, portanto, um momento do processo de produção do conhecimento que não pode prescindir da teoria, sob pena de tornar-se vazio de conteúdo, incapaz de contribuir para revelar a essência dos fenômenos geográficos. Portanto, entendemos que os pontos a serem trabalhados devem ser amplamente debatidos para que ocorra interação entre os grupos e para que os estudantes não sejam meros expectadores e sim parte desse projeto. Assim, o trabalho de campo não se tornará apenas um passeio e sim uma pesquisa aprofundada, permitindo construir teorias. Para Alentejano & Rocha-Leão (2006, p. 63): [...] se estas excursões forem previamente preparadas, instigando-se os alunos a problematizar o que vão ver, a preparar o que vão perguntar e refletir acerca do que vão observar podem representar uma importante contribuição para o processo de formação destes como pesquisadores. Nesse sentido é possível afirmar que o trabalho de campo foi planejado com o intuito de propiciar a compreensão da dinâmica daquele espaço previamente determinado e não uma mera observação da paisagem, pois no decorrer dos seminários foram apresentados e discutidos tópicos envolvendo as diferentes atividades que seriam desenvolvidas na localidade do trabalho de campo. Alentejano & Rocha-Leão (2006, P. 58) pontuam que [...] devemos compreender o trabalho de campo como uma ferramenta a serviço dos geógrafos, desde que articulada com a 6
7 teoria, capaz de possibilitar a conexão da empiria com a teoria. Para ampliação das discussões foram ainda abordadas temáticas como interação parasita-vetor, mosquitos transgênicos, doença de Chagas, malária, dengue, leishmaniose e controle biológico usando bioinseticida bacteriano. Após discutir intensamente as temáticas a serem trabalhadas no campo, no dia 01 de novembro de 2009 no INPA, foi possível conhecer parte da vasta flora e fauna características da região, pois o Instituto abriga um bosque que possui Trilhas Educativas, Tanques de Peixe-Boi, viveiro de Ariranhas, Casa da Ciência, Ilha da Tanimbuca, Casa da Madeira, Condomínio das Abelhas, Paiol da Cultura, Trilha Suspensa, Lago Amazônico, viveiros dos Jacarés, Orquidário e Bromeliário e Fauna Livre, ou seja, um verdadeiro mosaico da Amazônia brasileira. Essa miniatura do ecossistema amazônico propicia aos manauaras e visitantes a oportunidade de conhecer praticamente todas as espécies da fauna e flora da Amazônia brasileira (FIGURA 1). Às 08h00min saímos do INPA em direção ao local previamente selecionado, distante 20 quilômetros de Manaus no distrito Terra Nova, município de Careiro da Várzea. O principal objetivo do trabalho era conhecer na prática como são realizados os estudos sobre os mosquitos na região. Entretanto, como Geógrafos, nosso olhar não se limitou apenas a esse objetivo. Sendo assim, desde a saída foi possível analisar diversas possibilidades de estudo, tanto na área urbana, como na rural, questões que iam desde a avaliação do saneamento básico, à verticalização da cidade de Manaus, ao modo de vida dos moradores da Comunidade Terra nova e sua relação com aquele espaço. De acordo com Serpa (2006, p. 10) O trabalho de campo deve se basear na totalidade do espaço, sem esquecer os arranjos específicos que tornam cada lugar, cidade, bairro ou região uma articulação particular de fatores físicos e humanos em um mundo fragmentado, porém (cada vez mais) articulado. Seguindo nessa direção era necessário analisar as particularidades de cada local sem perder o foco, ou seja, compreender a totalidade daquele espaço. 7
