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Transcrição:

1 - Economia, Gestão E Definições Básicas Economy, management and basic definitions Impactos Econômicos de Megaeventos: Copa do Mundo de Futebol e Jogos Olímpicos Holger Preuss Johannes Gutenberg University Mainz Texto interpretativo de Bernardo Villano e Ana Miragaya Economic Impacts of Mega Events: FIFA World Cup and Olympic Games From the question Are mega sport events an efficient way to invest scarce public resources? the author develops his arguments featuring three types of economic impacts: signaling, temporary economic activity and change of location factors. He also presents basic theoretical concepts for a better understanding of economic aspects related to mega events. Based on that, Preuss demonstrated that the immediate economic impacts, either related to investments or return on investments, are not significant to the economy of a nation. However, the possible return from a good strategy of development of legacies would be more than enough to justify the application of several cities to host the Olympic Games. The reach gotten by the massive exposure of the media, making it viable the creation of important symbolic capital of the region and the possibility of people to greatly invest on fundamental areas for a specific nation come up as the main positive points presented by the author. However, for that to occur effectively, it is possible to conclude that the governments need to develop a long term strategy since the very beginning of the process of application. This commitment of the government implies that it has to assume great part of the investments once the main economic effects of the Games are public assets. Therefore, the legacies are basically provided by projects which are linked to the mega event, but they do not appear for the event to take place. At the end of the lecture, the discussion focused on the following issues: (1) risks and opportunities of the processes of candidacy to be the host city of the Olympic Games ; (2) how to guarantee that the portion of the population least favored by the direct impacts of the event can be benefited; (3) analysis of the symbolic capital; (4) mechanisms that make social transformation possible from the staging of mega events; (5) the immediate economic impacts generated in other sectors of the economy, not including tourism. Utilizando como base teórica alguns resultados de seu estudo realizado durante a Copa do Mundo de Futebol de 2006, na Alemanha, e de seus estudos olímpicos, o professor Holger Preuss destacou os impactos econômicos dos megaeventos esportivos, fazendo a seguinte pergunta: Os megaeventos esportivos são alternativas eficientes de investimento para recursos públicos escassos? Em sua apresentação, o Prof. Holger Preuss: I - introduziu uma matriz, relacionando percepção e temporalidade a fim de oferecer uma visão geral dos possíveis impactos e legados dos diferentes megaeventos esportivos para uma cidade ou país; II - apresentou os três principais efeitos econômicos: 1- comunicação de mensagens sobre as características do local e suas vantagens, o que possibilita a criação de uma nova imagem e uma marca registrada para a localidade, 2- a atividade econômica temporária, que ocorre apenas momentaneamente com

80 Legados de Megaeventos Esportivos o consumo gerado pelos visitantes do evento, os investimentos em instalações esportivas e todo o dinheiro gasto em atividades relacionadas ao evento e 3- o legado, definido como uma atividade econômica de longo prazo, viabilizada através de mudança das circunstâncias locais; III - diferenciou impacto de legado, enquanto o primeiro ocorre apenas durante o período do evento, o segundo pode vir a surgir a partir de impacto anterior; IV - relacionou as mudanças das circunstâncias locais à estratégia do evento, na medida em que argumentou que o que se busca a partir da realização do evento é uma maior atividade econômica de longo prazo; V - mostrou um problema comum para os três principais efeitos econômicos apresentados: os free riders, aqueles que não pagaram diretamente pelo evento mas se beneficiaram dele; VI - apresentou o conceito de fracasso de mercado, no caso de existir a demanda, sem o mercado prover o que é preciso. Neste caso, a questão seria quem irá arcar com os custos, já que os três principais efeitos econômicos (comunicação, atividade econômica temporária e legado) deste acontecimento são bens públicos? VII - argumentou sobre a necessidade do governo tomar a iniciativa e fazer a gestão do evento para que ele seja realizado, porém, somente se os benefícios estiverem disponíveis para o bem-estar geral; VIII - explicou que a comunicação se dá prioritariamente por meio da mídia, transmitindo mensagens sobre circunstâncias locais, tangíveis e intangíveis a fim de diminuir a assimetria de informações, contribuindo desta forma para o aumento da percepção de indivíduos a cerca do local do evento como uma opção para investimento, turismo, moradia, entre outras e também sobre uma imagem específica do local, por meio da construção do capital simbólico, que não pode ser comprado, mas pode ser alcançado mais facilmente se for demonstrado não haver interesse no retorno material, ou melhor ainda, se for demonstrado não haver o esbanjamento de recursos econômicos; IX - destacou que uma estratégia para viabilização da comunicação e do legado é necessária na medida em que o veículo utilizado para a propagação das mensagens (mídia) não pode ser controlado, divulgando tanto boas como más notícias; X - demonstrou que em termos de custos e resultados financeiros, os Jogos Olímpicos são relativamente pequenos se comparados com o PIB de uma grande nação; XI - apresentou alguns conceitos teóricos básicos para o entendimento de como se calcularem os efeitos econômicos temporários de um megaevento esportivo, como a necessidade de se distinguir a origem e a destinação do dinheiro, o que permitirá definir se se trata de dinheiro novo para a economia da cidade, de uma simples redistribuição dos gastos ou investimentos ou de uma saída do dinheiro da economia da cidade, gerando custos. Outro interessante conceito é a classificação de visitantes e residentes de acordo com seu papel neste mecanismo de entrada e saída de dinheiro durante o período dos jogos, na medida em que nem todos que vêm de fora estão trazendo dinheiro extra e que nem todos que são da cidade devem deixar de ser considerados; XII - exibiu números que demonstram que apenas 33,3 % dos espectadores dos estádios estavam acrescentando dinheiro novo à economia nacional,

