SERGIO COSTANTINO WACHELESKI A RESERVA FLORESTAL LEGAL EM ÁREA DE TRANSIÇÃO AMAZÔNIA - CERRADO: O CASO DO MUNICÍPIO DE COLINAS DO TOCANTINS TO.



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Transcrição:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA SERGIO COSTANTINO WACHELESKI A RESERVA FLORESTAL LEGAL EM ÁREA DE TRANSIÇÃO AMAZÔNIA - CERRADO: O CASO DO MUNICÍPIO DE COLINAS DO TOCANTINS TO. MANAUS AMAZONAS 2009

SERGIO COSTANTINO WACHELESKI A RESERVA FLORESTAL LEGAL EM ÁREA DE TRANSIÇÃO AMAZÔNIA - CERRADO: O CASO DO MUNICÍPIO DE COLINAS DO TOCANTINS TO. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia - PPG-CASA, Universidade Federal do Amazonas, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em Ciências do Ambiente, área de concentração em Política e Gestão Orientador: Prof.º Dr.º: Henrique dos Santos Pereira MANAUS AMAZONAS 2009

W113r Wacheleski, Sergio Costantino A Reserva Florestal Legal em área de transição Amazônia - cerrado: o caso do município de Colinas do Tocantins TO / Sergio Costantino Wacheleski. - Manaus: UFAM, 2009. 94 f.; il. color. Dissertação (Mestrado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia) Universidade Federal do Amazonas, 2009. Orientador: Prof. Dr. Henrique dos Santos Pereira 1. Legislação Ambiental 2. Reserva Florestal Legal, 3. Gestão Florestal I. Pereira, Henrique dos Santos II. Universidade Federal do Amazonas III. Título CDU 349.6(811)(043.3)

DEDICATÓRIA Dedico este trabalho à minha esposa Edileuza Aparecida Sousa Santos Wacheleski, amor da minha vida, pela confiança e carinho dedicados ao longo da nossa união e pelo irrestrito apoio ao desafio aqui concluído, aos meus queridos filhos, Yuri Santos Wacheleski e Yann Santos Wacheleski, pela compreensão nas horas ausentes, aos meus pais Cecília Fontanta Wacheleski e José Wacheleski (in memoriam), baluartes da minha existência e aos mestres, pelos ensinamentos aqui discorridos.

AGRADECIMENTOS Em primeiro lugar agradeço ao Mestre dos mestres, nosso criador, pela oportunidade da vida e na vida pelo dom de ousar e realizar. À minha esposa Edileuza, que nas horas mais difíceis apoiou-me, incentivou-me, não me deixando desistir, dando-me forças para a continuação do trabalho proposto. Ao meu orientador, Professor Henrique dos Santos Pereira, Ph.D., exemplo de dedicação, que clareou-me as idéias e deu o norte para colocá-las no papel. Agradeço-lhe pela paciência e dedicação desprendidas em suas orientações. Não posso esquecer de todos os meus colegas do Curso de Mestrado em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade da Amazônia da UFAM, que também me incentivaram. Sucesso a todos. Enfim, agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para a conclusão desta empreitada, em especial aos idealizadores do convênio FECOLINAS/UFAM.