8 Figura 01: Fauna do INPA Fonte: Viana, 2009 Em todo o percurso até a Comunidade Terra Nova nos deparamos com situações nunca antes vividas, foram experiências únicas que muito contribuíram para a ampliação dos nossos conhecimentos geográficos, principalmente de Geografia Regional: a fauna, flora, paisagens naturais, modos de vida de sua população, enfim uma infinidade de informações peculiares à Amazônia. Ao chegar ao Porto de Manaus compreendemos a famosa frase na Amazônia o rio comanda a vida, são barcos de todos os tamanhos e de diferentes formas, empilhados de pessoas e cargas (FIGURA 2). Vê-se então que não é possível trafegar de outra maneira a não ser através dos barcos. Outras situações reforçam a idéia de que realmente sem o rio não há vida na Amazônia. O período em que ocorreu o trabalho de campo é a época em que os rios reduzem o volume de água nessa região, momento em que o povo ribeirinho fica ilhado, faltando até os produtos básicos de sobrevivência, pois a única maneira de se locomover é através dos rios. 8
9 Figura 2: Barcos no Porto de Manaus Fonte: Magalhães, 2009 Ao observar a cor escura das águas do rio Negro e a amarelada do rio Solimões, fica mais fácil entender as leituras sobre os rios de águas pretas, águas claras e águas barrentas da Amazônia brasileira. O encontro das águas dos rios Negro e Solimões é um fenômeno de rara beleza (FIGURA 3). O correr paralelo dos dois rios permanece por mais ou menos dez quilômetros sem se misturar. A infinidade de sentimentos que surgem ao estar no meio de um dos rios mais famosos do mundo é inexplicável, é como realizar um sonho de muitos brasileiros que imaginam conhecer a Amazônia e jamais terão a oportunidade de fazê-lo. 9
10 Figura 3: Encontro da Águas do Rio Negro com o Rio Solimões Fonte: Magalhães, 2010 Ao chegar, fomos recebidos pelo representante da comunidade, que indicou onde nos alojaríamos. Já na chegada nos deparamos com diversas novidades, como as casas suspensas - palafitas (FIGURA 4), uma das maneiras de enfrentar as enchentes do rio Amazonas. Em conversa informal com alguns moradores, eles afirmaram só sair das casas quando a água está a dois palmos do assoalho, depois saem e vão para Manaus, só voltando quando as águas baixam. Também foi possível conviver com os animais soltos e bem próximos (FIGURA 5). Figura 4: Palafitas Figura 5: Bicho-preguiça Fonte: Magalhães, 2009 Fonte: Viana, 2009 10
11 Após nos instalarmos, recebemos as primeiras orientações dos coordenadores e seguimos ao local onde desenvolveríamos os trabalhos. Porém, nossos olhares atentos não deixaram escapar a oportunidade de observar todas as possibilidades de produção de conhecimento. A cada passo selva adentro, vivenciávamos o desconhecido: a vitória-régia (FIGURA 6), a grandiosidade das árvores como a imensa samaúma (Figura7) e as passarelas sobre os Igarapés, estratégia de sobrevivência, pois suas águas sobem e descem de acordo com as cheias da região. Tudo isso, até então, só conhecíamos em fotos. Figura 6: Vitória-régia Figura 7: Samaúma Fonte: Magalhães, 2009 Fonte: Viana, 2009 Foram dois dias de intenso trabalho na Comunidade Terra Nova, onde foram realizadas diversas atividades. Inicialmente foi feito o reconhecimento das áreas a serem estudadas acompanhadas de aulas expositivas com explicações da dinâmica do trabalho. Foram divididos quatro grupos, cada grupo ficou responsável pela análise de uma parte do Igarapé, previamente escolhido para o desenvolvimento dos trabalhos. Como instrumento de trabalho utilizamos uma ficha guia para identificação do criadouro, que abarcava informações como ph, temperatura da água, temperatura ambiente e natureza; se permanente, temporária, com ou sem correnteza, límpida ou turva e salobra. Com relação à vegetação, identificamos se era predominante vertical ou horizontal, rica ou pobre em matéria orgânica e se havia presença de algas flutuantes. Além da ficha usamos conchas, armadilhas, bioinseticida e microscópio. O conhecimento do ambiente é 11
