AVALIAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO EM RESTAURANTES SELF-SERVICE DA CIDADE DE ITAPEVA, ESTADO DE SÃO PAULO.



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Transcrição:

AVALIAÇÃO DAS BOAS PRÁTICAS DE FABRICAÇÃO EM RESTAURANTES SELF-SERVICE DA CIDADE DE ITAPEVA, ESTADO DE SÃO PAULO. Daniela Firmo Souza Santos 1 Alessandra Teixeira Barbosa Pinto² Resumo: As constantes transformações sociais pelas quais o Brasil passou, mudaram os hábitos alimentares dos indivíduos. Estima-se que, de cada cinco refeições, uma é feita fora de casa e entre os estabelecimentos do segmento, o mais frequentado pelo brasileiro é o restaurante que usa o sistema self-service. Com o crescimento no setor é preciso assegurar que os alimentos preparados sejam seguros para o consumidor. Neste contexto, o presente trabalho teve como objetivo avaliar as condições higiênico-sanitárias dos estabelecimentos desse segmento no município de Itapeva-SP. Foi utilizado um check-list com seis grupos de itens, baseado na Portaria CVS nº 5, de 09 de abril de 2013, para verificar a aplicação de Boas Práticas de Fabricação. De acordo com os resultados obtidos, do total de 10 restaurantes, apenas dois alcançaram um número de conformidades maior do que 50%. Na maioria, os manipuladores não recebem treinamentos e não apresentam práticas higiênicas adequadas. A falta de documentação é um problema presente em 80% dos restaurantes, assim como a falta de um responsável técnico. Os estabelecimentos que tinham um responsável atendiam mais requisitos que os outros, evidenciando assim, a importância de ter uma pessoa capacitada para tal função. Palavras-chave: Restaurantes. Self-Service. Boas Práticas de Fabricação. Responsável técnico. Abstract: The constant social changes by which Brazil went, changed the eating habits of individuals. It is estimated that of every five meals, one is made out of the House and between the establishments of the segment, the more frequented by brazilian is the restaurant that uses the self-service system. With the growth in the sector is necessary to ensure that the food prepared are safe for the consumer. In this context, the present study aimed to evaluate the conditions sanitary hygienic establishments of this segment in the city of Itapeva (SP) was used a checklist with six groups of items, based on the Ordinance nº 5 CVS, 09 april 2013, to verify the application of good manufacturing practices. According to the obtained results, of the total of 10 restaurants, only three have achieved a number of compliance greater than 50%. For the most part, the event handlers do not receive training and do not present appropriate hygienic practices. The lack of documentation is a problem present in 80% of restaurants, as well as the lack of a technical manager. The establishments that had a manager attended more requirements than the others, so the importance of having a competent person for that function. Keywords: Restaurants. Lunch Buffet. Good manufacturing practices. Technical Manager. 1 Aluna da Pós-Graduação em Gestão da Qualidade e Segurança Alimentar das Faculdades Ponta Grossa- FacPG. e-mail: danifirmo06@hotmail.com ² professor do Curso de Pós-Graduação em Gestão da Qualidade e Segurança Alimentar das Faculdades Ponta Grossa- FacPG, Ponta Grossa PR. e-mail: alessandra.pinto@faculdadespontagrossa.com.br

2 1 INTRODUÇÃO Na segunda metade do século XX, a sociedade brasileira passou por um processo de transformação devido ao desenvolvimento industrial. Entre as mudanças, podemos destacar os hábitos alimentares. Atualmente, as mulheres trabalham fora, os indivíduos tem pouco tempo para preparar os alimentos e por isso buscam refeições rápidas e práticas fora de casa (ROSSI, 2006). Estima-se que no Brasil, de cada cinco refeições, uma é feita fora de casa. Com isso, está ocorrendo um aumento dos estabelecimentos que produzem alimentos para consumo imediato no país e o self-service é uma forma de oferecer uma refeição variada, onde o consumidor escolhe o que colocar no seu prato e sabe o valor que irá pagar (AKUTSU et al., 2005). Segundo o Comitê da WHO/FAO (Genebra, 1984) as doenças transmitidas por alimentos contaminados são o maior problema de saúde no mundo atual. A qualidade higiênico-sanitária é um fator de segurança alimentar, mas o preparo de alimentos em ambientes comerciais nem sempre é feito em condições adequadas. As Boas Práticas de Fabricação (BPF) são procedimentos que visam garantir a qualidade sanitária dos alimentos e seu padrão de identidade, analisando os pontos críticos de controle e a Resolução RDC n 216, de 15 de setembro de 2004 estabelece procedimentos a fim de garantir a inocuidade dos alimentos preparados e utiliza ferramentas para se atingir as Boas Práticas, como o check-list de verificação contido na RDC n 275, de 21 de outubro de 2002. No estado de São Paulo as atividades relacionadas à produção de alimentos seguem o regulamento técnico de Boas Práticas para Estabelecimentos Comerciais de Alimentos e para Serviços de Alimentação aprovado na Portaria CVS n 5, de 09 de abril de 2013. Dessa forma, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a adequação de todos os restaurantes self-service do município de Itapeva-SP, através da aplicação de um check-list baseado na legislação do Estado de São Paulo, Portaria CVS n 5. 2 MATERIAIS E MÉTODOS Este estudo foi realizado no período de setembro a dezembro de 2015, tendo como objetos de pesquisa os restaurantes comerciais do tipo self-service localizados no município