RESUMO A Reserva Florestal Legal é um espaço localizado no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada as áreas de preservação permanente (APPs), necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas, conforme exige o artigo 16 do Código Florestal. O objetivo deste trabalho centrou-se na análise da ocorrência de reserva florestal legal em imóvel rural localizado em área de transição Amazônia - cerrado. A área escolhida foi a do município de Colinas do Tocantins TO. O método escolhido para a realização da pesquisa foi o de estudo de caso. Inicialmente foi realizada uma abordagem conceitual da Reserva Florestal Legal, discorrendo sobre seus aspectos histórico-legislativos e suas peculiaridades. Em seguida foram identificadas as características físico-ambientais da região rural de Colinas do Tocantins TO, município localizado nas fraldas da Floresta Amazônica, cuja área territorial total alça a 844 km² e tem presente características dos Biomas Amazônico e Cerrado. Foram levantados dados sobre as propriedades rurais do município quanto à existência ou não da Reserva Florestal Legal e sua adequação ao ambiente natural da área de estudo, mediante consultas ao Departamento de Ordenamento Fundiário do INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, Prefeitura Municipal de Colinas do Tocantins e Cartório de Registro de Imóveis. Foi ainda realizada uma pesquisa por amostragem, com a aplicação de um questionário contendo 31 questões, a doze proprietários rurais do município, sendo quatro pequenos proprietários, com áreas de até 50 ha, cinco médios proprietários, com áreas de até 999 ha e três grandes proprietários, com área acima de 1.000 ha Os resultados obtidos com o estudo revelaram que existem 413 imóveis rurais no município de Colinas do Tocantins, sendo que a maioria deles, na ordem de 89,6%, não cumpre a legislação e mantém reserva legal florestal. Observou-se haver a predominância de imóveis de até 100 ha na área estudada, com 194 unidades, dos quais 4 contam com reserva legal averbada. Há maior incidência de averbações nos imóveis de 201 a 500 ha que perfazem 39,6% das 43 áreas com reserva legal averbada junto a sua matrícula imobiliária. O ano de 2000 registra o maior número de averbações (21), devido ao rigor das Medidas Provisórias que entraram em vigor nos anos anteriores. Por serem provisórias e não haver, ainda hoje, definição sobre a questão, houve progressiva diminuição de averbações, não tendo sido registrada nenhuma reserva legal do ano de 2007 até meados de 2008, data da coleta de dados para a pesquisa. O descompasso entre o respeito às normas que definem a reserva legal e a situação encontrada no municio de Colinas não se deve ao desconhecimento dos proprietários rurais, já que a totalidade dos entrevistados conhece ou já ouviu alguém falar sobre o que é a reserva legal e quais são as conseqüências para o seu descumprimento. Contatou-se também que restam pouco mais de 5,7 km² de florestas no município de Colinas e por não haver no seu âmbito nenhuma área publica destinada à manutenção dos ambientes naturais, a conservação/recomposição das áreas de reserva florestal legal e das APPs nos imóveis rurais é o único modo de manter parcelas conservadas/preservadas do ambiente natural, surgindo daí sua importância como mecanismo capaz de auxiliar na criação de um ambiente ecologicamente equilibrado. As recomendações propostas propiciam aos atores sociais a ampliação do debate em torno da reserva florestal legal, instituto do direito ambiental repudiado por uns, que o consideram um entrave ao desenvolvimento regional, e defendido por outros, que o tem como importante mecanismo de conservação do ambiente natural brasileiro. Palavras chaves: Legislação Ambiental, Reserva Florestal Legal, Cerrado, Amazônia, Gestão Florestal.

ABSTRACT The Legal Forest Reserve is an area located within a rural property or possession, except the areas of permanent preservation (APPs), required for the sustainable use of natural resources, conservation and rehabilitation of ecological processes, biodiversity conservation and under and protection of native flora and fauna, as required by Article 16 of the Forest Code. This work focused on analysis of the occurrence of legal forest reserves in rural properties located in an area of transition Amazon - Cerrado. The study area correspondes to the municipality of Colinas do Tocantins - TO. The method chosen to conduct the study was a case study. The introduction presents a conceptual approach of the Forest Reserve Legal, its historical origins, legislative aspects and their peculiarities. The physical and environmental characteristics of the rural area of Colinas do Tocantins - TO, municipality located in the boarder of the Amazon Forest, comprises a total area of 844 km² and has the characteristics of the Amazon and Cerrado biomes. Data were collected on the farms of the municipality as to the existence or not of Legal Forest Reserve and its suitability to the natural environment of the study area in consultation with the Department of Land Planning of INCRA - National Institute of Colonization and Agrarian Reform, City of Colinas do Tocantins and office of Registration of Real Estate. It also conducted a search at random, with the application of a questionnaire containing 31 questions to twelve landowners in the municipality, being four small owners, with areas of 50 ha, five medium owners, with areas of up to 999 ha and three large owners, with an area above 1,000 ha. The results of the study revealed that there are 413 rural properties in Colinas do Tocantins, where most of them in the order of 89.6%, does not comply with the law and maintain legal reserve forest. There was a predominance of properties sized up to 100 ha in the study area, with 194 units, four of which have endorsed legal reserve. There is greater incidence of registered reserves in properties of 201 to 500 ha, which make up to 39.6% of all 43 areas of legal reserve registered. The year 2000 correspondes to the highest number of registration (21), due to the severity of the measures that came into force in previous years, but because they are registered was not registered any legal reserve in the year 2007 until mid-2008, data collection for research. The mismatch between the compliance to the standards that define the legal reserve and the situation found in the municipality is not due to the ignorance of the landowners, since all the respondents know or have heard someone talk about what is the legal reserve and about the consequences for their noncompliance. A little over 5.7 square kilometers of forest remain in Colinas and since there is no public area left for the maintenance of natural environments, the conservation / restoration of the areas of legal forest reserve and the APPs within rural properties is the only way to keep portions of conserved / preserved natural areas, hencing the importance of private properties as a mechanism capable of assisting in creating an ecologically balanced environment. The recommendations proposed is to provide social actors to extend the debate around the forest reserve law, environmental policy instrument rejected by some, considered an obstacle to regional development, and defended by others, that is an important mechanism to maintain the Brazilian natural environment. Keywords: Environmental Law, Legal Forest Reserve, Cerrado, Amazon, Forest Management.