12 necessário para nos cientificarmos se a área de estudo é propícia ou não para a proliferação dos mosquitos. O primeiro trabalho foi coletar amostras de água da área que cada grupo se responsabilizou para analisar. Depois da análise da água, iniciamos a contagem larval pelo método da conchada, para determinar a densidade larval da nossa área, e logo após era feita a aplicação do bioinseticida. No fim do dia as larvas eram identificadas como anopheles, aedes, culex aedeomyia ou uranotaenia, determinando também o seu estágio larval. Outro método utilizado para o conhecimento do mosquito foi através de iscas humanas, quando à noite íamos ao mesmo local servir de iscas, um grupo usando repelente e outro sem, também colocamos armadilhas para captura de flebotomineos adultos, essas armadilhas ficaram doze horas expostas e foram retiradas no dia seguinte pela manhã. Nessas armadilhas eram utilizadas uma fonte luminosa e CO 2 para atrair os adultos. Na manhã seguinte recolhemos as armadilhas e nos pusemos a contar e identificar os flebotomineos adultos. Toda identificação foi realizada com auxilio de um microscópio e, nesse momento, aprendemos a realizar essa identificação com base na estrutura e padrões de coloração dos insetos. Nesse mesmo dia realizamos a segunda coleta larval para determinar a densidade larval após aplicação do bioinseticida, dessa forma foi possível avaliar sua eficiência, sendo que encontramos uma densidade realmente menor do que do dia anterior, demonstrando a real eficácia do produto. O trabalho de campo nos proporcionou um aprendizado que foi muito além dos conhecimentos realmente adquiridos neste curso, como o contato com a floresta, a oportunidade de estar debaixo de uma árvore centenária, como a samaúma, e o convívio harmonioso com animais típicos da região, além do aprendizado de todas as fases de controle biológico de vetores. Foi possível ainda entender como a nossa relação com o ambiente pode propiciar um espaço doente ou saudável. Todas as etapas do trabalho de campo foram enriquecedoras, constituindo-se em uma importante ferramenta no processo ensino aprendizagem, seja em Geografia ou qualquer outra área do conhecimento. Considerações Finais 12
13 Uma aproximação da realidade vivida. Essa afirmativa representa como podemos entender de forma bem simples o que pode significar o trabalho de campo para o processo ensino-aprendizagem, independente de qual ciência o usa para apresentar os fatos como são. Esse desvelar da realidade, fora das salas de aula, proporciona ao aluno um conhecimento de causa e efeito, dando mais solidez ao conhecimento adquirido e proporcionando uma visão ampla da realidade que se estuda. O aprendizado adquirido a partir desse trabalho de campo foi além das expectativas, pois a experiência vivenciada possibilitou vários encontros importantes: primeiro, um encontro com a grandiosidade da floresta amazônica e toda sua biodiversidade, segundo, a possibilidade de por em prática o conhecimento adquirido nas exposições teóricas, e por último, o reconhecimento da magnitude que as ações do homem sobre o meio em que vive pode preservá-lo ou destruí-lo. Referências ALENTEJANO, Paulo Roberto Raposo; ROCHA-LEÃO Otávio Miguez da. Trabalho de campo: uma ferramenta essencial para os Geógrafos ou um instrumento banalizado? Boletim Paulista de Geografia, N. 84, São Paulo SP, 2006..AGB Rio: 68 anos de História. Terra Livre, ano 20 Nº 22. São Paulo: AGB, jan/jul, 2004. ANDRADE, Manuel Correia de. A AGB e o pensamento geográfico no Brasil. Terra Livre, 9. São Paulo: AGB, 1991. BAITZ, Ricardo. A implicação um novo sedimento a se explorar na geografia? Boletim Paulista de Geografia, N. 84, São Paulo SP, 2006. LOPES, Claudivan S.; PONTUSCHKA, Nídia N. Estudo do meio: teoria e prática. Geografia (Londrina) v. 18, n. 2, 2009. Disponível em: <http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/geografia/>. Acesso em 24/06/2010. MAMIGONIAN, Armen. A AGB e a produção geográfica brasileira: avanços e recuos. Terra Livre, 8. São Paulo, 1991. MARCOS, Valéria de. Trabalho de campo em geografia: reflexões sobre uma Experiência de pesquisa participante. Boletim Paulista de Geografia. N. 84. São Paulo - SP, 2006. 13
14 SERPA, Ângelo. O trabalho de campo em Geografia uma abordagem teórico-metodológica. Boletim Paulista de Geografia, N. 84. São Paulo - SP, 2006. SILVA, Ana Maria Radaelli da. Trabalho de Campo: prática "andante" de fazer Geografia. Geo UERJ. Revista do Departamento de Geografia, Rio de Janeiro n. 11. p. 61-73 jan. 2002. 14