PERFIL DOS PACIENTES DIABÉTICOS DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DO SANTANA PARACATU MG RESUMO



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Transcrição:

PERFIL DOS PACIENTES DIABÉTICOS DA UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE DO SANTANA PARACATU MG Letícia Pazze 1 Renan Andrade Bessa Guimarães 2 Rossana Garcia Eloy Pimenta 3 Sâmia Luiza Sousa Paiva 4 Helvécio Bueno 5 Talitha Araújo Faria 6 RESUMO O Diabetes Mellitus compreende um conjunto de doenças do metabolismo que se caracteriza por hiperglicemia, que é decorrente de alterações na ação e/ou na secreção do hormônio insulina. A fase crônica da hiperglicemia relaciona-se a lesões, alterações da função e falência de muitos órgãos, principalmente vasos sanguíneos, nervos, coração, rins e olhos. Este artigo é um estudo do tipo descritivo transversal, que tem como objetivo avaliar o perfil dos diabéticos cadastrados na Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro Santana, na cidade de Paracatu, Minas Gerais. Foram analisados 158 prontuários, sendo 45,57% mulheres e 54,43% homens, com faixa etária entre 61 e 70 anos. Além disso, foram coletadas informações sobre as principais comorbidades, destacando-se a hipertensão arterial sistêmica, complicações em membros inferiores, poliúria, dores abdominais e complicações gastrointestinais. Os principais medicamentos prescritos aos pacientes foram Metformina e Captopril. Palavras-chave: diabetes mellitus, perfil dos diabéticos, comorbidades. 1 Acadêmica de Medicina da Faculdade Atenas, Rua José do Patrocínio, número 724, apartamento 802, Bairro Centro, CEP 38610000, letícia_unai@hotmail.com,(38)36762254, 2 Acadêmico de Medicina da Faculdade Atenas, bessa.renan@yahoo.com.br,(34)92379998, 3 Acadêmica de Medicina da Faculdade Atenas, rossanaeloy@hotmail.com, (61)81072209, 4 Acadêmica de Medicina da Faculdade Atenas, samialuizasp@hotmail.com, (38)99653804, 5 Professor, Orientador do Curso de Medicina da Faculdade Atenas, 6 Professor, Orientador do Curso de Medicina da Faculdade Atenas.

ABSTRACT Diabetic Mellitus comprises a group of metabolic diseases which is characterized by hyperglycemia, due to its changes in action and / or secretion of the hormone insulin. Chronic hyperglycemia phases relates to injuries, according to the changes and failure of many organs, especially blood vessels, nerves, hearth, kidneys and eyes. This article is a cross-sectional analytical study type, which aims to evaluate the profile of registered diabetics in the Basic Health Unit, Santana's neighborhood, city of Paracatu, Minas Gerais. 158 records were analyzed, with an average of 45.57% women and 54.43% men, between 61 and 70 years old. In addition, information on major comorbidities were collected, highlighting the systemic arterial hypertension, complications in the lower limbs, polyuria, abdominal pains and gastrointestinal complications. The main drugs prescribed to patients were Metformin and Captopril. Key words: Diabetic mellitus, profile of diabetic, comorbidities. INTRODUÇÃO O Diabetes Mellitus tem relevância em todo o mundo e tem se transformado em uma questão de Saúde Pública, ganhando uma dimensão cada vez maior de novos casos. Está entre as doenças crônicas mais comuns que acometem o homem, manifestando-se em países de todos os diferentes níveis socioeconômicos (GRILLO E GORINI, 2007). Com as transformações ocorridas no Brasil, desde a década de 60, nos âmbitos político, social e econômico, que estabeleceram alterações na situação demográfica da população, houve um aumento na expectativa de vida e na taxa de idosos. Desta forma, o aumento da morbimortalidade, a queda na taxa de doenças infecto-parasitárias e a predominância de doenças crônicas não transmissíveis, como o Diabetes Mellitus, alteraram o quadro epidemiológico do país (GRILLO E GORINI, 2007). O Diabetes Mellitus compreende um conjunto de doenças do metabolismo que se caracterizam por hiperglicemia, que é decorrente de alterações na ação e/ou na secreção do hormônio insulina. A fase crônica da hiperglicemia relaciona-se a lesões, alterações da função e falência de muitos órgãos, principalmente vasos sanguíneos, nervos, coração, rins e olhos