LISTAS DE FIGURAS Figura 1. Localização município de Colinas Do Tocantins... 39 Figura 2. Distribuição da população urbana e rural de Colinas no ano de 2007... 40 Figura 3. Mapa de vegetação do Estado do Tocantins... 43 Figura 4. Ordenamento jurídico dos imóveis rurais de Colinas no ano de 2003... 46 Figura 5. Evolução desmatamento em Colinas no período de 2000/2006...50 Figura 6. Evolução da averbação da reserva legal no período de 1991/2006...... 53 Figura 7. Averbação de reserva legal no município de Colinas... 54 Figura 8. Área ocupada por imóvel com reserva legal averbada no município de Colinas. 55 Figura 9. Qualidade do meio ambiente em Colinas segundo o proprietário rural... 58 Figura 10. Percepção ambiental do proprietário rural de Colinas quanto a mudanças no meio ambiente... 59 Figura 11. Percepção dos proprietários rurais em relação a quantidade de árvores em seus imóveis no ano de 2008... 59 Figura 12. Presença de matas e cerrados virgens na aquisição do imóvel... 60 Figura 13. conhecimento dos entrevistados sobre o que é reserva legal... 61 Figura 14. Conhecimento dos entrevistados sobre a lei da reserva legal... 62 Figura 15. Reserva legal nas propriedades de Colinas no ano de 2008... 62 Figura 16. Tamanho ideal de reserva legal segundo o proprietário rural de Colinas...63 Figura 17. Melhor maneira de implantar a reserva florestal legal... 64

LISTA DE TABELAS Tabela 1. Situação jurídica dos imóveis rurais de Colinas no ano de 2003... 45 Tabela 2. Classificação dos imóveis rurais de Colinas no ano de 2003... 46 Tabela 3. Área urbana e rural do município de Colinas no ano de 2008... 47 Tabela 4. Desmatamento em Colinas no período de 2000/2006... 49 Tabela 5. Ocorrência de averbação de reserva legal por categoria de imóvel em Colinas.. 56

LISTA DE ANEXOS Anexo 1. Imóvel rural com reserva legal averbada na matrícula imobiliária no município de Colinas do Tocantins até junho de 2008... 72 Anexo 2. Medida Provisória 2166/67/01...73 Anexo 3. Resolução CMN Nº. 3545/08... 81 Anexo 4. Portaria MMA Nº. 96/08... 83 Anexo 5. Portaria MMA Nº. 186/08... 85 Anexo 6. Lei Nº. 10.267/01 (CCIR)...86 Anexo 7. Questionário aplicado aos proprietarios rurais de Colinas... 91 Anexo 8. Termo de consentimento livre e esclarecido... 94

SUMÁRIO 1. Introdução... 11 2. Objetivos... 15 2.1. Objetivo geral.... 15 2.2. Objetivos específicos... 15 3. Revisão bibliográfica... 16 3.1. A Reserva florestal legal... 16 3.2. Aspectos histórico-legislativos da reserva florestal legal no Brasil...17 3.3. A Reserva florestal legal na Medida Provisória 2166/67... 23 3.4.A reserva legal na pequena propriedade rural...26 3.5. A Propriedade privada... 27 3.6. A Função social da propriedade privada... 29 3.7. A Reserva florestal no Brasil e as sanções para o seu descumprimento... 31 4. Materiais e métodos... 39 4.1. Localização da área de estudo... 39 4.2. O Território da área de estudo... 39 4.3. A População residente no município de Colinas do Tocantins... 40 4.4. Histórico da povoação da área de estudo... 41 4.5. O Clima.... 41 4.6. O Solo... 42 4.7. A Vegetação... 43 4.8. Procedimentos metodológicos...44 5. Resultados e discussões... 45 5.1. A propriedades rural no município de Colinas do Tocantins... 45 5.2. O desflorestamento no município de Colinas do Tocantins... 48 5.3. Análise da reserva florestal legal no municípo de Colinas do Tocantins... 51

