GÊNERO, ENVELHECIMENTO E DENGUE Ms. SANDRA MARIA DE CARVALHO BRITO 1 DENISE DE SENA ABINTES COBELLO 2 RESUMO O presente artigo terá como objetivo discutir a dengue e a velhice, a partir da identificação do perfil de idosos numa perspectiva de gênero, risco social, vulnerabilidade psicossocial e biológica da velhice e a sua relação com a produção do foco do mosquito Aedes aegypti. Portanto, é uma pesquisa qualitativa construída a partir do recorte do projeto da Organização Mundial da Saúde (OMS), Eco -Bio-Social Research on Dengue and Chagas Disease in Latin America and the Caribbean, nas quadras 84 (Centro), 48 (Parreão) e 99 (José Walter). Assim, o estudo é ainda parte dos resultados da dissertação de mestrado que permitiu um maior aprofundamento na abrangência das discussões sobre envelhecimento e a dengue. Nesse sentido, traçou-se o perfil dos idosos moradores dos bairros com risco e vulnerabilidade social relacionando-os ao saneamento, infraestrutura e politicas sociais. Mas também existe a questão de haver possibilidade do aumento do risco de ser o próprio idoso produtor de foco da dengue pela progressão da velhice. E resultar no efeito quase fatal tanto para ele como contribuir para focos do mosquito na comunidade em que estiver inserido. Destacando dessa forma para o cuidado com esse público tanto no valor que a pessoa idosa merece receber como sujeito de combate efetivo a dengue, além do seu reconhecimento social do seu papel de cidadão de direito e dever. Respeitando, assim, o limite e a especificidade de cada fase do ciclo de vida humana. De maneira que deslumbra uma luz para aprofundamento como também outras possibilidades e discussões a outros desenhos. PALAVRAS-CHAVE: Gênero, Envelhecimento, Dengue. 1 Graduada em Serviço Social (UECE) / E specialista em Serviço Social, Políticas Públicas e Direitos Sociais do Centro de Estudos Sociais Aplicados / marilia_pimentel@yahoo.com.br. 2 Graduada em Administração (UECE) / Cursando Doutorado em Turismo, Lazer e Cultura pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra / deniseabintes@sesc-ce.com.br.
INTRODUÇÃO Historicamente, observa-se o desenvolvimento de doenças vetoriais como a dengue ligada à falta de investimento do poder públicas nas políticas sociais à educação, saúde, infraestrutura urbana e seneamento público. Entretanto, a Constituição Federal de 1988 prevê direito à esses segmentos 1. Logo, a participação humana, por exemplo, da má utilização de água produzindo foco da dengue é no mínimo responsabilidade de todos. A velocidade do crescimento demográfico sem ações educativas mais efetivas aliadas ao aumento da produção de resíduos e a debilidade dos serviços de saúde públicos, por falta de vontade política nessas áreas, acabam dessa maneira, dificultando o controle da dengue e produzindo graves entraves para a saúde pública por meio de epidemias de dengue 2;3. Isso implicará num impacto na saúde do planeta quanto das próprias pessoas. Ao perceber, então, a dengue como problema social, aliado a outro grande desafio da humanidade que é o envelhecimento da população mundial 4. Assim sendo, essas inquietações levaram as discussões em relação homem, velhice, água e dengue compreendendo as epidemias de dengue e a própria vulnerabilidade da velhice num contexto de risco social no Brasil. Resultando como objetivo a discussão entre a dengue e a velhice, a partir da identificação do perfil de idosos numa perspectiva de gênero, risco social, vulnerabilidade psicossocial e biológica da velhice e a sua relação com a produção do foco do mosquito Aedes aegypti. MATERIAIS E MÉTODOS Estudo qualitativo do tipo interpretativo realizada em Fortaleza-CE no período de 10/2010 a 01/2011, fazendo um recorte do projeto da Organização Mundial da Saúde (OMS), Eco-Bio-Social Research on Dengue and Chagas Disease in Latin America and the Caribbean, que teve como panorama as quadras 84 (Centro), 48 (Parreão) e 99 (José Walter). Foram 22 idosos com idade igual ou superior a 60 anos, conforme identificação dos agentes comunitários das quadras supracitadas com a pesquisadora em todas as residências com idosos dos respectivos bairros. Todos os participantes se mostraram muito receptivos e valorizados. O estudo aprovado conforme o processo nº 09553425-3 FR
318769 e resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde sobre as normas para pesquisa envolvendo seres humanos 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 22 idosos, moradores dos bairros do município de Fortaleza-CE com risco de foco da dengue, foram vistas as faixas etárias destes sujeitos dividas em três fases: primeira, de 60 a 69 anos, segunda, de 70 a 79 anos e terceira fase, acima de 80 anos, bem como buscando as diferenças e/ou semelhanças de gênero entre eles e sua relação positivo ou negativo com a dengue. Deste desenho se desenvolveu com 16 mulheres e seis homens provenientes dos clusters 84, 48 e 99. Sendo, assim, distribuídos por fases: 12 na segunda fase (nove mulheres e três homens); cinco já estão na terceira fase (três mulheres e um homem) e apenas outros cincos ( três mulheres e dois homens) na primeira fase. Observando nas três fases a predominância da feminização da velhice. Mas certo equilíbrio na primeira fase o que não ocorre nas demais, chegando até de três mulheres para cada homem. As mulheres demonstraram, nesse estudo, terem sentido mais dificuldades em concluírem os estudos que os homens. 