(GROSS et al., 2002). Segundo Brasil (2006, 12): Diabetes Mellitus Tipo 1 os tipos de Diabetes Mellitus mais frequentes são o diabetes tipo 1, anteriormente conhecido como diabetes juvenil e o diabetes tipo 2, anteriormente conhecido como diabetes do adulto. Outro tipo de diabetes encontrado com maior frequência e cuja etiologia ainda não está esclarecida é o diabetes gestacional, que, em geral, é um estágio pré-clínico de diabetes, detectado no rastreamento pré-natal. Outros tipos específicos de diabetes menos frequentes podem resultar de defeitos genéticos da função das células beta, defeitos genéticos da ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes. O Diabetes Mellitus Tipo 1 (DM1) decorre da destruição das células beta do pâncreas, resultando em carência de insulina. A destruição dessas células decorre, na maioria das vezes, de processo autoimune. É encontrado, porém, o DM1 idiopático, no qual a autoimunidade não é evidenciada (TAMBASCIA, 2007). As células beta são destruídas em uma taxa inconstante e é geralmente em crianças que ocorre mais rapidamente. As pessoas que apresentam a forma idiopática de DM1 tem a possibilidade de desenvolver cetoacidose e a carência de insulina aparece em diferentes graus. Essa forma de DM1 representa a menor parte dos casos e designa-se pela ausência de sinalizador de autoimunidade contra as células beta e falta de interação com haplótipos do sistema antígeno leucocitário humano (TAMBASCIA, 2007). Diabetes Mellitus Tipo 2 O Diabetes Mellitus tipo 2 (DM2) representa a maioria dos casos e é devido a alterações na secreção e na ação do hormônio insulina. Quando há manifestação da hiperglicemia é comum que as duas alterações sejam encontradas, mas pode acontecer de uma prevalecer sobre a outra. Na maioria dos casos de DM2, os acometidos apresentam sobrepeso ou obesidade, ocorrendo cetoacidose associada à presença de infecções. Para conseguir um apropriado controle do metabolismo, pode ser necessário o uso de insulina exógena para tratamento, não sendo esta uma regra (TAMBASCIA, 2007). Diabetes Gestacional O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) pode ser diagnosticado no início ou durante a gestação, sendo caracterizado como uma intolerância a glicose de diversos graus. A mulher pode apresentar o quadro antes da gestação, porém se for identificada apenas durante a gravidez, se enquadra na classificação de DMG. Relaciona-se, da mesma maneira que a DM2, à alteração nas células beta pancreáticas e à resistência a insulina e associa-se à elevação na

taxa de mortalidade e morbidade perinatal. Entre 4 a 6 semanas após o parto é necessária a reavaliação da paciente com DMG e assim reclassificá-la como apresentando: Diabetes Mellitus, glicemia de jejum alterada, tolerância a glicose diminuída ou normoglicemia. Existe a chance de 17%-63% de a DMG evoluir para DM2 após o parto, porém o retorno à normoglicemia é mais comum (TAMBASCIA, 2007). Complicações No DM1, quando a concentração de glicose no sangue está elevada, chegando a ultrapassar o nível de reabsorção suportado pelos rins (aproximadamente 180mg/dl), ocorre a glicosúria, que é a presença de glicose na urina, juntamente com polidipsia e poliúria compensatória. Com a cronificação da hiperglicemia, pode ocorrer também candidíase perineal em ambos os sexos. A cetoacidose é comum, sendo mais prevalente em crianças menores de 5 anos. Com a correção da hiperglicemia, o controle metabólico é facilmente atingido (LOPES, 2009). No DM2, similarmente ao DM1, na presença de hiperglicemia aparecem os sintomas de polidipsia e poliúria. Outros sintomas comuns são perda de peso, visão turva e fadiga. Uma diferença em relação ao tipo 1 é o desenvolvimento gradual da hiperglicemia, fazendo com que o diagnóstico seja realizado somente com o aparecimento de complicações crônicas, dentre elas, macroangiopatias, microangiopatias e neuropatias (LOPES, 2009). Na macroangiopatia, ocorrem alterações em vasos sanguíneos arteriais de grande calibre, como por exemplo, em artérias dos membros inferiores, artérias cerebrais, coronárias e aorta, tendo, como lesão mais comum, a aterosclerose (FIGUEIREDO E CARAMONA, 1991). Na microangiopatia ocorre espessamento da membrana basal dos vasos, principalmente arteríolas e vênulas, localizando-se em rins (nefropatia diabética), retina (retinopatia diabética) e pele (dermopatia diabética) (FIGUEIREDO E CARAMONA, 1991). Na neuropatia diabética ocorre desmielinização segmentar, gerando uma diminuição da velocidade na condução de sinais nervosos. Caracteriza-se por alterações das sensibilidades superficial e profunda e pela perda dos reflexos motores, podendo gerar atrofia em pequenos músculos, afetando principalmente os pés - dedos em garra, desvio dos metatarsos, calosidades, destruição dos tecidos subjacentes com consequente ulceração. Quando ocorre a afecção do Sistema Nervoso Autônomo pode ocorrer retenção urinária, alterações na motilidade intestinal e impotência sexual (FIGUEIREDO E CARAMONA, 1991).