5.4. Análise da reserva legal na propriedade rural do municipio de Colinas do Tocantins. 58 6. Considerações finais... 66 7. Recomendações... 68 8. Referências... 69 8. Anexos... 72

11 1 INTRODUÇÃO O acelerado processo de ocupação e a crescente pressão exercida pelo desenvolvimento econômico em áreas de Floresta Amazônica e remanescentes do Cerrado têm provocado sérios prejuízos ao ambiente natural brasileiro. A cada ano, perde-se percentual considerável de sua extensão, tornando urgente a necessidade de implementação de ações que visem a sua conservação, fator preponderante para a sadia qualidade de vida das presentes e futuras gerações e, conseqüentemente, da continuidade da epopéia humana no planeta Terra. No decorrer das ultimas décadas, foram implementadas várias ações governamentais de proteção ao ambiente natural e, em especial, ao bioma amazônico, cujas eficácias têm se mostrado ainda insuficientes. De um lado, dispõe-se de uma vasta legislação ambiental em vigor que, no entanto, não evolui na mesma velocidade que as transformações na sociedade e os avanços do conhecimento científico-político. De outro, constata-se a baixa observância a estas normas impostas, configurando o agravamento e a intensificação dos crimes ambientais, fatores que somados colocam florestas e toda biodiversidade nelas existente à mercê de uma vasta gama de ações depredatórias. Sensível à problemática alhures, o legislador nacional elaborou um importante mecanismo de proteção do ambiente natural: A reserva florestal legal. A reserva florestal legal pode ser definida como o instituto de direito ambiental que prevê a criação de espaço territorialmente protegido de qualquer tipo de degradação dentro da propriedade particular ou posse rural, só podendo ser explorado através de plano de manejo devidamente aprovado pelos órgãos ambientais (SIRVINSKAS, 2005, p. 216). Na sistemática legal hodierna, a reserva florestal legal ocupa posição de destaque, assegurando com seus mecanismos o uso sustentável dos recursos naturais e da conservação e

12 reabilitação dos processos ecológicos de toda a biodiversidade, funcionando como abrigo seguro para a fauna e flora nativas. A obrigatoriedade e o tamanho da reserva florestal legal estão previstas na legislação ordinária brasileira, mais precisamente pela Lei nº. 4.771 de 15 de setembro 1965, cujos artigos 16 e 44 foram modificados pela Medida Provisória nº. 2.166/67, de 28 de agosto 2001, e são definidas de acordo com a localização da propriedade rural no País, variando de 20% a 80% da área total do imóvel. O maior lastro da reserva florestal legal está na Constituição da República Federativa do Brasil, mais precisamente no seu artigo 5º., incisos XXII e XXIII, que garante o direito à propriedade e a sua utilização em função da sociedade e, no artigo 225, asseguratório de um meio ambiente ecologicamente equilibrado como uso comum do povo e essencial a sadia qualidade de vida. Contudo, vários estudos revelam que a realidade agrária brasileira se encontra desassociada do teor do artigo 16 do Código Florestal e da MP 2166/67, pois a simples edição de normas jurídicas, mesmo que de natureza constitucional, não operacionalizam milagres, transformando a realidade fática de um determinado lugar. O descumprimento das leis ambientais e agrárias tem sido responsável pela gênese de boa parte das tensões em áreas de fronteira agrícola na Amazônia e pela polarização da sociedade brasileira frente ao dilema entre a preservação ambiental e o desenvolvimento regional. De um lado, formam-se grupos ruralistas, ligados aos pecuaristas, agricultores, madeireiros garimpeiros, que procuram avançar suas atividades floresta adentro, buscando o tão sonhado progresso, o qual na prática, muitas vezes, não passa apenas de um crescimento exponencial e efêmero, que deixa em seu rastro miséria e destruição ambiental. De lado diametralmente oposto, Ministério Público, governos, organizações internacionais e