3 de Itapeva-SP. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevista e observação direta das condições encontradas no local, empregando o check list padrão da Portaria CVS n 5, de 09 de abril de 2015. A pesquisa abrangeu todos os restaurantes que atuam nesse segmento, sendo que as visitas ocorreram no horário do almoço, a fim de observar os procedimentos padrões utilizados na manipulação dos alimentos. Os estabelecimentos foram analisados conforme as condições higiênico-sanitárias da infraestrutura, abastecimento de água, instalações sanitárias, controle de pragas, condições dos equipamentos, utensílios e manipuladores (vestuário, higiene e programa de capacitação), recepção e armazenamento dos gêneros alimentícios e disponibilidade do manual de Boas Práticas de Fabricação. Cada item do questionário recebia resposta SIM para conforme, não conforme recebia a resposta NÃO. O questionário é composto por 55 itens, que são divididos em 6 grupos conforme a Tabela 1. Tabela 1 Número de itens que constituem cada grupo do check-list GRUPO NÚMERO DE ITENS I Higiene, saúde dos funcionários e capacitação 09 16,36% II Produção 18 32,73% III Higienização das instalações 03 5,45% IV Suporte operacional 09 16,36% V Instalações e edificações 15 27,27% VI Documentação 01 1,83% TOTAL 55 100% 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na análise do diagnóstico foi observado que dois (20%) restaurantes alcançaram um número de itens conformes maior que 50%, o restaurante 1 e o 7. Os dois piores estabelecimentos tiveram 75,9% (restaurante 2) e 74,6% (restaurante 10) de não conformidades, um percentual elevado que compromete a qualidade dos produtos e a segurança alimentar dos consumidores. Para uma melhor análise, foi calculada a porcentagem de não conformidade de cada grupo de itens separado por restaurante e o total por estabelecimento, conforme a tabela 2.

4 Tabela 2 Porcentagem de não conformidades por grupo. Restaurante Não conformidades (%) Total Grupo I Grupo II Grupo III Grupo IV Grupo V Grupo VI 1 22,2 44,4 66,7 22,2 33,3 0 31,4 2 77,8 77,7 100 33,3 66,6 100 75,9 3 77,8 55,6 66,7 44,4 60 100 67,4 4 77,8 44,4 66,7 33,3 73,3 100 65,9 5 66,7 55,6 66,7 44,4 66,6 100 66,6 6 77,8 66,7 66,7 44,4 53,3 100 68,1 7 22,2 44,4 66,7 22,2 33,3 0 31,4 8 33,3 44,4 100 33,3 53,3 100 60,7 9 33,3 66,7 100 33,3 53,3 100 64,4 10 77,8 72,2 100 44,4 53,3 100 74,6 3.1 Grupo I Higiene e Saúde dos Funcionários, Responsabilidade Técnica e Capacitação de Pessoal O Grupo I é formado por 9 itens que se referem à higiene e saúde dos funcionários, responsabilidade técnica e capacitação pessoal. Os valores de não conformidades variaram entre 22,2% e 77,8%. Os funcionários que manipulam os alimentos não estavam usando uniforme ou o mesmo estava incompleto, alguns usavam adereços como brincos e correntes. O uso da touca também estava incorreto, não protegendo como deveria. Apenas 20% apresentaram um plano de capacitação pessoal, com treinamentos para atualização profissional e um responsável técnico formado em Nutrição. A ausência de cartazes para correta higienização das mãos foi verificada em 60% dos restaurantes, assim como a lavagem incorreta das mãos. Os hábitos higiênicos dos manipuladores são de extrema importância para segurança do alimento, sendo assim a lavagem das mãos um ponto crítico de controle que deve ser bem orientado para garantir bons resultados (MESSIAS et al, 2013). Em nenhum restaurante foi solicitado que os visitantes colocassem uniforme ou algum EPI. De acordo com a RDC n 216 de 15 de setembro de 2004, os visitantes devem seguir as mesmas regras que são estabelecidas para os manipuladores. 3.2 Grupo II Qualidade Sanitária da Produção de Alimentos Neste grupo foram avaliados itens referentes à produção dos alimentos. A média de não conformidades foi de 57, 21%, sendo que 60% ficaram abaixo desse valor.