Além desses comprometimentos citados, também podem ocorrer problemas infecciosos, tais como infecções do trato urinário, celulites (por Streptococcus ou Staphylococcus aureus), infecção da pele (piodermites, abcessos) e pé diabético. A ocorrência de catarata também é outro acometimento (FIGUEIREDO E CARAMONA, 1991). Método Trata-se de um estudo do tipo descritivo transversal. Foi realizado na Unidade de Saúde Santana (USF), localizada no bairro Santana do município de Paracatu, Estado de Minas Gerais. O município possui 1419 diabéticos cadastrados, em uma população estimada de 89 530 habitantes (IBGE, 2013). A idade prevalente encontrada na avaliação dos prontuários é de pessoas entre 61 e 70 anos, totalizando 372 casos. Desses 372 casos, foi realizado o cálculo amostral, utilizando o desvio 2 (95,5%) e erro de 6% [n = S².p.q.N/e²(N-1)+S².p.q]. O valor encontrado foi 158. Dentro da amostra, os prontuários foram analisados e, com base nas informações neles contidas, foi traçado um perfil desses diabéticos, contendo a data do diagnóstico, as principais comorbidades e os tratamentos realizados. Os dados foram coletados no período de agosto a setembro de 2014, na própria Unidade supracitada. O trabalho foi enviado para análise para o Comitê de Ética da Faculdade Atenas de Paracatu. O pacote estatístico utilizado para a tabulação dos dados foi o Excel (2013). RESULTADOS E DISCUSSÃO Como a coleta de dados baseou-se em dados secundários, já registrados em sistemas de informação, o estudo apresentou algumas limitações. Na maioria dos prontuários analisados, a informação referente à data de diagnóstico dos pacientes não está presente ou não é bem definida. Assim, optou-se pela busca da data de encaminhamento do paciente. Porém, como a USF alvo do estudo é nova, com aproximadamente dois anos de fundação, as datas de encaminhamento são muito variadas, ultrapassando até a data de fundação da Unidade, o que inviabilizou a análise deste dado. Outra limitação diz respeito à organização e preenchimento dos prontuários. A

caligrafia apresentava-se muitas vezes ilegível e as informações não tinham uma correta ordem cronológica. Isso gerou defasagem nas informações coletadas, já que muitos dados deixaram de ser analisados por falta de compreensão do que estava relatado nos prontuários. Esses fatores evidenciam a necessidade da informatização dos prontuários, o que facilitaria tanto o levantamento de dados para pesquisa científica, quanto o cruzamento de dados entre os Sistemas de Informação de Saúde e, consequentemente, a qualidade dos serviços de saúde. Do total de prontuários de diabéticos cadastrados na UBS Santana, que totalizam 1419, 367 (25,86%) correspondem a faixa etária de 61-70 anos. Dentro deste intervalo, foi realizado o cálculo amostral, resultando em uma taxa mínima de 158 prontuários a serem analisados. O Gráfico 1 representa a prevalência de sexo desta amostra, revelando uma predominância do sexo masculino, 54,43%, contra 45,57% do sexo feminino na população de diabéticos. De acordo com estudos realizados nas cidades de Cuiabá, São Paulo e Bragança Paulista, a análise de sexo entre a população de diabéticos revela predominância do sexo feminino, o que se mostra contrário ao presente estudo (FERREIRA E FERREIRA, 2009; GOLDENBERG; SHENKMAN; FRANCO, 2003; LIMA ET AL., 2010). Outro resultado contrário refere-se aos dados do Hiperdia referentes ao município de Paracatu, no qual a população predominante de diabéticos também corresponde ao sexo feminino. Em contrapartida, outros estudos nacionais e regionais, revelam que no Brasil não existe diferença relevante relacionada à prevalência de sexo entre os diabéticos (MALERBI; FRANCO, 1992; TORQUATO ET AL., 2003).