13 ambientalistas, procuram defender o ambiente natural por meio de vários institutos, dentre os quais destacamos o da reserva florestal legal, numa busca constante pela preservação dos biomas brasileiros e de sua fantástica biodiversidade (MIRANDA, 2007, p. 7). Outra complicação reside no fato de que no Brasil não existem dados precisos do número de imóveis rurais, bem como da exata proporção dos que mantêm reserva florestal legal. Os únicos dados disponíveis são os do cadastro de imóveis rurais do INCRA, que são informações prestadas diretamente pelos proprietários rurais (BACHA, 2003, p. 180). O emaranhado legislativo e a ausência de efetivo controle sobre o numero de imóveis rurais existentes no Brasil, bem como de dados precisos sobre os mesmo, provoca um descumprimento generalizado da legislação ambiental, e em especial, da que se destina à reserva florestal legal. O trabalho realizado teve como objetivo central a análise da observância de reserva florestal legal em área de transição Amazônia/cerrado, nos moldes do artigo 16 do Código Florestal, como mecanismo de conservação do ambiente natural. Pela insuficiência de dados precisos sobre o número de imóveis rurais existentes no Brasil e a proporção dos que mantém reserva legal florestal, bem como pela impossibilidade técnica de proceder tal levantamento, haja vista ser um trabalho hercúleo e longevo, este estudo focou sua área de abrangência para a um município, como unidade políticoadministrativa, onde tais políticas públicas deveriam estar operando em sintonia, permitindo um maior aprofundamento e detalhamento que essa questão evoca. Para tanto, foi eleito um município do Estado do Tocantins, mais precisamente o de Colinas do Tocantins, cuja área total alça a 844 km². Inicialmente, apresentou-se uma abordagem conceitual da reserva florestal legal, discorrendo sobre seus aspectos histórico-legislativos e as peculiaridades do instituto em comento.

14 Em seguida, identificaram-se as características físico-ambientais da região rural do município de Colinas do Tocantins TO. Foram analisados os dados existentes sobre propriedades rurais do município de Colinas do Tocantins, bem como aqueles acerca da existência ou inexistência da reserva florestal legal e sua adequação ao ambiente natural do município de Colinas do Tocantins TO. Os dados coletados e analisados permitiram avaliar o grau de observância da manutenção obrigatória da Reserva Florestal Legal, assim como as diferenças entre propriedades de diferentes classes de tamanho e as percepções dos proprietários rurais quanto à exigência legal e as conseqüências para o seu descumprimento.

15 2 OBJETIVOS 2.1 OBJETIVO GERAL O objetivo geral do trabalho em tela foi a análise da ocorrência de reserva florestal legal em área de transição Amazônia/cerrado, nos moldes do artigo 16 do Código Florestal, como mecanismo de conservação do ambiente no município de Colinas do Tocantins TO. 2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Os objetivos específicos do estudo foram: Identificar as características físico-ambientais da região rural do município de Colinas do Tocantins TO. Descrever a legislação e o histórico da reserva florestal legal em área de produção rural e sua adequação às características do ambiente no município de Colinas do Tocantins TO. Caracterizar as propriedades rurais do município de Colinas do Tocantins quanto à existência da reserva florestal legal. Descrever e analisar as percepções e dificuldades dos proprietários do município quanto à implantação e recomposição da reserva florestal legal.

16 3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 A RESERVA FLORESTAL LEGAL A reserva legal é uma figura jurídica criada pelo Código Florestal. Trata-se de uma parcela da propriedade rural onde não é permitido o corte raso. Há um bom motivo para que ela exista: o de assegurar mostras significativas de ecossistemas, conservando a biodiversidade e servindo de abrigo e proteção à fauna e à flora (IRIGARAY, 2006, p. 159). Por conceito, a reserva florestal legal pode ser definida como o instituto de Direito Ambiental que prevê a criação de espaço territorialmente protegido de qualquer tipo de degradação dentro da propriedade particular ou posse rural, só podendo ser explorado através de plano de manejo devidamente aprovado pelos órgãos ambientais (SIRVINSKAS, 2005, p. 216). A área de reserva legal é a parcela da propriedade rural que deve ser conservada com vegetação natural, sendo nela permitida apenas a exploração racional, sem destruir o conjunto da vegetação (OLIVEIRA e BACHA, 2003, p. 178). A reserva florestal legal deve ser distinta das áreas de preservação permanentes APP, que são áreas protegidas, nos termos dos artigos 2º e 3º do Código Florestal, e situam-se ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal, cuja extensão é definida de acordo com a sua largura, bem como todas as nascentes, os lagos, as lagoas, as encostas, os topos de morros etc., sendo cobertas ou não por vegetação nativa, possuindo a função de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico da fauna e da flora, bem como o de proteger o solo e assegurar o bem estar das populações humanas. Nas áreas de preservação permanente os recursos naturais não podem ser explorados.