5 A recepção dos produtos é realizada em local apropriado em apenas 30% dos estabelecimentos. A temperatura é um importante fator de controle da qualidade, porém nenhum estabelecimento visitado faz o controle na recepção. O resultado obtido é similar ao encontrado por Santos et al (2010), num estudo realizado no município do Rio de Janeiro, onde 100% dos restaurantes comerciais pesquisados não faziam o controle da temperatura na recepção da matéria-prima. Os refrigeradores e freezers não estavam adequados no que se refere à temperatura e volume de produtos, excluindo apenas 2 estabelecimentos. Em alguns restaurantes foi verificada falta de higiene e armazenamento inadequado de produtos. Nenhum restaurante guarda amostras das refeições como a Portaria CVS n 5 determina. As amostras são importantes para auxiliar a esclarecer possíveis ocorrências de doenças transmitidas por alimentos. No quesito transporte nenhum estabelecimento atendeu o requisito, pois todos utilizam o serviço de moto-táxi terceirizado, que não trabalham exclusivamente para esse fim. A empresa que contrata esse tipo de serviço é responsável pelas condições de higiene do transporte (BRASIL, 2004). 3.3 Grupo III Higienização das Instalações e Ambiente A higienização das instalações foi um dos requisitos pior avaliados, com resultados de não conformidades elevados. Em 100% dos estabelecimentos, os mesmos funcionários que manipulam os alimentos realizam a limpeza, antes e depois de começarem as atividades de produção. Em 40%, os produtos saneantes não estavam rotulados de acordo com a legislação. Alguns surtos estão diretamente ligados à falta de higienização dos equipamentos (utensílios e móveis) desde a recepção da matéria-prima até a distribuição do produto final. Face ao que foi observado é grande o risco de contaminação cruzada, que é um dos principais fatores causadores das DTA. 3.4 Grupo IV Suporte Operacional No item que se refere ao controle da qualidade da água por análise laboratorial, nenhum estabelecimento estava conforme. É possível que a água esteja associada a todos os patógenos conhecidos de origem alimentar e a ocorrência de surtos alimentares em que ocorre a contaminação de vários produtos ao mesmo tempo geralmente configura problemas com a

6 água (LUPCHINSKI, 2013). Em 30% dos estabelecimentos, não tem caixa de gordura e os resíduos são lançados diretamente na rede de esgoto. Em 80% dos estabelecimentos, as lixeiras não são acionadas por pedal. Em 3 deles, os recipientes estavam cheios, demonstrando não ser suficiente para o local. Num estudo que verificou as condições sanitárias de 30 estabelecimentos do município de Belo Horizonte, Rossi (2006), encontrou que as condições de manejo dos resíduos eram precárias e inadequadas e em 23 (76,7%) deles, os resíduos não eram coletados e armazenados de forma correta. A área de armazenamento estava conforme em 50% dos estabelecimentos e os outros utilizavam o gás dentro da cozinha. O controle de pragas urbanas é realizado por empresa terceirizada e está documentado em 60% dos estabelecimentos. Aparentemente, as medidas de prevenção são eficazes, pois não foi verificada a existência ou sinais de vetores no momento da visita. 3.5 Grupo V Qualidade Sanitária das Edificações e Instalações Neste grupo, foram analisados os itens de localização, equipamentos, pisos, janelas, paredes e tetos, iluminação e ventilação, vestiários, instalações sanitárias e área de distribuição. A área externa dos estabelecimentos tinha acesso livre e independente, mas 60% apresentaram lixo na calçada, sendo assim um foco de insalubridade. Nenhum restaurante tem acesso para pessoas com deficiência. A separação das instalações ocorre apenas na área de produção com a de distribuição. O pré-preparo e preparo ocorre no mesmo local em 100% dos restaurantes e 40% deles tem um espaço menor do que o ideal. A portaria CVS n 5 estabelece que as instalações devem ser separadas por meios físico, para facilitar os procedimentos por meio de fluxos contínuos que evitem o cruzamento das etapas do processo. O lavatório exclusivo para as mãos está presente em 40% dos estabelecimentos, dos quais apenas 2 estão conformes no que se refere à localização estratégica e os sabonetes de ação antisséptica. De acordo com a RDC n 2016, os equipamentos, utensílios e móveis devem ser de fácil higienização, que não transmitam substancias tóxicas, odores ou sabores aos alimentos. Neste requisito apenas 30% dos estabelecimentos estavam conformes, os outros apresentaram equipamentos antigos, mal conservados e higienizados.