Gráfico 1 - Porcentagem de sexo dos pacientes diabéticos 56,00% 54,00% 52,00% 50,00% 48,00% 46,00% 44,00% 42,00% 40,00% Masculino Feminino O DATASUS (Depertamento de Informática do SUS) fornece informações a respeito da situação sanitária, assim como dos programas de saúde do país. O Hiperdia é um sistema de cadastramento e acompanhamento de hipertensos e diabéticos, e é um dos principais sistemas de processamento de dados do DATASUS. Um dos relatórios gerados pelo Hiperdia refere-se a um resumo dos medicamentos prescritos pelo SUS, utilizado como parâmetro de busca neste estudo. São eles: Captopril, Propanolol, Hidroclorotiazida (antihipertensivos) Insulina, Metformina e Glibenclamida (atidiabéticos). O Gráfico 2 representa a quantidade de pacientes que utilizam cada um destes medicamentos, revelando predominância de Metformina, dentre os antidiabéticos (104 pacientes dos 158), e Captopril, dentre os antihipertensivos (54 pacientes dos 158). Além disso, tem-se 30 prontuários em que não foram citados os medicamenos utilizados pelos pacientes. Diante desses resultados, foi feita uma pesquisa acerca da disponibilidade de tais medicamentos pela rede pública do município de Paracatu, constatando-se que a medicação prescrita é de fácil acesso. Captopril, Glibenclamida, Hidroclorotiazida, Metformina e Propanolol são encontrados na Farmácia Municipal, enquanto Insulina e insumos (lancetas, fitas e seringas acopladas com agulhas) estão disponíneis na USF Santana. Isso sugere que o fornecimento dos medicamentos não é um impecilho ao tratamento e sua continuidade, além de indicar concordância entre a Secretaria de Saúde do município e as proposições do Sistema Único de Saúde.

Gráfico 2 Principais medicamentos utilizados 120 100 80 60 40 20 0 O Quadro 1 indica as principais comorbidades associadas ao Diabetes relatadas nos prontuários analisados. Nota-se que a Hipertensão Arterial Sistêmica é a mais prevalente dentre elas, presente em 48,1% dos pacientes. Em segundo lugar, encontra-se complicações em membros inferiores e poliúria com 15,8%, seguida por dor abdominal 13,9%, complicações gatrointestinais 11,4%, complicações neurológicas, complicações visuais e polidipsia 10,1%, complicações cardíacas e dor lombar 8,9%. Depois aparecem complicações musculares, edemas, dislipidemia, dores articulares, nefropatia diabética, dor torácica, cefaleia, vaginites, perda de peso, cansaço, cetoacidose diabética, disúria, sudorese, vertigem, xerostomia, AVC, cistite, litíase e nictúria com ocorrência igual ou inferior a 7%. No Quadro 1 também aparece a quatidade de prontuários em que não foi relatada nenhuma comorbidade, totalizando 27,8%. Na grande maioria dos estudos nacionais, verificou-se a hipertensão arterial sistêmica como uma das principais complicações relacionadas ao Diabetes Mellitus, abrangendo 70% ou mais da população estudada. No estudo realizado em Cuiabá, já citado anteriormente, a hipertensão esteve presente em cerca de 80% dos pacientes, valor semelhante ao infarto agudo do miocárdio