17 Da mesma forma que as florestas e demais formas de preservação permanente, a reserva florestal legal decorre de normas legais que limitam o direito de propriedade. A diferença entre elas diz respeito ao que concerne a dominialidade (MACHADO, 2007, p. 719). A reserva florestal legal do art. 16 do Código Florestal incide somente sobre o domínio privado ao passo que as áreas de preservação permanente incidem sobre o domínio privado e público (Lei 4.771/65 e Lei 5.197/67). O conceito de reserva legal, hoje vigente no ordenamento jurídico brasileiro, é matéria disciplinada pelo Código Florestal Brasileiro Lei 4.771/65, com as modificações que lhe foram feitas, em um primeiro momento pela Medida Provisória 1956-50, de 26 de maio de 2000 e, em seguida, mantido pela Medida Provisória 2.166-67. O inciso III, do 2º da citada Medida Provisória, define reserva legal como a área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas. 3.2 ASPECTOS HISTÓRICO-LEGISLATIVOS DA RESERVA FLORESTAL LEGAL NO BRASIL A legislação florestal brasileira em vigor divide a área total de uma propriedade rural em três parcelas: área de reserva legal, área de preservação permanente e área livre para exploração agropecuária (OLIVEIRA e BACHA, 2003, p. 182). No entanto, a preocupação em preservar parte da vegetação nativa nas propriedades rurais particulares não é nova no cenário legal pátrio, já que remonta a época do Brasil Colônia, período em que foram editadas várias Ordens Reais proibindo sesmarias em áreas onde abundavam as madeiras apropriadas para a construção naval (DEAN, 1996, pág. 151).

18 Tal fato decorreu da implementação da indústria de construção naval em Salvador, ocorrida entre o fim do século XVI e meados do século XVII, quando estaleiros reais e de iniciativa privada passaram a consumir grande quantidade de certos tipos de madeira, levando a Coroa Portuguesa a expedir, nos idos de 1795 a 1799, regulamentações, denominadas de Cartas Régias, que além de proibir sesmarias em áreas de reserva de madeira naval, passaram a considerar de uso exclusivo da Coroa toda a madeira naval, que passou a ser denominada de pau real ou madeira de lei (DEAN, 1996, p. 171), expressão que se popularizou na língua pátria e é hodiernamente usada para designar as madeiras nobres no País. Ao tutelar juridicamente estas florestas, a Coroa Portuguesa passou a limitar o direito de propriedade. Sua intenção era a de preservar árvores propícias para construção naval, protegendo-as da cobiça e da ambição dos habitantes, que a pretexto das suas lavouras, assolavam e destruíam preciosas matas,... a ferro e a fogo. MIRANDA (2007, p. 15), citando Paulo Ferreira de Souza, traz os seguintes fragmentos da Carta Régia de 11 de julho de 1799: Eu, a Rainha, faço saber aos que este Alvará virem, que tendo em consideração a necessidade que há de se formar um regimento, que não só regule a direção do serviço de córtes das madeiras de construcção já abertos nas Capitanias de Pernambuco e Bahia, ou que para o futuro se houverem de abrir, de tão grande importância aos interesses da minha Real Marinha e da mercantil; mas que também cohiba a indiscreta e desordenada ambição dos habitantes, que a pretexto das suas lavouras, tem assolado e destruído preciosas mattas a ferro e fogo, de tal sorte que, a não acudir Eu com as mais enérgicas providencias, ficarão, em poucos annos, reduzidas a inutilidade de poderem fornecer os páos de construcção, de que tanto abundaram e já hoje ficam em distâncias consideráveis dos portos de embarque... TÍTULO I DO JUIZ CONSERVADOR Art. 1 Declarando ser de propriedade da minha Real Coroa, todas as mattas e alvoredos á borda da costa ou rio, que desembarque immediatamente no mar... Art. 3 E querendo para o futuro acautelar os prejuízos que a indiscreta ambição dos habitantes continuam a causar nas mattas, reduzindo-as á cinzas pelo ferro e fogo,