Estudos e Pesquisas em Legados e Megaeventos 81 enquanto 26,5% dos espectadores de áreas públicas (grandes telões posicionados próximos aos estádios) faziam o mesmo; XIII - destacou que 3,2 bilhões de Euros foram adicionados à economia alemã apenas pelos visitantes estrangeiros e os alemães que ficaram em casa durante a Copa do Mundo de Futebol; XIV - apontou que para uma maior efetividade dos legados de um megaevento esportivo é essencial que o planejamento se inicie ainda durante o processo de candidatura destacando também a importância do processo de construção e intervenções, pois são nesses momentos que se definem as medidas obrigatórias (necessárias para que a competição possa ocorrer) e as medidas opcionais (que estão atreladas ao projeto do evento, mas que não surgem por causa dele), alertando que os custos relacionados às medidas opcionais não deveriam ser atribuídos aos megaeventos; XV - sugeriu que a partir da realização do evento a cidade ou país passa a contar com uma estrutura - que o autor divide em seis áreas específicas (infraestrutura, conhecimento, imagem, emoções, redes e cultura) que permitirá uma mudança de circunstâncias locais, que irá gerar novas possibilidades e novas demandas para o local, induzindo mais empregos, mais produção, mais impostos e viabilizando um beneficio econômico de longo prazo; XVI - demonstrou que o aumento nos custos de organização dos Jogos Olímpicos deve-se essencialmente ao aumento do investimento em medidas opcionais, que são fundamentais para a viabilização dos legados como pode ser observado nos casos de Sidney e Barcelona e como se pretende em Pequim e Londres; XVII - iniciou a conclusão apresentando o conceito de eficiência (relação entre investimento e resultado onde E = I/R. Se o resultado for maior que 1, temse eficiência). Contudo, o Prof. Preuss salientou que é fundamental que se observe a origem dos recursos para investimento, na medida em que temos diferentes partes envolvidas como o governo federal, o governo municipal e as organizações internacionais e que cada uma delas irá observar os resultados de acordo com suas expectativas e demandas; XVII - destacou cinco pontos importantes que, segundo o autor, estarão presentes em qualquer discussão a respeito de megaeventos esportivos: (a) Subsídio Cruzado: cada grupo envolvido se beneficia de investimentos feitos por diferentes grupos; (b) Produção Ligada: o investimento que para um grupo não é eficiente é ao mesmo tempo essencial para outro e a viabilização do evento só se dá a partir desses acordos; (c) Ineficiência: comum em grandes eventos; (d) Custo de Oportunidade: o recurso está disponível para apenas uma finalidade e para nenhuma outra diferente desta e (e) Sinergia: é preciso desenvolver uma perspectiva de longo prazo para análise das intervenções; XIX - finalizou apresentado um resumo dos fatos: (a) A estratégia do evento tem que ser administrada pelo governo devido à possibilidade de fracasso de mercado; (b) A eficiência é muito complexa para ser tratada com exatidão; (c) Os megaeventos esportivos não são dispendiosos para um governo federal nem o impacto econômico temporário muda significativamente o PIB; (d) Uma estratégia de divulgação bem planejada pode trazer um importante benefício econômico (criando a marca Brasil ou cidade sede ) e (e) O legado precisa ser bem planejado para maximizar a qualidade do que é oferecido sem tornar dispendiosos os projetos relacionados ao evento (medidas opcionais).