7 O piso em 90% dos restaurantes é liso, colocando em risco os manipuladores, que podem sofrer quedas durante a produção. Em 40%, apresentaram trincas e acúmulo de água. Sobre as paredes e tetos, 70% dos estabelecimentos estavam não conformes, pois apresentaram paredes com trincas e umidade, assim como o teto com pintura velha e sinais de umidade. Foi verificado que em 90% dos estabelecimentos as portas não possuem fechamento automático e proteção na área inferior para evitar o acesso de insetos. Apenas 2 (20%) apresentaram telas milimétricas nas janelas em condições ideais, 40% tinham as telas, porém estavam rasgadas e em péssimas condições de conservação. No requisito de instalações elétricas, 80% dos estabelecimentos não atenderam o que pede a legislação. Os mesmos apresentaram fiações expostas e lâmpadas sem proteção contra quedas acidentais ou explosões. Em 30% deles, a iluminação era fraca, causando desconforto para os manipuladores. A ventilação está incorreta em todos os restaurantes. Pelo fato da maioria das edificações não serem projetadas para a finalidade de um local de produção de alimentos, as cozinhas não tem um sistema de ventilação suficiente, causando desconforto térmico. Nenhum estabelecimento tem vestiário adequado, apenas banheiro, os quais apenas 20% apresentam-se separados por gênero, com papel higiênico, lixeira acionada por pedal, sabonete antisséptico e toalhas de papel. Os sanitários dos clientes estão conformes em 70% dos estabelecimentos. O estudo de Rossi (2006) realizado em Belo Horizonte, obteve resultados semelhantes, poucos estabelecimentos tinham estrutura correta para os manipuladores e em 25 (83,3%) restaurantes as instalações sanitárias para o público estavam conformes. 3.6 Grupo VI Documentação e Registro das Informações O último grupo de itens abordava apenas um requisito sobre manual de boas práticas e os procedimentos operacionais padrões (POPs). Apenas 2 (20%) apresentaram o manual e POPs de higiene dos funcionários, controle de vetores e pragas e capacitação dos funcionários em Boas Práticas. Santos et al (2010), em seu estudo com 5 restaurantes no Rio de Janeiro encontraram que em nenhum os manuais de Boas Práticas retratavam a realidade dos estabelecimentos. Um deles não tinha o manual e nem conhecimento da sua importância e nenhum tinha implementado os POPs.

8 CONCLUSÃO Verificou-se que, apesar de todas as legislações vigentes, os estabelecimentos do tipo self-service apresentam uma estrutura inadequada em sua maioria. Do total de 10 restaurantes, apenas dois alcançaram um número de conformidades maior do que 50%. Os manipuladores não recebem treinamentos e não apresentam práticas higiênicas adequadas. É fundamental que os estabelecimentos tenham um manual de Boas práticas e POPs, a fim de colocar em prática comportamentos que melhorem a qualidade dos alimentos servidos. Em 20% dos estabelecimentos o resultado da pesquisa foi positivo. Levando em consideração que esses dois restaurantes eram os únicos que tinham um responsável técnico presente durante a produção dos alimentos. Podemos concluir que nesse caso fez toda diferença para o bom desempenho. Cada dia mais os consumidores estão procurando saber o que estão consumindo, se tornando mais exigentes no se que refere à segurança alimentar. É fundamental que os proprietários de restaurantes acompanhem essas exigências e invistam na qualidade dos produtos que servem. REFERÊNCIAS ANVISA. Cartilha sobre Boas Práticas para serviços de alimentação. Disponível em: <http://www.anvisa.gov.br/divulga/public/alimentos/cartilha_gicra.pdf> Acesso em: 15 set. 2015. Akutsu R.C et al. Adequação das Boas Práticas de Fabricação em Serviços de Alimentação. Revista de Nutrição. Campinas, v.18(3), p. 419-427, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1415-52732005000300013> Acesso em 18 set. 2015. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 216, de 15 de setembro de 2004. Aprova o Regulamento Técnico de Boas Práticas para Serviços de Alimentação. Disponível em: <http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/4a3b680040bf8cdd8e5dbf1b0133649b/resol U%C3%87%C3%83O- RDC+N+216+DE+15+DE+SETEMBRO+DE+2004.pdf?MOD=AJPERES> Acesso em: 20 set. 2015. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC nº 275 de 21 de outubro de 2002. Dispõe sobre o Regulamento técnico de procedimentos operacionais padronizados aplicados aos estabelecimentos produtores/ industrializadores de alimentos e a lista de verificação das boas práticas de fabricação nesses estabelecimentos. Disponível em: <