19 mando que sejam vedadas ao uso comum com os seus fundos todas as que houverem madeiras de construcção... Art. 7 Attendendo porém a que nos fundos das referidas mattas das Alagoas, se acham alguns ramos de Pau Brasil ainda que pela má administração do seu corte destruídas, que poderão com tudo pelo tempo adiante restabelcerem-se, ordeno que fiquem as sobreditas inteiramente vedadas e fechadas a todo e qualquer uso dos particulares... Art. 11 Considerando por outra parte a necessidade, que os povos têm de madeiras para edificarem casas, e engenhos e quaisquer outras obras, permitto que nas mattas excluídas aos particulares possam desfructar os que nellas habitarem aquellas madeiras que forem necessárias para o seu uso tão somente, não sendo das de construcção... A voraz sanha depredatória dos primeiros colonizadores, bem caracterizada na Carta Régia, dizimou o pau-brasil e mais tarde reduziu a Mata Atlântica a menos de 15% da que existia em 1500. Infelizmente, sinais da mesma catástrofe se repetem na Amazônia nos dias de hoje. Desde o ano de 2001 desmata-se mais de 2 milhões de hectares por ano da maior floresta tropical do planeta Terra (INPE, 2005). Passados mais de dois séculos, a Carta Régia de 1799 é incrivelmente atual. Parece estar se referindo às atuais fronteiras agrícolas da Amazônia, semelhante ao que, atualmente, é denominado de arco do desmatamento. A única mudança perceptível se dá em relação ao palco da ação. Outrora, no Brasil Colonial, a Rainha falava da mata atlântica no litoral e zona da mata nordestina; atualmente fala-se da floresta amazônica nos nove Estados que compõem a Amazônia brasileira, estendendo-se do centro-oeste ao norte do País. É a interiorização lenta e paulatina da destruição (MIRANDA, 2007, p. 15). Embora a motivação do legislador fosse outra, tais regulamentações são antecedentes históricos legislativos das atuais leis que instituem reservas da biodiversidade no Brasil. A reserva legal somente foi formalmente instituída no Brasil no ano de 1934, quando se estabeleceram limites ao uso da terra dentro da propriedade rural. O imóvel deveria ser

20 dividido em duas áreas; a área livre para exploração e as áreas a serem mantidas com florestas. Estas últimas seriam de no mínimo 25% da propriedade rural (OLIVEIRA e BACHA, 2003, p. 181). Tal evento adveio de iniciativa de Epitácio Pessoa, Presidente da República na década de 20 do século passado, quando veio a lume a necessidade de proteger determinada área das propriedades rurais particulares. Tal ideal materializou-se 14 anos depois através do Decreto Federal nº. 23.793, que passou a ser designado de Código Florestal de 34, sendo que dentre as inúmeras inovações que trouxe, a mais ousada se encontrava inserida no artigo 23, que criava o limite do direito de uso da propriedade, a chamada quarta parte (DEAN, 1996. p. 71), ou seja, a redação do citado artigo de Lei determinava que nenhum proprietário de terras cobertas de matas podia abater mais de três partes da vegetação existente. Esta primeira reserva legal, por assim dizer, pois no inicio não tinha essa denominação, era na verdade uma reserva extrativista. A intenção do legislador era de manter uma reserva de madeira para uso futuro do proprietário. Tanto que aquele Código não previa qualquer sanção para o corte da reserva. O primeiro Código Florestal estabeleceu um limite único para as reservas legais em todo o Brasil (mínimo de 25% da área da propriedade rural) e não definiu regras sobre o uso das reservas legais. Esse mencionado ato jurídico apenas estabeleceu a necessidade de autorização, por parte da autoridade florestal, para exploração de florestas situadas próximas de rios e estradas de ferro (OLIVEIRA e BACHA, 2003, p. 181). O Código Florestal de 1934 permaneceu em vigor até o ano de 1965, quando foi substituído pelo Novo Código Florestal, editado pela Lei nº. 4.771 de 15 de setembro. Neste novo Código Florestal ainda não aparecia o termo reserva legal. O legislador colocou restrições a exploração das florestas em termos de percentuais que variavam conforme a região do País.