(IAM). Outras complicações predominates foram doença renal (9,9%), acidente vascular cerebral (8%), pé diabético (4,3%), e amputação (1,7%) (FERREIRA E FERREIRA, 2009). Em Porto Alegre, a hipertensão aparece em 76,8% dos casos, já as demais comorbidades associadas ao Diabetes foram, principalmente, glaucoma e catarata (23,2%), acidente vascular encefálico (15,2%), infarto agudo do miocárdio (12.8) e insuficiência renal (5,6%), respectivamente (GRILLO E GORINI, 2007). No estudo feito no município de Bragança Paulista, a principal comorbidade relatada foi retinopatia diabética (13%), seguida de nefropatia diabética (11,5%) e pé diabético (10%). A hipertensão arterial não foi citada (LIMA ET AL., 2010). Como a Unidade de Saúde do Santana é a unidade de referência no tratamento da Diabetes no município de Paracatu e, por consequência, abranger a maioria dos casos da população, esperava-se uma prevalência maior nas comorbidades estudadas, principalmente em relação à hipertensão arterial sistêmica, levando-se em consideração as prevalências apresentadas nos demais estudos nacionais. Esse acontecimento pode ser devido à dificuldade de compreensão das informações contidas nos prontuários, gerando uma deficiência nos valores tabulados. Quadro 1 Principais comorbidades decorrentes do Diabetes Comorbidades % Hipertensão Arterial Sistêmica 48,1 Complicações em Membros Inferiores 15,8 Poliúria 15,8 Dor Abdominal 13,9 Complicações Gastrointestinais 11,4 Complicações Neurológicas 10,1 Complicações Visuais 10,1 Polidipsia 10,1 Complicações Cardíacas 8,9

Dor Lombar 8,9 Complicações Musculares 7,0 Edemas 6,3 Dislipidemia 5,7 Dores Articulares 5,7 Nefropatia Diabética 5,1 Dor Torácica 4,4 Cefaleia 3,8 Vaginites 2,5 Perda de Peso 1,9 Cansaço 1,3 Cetoacidose Diabética 1,3 Disúria 1,3 Sudorese 1,3 Vertigem 1,3 Xerostomia 1,3 AVC 0,6 Cistite 0,6 Litíase 0,6 Nictúria 0,6 Não Consta 27,8

CONCLUSÃO Na presente amostra de estudo notou-se uma maior prevalência de pacientes do sexo masculino. Medicamentos como a Metformina e Captopril foram os mais receitados para os pacientes da amostra e, dentre as comorbidades mais frequentes, estão a hipertensão arterial sistêmica, complicações em membros inferiores, poliúria, dores abdominais e complicações gastrointestinais. Percebemos também que o preenchimento ilegível de prontuários, a falta de datas e ordem cronológicas do diagnóstico e tratamento são questões relevantes para estudos de levantamento de dados, principalmente quando se faz análise de prontuários de determinadas populações visando elencar possibilidades para a melhoria da qualidade e sucesso dos tratamentos prestados. Desta forma, reafirma-se a necessidade da informatização dos prontuários para que essa melhoria seja possível. Agradecimentos Agradecemos a toda equipe da Unidade de Saúde do Santana do município de Paracatu-MG pela compreensão, paciência e apoio dispensados ao grupo, e à professora Talitha Araújo Faria pela colaboração na realização deste trabalho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde Departamento de Atenção Básica. Cadernos de Atenção Básica - n.º 16. Série A. Normas e Manuais Técnicos 2006, 12p. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diabetes_mellitus.pdf Acesso em: 8 maio 2014. FIGUEIREDO, I. V.; CARAMONA, M. M. Complicações da Diabetes Mellitus. Boletim da Faculdade de Farmácia de Coimbra 1991, v.15, n.2, pp. 13-18. GRILLO, Maria; GORINI, Maria. Caracterização de pessoas com Diabetes Mellitus Tipo 2. Rev Bras Enferm 2007, v.60, n.1, pp. 49-54. GROSS, Jorge; SILVEIRO, Sandra; CAMARGO, Joíza; REICHELT, Angela; AZEVEDO, Mirela. Diabetes Melito: Diagnóstico, Classificação e Avaliação do Controle Glicêmico. Arq Bras Endocrinol Metab 2002, v.46, n.1, pp. 17.

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