9 http://portal.anvisa.gov.br/wps/wcm/connect/dcf7a900474576fa84cfd43fbc4c6735/rdc+n% C2%BA+275,+DE+21+DE+OUTUBRO+DE+2002.pdf?MOD=AJPERES> Acesso em: 20-20 set. 2015. CAMPOS, M. C. B.; NICODEMO, T. C.; WEBER, M. L. Boas Práticas em Restaurantes do Tipo Self-Service: Situação no município de Alfenas, MG. Revista Higiene alimentar. v. 21, n. 222/223, p. 51-55. Disponível em: < http://foodsafetybrazil.org/boas-praticas-emrestaurantes-do-tipo-self-service-situacao-no-municipio-de-alfenas-mg/> Acesso em: 25 set. 2015. MENEZES, P. D. L et al. Qualidade e Segurança Alimentar nos Restaurantes de Mamanguape PB. Disponível em: < http://docplayer.com.br/6172091-qualidade-eseguranca-alimentar-nos-restaurantes-de-mamanguape-pb.html> Acesso em 10 set. 2015. MESSIAS, G.M et al. Avaliação das Condições Higiênico-Sanitárias de Restaurantes do Tipo Self Service e do Conhecimento dos Manipuladores de Alimentos Quanto à Segurança do Alimento na Cidade do Rio de Janeiro, RJ. Revista Eletrônica Novo Enfoque. Rio de Janeiro, v. 17, n. 17, p. 73 88, 2013. Disponível em: <http://www.castelobranco.br/sistema/novoenfoque/files/17/12-giselle-bolsista-erik.pdf> Acesso em: 15 set. 2015. MONTEIRO, M. A. M. Qualidade na produção de refeições em restaurantes do tipo selfservice. Revista DEMETRA: Alimentação, Nutrição e Saúde. Rio de Janeiro, v.09, n. 4, p.955-961, 2014. Disponível em: < http://www.epublicacoes.uerj.br/index.php/demetra/article/view/13375#.vnvagryrkm8> Acesso em: 20 set. 2015. RÊGO, C.J. Qualidade e Segurança de Alimentos em Unidades de Alimentação e Nutrição. 2004. 150p. Tese (Doutorado) Curso Nutrição, Universidade Federal de Pernambuco, 2004. Disponível em: < http://www.liber.ufpe.br/teses/arquivo/20040928142514.pdf> Acesso em 20 set. 2015. ROSSI. C. F. Condições Higiênico-Sanitárias de Restaurantes Comerciais do Tipo Self- Service de Belo Horizonte MG. 2006. 142 p. Dissertação (Mestrado) em Ciência de Alimentos, Universidade Federal de Minas Gerais, 2006. Disponível em: < http://www.bibliotecadigital.ufmg.br/dspace/handle/1843/mbsa-6wgnl9 > Acesso em: 07 out. 2015. SANTOS, M. O. B.; RANGEL, V.P.; AZEREDO D.P. Adequação de Restaurantes Comerciais às Boas Práticas. Revista Higiene Alimentar. v. 21, n. 190/191, p. 44-49, 2010. Disponível em: <http://bvs.panalimentos.org/local/file/bol_mar_2011_higalimentarnovdez44-49adequacaorestaurantescomerciaisboaspraticas.pdf> Acesso em 18 set. 2015. Secretaria do Estado da Saúde. Portaria CVS 5, de 09 de abril de 2013. Aprova o regulamento técnico sobre boas práticas para estabelecimentos comerciais de alimentos e para serviços de alimentação, e o roteiro de inspeção, anexo. Disponível em: < http://www.cvs.saude.sp.gov.br/up/portaria%20cvs-5_090413.pdf> Acesso em: 15 set. 2015.