82 Legados de Megaeventos Esportivos Debate No final deste capítulo encontra-se uma reprodução da conferência feita por Holger Preuss em slides, em que pormenores relacionados aos itens acima são apresentados. P. Considerando-se as diferentes tentativas do Rio de Janeiro em sediar os Jogos Olímpicos e caso isto ainda não ocorra para 2016, deve-se continuar as tentativas? Holger Preuss: Primeiramente, acredito que o Rio tem muito boas chances de vencer a disputa por várias razões e certamente a primeira delas é que hoje as instalações já existem. Além disso, não existe mais o receio de que o Rio não seja capaz de sediar os Jogos. Outra razão seria que os Jogos de 2016 seriam os primeiros Jogos na America do Sul e poderia ocupar o horário nobre das Américas do Sul e do Norte, que não é utilizado há 16 anos para transmissão ao vivo. Isso representa uma geração inteira de crianças que não teria a oportunidade de assistir em tempo real a uma Olimpíada. Portanto, mediante o aporte financeiro das TVs americanas e a pressão do COI para não perder toda uma geração de crianças sul- e norte-americanas, cria-se uma grande pressão para que os Jogos venham para esta região. Mas, considerando que o Rio não vença como já foi dito antes, acredito que o processo de candidatura em si já traz alguns legados, como o desenvolvimento de uma visão de plano diretor para a cidade, diferente dos pequenos projetos isolados, geralmente propostos pelos políticos. Traz para este contexto uma visão de longo prazo para o desenvolvimento da cidade. Deve-se pensar o Rio para daqui a 20 anos e trabalhar em conjunto, inclusive com as cidades vizinhas, criando novas relações e novas possibilidades. O lado negativo desta empreitada é que as exigências e as circunstâncias mudam com o passar dos anos e pode chegar o tempo em que se candidatar pode não ser mais um bom negócio. E, considerando-se o aspecto financeiro deve-se considerar que a candidatura custa em torno de 40 milhões de dólares. Mas não se pode esquecer que o Rio de Janeiro pode vencer o processo de candidatura dos Jogos, o que vai trazer um projeto de 5 bilhões de dólares. O custo é proporcional às possibilidades. Sabe-se também que atualmente e nos próximos 10, 15, 20 anos estarão se definindo as grandes regiões globais e economicamente ativas do mundo. A globalização não se traduz em benefícios para todos. Traduz-se em uma rede, que tem os seus nós e apenas algumas cidades estarão localizadas nesses nós, atraindo crescimento e produção. Atualmente as cidades lutam para se desenvolverem rapidamente a fim de se destacarem neste cenário e os Jogos Olímpicos aceleram o desenvolvimento em até 10 anos. Logo, acredito que seja importante que uma cidade se candidate desde que as exigências do processo sejam razoáveis, que a cidade possa arcar com os custos e que a divulgação seja positiva. P. Qual a sugestão que o Senhor daria, para que além de tudo que foi dito, uma cidade, em um país, considerado pela ONU, como um dos mais desiguais do mundo, não deixasse de levar em consideração desde já, por ocasião de se planejar impacto e estudar viabilidade, para que as alegrias estejam além dos aspectos sociais e econômicos e mais efetivamente direcionadas para a população que menos tem acesso aos benefícios imediatos? P. Como fazer a análise do legado do capital simbólico que é deixado para a cidade? Como um megaevento pode fazer uma transformação cultural no interior da sociedade? O

Estudos e Pesquisas em Legados e Megaeventos 83 que as políticas públicas podem fazer para contribuir na mudança no capital cultural de uma cidade? P. A Copa da Alemanha teve um grande impacto na conta satélite do turismo (instrumento estatístico criado para a análise da importância econômica do turismo pela Organização Mundial do Turismo)? Como foi essa movimentação nas outras economias, que não só as diretamente ligadas ao turismo? Holger Preuss: O primeiro ponto que é de difícil compreensão para não- economistas, mas é importante para toda a população, já que o impacto direto dos megaeventos esportivos, apesar de não atingirem a população mais pobre, geram inúmeros impactos indiretos que influenciam diretamente a vida dessas pessoas, principalmente no que diz respeito aos empregos. A aceleração da economia gera inúmeras oportunidades que, muitas vezes, parecem não ter nenhuma ligação com o megaevento em si, mas não aconteceriam sem ele. O segundo pensamento a esse respeito está relacionado à possibilidade de se promoverem Jogos Sociais, que assumissem as questões sociais como prioritárias. Certamente existem maneiras de envolver os mais pobres, já que não se trata apenas da obtenção de lucro. A próxima questão diz respeito ao capital social, que é muito difícil de ser medido, já que se trata de um sentimento que as pessoas têm. A minha idéia para essa mensuração seria através de entrevistas testando os sentimentos e percepções a respeito de alguma coisa. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que é bem difícil de ser realizada. Com relação à transformação cultural, de acordo com meus pensamentos, esse processo se inicia com a questão educacional, oportunizando às crianças conhecimentos sobre seu próprio país através do megaevento esportivo. A Educação Olímpica tem muito com o que contribuir a respeito da cultura e história dos países. A última questão, sobre as outras contas, digo que a maioria dos outros impactos diz respeito à redistribuição de recursos. Basicamente o dinheiro extra que entra na economia vem do turismo.

84 Legados de Megaeventos Esportivos Apresentação Impactos Econômicos de Megaeventos - Prof. Dr. Holger Preuss

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