16 mulheres: onze parou no fundamental I e II (F I e II), sendo que quatro não concluiu nem a F I e uma dessas não concluiu F II para apenas um homem parou seus estudos nessa etapa, mas concluiu o curso no F II dos seis. Três mulheres foram até o ensino médio para quatro homens. Só no superior que destas mulheres, duas concluíram o ensino superior para um dos homens. Entretanto, a proporção de 16/2 mulheres e 6/1 homem na formação do terceiro grau, dar a entender que os homens foram melhores que as mulheres no grau de instrução nessa fase também. Podemos afirmar ainda com base nesses mesmos dados transversalizando com as faixas etárias que apesar do melhor acesso ao conhecimento dos homens, estes morrem ainda mais cedo que as mulheres. Das 16 mulheres sete já tiveram dengue, em que destas duas tiveram duas vezes aumentando para o risco da hemorrágica. Enquanto, dos seis homens três também tiveram a dengue apenas uma vez, ou seja, o grupo das mulheres teve menos da metade a dengue para a metade dos homens. O estado civil dos gêneros ocorre: Cinco das dezesseis mulheres são casadas. Contudo, se somarmos as quatro mulheres solteiras com as
quatro viúvas e três separadas serão onze mulheres vivendo sem companheiros para apenas cinco mulheres com companheiros na velhice. No entanto, estas mulheres têm de alguma forma o apoio dos seus familiares, seja proveniente de filhos, sobrinhas, filhos adotivos ou familiares por elas ajudados e na velhice dessas mulheres retribuem dando-lhes assistência a sua saúde. Os homens quanto à relação conjugal, quatro dos seis homens são casados, um viuvo e outro divorciado. Se somar o viúvo e o divorciado são dois vivendo sem companheiras fixas para quatro com união estável ou casados. Deste modo, há apenas dois homens solitários para onze mulheres solitárias na velhice. São homens que têm de alguma forma como as mulheres o apoio dos seus familiares, proveniente de filhos ou parentes como irmão dando-lhes assistência. Além que ambos os homens solteiros afirmarem terem namoradas, enquanto as mulheres não relataram. Por gênero, a média do número de filhos das mulheres e homens: seis delas e três deles têm de um a quatro filhos; cinco mulheres e três homens tiveram de cinco a oito filhos. Somente uma mulher teve dez filhos e outra, dezesseis filhos. Contudo três destas dezesseis mulheres estudadas não geraram nem adotaram. Logo, estes estão cobertos pelo artigo 3 do Estatuto do Idoso que prever a obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos à vida, à saúde, [...] à educação e etc. No tocante a procedência da renda do idoso, doze mulheres e cinco homens aposentados e foram notados que dez mulheres e cinco homens moram em casa própria. Duas pensionistas sendo uma do marido e a outra do filho. Duas mulheres, ambas as donas de casas são dependentes da renda dos seus respectivos maridos, uma a morada é do casal e a outra tem casa própria, entretanto por causa de saúde do casal está vivendo com o marido na casa própria da filha. E um homem ainda da ativa como Engenheiro Civil. Em fim, as diferenças entre os perfis das mulheres e homens: toda as mulheres vieram de outro município do Ceará, casaram por lá e trouxeram seus maridos para Fortaleza ou casaram com um fortalezense passando a morar em Fortaleza em bairro sem saneamento e infraestrutura. Já os homens, todos casaram com mulheres nascidas no interior do Ceará ou de outro Estado do Nordeste. Percebeu-se nos grupos que os homens casados vivem mais e
conservam mais a memória e boas feições físicas do que os solteiros. As mulheres mais velhas entre elas são viúvas ou separadas e morando com e aos cuidados de familiares. As mulheres permanecem mais tempo no domicílio que o homem, de maneira que utiliza bem mais água nas atividades domésticas que os homens. E a sua atuação ao foco da dengue consciente ou não acaba por comprometer toda a comunidade, assim, torna-se necessário ir além de culpar o outro e somar em prol da segurança a vida de todos. CONCLUSÃO A dengue lança desafios em conjunto com a velhice. Observa-se não ser suficiente o conhecimento sobre todo o processo de vida do mosquito da dengue para se proteger ou combatê-lo. O mosquito Aedes aegypti vai, além disso, como demonstrou o estudo entre homens e mulheres idosas com risco e vulnerabilidade social. Então, se imaginar que quanto mais longevos mais são as necessidades de cuidados a saúde e dependência familiar e de profissionais. Além do aumento do risco de ser o produtor de foco da dengue pela progressão da velhice mais avançada. Logo, o efeito de dengue nesse grupo vulnerável psicossocial torna-se quase fatal. Mas, aqui não dá para encerrar toda discussão sobre velhice e dengue e sim abrir a mais desenhos. REFERÊNCIAS 1. BRASIL. Constituição Federal Brasileira. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm 2. Mendonça FA, Souza AV, Dutra DA. Saúde pública, urbanização e dengue no Brasil. Sociedade & Natureza 2009;21(3):257-69. 3. Sales FMS, Caprara A. Ações de educação em saúde para prevenção e controle da dengue: um estudo em Icaraí, Caucaia-CE. In: Silva MGC, Jorge MSB, organizadores. Saúde pública e seus saberes e práticas: recortes de dissertações. Fortaleza: EdUECE; 2006. 4. Kalache A, Veras RP, Ramos LR. O envelhecimento da população mundial. Um desafio novo. Rev Saúde Pública 1987;21:200-10. 5. Conselho Nacional de Saúde (BR). Resolução 196/96. Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas Envolvendo Seres Humanos. Extraído de [http://www.ufrgs.br/bioetica/res19696.htm], acesso em [18 de agosto de 2010]. 6. Trivinõs ANS. Introdução à pesquisa social em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas; 1992.